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O presente estudo analisou a influência da composição na variação da aptidão física funcional de mulheres pós-menopáusicas.

Maiores níveis de adiposidade total estão associados a uma menor força e resistência muscular dos membros inferiores e a um comprometimento da aptidão cardiorespiratória, enquanto que a maior adiposidade central está acomunada a uma menor flexibilidade superior nas mulheres pós-menopáusicas, sendo o desempenho nestes testes também agravado com a idade. As mulheres com TMB 1101 kcal/dia apresentaram, em relação às participantes com TMB≤ 1101 kcal/dia, piores desempenhos nos testes de apreciação da flexibilidade inferior e da força e resistência muscular dos membros inferiores.

Sessenta e seis por centro da amostra apresentou uma sobrecarga ponderal patológica, corroborando os resultados encontrados pela North American Menopause Society (NAMS, 2012), que apontam para uma elevada prevalência desta condição na pós-menopausa. Ainda em concordância com a instituição supracitada, as mulheres são particularmente mais propensas a desenvolverem obesidade e, quando entram na menopausa, o aumento do peso, faz-se à custa da redução das componentes da massa magra e do aumento dos níveis de adiposidade. A NAMS (2012), tambem afirma que o envelhecimento, o estilo de vida e fatores comportamentais como a falta de exercício e o aumento da ingestão calórica, estão intimamente ligados ao ganho de adiposidade nesta fase do climatério.

Mais de 81% das mulheres exibiu um excesso de adiposidade intra-abdominal, espelhado na presença de um PC igual ou superior a 80 cm. Esta situação decorre do efeito da depleção estrogénica que age diretamente no aumento da gordura visceral, incrementando a ação da lipoproteína lípase nos adipócitos viscerais e concorrendo para a aquisição de um formato corporal do tipo androide. A deposição centralizada da massa gorda favorece o surgimento de problemas cardiometabólicos e outros (Kuk, Saunders, Davidson, & Ross, 2009), de entre os quais salientamos a síndrome metabólica, a sarcopenia e a osteoporose (Pansini et al., 2008; Bennet et al., 1997; Rolland et al., 2009; Khalil et al., 2011; Schrager et

al., 2007). Essa deposição é agravada com a perda de massa muscular associada ao

envelhecimento e à menopausa e pelo agravamento dos níveis de atividade física habitual da mulher (Tengvall et al., 2009; Rebuffé-Scrive, Eldh, Hafström, & Björntorp, 1986; Messier et

23 A sarcopenia foi identificada em mais de 52% da amostra, sendo esta condição definida, de acordo com Cruz-Jentoft et al. (2010), pela perda de massa muscular associada à redução da força muscular ou do desempenho físico (aptidão física funcional, velocidade da caminhada, equilíbrio). No nosso estudo, a definição de sarcopenia foi realizada alicerçada apenas na apreciação da massa muscular, de acordo com os critérios definidos por Baumgartner (1998), o que poderá ter influenciado os resultados obtidos. Segundo Tyrovolas

et al. (2016), a prevalência da sarcopenia situa-se entre 5% a 13% em indivíduos com idades

compreendidas entre os 60 e os 70 anos e 11% a 50% em sujeitos com mais de 70 anos, dependendo dos métodos e critérios utilizados na sua apreciação. No nosso estudo, a maior parte da amostra (n=32) enquadrou-se no primeiro grupo etário indicado.

A apreciação da condição muscular na pós-menopausa revela-se particularmente importante já que a sarcopenia tende a estar associada à diabetes do tipo 2, à síndrome metabólica (Reaven, 1998) e a um maior risco de fraturas de fragilidade (Cederholm et al., 2013).

Apesar da MMA apresentar, no nosso estudo, uma correlação significativa com os testes alcançar atrás das costas e sentado e alcançar, esta variável da composição corporal não ostentou capacidade explicativa significativa na variação dos desempenho destes testes, com base nos modelos de regressão stepwise desenvolvidos Não constituindo a bioimpedância, sobretudo a de frequência fixa, um método de referência da avaliação da composição corporal, é possível que os resultados encontrados pudessem ter sido outros se a condição muscular tivesse sido apreciada através da utilização de equipamentos como a ressonância magnética ou a densitometria radiológica de dupla energia (Cruz-Jentoft et al., 2010).

O nosso estudo revelou que as mulheres mais velhas e com mais massa gorda relativa apresentavam um pior desempenho no teste de aptidão aeróbia, independentemente do tempo de menopausa, concordando com os achados do estudo de Aragão, Moreira, Gabriel e Abrantes, (2013). Apesar do efeito da menopausa na aptidão aeróbia ainda não estar perfeitamente esclarecido na literatura (Hawkins & Wiswell, 2003), sabe-se que o consumo máximo de oxigénio (VO2max) diminui cerca de 10% em cada década (Hawkins & Wiswell,

2003; Yu et al., 2011), sendo a partir dos 40 anos essa diminuição mais acentuada na mulher em relação ao homem (Fleg et al., 2005).

24 Segundo Aragão, Moreira, Gabriel e Abrantes (2015) a aptidão cardiorrespiratória na mulher pós-menopáusica diminui com a idade e com o tempo decorrido desde a instalação da amenorreia permanente, agravando-se com a presença de elevados níveis de adiposidade total e central e com a existência de uma limitada massa muscular esquelética. Para os mesmos autores (Aragão et al., 2013), níveis de intensidade de 40% a 70% da frequência cardíaca de reserva são os que melhor se ajustam a mulheres nesta fase do climatério.

Alguns autores relatam que a terapia hormonal tende a estar associada a numa melhor condição cardiorrespiratória da mulher pós-menopáusica (Green et al., 2002). Outros autores (Mercuro et al., 2007; Stathokostas, Kowalchuk, Petrella, & Paterson, 2008) sugerem não existir uma relação da TH com a condição cardiorespiratória nesta fase do climatério. No nosso estudo e no que se reporta às características da menopausa, foi observada uma relação do tempo de menopausa (r= -0,37, p≤ 0,01) com o teste andar 6 minutos, mas esta variável independente não revelaria capacidade explicativa significativa da variação deste teste.

Mais de 94% das mulheres da presente investigação evidenciou um desempenho classificado de muito fraco no teste levantar, andar 2,44 m e voltar a sentar, sendo o mesmo agravado pela presença de menores níveis de TMB. O estudo identificou que as mulheres com TMB> 1101 kcal/dia gastavam, comparativamente às que apresentavam uma TMB≤ 1101 kcal/dia, mais 1,12 segundos na execução deste teste. Julgamos que os resultados possam ter sido influenciados pelo valor médio de gasto energético da amostra de 1104,89 (57,77) kcal/dia e pelo método utilizado na sua estimação (bioimpedância de frequência fixa).

Segundo alguns autores (Rolland & Vellas, 2009), a perda de agilidade está relacionada com a diminuição da massa muscular esquelética e, em especial, com o comprometimento das fibras musculares de contração rápida, com reflexos também adversos no tempo de reação. A capacidade de manutenção do equilíbrio corporal na mulher mais velha é determinante na prevenção da queda e da gravidade das lesões dela decorrentes (Buranello, Campos, Quemelo, & Silva, 2011).

A maior parte das mulheres exibiu um bom desempenho no teste de alcançar atrás das costas mas fraco no teste sentado e alcançar, tal fenômeno pode estar relacionado com a prória dificuldade biomecânica de flexão de tronco, devido à elevada circunferência abdominal que impede a ação de alcançar os pés, refletindo em um problema de mobilidade estrutural (Del Porto et al., 2012). Segundo Kannus, Sievanen, Palvanen, Jarvinen e Parkkari (2005) a perda da flexibilidade em indivíduos mais velhos, está relacionado com a inatividade

25 física e se associado com a diminuição da força e da MME, podem potencializar a probabilidade de quedas, que contribuem para a incapacidade física da população em questão

A maior parte das mulheres exibiu um desempenho fraco no teste levantar e sentar na

cadeira e na flexão do antebraço, sendo o primeiro comprometido pela MG e, sobretudo, pela

idade. De acordo com Clark & Taylor (2011), após os 65 anos e a cada 5 anos a redução da força muscular situa-se entre 4,5% e 5,5%, afetando a capacidade de ativação dos neurónios motores pelo sistema nervoso, especialmente nos grandes grupos musculares. A menopausa gera uma diminuição da globulina de ligação às hormonas sexuais e o aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias, como a interleucina 6 (IL-6) e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), ambos produzidos nas células adiposas e ampliadas com o incremento dos níveis de adiposidade, aumentando o catabolismo das proteínas (Rolland & Vellas, 2009), com o consequente comprometimento da condição muscular da mulher.

Vários estudos já contribuíram para orientar a prescrição de exercício e a monitorização do mesmo em mulheres pós-menopáusicas (Moreira et al., 2008; Bann et al., 2014; Messier et al., 2011). Pitanga, Pitanga, Gabriel e Moreira (2014) sugerem que a prática de caminhada, reunindo um dispêndio energético semanal de 816 kcal, com intensidade de leva a moderada, previne a sarcopenia em mulheres pós-menopáusicas. Além do exercício aeróbio, é de suma importância a prática do treinamento de força e de acordo com Rocha et

al. (2012), a combinação dos dois métodos, com intensidade moderada a vigorosa revela-se

muito importante na pós-menopausa, ativando a produção de enzimas oxidativas nas mitocôndrias e favorecendo a síntese proteica (Short, Vittone, Bigelow, Proctor, & Nair, 2004).

A presente investigação contempla alguns aspetos importantes, como a confirmação da influência da composição corporal na aptidão física funcional da mulher pós-menopáusica, constituindo um pequeno contributo para a para melhoria dos programas de exercício orientados especificamente para as necessidades desta população. Porém, algumas limitações dessa investigação devem ser apontadas. Em primeiro lugar, os equipamentos utilizados para a avaliação da força de preensão manual e da composição corporal são amplamente reportadas na literatura, mas não estão entre os equipamentos mais rigorosos para avaliar as variáveis analisadas na presente investigação. Em segundo lugar, o estudo teria beneficiado da utilização de uma amostra mais representativa e da classificação da condição muscular, de acordo com a proposta do European Working Group on Sarcopenia in Older People (Cruz- Jentoft et al., 2010).

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