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DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4 DESENVOLVIMENTO

4.3 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A partir do relato dos experimentos e da análise dos processos e produtos foi possível identificar os pontos chave para a discussão dos resultados obtidos. A proposta deste capítulo é, com base no cruzamento dos dados dos relatos e das análises, discutir os resultados a respeito dos processos metodológicos e das técnicas de modelagem zero waste evidenciando os procedimentos mais relevantes para a pesquisa.

As metodologias que embasaram a realização dos experimentos, Gwilt (2014) e Fletcher e Grose (2011) comportavam etapas semelhantes, porém, a ordem de execução era distinta em dois pontos. Para Gwilt (2014) o “Design” é a primeira etapa e a “Seleção de Materiais e Técnicas de Fabricação” vem em seguida no

desenvolvimento de produtos com abordagem sustentável. Já para Fletcher e Grose (2011) estas fases estão em ordem inversa e entende-se que a “Seleção de Materiais” apenas determina os materiais que serão empregados nas peças e após, são elaborados os modelos da coleção no “Design”. Tendo em vista os experimentos, percebe-se que a seleção dos materiais deve ser a primeira fase do processo, pois antes mesmo de iniciar os experimentos houve uma pesquisa para encontrar os tecidos de origem sustentável no mercado e mesmo nos experimentos embasados em Gwilt (2014), os materiais acabaram sendo determinados concomitantemente à criação dos modelos. E, mesmo que já existam fornecedores, é preciso conhecer as matérias-primas com as quais se irá trabalhar, compreendendo sua origem, composição, textura e caimento. Só após a verificação da disponibilidade dos materiais e dos aspectos citados que deverá ser iniciada a criação dos esboços dos modelos de roupas.

Os esboços podem ser criados livremente, mas, ao idealizar as peças, o designer já pode detectar qual técnica de modelagem zero waste será empregada na criação dos moldes do modelo, pois, nos experimentos foi primeiramente considerado o tipo de modelagem e após iniciou-se a criação dos modelos, o que também pode acontecer. Dependendo do formato e detalhes da peça já é possível verificar qual técnica se adequaria para a elaboração da modelagem. Cabe salientar que podem ser empregadas uma ou mais das técnicas experimentadas, pois, percebe-se que nas peças elaboradas sob a modelagem quebra-cabeça, houve o emprego de formas geométricas, bem como a utilização de sobras para a construção de partes da própria peça e acessórios, considerando isso como sendo a técnica de layout negativo. A técnica de layout negativo também foi utilizada nas peças tridimensionais que, após a colocação das frentes e costas foi pensado em como aproveitar os espaços que estavam ociosos, criando os moldes que faltavam para compor a peça projetada. Já nas peças criadas com a técnica de modelagem geométrica, os espaços que iriam ser resíduos foram empregados na própria peça como detalhes.

Na etapa de Design também cabe a escolhas dos aviamentos e técnicas de fabricação. De acordo com o modelo e acabamentos, já podem ser determinadas as máquinas e demais recursos que serão necessários para a construção da peça e a ficha-técnica inicia-se nessa fase, e continua sendo preenchida ao longo das demais etapas. Em seguida, concordando com ambos os autores, segue-se para a fase de modelagem que aparece como “Criação de Moldes” em Gwilt (2014) e “Modelagem e

Encaixe” em Fletcher e Grose (2011), sendo que, a nomenclatura mais adequada é a segunda citada. Nessa fase são elaborados os moldes, mas concomitante a essa elaboração já acontece o encaixe das partes e no próprio encaixe são criados moldes de acordo com os espaços que seriam resíduos. Nesta etapa podem acontecer alterações no modelo proposto, porque, em alguns casos, dependendo do tamanho das possíveis sobras, é necessário aumentar valores ou ainda criar novos detalhes na peça, a fim de aplicar toda a área do tecido na roupa.

Em relação às quatro técnicas testadas na pesquisa, pode-se dizer que estas têm alguns pontos positivos e negativos. A modelagem geométrica é capaz de aproveitar o tecido em sua totalidade com mais facilidade devido aos modelos criados terem dimensões mais amplas, porém não permitiu grandes variações estilísticas, ficando estas variações por conta de amarrações e faixas. A modelagem tridimensional por drapejamento obteve peças com variações estilistas, mas, dependendo do modelo, pode ser uma técnica mais demorada e que utiliza mais recursos, como tecido para a moldagem no manequim e papel pardo para a planificação dos moldes, bem como, poderia ser feita de forma plana. E após a modelagem dos moldes iniciais no manequim, as demais partes da modelagem foram elaboradas de forma bidimensional, utilizando-se das técnicas de modelagem geométrica e layout negativo. A modelagem quebra-cabeça permite mais variações de estilo, mas tem algumas limitações na forma de realizar esta técnica, pois, segundo Flecther e Grose (2011) a modelagem quebra-cabeça consiste em ir aumentando os moldes para que estes acabem por ocupar toda uma área retangular, o que às vezes pode não ser interessante ao modelo proposto, como por exemplo, a barra da calça modular ficou maior que o esperado, devido à necessidade de realizar este aumento, claro que, como o tecido era mais fino, o caimento ficou bom, mas com tecidos de maior gramatura talvez a barra mais larga não fique adequada e acabe sendo necessário utilizar-se da técnica de layout negativo para aproveitar os espaços sem aumentar os demais moldes.

Já a técnica de layout negativo permite que sejam feitas peças com mais curvaturas, porém, a utilização dos espaços negativos é mais complexa e exige muita atenção em como estes serão empregados na peça, sem alterar significativamente o modelo e às vezes, alterando-o de forma efetiva.

A última etapa considerada diz respeito à costura das partes para realmente dar vida à peça idealizada nas fases anteriores. Gwilt (2014) nomeou-a como

“Construção da Peça-piloto” e Fletcher e Grose (2011) a entenderam como “Montagem e Finalização”. Ambas as nomenclaturas são adequadas, pois a peça- piloto pode ser muitas vezes uma peça já finalizada, bem como pode necessitar de alterações e ser apenas arrumada ou refeita, mas, pensando no aproveitamento total do tecido, provavelmente ela deveria ser refeita, pois não caberia eliminar partes da peça fazendo ajustes, pois o conceito de zero waste não iria se consolidar. Acredita- se que caberia uma etapa de “Prova e Avaliação”, tendo em vista que as peças devem ser analisadas como qualquer outro produto, mesmo que o seu projeto tenha sido bem planejado, sempre podem acontecer alterações quando provadas em uma modelo real. Por essa razão, a pesquisadora provou todas as peças, exceto a que não serviu, para poder avaliá-las em relação ao ajuste e ao conforto e ao aspecto visual no corpo humano.

Cabe salientar ainda, em relação à montagem das peças que, algumas delas foram bastante complexas e onerosas, como a calça dupla face e a peça modular dupla face, ambas elaboradas com a modelagem layout negativo, o que faz perceber que para um projeto de produto eficaz com esse tipo de técnica é necessário fazer muitos exercícios e ter conhecimento de máquinas e aparelhos e costura que possam facilitar as operações.

Concluída a discussão dos resultados, o capítulo final elucidará sobre as considerações finais sobre a pesquisa desenvolvida.