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No presente estudo, a análise da dentina utilizando o equipamento de µ-EDX forneceu informações importantes sobre os efeitos da irradiação da dentina com o laser de Er:YAG. A utilização de opções alternativas ao condicionamento ácido da dentina para restaurações estéticas adesivas, como os laseres Er:YAG, vem sendo estudada.

Os benefícios do condicionamento da dentina com laser antes de procedimentos adesivos ainda são controversos e os resultados de diversos estudos são conflitantes (MARTINEZ-INSUA et al., 2000; CEBALLOS et al., 2002; KAMEYAMA et al., 2002; SOUZA et al., 2004; SOARES et al., 2007a). Este fato evidencia uma motivação para a realização de mais estudos para selecionar os parâmetros de irradiação mais adequados para se conseguir uma adequada união adesiva entre dente e restauração.

Esta união adesiva é realizada tradicionalmente utilizando-se o condicionamento ácido da dentina o qual é um passo operatório fundamental no processo de restauração de um dente com resinas compostas. O condicionamento ácido é efetivo na remoção da smear layer e também para ampliar os túbulos dentinários ou descalcificar a superfície da dentina inter- tubular. Com esta técnica consegue-se expor uma superfície livre de detritos e facilitar o contato direto do adesivo com a dentina (CHENG et al., 2005).

Diversos estudos da irradiação da dentina com os lasers de Er:YAG vem sendo realizados por técnicas analíticas como a microscopia eletrônica de varredura (MEV) (MARTINEZ-INSUA et al., 2000; SOUZA et al., 2004; SOARES et al., 2007b; RODRÍGUEZ-VILCHIS et al., 2011), por espectroscopia Raman (SOARES et al., 2007ab; SOARES et al., 2009a), por microscopia de força atômica (RODRÍGUEZ-VILCHIS et al., 2011) e também por microfluorescência de raios X (SOARES et al., 2009b; SOARES et al., 2011) dentre outras técnicas.

Os mapeamentos da dentina por µ-EDXRF realizados no presente estudo permitiram a avaliação do conteúdo mineral da dentina condicionada com ácido ou laser e a porcentagem em peso dos elementos cálcio (Ca) e fósforo (P) apresentaram variações significativas (Tabelas 2 e 3).

Por meio da análise estatística da porcentagem em peso dos elementos Ca e P verificou-se que o tratamento da dentina com ácido fosfórico em gel reduziu significativamente a porcentagem dos elementos inorgânicos quando comparado com a leitura inicial do mesmo grupo sem tratamento (p<0,0001 e p=0,0085) (Tabela 2). Este resultado

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confirma o mecanismo de ação deste tratamento onde o ácido fosfórico condiciona a dentina, remove preferencialmente a dentina peritubular, e desmineraliza a dentina intertubular adjacente o que resulta em uma matriz de colágeno desmineralizada a qual é susceptível ao colabamento (MARSHALL et al., 1997). Um adequado condicionamento da dentina é necessário para que ocorra sucesso, pois a adesão na dentina é dependente da infiltração dos monômeros da dentina condicionada seguido da polimerização deste material (MIYAZAKI et al., 2003).

A representação gráfica da distribuição de Ca e P na superfície da dentina obtida por EDX (Figura 6) mostra que o condicionamento com ácido fosfórico resulta em redução da concentração mineral com uma distribuição homogênea de Ca e P na área analisada. Este resultado é confirmado por estudos anteriores por microscopia eletrônica de varredura (MEV) (SOARES et al., 2007b) onde as micrografias mostram a abertura dos túbulos dentinários de forma homogênea por toda a superfície analisada e também por mapeamento em área por EDX onde o mesmo padrão foi observado (SOARES et al., 2009b).

A irradiação com laser de Er:YAG não causou alterações significantes na porcentagem em peso de Ca e P nos grupos I e II (GI: p=0,8128 e p=0,3054; GII: p=0,4217 e p=0,9754) (Tabela 2). Somente com a irradiação do laser de Er:YAG com 220 mJ de energia ocorreu significante aumento na porcentagem em peso de Ca (p=0,0153) e P (p=0,0005) (Tabela 2).

A irradiação com laser utilizando 100 mJ de energia mostrou um padrão diferente do produzido pelo ácido fosfórico, com concentração mineral em certas regiões da amostra (Figura 14). Com o aumento da energia do laser o padrão de condicionamento tornou-se mais irregular conforme verificado nas imagens dos mapeamentos dos grupos II (160 mJ, Figura 16) e III (220 mJ, Figura 17). O mapeamento químico da distribuição dos elementos Ca e P após a irradiação com 220 mJ mostra um padrão irregular com vários pontos de reduzida concentração mineral (cor azul) e pontos de maior concentração (cor vermelha) (Figura 17). Este fato se deve ao mecanismo de ação do laser de Er:YAG e sua afinidade com a dentina o qual promove a ablação dos tecidos duros por micro-explosões no interior da estrutura mineral do dente (DUNN; DAVIS; BUSH, 2005).

Estudos prévios também mostraram que a irradiação com laser de Er:YAG na dentina bovina com energias de pulso de 120 e 180 mJ resultaram em maiores valores do cálcio máximo (SOARES et al., 2009b; 2011). O cálculo da variação mineral realizado neste estudo também mostra este fato onde a energia de 220 mJ resultou em incremento de 11 e 14% na porcentagem de Ca e P respectivamente (Figura 5). Este resultado pode ter sido causado pela ablação da dentina e por uma evaporação dos componentes orgânicos devido a um aumento

da temperatura na área irradiada (ROHANIZADEH et al., 1999). Yu et al. (2000) também encontraram um aumento no cálcio da estrutura dental após a irradiação com laser Er,Cr:YSGG no esmalte e dentina relatando que este efeito foi devido a um aumento de temperatura na região.

Soares et al., (2007b) avaliaram por espectroscopia FT-Raman os efeitos da irradiação com o laser Er:YAG nos componentes orgânicos e inorgânicos da dentina. Através da espectroscopia FT-Raman, foi observado que o conteúdo mineral da dentina foi mais alterado pelas maiores energias de pulso (120 e 180mJ, 15,3 e 22,9J/cm2). Este fato foi atribuído ao mecanismo do laser o qual promove a ablação dos tecidos duros por micro-explosões no interior da estrutura mineral do dente (DUNN, DAVIS; BUSH, 2005). O conteúdo orgânico da dentina também sofreu maiores alterações no grupo irradiado pelo laser de Er:YAG com 180mJ (22,9J/cm2) de energia de pulso, evidenciando uma possível desnaturação das proteínas por efeito térmico. Bachmann. Gomes e Zezell (2005), estudaram por espectroscopia no infra-vermelho com transformada de Fourier (FTIR) os efeitos da irradiação do laser de Er:YAG com fluências subablativas e em parte ablativas na composição química e estrutura do colágeno da dentina onde observaram uma diminuição na intensidade das bandas da água e da matriz orgânica evidenciando perda de água e degradação parcial do colágeno.

De acordo com Çelik et al., (2008), estas alterações significantes na relação Ca/P após tratamento com laser ocorrem devido a uma alteração nos componentes orgânicos e inorgânicos da dentina e isto pode alterar a permeabilidade, solubilidade e as características adesivas da área irradiada. Os resultados obtidos neste estudo mostram que a escolha de um parâmetro de irradiação adequado para o laser de Er:YAG é muito importante. Energias de pulso altas podem prejudicar a adesão dos materiais restauradores à dentina irradiada com laser de Er:YAG, pois os sistemas adesivos interagem com a hidroxiapatita da dentina por ligações fosfato-cálcio. Então, variações na quantidade de íons Ca ou na relação Ca/P, podem afetar negativamente o padrão de adesão dos materiais restauradores (ÇELIK et al., 2008).

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