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6.1 - Caracterização quali-quantitativa da carcinofauna

Levantamentos faunísticos regionais, voltados à composição quali-quantitativa de invertebrados marinhos são de fundamental importância para uma melhor compreensão da estrutura, funcionamento e variabilidade natural das comunidades bentônicas, constituindo um requisito fundamental no estabelecimento de programas de monitoramento ambiental, além de servirem como base para a conservação da biodiversidade (SANTOS et al. 2000; MANTELATTO et al. 2004; BRAGA et al. 2005).

No presente trabalho foi registrada a ocorrência de 21 espécies de crustáceos, pertencentes a 16 gêneros e 10 famílias, enquanto que BRANCO (1998a, b) em estudos no Manguezal do Itacorubí, situado na Baía-Norte da ilha de Santa Catarina, citou a presença de 19 espécies, distribuídas em seis famílias. Nos manguezais do Rio Camboriú e da Baía da Babitonga, a carcinofauna esteve representada por 17 e 26 espécies respectivamente (RODRIGUES et al. 1994; BRANCO et al. 1998a).

TEIXEIRA & SÁ (1998) analisando a abundância de macrocrustáceos decápodas nas áreas rasas do complexo lagunar Mundaú/Manguaba, Alagoas, constataram a presença de 15 espécies em quatro famílias, enquanto que para a Baía de Ubatuba, no litoral Norte de São Paulo, MANTELATTO & FRANSOZO (2000) levantaram 50 espécies de Brachyura, distribuídas em 10 famílias. Para o Estado do Rio Grande do Sul, SANTOS et al. (2000), com auxílio de rede de coca, observaram 11 espécies de crustáceos, distribuídos em cinco famílias ao longo da Lagoa do Peixe, ao passo que no estuário do Arroio Chuí, PEREIRA et

As diferenças encontradas na composição da carcinofauna entre os locais comparados, provavelmente estão relacionados com as características hidrológicas (NAKAGAKI et al. 1995), a heterogeneidade de habitats (SANTOS

et al. 2000; MANTELATTO et al. 2004), a extensão e o estado de conservação

destes ambientes (RODRIGUES et al. 1994; BRANCO et al. 1998a), bem como, aos esforços e metodologias de captura diferenciados (SANTOS et al. 2000; MANTELATTO et al. 2004).

As famílias Penaeidae e Portunidae foram as que apresentaram as maiores riquezas específicas, além de contribuírem com as maiores porcentagens em número de crustáceos capturados, o que tem sido observado em levantamentos realizados por SOUZA-SAMPAIO & FAUSTO-FILHO (1984), MOREIRA et al. (1988), NEGREIROS-FRANSOZO et al. (1992), RODRIGUES

et al. (1994), NAKAGAKI et al. (1995), BRANCO et al. (1998a),

SEVERINO-RODRIGUES et al. (2002), BRANCO & FRACASSO (2004b), BRAGA et al. (2005).

Os camarões peneídeos constituem-se em um dos recursos pesqueiros mais freqüentes e explorados nas regiões costeiras subtropicais e tropicais em todo o mundo, assim como na costa brasileira (D’INCAO, 1991, VALENTINI et

al. 1991; ALBERTONI et al. 2003; CASTRO et al. 2005; GUSMÃO et al. 2005;

LEITE & PETRERE, 2006 a; LEITE & PETRERE, 2006 b; ROBERT et al. 2007). Nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, as frotas artesanais e industriais atuam principalmente sobre os estoques das espécies mais lucrativas, tais como os camarões-rosa (Farfantepenaeus brasiliensis e Farfantepenaeus paulensis), o branco (Litopenaeus schimitti) e o sete barbas (Xiphopenaeus kroyeri), sendo que recentemente, o camarão barba-ruça (Artemesia longinaris Bate, 1888) e o Solenoceridae (Pleoticus muelleri Bate, 1888) vêem ganhando importância comercial (VALENTINI et al. 1991; DUMOND & D’INCAO, 2004; FRANSOZO et

al. 2004; GRAÇA-LOPES et al. 2007). Tais espécies foram encontradas na

Baía-Sul, ao longo dos oito anos de amostragem, onde F. brasiliensis, L. shimitti e F.

paulensis, destacaram-se entre as mais abundantes, o que tem sido observado

nos estudos de SOUZA-SAMPAIO & FAUSTO-FILHO (1984), CHAGAS-SOARES et al. (1995), BRANCO & VERANI (1998a,b), SANTOS & COELHO (1998), ROBERT et al. (2007).

Segundo SEVERINO-RODRIGUES et al. (2001), grande parte da fauna bentônica associada às águas estuarinas está constituída por crustáceos braquiúros, especialmente os Portunidae. Essa dominância pode ter contribuído na popularização da pesca dos siris (Callinectes), tornando-a uma das atividades mais antigas no litoral brasileiro e suportando atualmente, diversas comunidades que sobrevivem de sua comercialização (BARRETO et al. 2006).

Atualmente são descritas 14 espécies de Callinectes, das quais oito ocorrem no Atlântico ocidental, três no oriental e três no Pacífico oriental (WILLIANS, 1974). A região Sul do Brasil é caracterizada pela presença marcante de três espécies, Callinectes sapidus Rathbun, 1896, C. danae e C.

ornatus Ordway, 1863 (MELO, 1996) e de duas de menor importância C. bocourti A. Milne Edwards 1879 e C. exasperatus Gertaecker, 1856 (WEBER et al. 2003).

LOEBMANN & VIEIRA (2006), analisando o impacto da pesca do camarão-rosa F. paulensis nas assembléias de peixes e siris do Parque Nacional da Lagoa do Peixe (RS), destacaram o siri azul C. danae como abundante, sendo considerado uma “praga” por danificar as redes de camarão e por não possuir aproveitamento de sua carne pelos pescadores da região.

Para RODRIGUES et al. (1994), C. danae ocorreu em maior freqüência dentre as espécies de Callinectes no manguezal do Rio Camboriú, sendo aproveitado como recurso alimentar pelas populações ribeirinhas, o que foi igualmente verificado para Lagoa da Conceição (BRANCO 1998a), manguezal do Itacorubí (BRANCO & MASUNARI 2000) e manguezal da Baía da Babitonga (BRANCO et al. 1998a). No ecossistema Saco da Fazenda, Itajaí, (SC), esta espécie em conjunto com o siri Callinectes sapidus contribuíram com as maiores capturas para a carcinofauna (BRANCO & FREITAS-JÚNIOR, no prelo).

Para a região do Saco dos Limões, C. danae foi a espécie de Callinectes dominante nas capturas, sendo que C. sapidus ocorreu apenas de forma acidental. Tal fato provavelmente está associado à estratificação espacial diferenciada entre as duas espécies, onde C. sapidus habitaria as áreas mais internas dos manguezais, ficando fora do alcance do petrecho de pesca, ao passo que C. danae estaria distribuído ao longo da baía, o que é corroborado por PITA et al. (1985b), MELO (1996) e SEVERINO-RODRIGUES et al. (2001),

bem como, por relatos de pescadores locais, os quais estariam capturando exemplares de C. sapidus ao longo do manguezal do Rio Tavares.

No presente trabalho foi registrada a ocorrência do portunídeo Indo-Pacífico Charybdis hellerii. Esta espécie exótica foi documentada pela primeira vez para a costa brasileira por CARQUEIJA & GOUVÊA (1996) no Estado do Alagoas, tendo sido encontrado na costa do Estado de São Paulo (NEGREIROS-FRANSOZO, 1996), no Rio de Janeiro (TAVARES & MENDONÇA JR, 1996), em Santa Catarina (MANTELATTO & DIAS, 1999), no Rio Grande do Norte (FERREIRA et al. 2001) e no litoral de Pernambuco (COELHO & SANTOS, 2003).

Acredita-se que C. hellerii tenha sido introduzido no Hemisfério ocidental, a partir do transporte de larvas, pela água de lastro de navios (MANTELATTO & DIAS , 1999; NUCCI et al. 2001; COELHO & SANTOS , 2003), sendo que em algumas localidades, como no litoral da Bahia, a espécie já possui uma população estabelecida (MANTELATTO & GARCIA, 2001; ALMEIDA et al. 2006), provavelmente em função da competição por alimento e habitat com os outros portunídeos nativos, da inexistência de predadores naturais e do não aproveitamento deste pela pesca artesanal (ALMEIDA et al. 2006). Desta maneira, a presença de C. hellerii na Baía-Sul é preocupante, havendo a necessidade de uma adequação do esforço e metodologia de captura, na tentativa de verificar se a espécie possui uma população estabilizada na baía, o que poderia causar uma grave modificação na composição da fauna bentônica.

Segundo DAY et al. (1989), estuários e baías são ambientes dinâmicos, onde as rápidas mudanças físico-químicas exigem muita energia dos organismos, dificultando a sobrevivência de alguns grupos. Desta forma, poucas são as espécies residentes que completam seus ciclos de vida nestes ecossistemas, a grande maioria são visitantes ocasionais de origem marinha (SANTOS et al. 2002). Essa tendência foi observada na Baía-Sul, sendo corroborado por BRANCO et al. (1998b), MANTELATTO & FRANSOZO (2000), SEVERINO-RODRIGUES et al. (2002) e ROBERT et al. (2007). Para MANTELATTO et al. (2004) e BRAGA et al. (2005), a ocorrência de espécies ocasionais sugere que estes crustáceos estariam em trânsito pela área de estudo, ou possivelmente, distribuídas em áreas restritas destes ambientes.

A temperatura da água de superfície no Saco dos Limões apresentou-se dentro dos padrões de sazonalidade esperado para a região, com os maiores valores nos meses de verão e os menores no inverno (MATSURA, 1986). Padrão semelhante foi encontrado para a salinidade da água de superfície, com valores típicos de zonas costeiras (MATSURA, 1986), onde o verão contribuiu com os maiores valores, enquanto o outono apresentou os menores teores.

A cobertura sedimentar predominante ao longo do ambiente foi composta por lama terrígena com elevadas concentrações de matéria orgânica, com presença localizada de areia litoclástica fina, na área caracterizada como “buraco da draga”, durante o início das atividades de monitoramento.

De acordo com BOSHI (1969) e GUERRA-CASTRO et al. (2007), diversos fatores vem sendo atribuídos como responsáveis pelas variações nas abundâncias de espécies de crustáceos ao longo de seus ambientes. Para BRANFORD (1981) a textura do sedimento, bem como o conteúdo de matéria orgânica, desempenham um importante papel na ecologia dos penaeidae, uma vez que o primeiro estaria relacionado com a capacidade da espécie se enterrar para fugir dos predadores, enquanto que o material orgânico refletiria a disponibilidade de alimento. Para PEREZ-CASTAÑEDA & DEFEO (2001),estas oscilações estão mais relacionadas às influências abióticas de temperatura e salinidade, o que tem sido demonstrado nos trabalhos de SIGNORET (1974), SPIVAK (1997), TEIXEIRA & SÁ (1998), CHACUR & NEGREIROS-FRANSOZO (2001) e LOEBMAM &VIEIRA (2006).

Além destes fatores, o período reprodutivo, as taxas de mortalidade, assim como, o padrão de migração das espécies, podem contribuir para as variações encontradas no número de indivíduos capturados (JOHNSON, 1985; DITTEL & EPIFANIO, 1990; FORBES & CYRUS, 1991; SHANKS, 1998; TANKERSLEY et al. 1998; FERNANDES et al. 2002; PEREZ-CASTAÑEDA & DEFEO, 2005), sendo de fundamental importância a compreensão desses parâmetros para interpretação das oscilações nas abundâncias da carcinofauna.

Na região do Saco dos Limões, a ocorrência de elevadas quantidades de zoea durante os meses mais quentes do ano, provenientes de desovas ocorrentes no ambiente costeiro adjacente (RESGALLA JR, 2001), associada com as altas temperaturas registradas durante o verão e a disponibilidade de alimento, principalmente matéria orgânica, que tem sido referida como

importante item na dieta de siris (BRANCO & VERANI, 1997; BRANCO et al. 2002) e camarões (BRANCO & JUNIOR, 2001), podem ter contribuído para as maiores abundâncias registradas.

BRANCO et al. (1998b), em estudos com os macroinvertebrados da Armação do Itapocoroy, encontraram as maiores abundâncias, durante o período da tarde e a noite, corroborando com os dados do presente estudo. Segundo NEIVA (1966) e SANTOS et al. (2006), é comum o hábito dos crustáceos permanecerem enterrados durante o dia para evitar a predação, sendo mais ativos a noite, onde normalmente são capturados pelas redes de pesca. No entanto, SANTOS & SOUZA-FREITAS (2004) destacam que em áreas onde ocorrem altas concentrações de partículas sólidas em suspensão, que tornam a água mais turva, podem-se observar elevadas capturas diurnas.

De acordo com SANTOS (2000), o índice de diversidade de Shannom (H’) indica o grau de complexidade da comunidade que se estuda, sendo influenciado pelo número de espécies, assim como, pelo número de indivíduos dentro de cada espécie. No presente trabalho, esse índice variou de 0,79 a 1,70, sendo inferior ao encontrado por MANTELATTO & FRANSOZO (2000) (1,10 a 2,06) na baia de Ubatuba e por MANTELATTO et al. (2004) (1,86 a 3,54) no infralitoral arenoso e rochoso da ilha de Anchieta, SP.

Além das diferenças na extensão e nas características hidrológicas destas regiões, a heterogeneidade de habitats em Ubatuba e na ilha de Anchieta, provavelmente contribuiu para uma maior coexistência de diferentes espécies nestes locais, resultando nas maiores diversidades observadas (NUCCI et al. 2001; SANTOS et al. 2000; BRAGA et al. 2005).

Em geral as maiores diversidades no Saco dos Limões ocorreram durante os meses de outono e inverno, o que segundo MANTELATTO & FRANSOZO (2000), está possivelmente relacionado às variações sazonais na abundância das espécies dominantes, em conjunto com as mudanças nas condições ambientais. Já para BRANCO et al. (1998b), estas oscilações estariam vinculadas ao grande número de espécies com ocorrência ocasional e sazonal que transitam no ambiente de estudo.

O índice de equitabilidade de Pielou (J’) obtido no presente estudo variou de 0,36 a 0,93, enquanto que MANTELATTO et al. (2004) registraram uma variação de aproximadamente 0,65 a 1,00. Assim como para a diversidade, o

outono e o inverno contribuíram com os maiores índices, indicando uma distribuição mais uniforme dos indivíduos na área de estudo durante os meses mais frios.

Segundo BRANCO & VERANI (2006), informações sobre a análise de Cluster aplicada às comunidades de crustáceos e peixes são raros na literatura nacional. Neste estudo, as associações obtidas apresentaram-se estruturadas em função da abundância e ocorrência das espécies. As dominantes numericamente, como L. schimitti, F. brasiliensis, F. paulensis e C. danae, de ocorrência constante nas coletas, formaram um grupo independente dos demais taxa, enquanto que os dois maiores agrupamentos reuniram as espécies das categorias ocasional e acessória.

O conhecimento do tamanho de primeira maturação gonadal é fundamental para a administração racional de um estoque sujeito a exploração, pois fornece a informação básica para determinação do tamanho mínimo de captura e dimensionamento das malhas das redes (BRANCO, 2005). Além disso, a sobreposição desse tamanho com as curvas de distribuição de freqüência de comprimento permitem determinar o estrato da população que a pesca vem atuando. Partindo deste pressuposto, foi possível verificar que as populações dos camarões-rosa F. brasiliensis e F. paulensis, bem como a do camarão-branco L. schimitti foram constituídas predominantemente por indivíduos juvenis na região do Saco dos Limões, com uma pequena participação dos adultos, o que está de acordo com o encontrado por CHAGAS-SOARES et al. (1995), BRANCO & VERANI (1998a) e SANTOS & SOUZA- FREITAS (2004).

Segundo D’INCAO (1991), a reprodução do gênero Farfantepenaeus ocorre na plataforma continental em profundidades entre 40 e 100 metros, com a liberação de ovos bentônicos, que após permanecerem por vários estágios larvais planctônicos, penetram em águas mais calmas e ricas da região estuarina, onde ocorre o crescimento, com migração (após aproximadamente 5 meses) para as zonas de reprodução no mar. Entretanto, este mesmo autor destaca que alguns indivíduos podem permanecer no estuário até a idade de 10 meses, onde estes camarões retardatários formariam pequenos cardumes para emigração, até o desaparecimento total da população para fechar o ciclo de vida em mar aberto. Deste modo, a presença de indivíduos adultos no Saco dos

Limões, provavelmente está relacionada aos retardatários que ainda não completaram o seu ciclo de vida.

Para o siri azul C. danae, a análise das distribuições de comprimento em conjunto com o tamanho de primeira maturação revelou uma maior paridade entre as porções juvenil e adulta que habitam a baía. No entanto, dentre os indivíduos adultos, foi observado uma estratificação diferenciada entre os sexos, com uma pequena contribuição das fêmeas de maior tamanho.

Segundo BRANCO & MASUNARI (2000), a ausência de fêmeas adultas nestes ambientes está relacionada ao próprio ciclo reprodutivo da espécie, onde o comportamento de corte e cópula ocorreria dentro do sistema estuarino, sendo que os machos adultos permaneceriam no ambiente, enquanto que as fêmeas ovígeras migrariam para águas mais salinas para o desenvolvimento e dispersão das larvas. De acordo com TANKERSLEY et al. (1998), para C. sapidus da Baía de Beaufort, estas migrações ocorrem durante as marés de vazante noturnas e estão vinculadas à deslocamentos ativos ao longo da coluna d’água, a partir da percepção de mudanças nas características físico-químicas das massas d’água.

A ocorrência de casais em cópula durante o período de estudo reforça a hipótese de que a espécie apresenta atividade reprodutiva dentro do Saco dos Limões, entretanto a baixa incidência de fêmeas ovígeras indica que C. danae provavelmente completa seu ciclo de vida fora do ecossistema Baía-Sul, o que tem sido observado nos trabalhos de PITA et al. (1985b) no complexo baía estuário de Santos e São Vicente (SP), CHACUR & NEGREIROS-FRANSOZO (2001) na Baía de Ubatuba (SP), BAPTISTA-METRI et al. (2005) no Balneário Shangri-lá, Pontal do Paraná (PR) e BRANCO & MASUNARI (2000) na Lagoa da Conceição (SC).

Os dados obtidos no presente estudo indicam a região do Saco dos Limões como uma área de grande importância para o estabelecimento de diversas espécies de crustáceos, onde as famílias Penaeidae e Portunidae destacaram-se entre as mais abundantes, além de possuírem relevante interesse comercial. Considerando a grande abundância de indivíduos juvenis nas coletas, verificou-se que a baía atua como um local de berçário e crescimento para os peneídeos, além de contribuir como ambiente de reprodução para os portunídeos, onde provavelmente a eclosão das larvas

ocorre na região costeira adjacente, com subseqüente migração destas para áreas de crescimento dentro da baía onde reiniciam o ciclo.

6.2 - Impactos das operações de dragagem

A atividade de dragagem em áreas estuarinas constitui um impacto comum, seja para facilitar a entrada de navios em portos ou para execução de obras costeiras (BEMVENUTI et al. 2005). Em países como os Estados Unidos, bem como em diversos locais da Europa, esta prática vem sendo considerada como um dos maiores problemas no gerenciamento da zona costeira (VON DOLAH et al. 1984; WIDDOWS et al. 2006).

Dragagens promovem a remoção da camada superficial do sedimento, causando mudanças na estrutura e dinâmica das comunidades bentônicas, assim como, dispersão na coluna d’água de poluentes eventualmente retidos no fundo (VON DOLAH et al. 1984; MARQUES et al. 1993; TORRES, 2000; NEWELL et al. 2003; NEWELL et al. 2004; ANGONESI et al. 2006). No entanto, podem contribuir na dinâmica e circulação dos estuários, possibilitando a recolonização e o ingresso de novas espécies (BRANCO, 2000).

Durante os oito anos de amostragem, foram registradas alterações na estrutura de crustáceos do Saco dos Limões, o que foi evidenciado pelos baixos valores de similaridade obtidos entre os primeiros e os últimos anos de coleta, bem como, pela presença de três agrupamentos distintos envolvendo os períodos de 1997-2000-2003-2002, 2001-2004 e 2005-2006.

Em geral, a abundância mostrou-se reduzida durante o início do monitoramento ambiental, o que possivelmente esteve associado à grande instabilidade promovida pela intensificação das obras de dragagem no verão de 1997, resultando em altas taxas de mortalidade (FACIMAR, 1998; RESGALLA JR, 2001). Estas perdas provavelmente foram ocasionadas devido à ação mecânica da draga, na medida em que os organismos poderiam ter sido sugados por esta; pelo entupimento das brânquias gerado pelo excesso de material em suspensão (FACIMAR, 1998); ou por uma redução da disponibilidade de alimento, uma vez que suas presas constituem-se de organismos sésseis ou com pequeno poder de locomoção, estando assim, mais vulneráveis aos equipamentos da draga. Tal fato, também foi verificado nos

trabalhos de VON DOLAH et al. (1984) e de NEWELL et al. (2003 e 2004), os quais destacam que em áreas sujeitas às atividades de dragagem, os macrocrustáceos em geral, são parcialmente afetados, pois sua mobilidade permite a fuga da região de impacto, sendo a infauna, composta por poliquetas, oligoquetas, moluscos e pequenos crustáceos, a mais prejudicada.

Outro fator que possivelmente contribuiu para o reduzido número de crustáceos observados em 1997 foi a baixa ocorrência de zoea neste período, o que segundo RESGALLA JR (2001) esteve associado às elevadas concentrações de material em suspensão, com baixo conteúdo orgânico limitando a produção primária no ambiente.

Quando analisado a variação do número de exemplares de F. brasiliensis,

F. paulensis, L. schimitti e C. danae ao longo do período de estudo, de modo

isolado, verificou-se que apenas para F. brasiliensis foram detectadas diferenças significativas nas abundâncias entre os anos de coleta, com os menores valores no início das amostragens, indicando que as espécies responderam de forma diferenciada ao impacto.

Apesar das grandes mortalidades observadas durante o início da amostragem, foi verificada também uma recuperação da carcinofauna nos anos subseqüentes, corroborada pelo incremento na abundância e no número de espécies, bem como pelas variações nos índices de diversidade e equitabilidade.

As menores diversidades registradas em 1997, provavelmente foram um reflexo da baixa riqueza específica, vinculada ao estado de stress ao qual a baía se encontrava. Entretanto, quando analisado o índice de equitabilidade, verificou-se que este foi o período que contribuiu com os maiores valores, pois apesar de poucas espécies estarem presentes, estas ocuparam de forma uniforme o ambiente.

Com a diminuição dos fatores impactantes nos anos seguintes, houve o desenvolvimento de uma sucessão ecológica, a partir do ingresso de novas espécies, o que refletiu em grandes oscilações nos índices de diversidade e equitabilidade, bem como na composição da carcinofauna. Ao final deste período de sucessão, o ecossistema possivelmente voltou ao equilíbrio, apresentando alta riqueza de espécies e dominância de um pequeno grupo, o

que de acordo com STONER (1986) e DAY et al. (1989) constitui-se em uma característica comum de ambientes estuarinos e de baía.

Com relação às áreas de coleta, o desenho amostral proposto pelo Monitoramento Ambiental abrangeu cinco locais dentro da região do Saco dos Limões e um mais externo (área I), por estar fora da região de impacto das atividades de dragagem. Desta forma, era de se esperar que as maiores abundâncias fossem registradas neste local.

A ausência de dados pretéritos e durante a realização da dragagem, bem

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