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4. Do planear ao Realizar

4.3 Área 3 Desenvolvimento profissional

4.3.3. Treino funcional no contexto das aulas de Educação Física:

4.3.3.6 Discussão

Ao longo das sessões os erros na execução técnica ocorreram de forma mais acentuada nos exercícios de maior exigência, designadamente os relacionados com a postura ao nível das costas e core, especificamente no agachamento, no lunge e nos burpees. É certo que houve evolução de alguns alunos, mas não foi transversal a todos, pelo que podemos considerar que a aquisição das destrezas motoras necessárias à realização dos exercícios foi apenas conseguida parcialmente. Segundo Magill (2007), a aprendizagem é um conjunto de alterações na capacidade de um indivíduo para desempenhar uma habilidade e pressupõe uma melhoria relativamente permanente no desempenho como resultado da prática ou da experiência. Schmidt (2008) defende ainda que a aprendizagem motora é um conjunto de processos internos associados com a prática ou com a experiência e que conduzem a um ganho permanente na capacidade de performance. Assim, a aprendizagem é um processo que envolve tempo e prática, que apesar de serem distintos, são contínuos, em que o iniciante progride ao longo de estádios ou fases. Na aplicação deste programa de treino, o facto de a alteração da qualidade do padrão motor não ocorrido em todos os exercícios, nem em todos os alunos, encontra justificação não apenas no tempo diminuto de aplicação do programa (8 sessões), mas também nos fracos pré-requisitos dos alunos ao nível da destreza motora geral. De facto, segundo o modelo de três estádios construído por Fitts e Posner (1967), a aprendizagem percorre o estádio cognitivo, estádio associativo e estádio autónomo. No 1º estádio, à medida que o praticante ouve as instruções e recebe os feedbacks, empreende uma elevada atividade cognitiva, mas, apesar consciente do erro, não está geralmente habilitado a perceber o que de facto está errado. No 2º estádio existe uma diminuição do número e da frequência dos erros grosseiros e o praticante já aprendeu a associar referências internas (e.g., sensoriais) com os movimentos necessários para atingir o objetivo. Por fim, no estádio final de aprendizagem, após muita prática e experiência, existe elevada estabilidade e consistência das respostas, tornando os movimentos quase automáticos ou habituais.

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Face a este quadro, os alunos, atendendo ao seu nível inicial, muito provavelmente, só atingiram o 1º estádio, pois mesmo sabendo que não estavam a realizar corretamente os movimentos do exercício, faziam-no sem corrigirem a técnica. O facto de só se terem familiarizado com estes exercícios nestas sessões, pode também ter influenciado a sua aprendizagem, pois tal como refere (Godinho, 1995, p.197) “A aprendizagem é entendida como uma alteração do comportamento que é consequência de uma prática”.

Os resultados da aplicação da bateria de testes Fitschool indicam valores com significado estatísticos, ao nível do número de repetições, em três exercícios: lançamento da bola medicinal, salto à corda e burpees. Apesar de existir uma diferença significativa no número de repetições, o mesmo não sucedeu nas penalizações da execução motora, tendo apenas o exercício de desenvolvimento com bola medicinal apresentado resultados com significado estatístico.

Tal como já foi anteriormente referido, a aprendizagem é vista como uma alteração do comportamento que advém da prática (Godinho, 1995). Utley e Astill (2008) referem ainda que a aprendizagem motora está relacionada com as mudanças relativamente permanentes na capacidade de produzir uma habilidade adquirida pela prática ou como resultado de uma experiência. Dos quatro exercícios acima referenciados, três foram exercitados ao longo da aplicação do circuito Fitschool (lançamento da bola medicinal, burpees e desenvolvimento com bola medicinal), o que leva a crer que estes resultados foram obtidos pelo facto de terem sido exercitados ao longo das 8 semanas. Contudo, apenas o exercício de desenvolvimento com a bola medicinal apresentou uma diminuição significativa no número de penalizações, dando a entender que apesar do aumento no número de repetições nos restantes exercícios (lançamento da bola medicinal e burpees), a qualidade da execução motora não melhorou o quanto devia.

Relativamente ao salto à corda, não era expectável uma diminuição significativa no número de repetições, mesmo sendo um exercício realizado apenas na aplicação da bateria de testes Fitschool. Penso que este resultado

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deveu-se ao registo incorreto por parte de alguns alunos na primeira aplicação da bateria de testes.

No que concerne à comparação do IMC registado no início do ano letivo e no final da aplicação do treino funcional, não existiram diferenças com significado estatístico, mas o número de alunos obesos diminuiu de 3 para 2, estando esse aluno com excesso de peso, e o número de alunos com excesso de peso manteve-se, o que significa que um aluno deixou de ter excesso de peso. Estes resultados de IMC podem estar relacionados com a altura dos alunos do sexo masculino, pois estes apresentam-se no pico de crescimento, que ocorre aproximadamente aos 14 anos de idade, com grandes variações individuais, sendo normal a sua ocorrência entre os 12 e os 16 anos de idade (Beunen et al., 1988; Rogol et al., 2002). No sexo feminino, já não se encontram diferenças tão acentuadas de altura entre o 1º e o 2º registo.

No que respeita aos níveis motivacionais dos alunos para o treino funcional, os dados revelam que a maioria dos alunos (67%) gosta do treino funcional e deseja que este se mantenha nas aulas de EF. Apesar da maioria dos alunos gostarem do treino funcional, 52% não se sentem mais motivados para a aula de EF, utilizando o cansaço como justificação. O cumprimento do prescrito também está relacionado com o cansaço, pois os alunos que admitiram “escapar” justificaram com o cansaço. É possível interpretar que a aptidão física dos alunos não está suficientemente desenvolvida, pois segundo Powers & Howley (2009) esta é definida como um conjunto de atributos que os indivíduos possuem ou desenvolvem inerentes à capacidade de realizar atividade física.

Dos alunos, 71% consideram que a prática do treino funcional tem um contributo importante nas suas vidas extraescolares, nomeadamente na melhoria da força e da resistência, e os restantes 29% referem a melhoria na postura corporal, tendo dado como o exemplo o agachamento para pegar nos sacos das compras, evitando forçar as costas. Face a estas respostas, é possível dizer que os alunos percebem os benefícios do treino funcional para a melhoria das capacidades de força e resistência, indicando que estes sentiram melhoria destas capacidades ao longo das 8 sessões. Para além deste aspeto,

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o facto de relacionarem o treino funcional com atividades do dia-a-dia, demonstra que estes entenderam o conceito deste tipo de treino.

No que refere aos exercícios preferidos, estes estão relacionados com o grau de exigência de execução, pois os burpees estão no topo da lista dos exercícios menos preferidos e a remada no TRX é o exercício preferido por 83% dos alunos. Este facto pode dever-se ao elevado grau de exigência de execução dos burpees, que requerem um maior número de grupos musculares comparativamente à remada no TRX, aportando mais dificuldade e maior dispêndio energético.

É óbvia a alta percentagem de alunos que não se sentem motivados para a aula com a aplicação do treino funcional (43%). Deste modo, a motivação proporcionada pelo professor terá de ser evidente para aumentar o compromisso dos alunos, pelo que devem ser selecionados exercícios com um menor grau de exigência de execução técnica numa fase inicial, para que estes sejam cativantes e ao mesmo tempo a condição física esteja a ser desenvolvida. Garganta e Santos (2015, p.154) referem que “é fundamental motivar uma pessoa, mas isso só se consegue quando: se gosta da tarefa, acha a tarefa desafiante e entende que se trata de algo importante”.