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CAPÍTULO III RESULTADOS

3.2. As quatro fases do debate

3.2.1. Discussão sobre o tema ambiente (primeira fase do debate)

Dentro da discussão geral, dedicaram-se alguns minutos à conversa sobre o ambiente na sua generalidade, para saber o que é que este conceito significava para cada um dos participantes, o que achavam dele, o que pensavam que poderia ser feito por ele, mas, acima de tudo, para introduzir o tema que viria a ser discutido posteriormente. Nessa parte do debate, podemos verificar que alguns tópicos sobressaíram transversalmente a todos os grupos. De uma forma simples, podemos mencioná-los como: capitalismo (o levar o lucro sempre à frente de todas as outras coisas, neste caso à frente do bem-estar ambiental; soluções que a sociedade poderia adotar; a prática da reciclagem; a integração ou não de alguma associação ou iniciativa a favor do ambiente; a escassez de recursos (exploração ambiental); a verificação de um período atual ascendente em relação ao ambiente a nível comportamental por parte das populações, ou de um período atual degradante; a falta de informação; a frequência com que se pensa nestas situações no dia-a-dia; a falta de preocupação por parte das populações no geral; a não existência de um delineamento atual em relação às quatro estações; a falta de se pôr em prática muitas das teorias e regras em vigor atualmente e o facto

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de tudo ser ou não considerado um “mito”. Foram estas as ideias gerais que se retiraram da primeira fase de todos os oito debates, ou seja, enquanto o tema “ambiente” era discutido.

Quando o assunto era o “lucro” que as empresas e as grandes entidades adquirem através da exploração ambiental, que neste caso chamamos capitalismo, os participantes usaram várias vezes a ironia juntamente: “assim não vamos a grandes sítios porque o dinheiro vai continuar a estar lá em cima apesar das preocupações todas (risos)” (P3/1). Os participantes referiam-se a ele quando falavam de atitudes institucionais, maioritariamente: “as energias renováveis e todo o lobby da poluição é tudo visto como um negócio e, se calhar, as coisas não são tratadas como deviam, para preservar o planeta, mas sim da maneira que dá mais lucro ao governo ou a certas instituições e organizações” (P2/1).

Sete dos grupos focais confessaram achar que estava a haver uma melhoria no que toca ao respeito pelo ambiente, que é justificado com o aumento de informação disponível atualmente (“acho que houve uma melhoria, talvez dada a quantidade de informação que nós recebemos (…) atirar lixo para o chão, mesmo que seja uma coisa insignificante, mas se calhar ficamos a pensar mais do que aquilo que ficavam antigamente a pensar e se calhar tentamos mudar esse comportamento ou tentamos que as pessoas à nossa volta mudem o comportamento dada a informação” - P19/5). Noutros casos, afirmou-se que, em anos anteriores, as condições eram mais degradantes e que se está a verificar um período ascendente relativamente às alternativas que podem ser utilizadas (“acho que, neste momento, estamos num período que eu considero ascendente, com a introdução de novas tecnologias (solar e eólica)” – P2/1).

Um caso considerado divergente foi o comentário de um dos participantes (P15/4) sobre os benefícios diretos que o aquecimento global oferece à natureza, salientando que os meios de comunicação social escondem essa situação: “é um tema de relevância para todos nós, o ambiente enquanto natureza…o subtópico que me vem mais à cabeça é o aquecimento global, que se tem vindo a manifestar nos últimos anos, e que tem consequências nefastas, no entanto também tem consequências positivas, nomeadamente, se há mais dióxido de carbono e consequentemente aquecimento global, tendo em conta que o dióxido de carbono é utilizado pelas plantas, também temos verificado fenómenos de crescimento de áreas verdes superiores aos anos onde há dióxido de carbono mais baixo, portanto também tem consequências positivas que os média geralmente não apresentam”. Durante a exposição desta ideia, o restante grupo não se manifestou, nem contra, nem a favor. Não houve, portanto, debate sobre esta ideia que é considerada incomum perante todas as restantes interações. Podemos afirmar

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então que o facto de a sessão acontecer em contexto grupal não afetou a opinião deste participante.

Quanto à frequência com que os participantes falavam, discutiam ou pensavam nestas questões, os resultados demonstram que, na parte ambiental, são mais os indivíduos (cinco) que não pensam muitas vezes do que aqueles que pensam bastantes vezes (dois). Os que afirmaram não pensar muito no assunto disseram que, normalmente, só o fazem quando são confrontados com a situação (“eu não penso assim todos os dias, mas quando me deparo com uma situação levo-me a pensar” – P1/1; “eu acho que penso quando sou confrontada com algum tema” – P10/3).

Os participantes, nomeadamente os que não são de naturalidade portuguesa, revelaram uma atitude mais positiva em relação a Portugal e ao ambiente português do que em relação aos seus países de origem, em África (Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe). Também era consensual (sempre que surgia) a ideia de que os países do Norte são mais desenvolvidos e preocupados nestas matérias do que os países do Sul. Ainda quanto à categorização social, os membros dos grupos referiram várias vezes que, na cidade, as pessoas têm mais conhecimento, mas não são tão preocupadas com as questões do clima, que é importante para quem trabalha no campo, embora esta parte da população não conheça tão bem a realidade da exploração e da não preservação ambiental como acontece a quem vive nas cidades. Em relação às diferenças de ideias entre a geração mais jovem e a mais velha, verificou-se que não existiram quase nenhumas declarações nesta parte da discussão e que, no geral, o que se falou foi que a geração mais nova tem mais conhecimento porque teve e tem mais acesso à informação do que a mais velha e menos sensibilizada.

Uma ideia a salvar ainda é a de que alguns participantes afirmaram que “as pessoas não fazem porque acham que outros vão fazer”. À semelhança do estudo de Caillaud e colaboradores (2015), os participantes deste estudo também revelam que há um interesse geral em transferir a responsabilidade que podem ter relativamente aos seus comportamentos para as outras pessoas, justificando a falta de ação com a falta de ação dos outros (processo de “othering”).

3.2.2. Discussão sobre o tema alterações climáticas (segunda parte do debate)

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