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A síndrome do estresse tibial medial é uma das lesões mais prevalentes nos corredores. Apesar desta realidade, poucas condutas têm seu efeito comprovado na intervenção desta lesão. No presente trabalho foram avaliadas duas condutas de intervenção: uso de palmilhas personalizadas e mudanças no padrão de movimento (correção de movimento) a fim de verificar e comparar a eficácia entre elas.

Considerando a amostra utilizada ocorreu uma predominância do gênero masculino. Esses dados diferem dos verificados por Yates e White (2004) os quais relataram que esta lesão é mais prevalente no gênero feminino, pelo fato das mulheres terem um aumento no número de passos gerando um maior stress sobre a tíbia.

Em relação ao tempo de prática deste esporte, este estudo mostrou que a maioria dos voluntários praticavam o esporte acima de 3 anos. Hubbard et. al (2012) mostrou em seu estudo que quanto maior a experiência menor a chance para desenvolver a síndrome. No seu estudo, os voluntários que relataram a sintomatologia tinham menos de 5,3 anos de prática contra aqueles que não relataram dor com 8,8 anos de experiência. Essa correlação tempo de pratica de corrida e desenvolvimento da síndrome é inversamente proporcional pelo fato de quanto mais experiente for o corredor, melhor técnica ele desenvolverá durante a execução do exercício.

No quesito dor, foi verificado um valor médio no grupo palmilha de 5,3 (perna direita) e 3,4 (perna esquerda) por meio da escala numérica de dor, antes da intervenção. No grupo correção foram obtidos valores próximos sendo 5,7 (perna direita) e 3,9 (perna esquerda). Loudon e Dolphino (2010) em seu estudo com indivíduos com síndrome do estresse tibial medial obtiveram uma média de 5,7 antes da realização da intervenção e, portanto, muito próximo ao obtido neste trabalho para a perna direita.

Na comparação intragrupo realizada no grupo palmilha antes e após a intervenção foi obtida uma redução dos valores no quesito dor. Esses resultados corroboram com o trabalho de Loudon e Dolphino (2010), no qual foi obtida uma redução da dor de acordo com a escala visual numérica de dor. Tal fato pode acontecer

pelo fato das palmilhas atuarem no controle da pronação do pé e de acordo com Hamill & Knutzen, 2008 o controle da pronação reduz a sobrecarga no periósteo e consequentemente diminui a dor.

No grupo correção também foi obtida uma melhora no quadro de dor. Esses resultados estão de acordo com o trabalho de Barton et.al. (2014) no qual foi ressaltada a importância de uma correção biomecânica, para redução do quadro álgico apresentado nessa lesão, através da redução do impacto durante a corrida.

Na comparação intergrupos para o quesito dor após a intervenção, foi obtida uma maior redução da dor no grupo palmilha em relação ao grupo correção. Loudon e Dolphino (2010) em seu trabalho associaram o uso de palmilhas com alongamento e obtiveram uma resposta positiva em relação à redução da dor.

Em relação ao pico pressórico foram verificados maiores valores para o pé esquerdo tanto no grupo palmilha (2,93 no pé direito e 3,33 no pé esquerdo) quanto no grupo correção (3,38 no pé direito e 3,98 no pé esquerdo). No estudo de Willems et.al (2006) ele verificou uma relação entre picos pressóricos altos e dor na parte inferior da perna durante a marcha. No presente trabalho a dor foi maior na perna direita, portanto, no pé em que verificou menor pico pressórico. Tal fato pode ocorrer devido a uma postura anti álgica (compensatória), no qual o voluntario tende a se deslocar para o lado de menor dor, aumentando o pico pressórico no pé esquerdo.

Na comparação intragrupos, ocorreu uma redução significativa em ambos os pés após suas intervenções específicas. Esses resultados corroboram com Tsung et al. (2004), os quais verificaram uma redução do pico pressórico em paciente com palmilhas. Ashry et al. (1997) verificou a redução dos picos plantares em pacientes diabéticos pelo fato das palmilhas aumentarem a area de contato, reduzindo dessa forma a pressão sobre uma área de risco.

Na comparação intergrupos do quesito pico pressórico, não foi verificada diferença significativa entre os valores obtidos para os grupos palmilha e correção após as intervenções realizadas tanto para o pé direito quanto para o esquerdo. Ambas as condutas proporcionam alterações na biomecânica da corrida, mas pelo fato do acompanhamento

ter sido feito em um curto período de tempo não se verificou uma eficácia maior de uma conduta sobre a outra.

Quanto às medidas dos ângulos do retro pé obtidas por meio da análise cinemática, para o grupo palmilha não foi observada diferença entre as médias sendo para o pé direito (8,00° ± 2,16°) e esquerdo (7,9 ± 1,97°). Para o grupo correção uma maior diferença entre as médias foi verificada sendo para o pé direito (7,3° ± 3,41) e esquerdo (9,3 ± 2,06).

Na comparação intragrupos, foi verificada uma maior redução dos valores dos ângulos para o grupo palmilha. Maclean et.al (2006), em seu estudo também constatou que a curto prazo o uso de palmilhas personalizadas promoveu reduções significativas no ângulo pelo fato de atuarem diretamente no controle da pronação e na velocidade de eversão do retro pé.

No grupo correção não foi observada uma redução significativa (p≥ 0,05) em relação aos aspectos cinemáticos. Esse resultado difere do obtido por Brindle et.al. (2014) que através da correção da largura do passo em corredores verificou uma redução no pico de eversão do retro pé. O fato da reavaliação ter sido feita em um curto período de tempo (40 dias) não é suficiente para realizar alterações mais consistentes a nível estrutural, portanto não tendo influência sobe a mecânica do retro pé.

Na comparação intergrupos da análise cinemática, foi obtido um resultado superior do grupo palmilha em relação ao grupo correção. Galbraith e Lavallee (2009), destaca que o uso de palmilhas é fundamental proporcionando uma redução da pronação do pé.

Quanto às análises realizadas por microscopia eletrônica de varredura da camada de neoprene das palmilhas usadas no estudo observou-se que no geral houve uma diminuição nos espaços entre as fileiras dos filamentos após o uso pelos voluntários, quando comparado aos espaços existentes no neoprene antes do uso. Isso indica que com a pressão exercida pelo pé dos voluntários o material foi absorvendo a tensão e as fileiras ficando mais abertas. Também pode ser observado que se trata de um material muito resistente o qual não apresentou rompimento desses filamentos após 40 dias de uso, sendo observado apenas um pequeno desgaste em alguns filamentos. O neoprene

apresenta uma resistência extraordinária contra flexão, torção e impactos, além de flexibilidade e elasticidade.

De fato, o neoprene vem apresentando grande aplicação na confecção de palmilhas. Isso se deve ao fato de se tratar de um material extremamente confortável que quando moldado no pé distribui as cargas na planta do pé com mais eficiência do que os materiais usados nas palmilhas convencionais, retirando pontos de pressão e a sobrecarga sobre a face plantar. A moldagem desse material junto com alguma peça corretiva faz com que as cargas sobre a face plantar diminuam e todo ajuste postural aconteça tirando os problemas de sobrecarga mecânica sobre a face plantar.

Assim, o uso da palmilha com cobertura de neoprene contribui no amortecimento dos impactos e diminui a sobrecarga nas articulações impedindo o excesso de impacto no membro inferior durante a corrida ou caminhada e assim evita uma das principais causas que levam a síndrome do estresse tibial medial.

Hinz (2008) em seu estudo verificou uma redução do pico pressórico com o uso das palmilhas de neoprene em relação às convencionais. As pressões médias no 2º e 3º metatarso reduziram em torno de 20,6% a 31,4% com as palmilhas de neoprene comparado as convencionais.

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