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4.4 DISCUSSÃO

4.4.1 Discussão sobre a etapa I

A elaboração das bases teórico-conceituais e metodológicas do componente curricular foi orientada em consonância com os princípios filosóficos, políticos, pedagógicos e técnicos que subsidiam a formação profissional dos graduandos na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Nessa etapa, foram consultadas as estruturas curriculares dos cursos de Enfermagem, Fonoaudiologia, Medicina e Nutrição, disponíveis nas páginas eletrônicas dos respectivos cursos, e as recomendações das Diretrizes Nacionais Curriculares do curso de graduação em Medicina, aprovadas em 2014 pelo Ministério de Educação45 e a Resolução Nº 569,

de 8 de dezembro de 2017, sobre os Princípios Gerais para as Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de graduação da área da saúde46.

Em relação aos programas das disciplinas, estes permitiram a identificação de temas comuns e complementares relacionados à saúde da criança no contexto dos cuidados primários* que permeiam os diversos cursos. Foram constatados diversos pontos de convergências entre os cursos de Enfermagem e Medicina, com diferenças quanto aos períodos em que cada disciplina é ofertada e suas respectivas cargas horárias.

A organização de uma agenda conciliadora de datas, horários e locais para os encontros presenciais do grupo docente representou uma barreira identificada no desenvolvimento da Etapa I. O distanciamento físico entre os departamentos e os diversos compromissos profissionais também contribuíram para dificultar os encontros34-36. Essa dificuldade resultou na desistência de treze estudantes

previamente inscritos, devido à incompatibilidade de horário entre a oferta e demais atividades acadêmicas. Neste estudo, os cursos que apresentaram o maior número de desistência foram Enfermagem e Nutrição.

A discussão com o grupo docente envolvendo conceitos sobre interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, interprofissionalidade, trabalho colaborativo demonstrou que esses termos ainda na atualidade são incompreendidos e utilizados comumente como sinônimos. O emprego inapropriado das terminologias tem implicações no campo da pesquisa, na comunicação entre profissionais e no ensino27-32. A realização de um glossário de termos buscou esclarecer melhor o léxico

vinculado à educação interprofissional (Anexo G).

* Cuidados primários são ações essenciais de saúde que abordam os determinantes mais vastos e incidem sobre os aspectos completos e inter-relacionados da saúde física, mental e social e de bem- estar (conforme definição da OMS disponível no endereço eletrônico www.who.int).

Nesse processo, a reflexão sobre a prática ocupa um papel relevante, em especial, quando o tipo de estudo é a pesquisa-ação. A esse respeito, diversos questionamentos devem ser respondidos para o planejamento da ação, por exemplo: qual o público? Quais os objetivos? Em que contexto será aplicado? Quais os recursos disponíveis? Quais são os períodos dos cursos? Quais são os conhecimentos e experiências anteriores dos estudantes43?

No que diz respeito à escolha da teoria educacional, esse representou um dos aspectos mais desafiadores durante a construção da oferta educacional. O grande número de teorias publicadas no domínio da EIP e a sobreposição de temas entre elas conferem à elaboração de um componente curricular uma tarefa complexa para os iniciantes no campo da interprofissionalidade54, 55.

Os pesquisadores recomendam que sejam observadas as perspectivas teóricas inseridas no contexto educacional, organizacional, e/ou sociológica, coerentes com o programa de EIP que se pretende elaborar. Portanto, a escolha pode recair em uma ou mais teorias, desde que demonstrem características complementares no seu conjunto.54-58

Para tanto, a teoria educacional deve estar alinhada aos objetivos de aprendizagem delineados e aos resultados almejados para a aquisição de conhecimentos, habilidades e comportamentos necessários ao trabalho colaborativo em equipe interprofissional54-58. Quanto à aprendizagem de adultos, ela está

relacionada avárias teorias educacionais, sociais, filosóficas e psicológicas. A teoria do construtivismo social, elaborada por Vygotsky, argumenta que a aprendizagem é uma experiência social, mediada pelas interações que acontecem no ambiente. Segundo Sarah Hean, a aprendizagem sociocultural é a chave para a compreensão do aprendizado interprofissional54, 55.

A aprendizagem, na teoria construtivista, representa um processo de construção no qual novos conhecimentos são acrescentados e compreendidos a partir de conhecimentos pré-existentes. Para que isso ocorra, é essencial que, no processo ensino-aprendizagem, o facilitador utilize estratégias metodológicas que permitam ao estudante evocar seus conhecimentos prévios; utilizar seus recursos a partir de uma

*Na teoria de aprendizagem sociocultural de Vygotsky, o aprendizado é mediado por ferramentas socioculturais através da zona de desenvolvimento proximal. Desse modo, os estudantes podem alcançar uma resolução facilitada de problemas ou com pares mais capazes. Vygotsky L.M.I.S.C. (1978) Mind in Society. Harvard University Press, Cambridge45.

situação de conflito cognitivo; aplicar o conhecimento com feedback e realizar a reflexão sobre a aprendizagem59.

Nesta pesquisa, os recursos instrucionais, como as publicações do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Pediatria sobre a saúde da criança foram encaminhados aos estudantes por correio eletrônico. Os discentes receberam orientação para participar do curso de Educação Interprofissional em Saúde, disponível numa plataforma de ensino adistância, o AVASUS (https://avasus.ufrn.br/). Essas foram as estratégias utilizadas com o objetivo de apoio bibliográfico.

Em relação ao desenvolvimento do programa, foi adotado o ciclo andragógico, proposto por Knowles em 1980, que sistematiza o planejamento e o desenvolvimento de projetos educativos através das seguintes etapas: 1- criar um ambiente favorável ao aprendizado; 2- facilitar a participação dos estudantes; 3- realizar o diagnóstico das necessidades de aprendizagem; 4- definir os objetivos da aprendizagem; 5- selecionar e utilizar metodologias ativas; 6- operacionalizar efetivamente a proposta; e 7- reavaliar o componente curricular após seu término60.

A elaboração da oferta educacional teve como suporte os pressupostos da teoria construtivista e dos princípios da andragogia, como a utilização de conhecimentos prévios sobre a saúde da criança, a definição dos objetivos de aprendizagem, a utilização de casos motivadores e o incentivo à reflexão em todas as atividades. Segundo Barr (2013), na aprendizagem de adultos, cada aluno é responsável por sua própria aprendizagem; e na aprendizagem interprofissional, a responsabilidade é compartilhada entre o indivíduo e o grupo.56

A teoria da educação de adultos (TEA) suscita a cooperação, a aprendizagem colaborativa e reflexiva. Sob esse viés, o conhecimento é produzido pelasinterações que acontecem entre os estudantes, mediadas pelo facilitador. Como a TEA preconiza o conhecimento socialmente construído, alinha-se de forma apropriada aos princípios da educação interprofissional60,61.

O grupo docente selecionou a abordagem baseada em casos motivadores, por ser uma metodologia ativa de aprendizagem coerente com os objetivos estipulados para a oferta educacional. Segundo Taylor, a discussão entre indivíduos tem o potencial de aumentar o conhecimento e quanto mais diversificada for a participação do grupo, maior a probabilidade de aprendizagem entre os integrantes58.

Na abordagem baseada em casos, o facilitador elabora uma situação problematizadora. Por sua vez, a construção do conhecimento pelos estudantes tem

início com a discussão, seguida de análise, finalizando com a síntese de um novo saber construído pelo grupo62.

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