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No presente trabalho,investigamosos efeitos do tratamento com ômega-3 por 16 dias (14º - 30º dias de vida) e por 5 meses (3º - 8º meses de vida), sobre as células inflamatórias e na regeneração e fibrose em camundongos mdx. Adicionalmente, avaliamos os efeitos deste suplemento no crescimento, força e mionecrose dos animais distróficos e verificamos quais seriam os metabólitos com potencial para marcadores biológicos na DMD.

O ômega-3 já é estabelecido para o tratamento de outras patologias humanas e recentemente obtivemos resultados positivos desse suplemento no tratamento de camundongosmdx,nos estágios iniciais da doença (Fogagnolo Maurício et al., 2013; Carvalho et al., 2013). Dessa forma, sugerimos que o ômega-3 possa ser potencialmente útil como terapia adicional aos glicocorticóides para as distrofinopatias. Entretanto, sua administração deve ser feita com cautela, pois pouco se sabe sobre o uso prolongado deste suplemento.

Ômega-3 X Peso Corporal e Força de Tração

Os resultados do presente trabalho revelaram que o tratamento com ômega-3 em ambos os períodos não interferiu no crescimento dos animais. Os mdx tratados com nujol ou ômega-3 ganharam peso normalmente em comparação aos animais controles (C57BL10). Os animais distróficoscom 8 meses de idade ganharam cerca de 120% de peso em comparação aos animais com 1 mês de idade, o mesmo sendo observado nos animais controles. Estudos anteriores demonstraram que o tratamento por 16 dias (14º-30º dia de vida) com cápsulas de ômega-3 (Fogagnolo Maurícioet al., 2013) ou EPA purificado (Machado et al., 2011; de Carvalho et al., 2013) não interferiu no crescimento dos animais distróficos, o que corrobora os nossos achados. Desta forma, demonstramos que o ômega-3, além de não interferir no ganho de peso no tratamento por 16 dias (14º-30º dia de vida), também não interfere no tratamento por 5 meses (3º-8º dia de vida).

Apesar do crescimento normal dos animais distróficos, houve perda na força de tração desses animais em comparação aos animais saudáveis (CTRL)com 1ou8 meses de idade. De fato, a força de tração dos camundongos mdx é menor do que a de animais controles (Machado et al., 2011; Fogagnolo Maurício et al., 2013; de Carvalho et al., 2013). A perda da força muscular na DMD é causada pelos sucessivos ciclos de degeneração e regeneração em que há substituição das fibras musculares lesadas por tecido conjuntivo fibroso, que não possui função contrátil (Pastoret e Sebille, 1995; Radley e Grounds, 2006). Como esses ciclos ocorrem durante toda a vida do camudongo mdx (Pastoret e Sebille, 1995; Radley e Grounds, 2006) é coerente que os animais com 8 meses tenham menor força de tração nos membros

anteriores do que os animais com 1 mês de vida. Provavelmente,com o passar dos anos, além da ocorrência dos repetidos ciclos de degeneração e regeneração eacúmulo progressivo de tecido conjuntivo fibroso, tem-se também a exaustão das células satélites (Engel et al., 1994), diminuindo a regeneração muscular, o que pode justificar a maior perda de força observada entre os camundongos mdx com 8 meses de idade do que com 1 mês de idade.

O tratamento com ômega-3 previniu a perdada força de tração dos membros anteriores dos animais distróficos, em ambas as idades. Nosso grupo de pesquisa observou anteriormente que o ômega-3 foi eficiente em previnir a perda da força de tração dos mdx tratados por 16 dias (Fogagnolo Maurícioet al., 2013); no presente estudo demonstramos que o mesmo ocorre para os mdx tratados com ômega-3 por 5 meses.Muito emborao tratamento com ômega-3 tenha prevenido a perda da força, não foi suficiente para evitar a perda, com o avançar da idade.Provavelmente, o tratamento com ômega-3, não minimizou o suficiente os ciclos de degeneração e consequentemente o acúmulo de fibrose no decorrer do tempo.

Assim, acreditamos que o ômega-3 seja eficiente em prevenir a perda de força muscular por reduzir a mionecrose (Fogagnolo Maurícioet al., 2013), diminuindoa degeneração muscular e consequentemente a substituição de fibras musculares por tecido fibroso (Engel et al., 1994, Pastoret e Sebille, 1995; Radley e Grounds, 2006).

Ômega-3 X Mionecrose

A liberação da creatina quinase (CK), proteína diretamente relacionada com a degeneração muscular (Katiriji e Al-Jaberi, 2001),é utilizada para o diagnóstico de miopatias (Katiriji e Al-Jaberi, 2001). Os níveis plasmáticos da CK refletem a quantidade desta proteína liberada por todos os músculos estriados esqueléticos, inclusive da musculatura estriada cardíaca (Pastoret e Sebille, 1995; Radley e Grounds, 2006).

Na DMD, os níveis da CK estão cerca de 50 a 100 vezes acima dos limites superiores dos valores de referência (Engel et al.,1994). Em camundongos mdx, os níveis da CK tambémsão elevados durante toda a vida do animal (Bulfield et al., 1984; Yoshida et al., 2006). Neste trabalho, como o esperado, os grupos de camundongos mdx (mdx e Ω3) apresentaram níveis séricos da CK maiores do que o grupo de camundongos controles. O tratamento com ômega-3 por 16 dias (14º-30º dia de vida) reduziu a mionecrose nos camundongos distróficos em cerca de 51% epor 5 meses (3º-8º dia de vida) cerca de 47%, o que indica melhora no quadro desta distrofinopatia. Estes dados são coerentes com osdeFogagnolo Maurícioet al. (2013), que estudou outros músculos distróficos de animais tratados com ômega-3 e obteve resultados da CK inferiores àqueles encontrados nos mdx tratados com nujol.

Além da CK, a mionecrose pode ser estudada pelos níveis de cálcio encontrados na fibra muscular. Devido à ausência da distrofina, o CDG é desorganizado tornando as fibras musculares sujeitas a lesões no sarcolema, as quais permitem o influxo elevado de íons cálcio, resultando em mionecrose (Grounds et al., 2005). Neste contexto, analisamos as concentrações de creatina e taurina nos músculos estudados. A creatina é naturalmente produzida nos rins, pâncreas e fígado (Bemben a& Lamont, 2005) e conhecida por reduzir os danos à fibra muscular esquelética (Cooke et al., 2009; Rosene et al., 2009). A taurina é o aminoácido mais abundande nos tecidos dos mamíferos (Huxtable, 1992; Barle et al., 1996) e seus elevados níveis são requeridos para a apropriada manutenção da homeostase de cálcio (Huxtable & Bressler, 1973; De Luca et al., 2015), ou seja redução da mionecrose. As concentrações de creatina e taurina nos músculos distróficos com 1mês de idade foram semelhantes à dos animais controles. Entretanto, aos 8 meses de vida, os animais distróficos tiveram redução nas concentrações destes metabólitos. Estudos prévios corroboram nossos resultados ao demonstrarem que tanto a taurina, quanto a creatina, apresentam reduzidas concentrações no músculo distrófico de camundongos mdxaos 6 meses de vida (Martins-Bach et al, 2012) e em biópsia de pacientes da DMD (Sharma et al, 2003).

Estes resultados provavelmente refletem a progressão da doença, em que os repetidos ciclos de degeneração e regeneração ocorrem (Pastoret e Sebille, 1995; Radley e Grounds, 2006) e geram aumento no influxo de íons cálcio e alteração na homeostase deste íon (Nanobashvili et al, 2003 Takahashi et al, 2003). A diminuição de creatina e taurina aos 8 meses de idadenos animais distróficos pode ser devida ao aumento das lesões no sarcolema e ao influxo exacerbado de íons cálcio, o que resulta em mionecrose (Groundset al., 2005). O tratamento com ômega-3 foi eficiente em restaurar a concentração destes metabólitos (elevar a concentração), o que implica em proteção muscular contra a mionecrose. Este dado é coerente com os até aqui apresentados (redução da CK e aumento da força muscular), assim como com os efeitos já conhecidos do ômega-3 na proteção da fibra muscular (Foagnolo Maurício et al., 2013).

Adicionalmente, observamos que o tratamento com ômega-3por 16 dias (14º-30º dia de vida) diminuiu as áreas de fibras com núcleo central no diafragma, indicando diminuição da mionecrose. O diafragma do camundongo mdxé o músculo de achados patológicos mais graves e semelhantesao observado em pacientes da DMD (Pastoret e Sebille, 1995; Grounds et al., 2008; Marques et al., 2008;Matsumura et al., 2009), sendo que os efeitos benéficos neste músculo são de grande relevância.

O tratamento com ômega-3 foibenéfico em reduzir a mionecrosenos camundongos mdx, provavelmente devido à ação supressora que este suplemento exerce nas vias enzimáticas (cicloxigenase), reduzindo a produção de eicosanóides pró-inflamatórios e favorecendo a síntese dos eicosanóides anti-inflamatórios(James et al., 2000; Calder, 2008).

Ômega-3 X Inflamação e a Citotoxidade dos M1

Outros fatoresrelacionados à mionecrose são as moléculas pró inflamatórias, como o NF-κB(nuclear factor kappa betta) e o TNF-α (Tumor Necrosis Factor alpha);Whitehead et al., 2006.

O NF-κBé um fator de transcrição que regula a expressão de vários genes, especialmente aqueles envolvidos na resposta inflamatória e no estresse agudo (Karin e Delhase, 2000). Este fatoré mantido no citoplasma na sua forma inativa através da interação com proteínas inibitórias, I-kappa B (I-kB). Quando fosforilada, a I-kB sofre degradação proteolítica e permite que o NF-κBentre no núcleo e controle os genes alvos (Senftleben e Karin, 2002). Alterações na sinalização do NF-κBestão presentes na DMD e em camundongos mdx (Acharyya et al., 2007). Segundo Kumar et al. (2003), os músculos esqueléticos de camundongos mdx apresentam ativação do NF-κBantes mesmo da expressão da distrofina, o que aumentaria os níveis do TNF-α e IL-1β, citocinas citotóxica relacionada aos macrófagos M1.

O TNF-α é uma citocina inflamatória produzida por macrófagos e células musculares e diretamente relacionada à mionecrose e a inflamação das fibras musculares distróficas (Vassalli, 1992). Pacientes com DMD e camundongos mdx apresentam níveis elevados do TNF-α (Grounds et al. 2008). O papel da inflamação e do TNF-α na progressão da distrofia muscular foi comprovado através de terapias farmacológicas que reduziram o infiltrado inflamatório (Hodgetts et al., 2006) e inibiram os mecanismos sinalizadores dependentes de TNF-α (Waters et al., 2010), o que melhorou o quadro distrófico (Hodgetts et al., 2006; Waters et al., 2010).

De acordo com nossos resultados, os músculos COR e DIA de camundongos mdxcom 1 mês de vida apresentaram níveis elevados de NF-κBe TNF-α em comparação aos animais controles. Realmente, os dois fatores (NF-κB e TNF-α)estão elevados nos camundongos mdx (Grounds et al. 2008; Machado et al., 2011; Fogagnolo Maurício et al., 2013). No músculo QDR, somente os níveis de TNF-α foram maiores no mdxe com 1 mês de vida. Quando analisamos os níveis do TNF-α entre o QDR de camundongos mdx com os demais músculos, observamos que o QDR teve valores maiores de TNF-α.

No QDRdo grupo mdx, o NF-κBapresentou valores pouco maiores do que o grupo controle nas idades estudadas neste trabalho. Entretanto, o estudo da atividade do NF-κBno músculo gastrocnêmio (músculo da pata) de animais controles e mdx dos 6 aos 25 dias pós- natal, revelou que os mdx apresentaram maior atividade de NF-κBaos 6 e 25 dias pós-natal, enquanto animais controles apresentaram progressiva redução na atividade desse fator para o mesmo período (Kumar et al, 2013). Se esperarmos um mesmo padrão de atividade no QDR, por também ser um músculo da pata, o aumento de NF-κBpode ter ocorrido antes dos 30 dias, quando então deve ter se iniciado a mionecrose. Isto explicaria os menores valores de NF-κB, bem como o aumento da regeneração que observamos no QDR, em comparação ao grupo controle e aos demais músculos distróficos, com 1 mês de vida.

Aos 8 meses de idade os níveis de NF-κBe TNF-αno COR foram semelhantes aos animais controles. Entretanto, no DIA os valores de NF-κBe TNF-α são maiores no mdx do que no controle aos 8 meses de idade, indicando que neste músculo o processo de degeneração continua a ocorrer nesta idade. Isto explicaria o fato do DIA ser o músculo mais afetado na DMD e no camundongo mdx(Pastoret e Sebille, 1995; Grounds et al., 2008; Marques et al., 2008; Matsumura et al., 2009).

No presente trabalho, demonstramos que o tratamento com ômega-3 foi eficaz em reduzir a inflamação através da diminuição dos valores de NF-κBe TNF-α nos tratamentos por 16 dias (COR, DIA e QDR) e por 5 meses (DIA). Também houve redução nos níveis plasmáticos do TNF-α. A diminuição do TNF-αestá diretamente relacionada à redução considerável da mionecrose (Grounds e Torrisi, 2004; Radley e Grounds, 2006), o que melhora o quadro desta distrofinopatia. Portanto, o tratamento com ômega-3 foi eficiente em reduzir a inflamação nos animais distróficos.

Provavelmente, a redução desses fatores inflamatórios (NF-κBe TNF-α) nos mdx tratados com ômega-3 ocorreu devido às propriedades do EPA, um dos componentes do ômega-3, em reduzir os níveis do TNF-α (Machado et al., 2011; Fogagnolo et al., 2013) ou em inibir sua liberação (Babcock et al., 2000; Babcock e Cols, 2002). Outro mecanismo pelo qual o ômega-3 reduz a inflamação é através do aumento da IL-10 (interleucina 10; Satoh- Asahara et al., 2012),fato também observado neste estudo. O aumento nos níveis da IL-10 através do ômega-3 ocorre pelas propriedades deste suplemento em aumentar a expressão do gene que codifica esta interleucina (Satoh-Asahara et al., 2012). Uma vez aumentada, a IL- 10tem ação sobre a reduçãona expressão do TNF-α (Fiorentino et al., 1991; Arnold et al., 2007; Hao et al., 2010) e como consequência tem-se a redução da inflamação (Fiorentino et al., 1991; Arnold et al., 2007; Hao et al., 2010). Portanto, o aumento na IL-10 ocasiona

redução do TNF-α(Fiorentino et al., 1991; Arnold et al., 2007; Hao et al., 2010), tal qual observamos em nossos resultados, aumento da IL-10 e redução do TNF-α, bem como redução na área de inflamação.

Além da redução do NF-κBe TNF-α, observamos que o tratamento com ômega-3 reduziu os níveis do F4/80, proteína expressa pelos macrófagos (M1 e M2). Os níveis de F4/80 estão elevados em camundongos mdx (de Carvalho et al., 2013) em comparação aos camundongos controles, assim como o observado em nossos resultados. O tratamento com ômega-3 foi eficiente em reduzir os níveis dessa proteína nos músculos COR, DIA e QDR. As propriedades anti-inflamatórias do ômega-3 se devem, pelo menos em parte, à ação de um de seus componentes, o EPA, que é eficiente em reduzir os fatores inflamatórios (Calder, 2008; Machado et al., 2011), incluindo aqueles expressos pelos macrófagos (de Carvalho et al., 2013). Em nosso estudo anterior constatamos que o tratamento diário com EPA por 16 dias foi eficiente na redução do F4/80 nos camundongos mdx (de Carvalho et al., 2013) e agora observamos que o ômega-3 (3 vezes na semana) também reduz os níveis desta proteína nos

mdx com 1 mês de vida. Adicionalmente demonstramos, que aos 8 meses de idade os

músculos COR, DIA e QDR também apresentaram redução do F4/80. Portanto, o tratamento com ômega-3 em ambos os períodos estudados foi eficiente em reduzir não somente os fatores inflamatórios (NF-κBe TNF-α) como também os macrófagos (F4/80) em camundongos mdx.

O tratamento com ômega-3 por 16 dias e por 5 meses, além de diminuir a população de macrófagos (F4/80), atuou de forma diferenciada sobre os dois tipos de fenótipos (M1 e M2).Os M1 promovem adegeneração da fibra muscular distrófica, enquanto que os M2 têm potencial regenerativo (Villalta et al., 2009); a proporção desses fenótipos influencia a progressão da doença. Os camundongos mdx tratados com ômega-3 tiveram redução na mionecrose causada pelos macrófagos M1 e aumento na regeneração muscular. Atribuímos tais resultados ao predomínio dos M2 sobre os M1.

Os M1 são ativados pela via do Interferon-γ (IFN-γ) (Lagrota-Candidoet al., 2002) e provocam lesão muscular in vivo e in vitro pela produção de óxido nítrico (NO) em níveis citotóxicos através da indução da síntese de iNOS (Villalta et al., 2009). Verificamos que os camundongos mdx apresentaram níveis elevados de IFN-γ em comparação aos animais controles, indicando que os M1 estão atuantes nestes animais e nestas idades. Coerentemente com este resultado, observamos que os níveis de iNOS, citocina diretamente relacionada aos M1 também estão elevados nos mdx. De fato, os níveis do IFN-γ, bem como do iNOS estão aumentados nos animais distróficos (Villalta et al, 2009; de Carvalho et al, 2013). Isto

acarreta aumento da degeneração muscular e diminuição da regeneração, uma vez que o IFN- γ é responsável pela inibição da proliferação e diferenciação muscular (Villalta et al., 2011). O tratamento com ômega-3 reduziu os níveis do iNOS, bem como a porcentagem de macrófagos M1 ativos no músculo quadríceps femoral, e os níveis plasmáticos do IFN-γ, indicando a desativação do fenótipo M1 (Villalta et al., 2011).

Sabe-se que ao reduzir a população de fenótipo M1, ocorre mudança para o fenótipo M2, o qual promove crescimento e reparo muscular após a lesão (DeKruyff et al., 1998., Villalta et al., 2009; Villalta et al., 2011). O tratamento de macrófagos com dexametasona demonstrou que a inibição do IFN-γ pelas células-T promoveu mudança do fenótipo M1 para o M2 (DeKruyff et al., 1998). A abolição do IFN-γ em camundongos mdxafetou o balanço dos macrófagos M1 e M2, levando ao predomínio do fenótipo M2 (Villalta et al., 2011). O mesmo foi observado quando se inibiuo gene do iNOS em camundongos mdx,levandoao predomínio do fenótipo M1 para M2 (Villata et al., 2009). Como os M1 têm ação citotóxica e os M2 têm potencial regenerativo (Villalta et al., 2009), a mudança do fenótipo M1 para o M2 na DMD é benéfica. Assim, nossos resultados demonstraram que o ômega-3 melhora a patologia da DMD ao reduzir a citotoxidade (IFN-γ e iNOS) dos macrófagos M1 e favorecer o predomínio dos M2 nos músculos distróficos.

O mecanismo pelo qual houve redução nos níveis do IFN-γ e iNOS provavelmente estárelacionado ao aumento na IL-10 observado nos mdx tratados com ômega-3. A IL-10 tem ação inibitória sobre o IFN-γ(Arnold et al., 2007; Hao et al., 2010), além de potente bloqueadora da indução da expressão da IL-6 e TNF-α (Strle et al., 2007). De fato, observamos aumento da IL-10 em ambos os períodos de tratamento com ômega-3 e redução da inflamação (TNF-α e IFN-γ), bem como dos níveis plasmáticos da IL-6, em ambos os períodos de tratamento.

A IL-6 parece ser pró e anti-inflamatória. Os efeitos da IL-6 considerados pró- inflamatórios estão relacionados à formação de tumores benignos no coração (Franchimontet al., 1997) e aumento da inflamação muscular, o que é prejudicial (Kurek et al., 1996). Por outro lado, a ausência completa da IL-6 impede a regeneraçãomuscular(Serrano et al., 2008; White et al., 2009). Além disso, modelos knockout para IL-6 mostraram a necessidade desta interleucina para a ativação de células satélite e regulação na remodelação da matriz extracelular, bem como papel na hipertrofia muscular (Serrano et al., 2008; White et al., 2009).

Os camundongos mdx têm elevados níveis de IL-6 quando comparados aos animais controles, sendo que valores muito altos são considerados prejudiciaispara os músculos

distróficos (Serrano et al., 2008), por aumentarem a inflamação(Kurek et al., 1996).Entretanto, níveis moderados da IL-6são potencialmente benéficos para a hipertrofia muscular em adultos por controlar a proliferação de células satélites e agregação de mionúcleos (Serrano et al., 2007).De fato, verificamos que os camundongos mdx têm níveis de IL-6 maiores do que os animais controles e o tratamento com ômega-3, tanto por 16 dias quanto por 5 meses foi eficiente ao reduzir estes níveis.

Talvez, os níveis moderados da IL-6, os quais são benéficos para a proliferação de células satélites e agregação de mionúcleos (Serrano et al., 2008) sejam os que se aproximam dos valores encontrados nos animais controles. Assim, é possívelque a ação do ômega-3 sobre a IL-6 tenha sido benéfica para a proliferação das células satélites e agregação de mionúcleos nos músculos (COR, DIA e QDR) dos mdx, principalmente no QDR, no qual observamos aumento da regeneração, além de múltiplos núcleos centralizados.

Ômega-3 X Regeneração Muscular

Além da IL-6, a MyoD, Myf-5(Myogenic factor 5), miogenina e MRF4(Fibroblast growth factor receptor)são fatores que participam da miogênese, (Megeney e Rudnicki, 1995; LE Grand e Rudnicki, 2007), sendo a MyoD responsável por iniciar a diferenciação das células satélites em mioblastos (Yablonka-Reuven e Rivera et al., 1994; Megeney e Rudnicki, 1995; LE Grand e Rudnicki 2007).No QDR, os níveis da MyoD no 1º e 8º meses de vida foram maiores nos grupos doscamundongosmdx (mdx e Ω3) do que nos demais músculos, indicando que o QDR tem potencial regenerativo elevado. Porém, a regeneração do QDR não foi abordada anteriormente na literatura, assim os mecanismos que justifiquem a abundante regeneração deste músculo ainda são desconhecidos.

Além disso, os múltiplos núcleos centralizados em uma única fibra muscular, tal como observamos no QDR (mdx e Ω3) parecem ter relação com os níveis da IL-6 e MyoD. Tanto aMyoD, como a IL-6 estão relacionadas com a fase de proliferação das células satélites (Yablonka-Reuven e Rivera et al., 1994), sendo que esta fase é seguida pela fusão dessas células. Na fase de fusão, observa-se aumento no número de mionúcleos, pois o núcleo das células satélites é doado para a fibra muscular existente e passa a funcionar como um mionúcleo (Van der Meer et al., 2011). Portanto, sugerimos que, devido ao aumento da proliferação das células satélites (IL-6 e MyoD), houve aumento no número de mionúcleos, tal como observamos no QDR dos camundongos mdx (mdx e mdx-Ω3).

Os tratamentos com ômega-3 por 16 dias e por 5 meses aumentaram os níveis da MyoD, no COR, DIA e QDR, assim como houve aumentona área em regeneração observada

na histologia (1º mês de vida). O aumento da regeneração muscular provavelmente se deva às ações do ômega-3 sobre os fatores regenerativos, como aMyoD, o IFN-γ, IL-10 e CD206. O IFN-γ é responsável pela inibição da proliferação e diferenciação muscular (Villalta et al., 2011), sendo que a redução em seus níveisestá associada ao aumento na expressão de todos os genes relacionados aos M2 (regenerativos), incluindo o CD206 e IL-10 (Villalta et al., 2011); tal como observamos nos tratamentos por 16 dias (14º-30º dia de vida) e por 5 meses (3º-8º dia de vida) a com ômega-3: redução do IFN-γ e aumento da IL-10 e CD206. A redução nos níveis do IFN-γ, como já vimos, ocorre devido à ação inibitóriaque a IL-10 exerce sobre esta citocina (Arnold et al., 2007; Hao et al., 2010).

A IL-10leva ao fenótipo regenerativo M2 (Mantovani et al., 2004) devido a suapropriedade indutorasobre a proteína CD163, expressa em macrófagos M2 e conhecida por promover proliferação de mioblastos (Massimino et al., 1997).Como já vimos, o aumento nos níveis da IL-10 através do ômega-3 justifica-se pela ação deste suplemento no aumento da expressão do gene que codifica esta interleucina (Satoh-Asahara et al., 2012), além da inibição que provoca no IFN-γ ocasionando aumento na expressão da IL-10 (Villalta et al., 2011).

Assim como a IL-10, o CD206 é expresso pelos macrófagos M2 sendo, portanto relacionado à regeneração muscular (Villalta et al., 2009). Os músculos de camundongos mdx tratados com ômega-3 em ambos os períodos de tratamento tiveram aumento desta proteína, o que reafirma a ação regenerativa do tratamento com ômega-3.

Além, das proteínas e interleucinas relacionadas ao precesso regenerativo, investigamos a ação do ômega-3 sobre metabólitos (glutamina e glutamato),responsáveis pela síntese de proteínas e consequentemente à regeneração muscular (Wu, 2009). Estes metabólitos estão amentados em camundongos mdx nos músculos quadríceps e diafragma com 3 e 6 meses de

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