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5. DISCUSSÃO

5.2. Discussão dos resultados

O presente trabalho buscou avaliar a estabilidade estática pela análise estabilométrica das variáveis oferecidas pelo baropodômetro, sendo essa a área de oscilação do centro de pressão expressa em cm2, correlacionando-a com a idade, com o tempo de protetização e com a diferença entre as áreas de oscilação do CP dos membros inferiores.

Por meio da baropodometria computadorizada, pode-se observar uma média na área de oscilação do centro de pressão do corpo nos indivíduos amputados de 7,62 cm2 (± 6.19) e nos indivíduos sem amputação uma média de 2,61 cm2 (± 1,26), apresentando diferença estatisticamente significativa (p<0,05). Esses resultados são semelhantes aos de Kozakova et al. (2009), que utilizando o sistema de plataforma de força, analisou oscilações anteroposterior e laterolateral do corpo, encontrando média de oscilação no plano laterolateral de 0,94 cm (± 0,49) em indivíduos amputados e 0,70 cm (± 0,20) em indivíduos não amputados, indicando diferença significativa. Resultados semelhantes também foram observados por Mohieldin (2010), que utilizando o estabilômetro, observou diminuição da estabilidade em indivíduos amputados quando comparados a indivíduos sem amputação pelo aumento de oscilações nos planos anteroposterior e laterolateral.

Baraúna et al. (2006), utilizando a biofotogrametria, demonstraram que indivíduos amputados transtibiais obtiveram significativa oscilação anterior em cm, quando comparados aos indivíduos do grupo controle, sem amputação, o que condiz com os achados de Buckley (2002), que compararam o equilíbrio estático e dinâmico de amputados de membros inferiores e verificaram que uma maior oscilação é consequência da alteração do centro de pressão no plano anteroposterior, relatando ainda que a instabilidade estivesse relacionada a essa

oscilação. Fernie et al. (1978) e Isakov (1992), também corroboram com o presente estudo, ao observarem maiores oscilações em indivíduos amputados do que indivíduos sem amputação. Hermodsson (1994), embora tenham observado aumento dessas oscilações e o correlacionado à superfície de oscilação do centro de pressão corporal, citou o aumento da oscilação lateral em ambos os membros como responsável por essa alteração. Segundo Silva (2007), existe uma correlação entre as medidas do centro de pressão e a manutenção da estabilidade, acreditando que uma amplitude reduzida dos movimentos oscilatórios do corpo reflete um bom equilíbrio, e da mesma forma, indivíduos com superfícies amplas de oscilação do centro de pressão apresentam um déficit de equilíbrio.

Diferentemente do presente estudo, Vittas et al. (1986), não encontraram diferenças significativas entre as variáveis analisadas relacionadas à estabilidade de indivíduos amputados transtibiais e indivíduos sem amputação. No entanto, o trabalho utilizou um modelo de análise onde o voluntário posicionava-se em uma base já pré-determinada e ampla, o que poderia influenciar no aumento da estabilidade. Ao adotar no baropodômetro um posicionamento espontâneo de membros inferiores, compensações que aumentassem essas oscilações ou mascarassem seus reais valores poderiam ser evitadas.

O aumento da superfície de oscilação do CP corporal de indivíduos amputados e possível diminuição da estabilidade podem ser explicados por Buckley (2002), ao afirmar que após amputação ocorre uma perda da informação proprioceptiva da pele, tecido subcutâneo, cápsula articular, ligamentos, tendões e músculos como resultados da perda parcial de um membro. Quanto ao aumento da oscilação do plano sagital, esse pode estar relacionado à restrita ação do pé protético, uma vez que é sabida a importância do tornozelo no controle dos movimentos nesse plano. Fatores como o medo de cair, assim como dificuldade em descarregar o peso corporal simetricamente também poderiam colaborar para o aumento dessas oscilações e consequente diminuição do mecanismo de estabilidade. Todos os indivíduos amputados analisados não apresentavam o tornozelo articulado, e o pé era do tipo SACH.

Neste estudo, observou-se uma média de tempo de protetização de 14,61 anos (± 10,83), com valor máximo de 20 e mínimo de 0,67 anos. Ao correlacionar- se tempo de protetização e área de oscilação do centro de pressão corporal, observou-se que a duração do uso da prótese teve impacto significativo sobre os resultados da superfície do CP, com índice de correlação de – 0,744. Esses resultados são semelhantes aos encontrados por Baraúna et al. (2006), que concluíram que o tempo de uso de prótese está relacionado às oscilações, afirmando ainda que quanto maior o tempo de uso, menor o desequilíbrio. Esses autores encontraram ainda maiores valores de oscilação anterior quando comparados aos indivíduos sem amputação, relacionando, portanto a instabilidade aos resultados encontrados. Diante dessa observação, afirmaram que indivíduos não amputados possuem maior domínio corporal, pois possuem pouca oscilação nesse plano, e indivíduos amputados transtibiais bem adaptados à prótese ou que atingiram a idade próxima à maturidade corporal, tendem a diminuir as oscilações anteriores, assemelhando-se a indivíduos não amputados. Corroborando com os achados do presente estudo, Kozakova (2009) observou que com o tempo, a participação do membro protetizado na descarga de peso corpóreo passa a ser maior assim como seu envolvimento no controle postural.

Observou-se que o sujeito 10 apresentou o segundo maior valor para superfície de oscilação do CP corporal (18,79 cm2), podendo relacioná-lo, portanto ao fato de também apresentar o menor tempo de protetização (0,67 anos). Ao indivíduo amputado, será necessário tempo e treinamento para que novas estratégias de coordenação possam ser criadas, assim como a confiança na prótese seja adquirida, proporcionando melhor distribuição do peso corporal, diminuição das oscilações do CP e consequentemente tornando o mecanismo de estabilidade mais efetivo.

No entanto, o sujeito 8, mesmo não apresentando pouco tempo de protetização (12 anos), apresentou elevado valor de superfície de oscilação do CP corporal (19,49 cm2). Tal resultado pode ser explicado pelo relato de mau encaixe da prótese pelo voluntário. A perda de peso corpóreo do voluntário pode ter levado a diminuição do acoplamento perfeito entre coto e prótese, diminuindo a descarga

de peso sobre o membro acometido e levando a uma cascata de modificações que podem gerar um aumento das oscilações nos planos anteroposterior e laterolateral e possivelmente, aumento da área de oscilação do CP corporal.

Os resultados encontrados no presente estudo podem ainda ser explicados por Oliveira et al. (2000), que ao realizar a comparação da oscilação do baricentro corpóreo de indivíduos pré e pós uso de palmilhas proprioceptivas, observou melhora de 50% da oscilação do baricentro corpóreo no deslocamento laterolateral e 30% no deslocamento anteroposterior, concluindo que o correto apoio dos pés no solo influencia diretamente no equilíbrio estático. Nota-se, portanto, que sem bons apoios não há boa estática, deixando claro que fatores que interferem na qualidade do apoio bipodal, como insegurança, adaptação a nova condição (sujeito 10) ou diminuição da descarga de peso em decorrência de um encaixe inadequado da prótese (sujeito 8) podem gerar alterações na estabilidade.

Neste estudo, foi encontrada correlação altamente significativa entre idade e superfície de oscilação do CP corporal entre indivíduos não amputados, com índice de correlação de 0, 799 (p<0,05), no entanto, não foi observada correlação significativa entre os indivíduos amputados, apresentando índice de correlação de - 0,351. Resultados diferentes foram encontrados por Baraúna et al. (2006), ao analisar um grupo de amputados, onde observou uma diminuição da oscilação anterior com o aumento da idade. Para os autores, ocorre uma correlação negativa entre variáveis que indicam o índice de estabilidade e idade, demonstrando que à medida que o indivíduo atinge o domínio corporal, menores são as oscilações anteriores e menor seria essa superfície de oscilação do CP. Tal resultado pode não ter sido observado no presente estudo como consequência da influência de outros fatores, como o tempo de protetização entre os indivíduos do grupo experimental. Essa influência pode explicar o alto valor da superfície de oscilação do CP corporal no indivíduo 10, já que esse ao ter alcançado a maturidade corporal deveria apresentar um menor valor de oscilação. No entanto, o pouco tempo de protetização e suas consequências podem ter interferido nas variáveis analisadas.

Não foram encontrados trabalhos que relacionassem a diferença entre as áreas de oscilações do CP dos membros inferiores com a área de oscilação do CP corporal, de tal forma que esses dados não puderam ser confrontados com nenhum outro dado.

Os resultados desse estudo mostraram que há forte correlação entre a simetria das áreas de oscilação do CP dos membros inferiores, calculada por meio da diferença entre essas áreas, com a área de oscilação do CP corporal. Com o índice de correlação de 0,815 (p<0,05), observou-se que quanto menor a diferença encontrada, maior a simetria, e menor a área de oscilação do CP corporal. Segundo Kozakova (2009), a simetria esta relacionada à distribuição do peso corporal, uma vez que, em indivíduos amputados ou não amputados, a correta distribuição de carga minimizaria as compensações e menores seriam as oscilações corporais e área de oscilação do CP. Após amputação, a assimetria poderia estar relacionada à diminuição dos movimentos do tornozelo, dor no coto ou desconforto causado pela prótese, que levariam ao indivíduo a adotar posturas compensatórias, como aumento das oscilações do CP, assim como a superfície do CP corporal.

Embora possamos dizer que uma pessoa com simetria de área tenda a uma maior estabilidade, segundo Kozakova (2009), a descarga de peso corporal assimétrica pode atuar como um mecanismo compensatório para a estabilidade postural.

Como limitação de estudo, observou-se a dificuldade em encontrar trabalhos que tivessem utilizado a oscilação do centro de pressão expressos em superfície por cm2. Quanto a outros fatores limitantes desse trabalho que merecem destaque e que poderão contribuir para outros estudos futuros, diz respeito ao número de indivíduos que compuseram o grupo estudado. Sendo que um grupo amostral mais expressivo poderá ser utilizado em estudos futuros que se fazem necessários, e oferecer resultados ainda mais conclusivos.

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