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113 Em SON, apesar da chuva sazonal (Figura 78b) e extremos de chuva (Figura 78f) apresentarem uma correlação negativa com o ATN, a relação com o Pacífico Leste é observada somente durante ocorrências de extremos. Em DJF, a correlação da TSM com a chuva sazonal (Figura 78c) mostra um padrão neutro no Pacífico central e leste, mas um aquecimento no norte e sul subtropical, Bacia do Caribe, ATN e Atlântico sul. Condições semelhantes mais intensas ocorrem nos extremos diários de chuva (Figura 78g). No trimestre de MAM, uma correlação forte de aquecimento ocorre na região Niño 1+2 e no Oceano Índico sul na chuva sazonal (Figura 78d), mas se enfraquece nos extremos diários de chuva (Figura 78h).

114 os extremos são influenciados por anomalias positivas de TSM no Atlântico equatorial, que combinadas com a LN no Pacífico definem o padrão positivo do gradiente inter-bacias do Pacífico e Atlântico. Além disso, um gradiente negativo inter-hemisférico de TSM do AT foi observado, corroborando com os resultados de Andreoli et al. 2012. No entanto, a correlação entre TSM e a ocorrência de eventos extremos para Manaus (demais estações) indica que o gradiente de TSM que cruza o equador é mais forte (fraco) do que aquele relacionado às chuvas sazonais.

Em SON, as condições de LN do tipo CP, acompanhadas do aquecimento no Atlântico equatorial, explicam as variações na precipitação sazonal, enquanto a variabilidade da ocorrência dos EEDP está mais correlacionada às variações na TSM somente no Pacífico tropical, exceto para a cidade de Monte Alegre – PA. Para Monte Alegre, maiores correlações com a TSM foram observadas ao longo da costa Norte do Brasil.

Os resultados em SON corroboram com os resultados de Tedeschi et al. (2015), que analisaram a influência do ENOS central (La Niña Central – CLN) e leste (La Niña Leste – ELN) nos eventos extremos de precipitação na AS durante a primavera (SON) e o verão austral (DJF), e encontraram uma maior relação do ENOS com os EEDP durante CLN. No contexto de chuvas sazonais, Andreoli et al. (2019) também encontraram que as anomalias negativas de TSM mais fortes no Pacífico central, acompanhadas por um aquecimento no Atlântico equatorial, estão associadas com extremos de chuva sazonais que ocorrem na Amazônia central e leste.

No verão austral, trimestre de DJF, correlações significativas foram observadas em todo o Pacífico equatorial, com as chuvas sazonais e EEDP que ocorrem na AMC. No entanto, as estações que estão localizadas mais à leste, no Estado do Pará, mostram ter correlações mais significativas em relação às que estão a oeste da área de estudo.

Estes resultados referentes às estações localizadas na parte Leste da Amazônia Central são semelhantes aos de Tedeschi et al. (2015). Estes autores mostram que, no trimestre de DJF, as condições associadas aos EEDP neste trimestre possuem forte relação com a CLN. Em relação às chuvas sazonais, esses resultados são consistentes com o estudo de Andreoli et al.

(2012). Esses autores mostraram as condições mais úmidas sobre a região central e leste da Amazônia em dezembro-janeiro e março-abril, são impulsionadas pelas circulações diretas leste-oeste e norte-sul, associadas aos padrões anômalos de TSM nos setores do Pacífico equatorial leste e do Atlântico tropical.

115 Em MAM, fase de decaimento do ENOS, os EEDP e a chuva sazonal na AMC, principalmente relacionadas às estações na porção leste da área de estudo, estão correlacionados com condições significativas de LN do Pacífico central-leste (Tedeschi et al. 2015; Andreoli et al. 2019), acompanhados por um gradiente de TSM inter-hemisférico no AT, assim como em Andreoli et al. (2012). Esse padrão de anomalias de TSM é menos intenso para Manaus e não é caracterizado para Itacoatiara, corroborando com o estudo de Grimm e Tedeschi (2009) e Tedeschi et al. (2016). Estes autores encontraram que no trimestre de MAM há uma maior ocorrência de eventos extremos de chuva durante LN. Este aumento é devido a intensificação no regime da precipitação que ocorre nestes meses (Andreoli et al. 2012; Tedeschi et al. 2016).

Segundo Jong et al. (2016) e Tedeschi e Sampaio (2022) a TSM climatológica é maior no final de DJF e início de MAM, favorecendo intensa convecção profunda e consequente diferentes respostas atmosféricas.

Comparando os resultados para as diferentes estações na AMC, observaram-se maiores frequências de EEDP ocorrendo em Itacoatiara (143 eventos) e Belterra (152 eventos), durante JJA. Além disso, na estação de Belterra foi observada uma tendência de aumento de eventos no período total analisado para JJA. Em SON, maiores frequências de EEDP foram observadas nas estações de Manaus (125) e Itacoatiara (102) e Itaituba (111). No trimestre de DJF, os EEDP apresentam maior frequência nas mesmas localidades mostradas em SON, mas com maiores ocorrências e tendência não significativa. A estação de Monte Alegre também apresentou tendência positiva não significativa, em DJF. O trimestre de MAM foi onde mais teve frequência de EEDP, havendo maiores ocorrências nas estações a leste da AMC. De modo geral, a frequência desses eventos na AMC mostra uma variabilidade interanual e são modulados, principalmente, por condições de LN e AN.

Em relação à intensidade dos eventos (valores obtidos através da mediana) no trimestre de JJA, verificou-se uma variação de 28,28 a 30,76 mm, com maior (menor) intensidade ocorrendo em LN (AN). Em SON a intensidade variou de 42,53 a 47,43 mm, com maior (menor) influência de AN (LN). O trimestre de DJF foi o que apresentou maiores intensidades em relação ao valor da mediana, com variação ocorrendo de 50,63 a 52,59 mm, com o EN (LN) sendo mais (menos) intenso. Em MAM, mesmo com maiores ocorrências de EEDP, a intensidade variou de 48,18 a 50,81 mm, com maior (menor) valor em LN (AN). Portanto, a LN modula a intensidade dos extremos durante a fases inicial e final do evento, enquanto durante as fases de desenvolvimento e fase madura, a LN parece modular melhor o comportamento sazonal, ou seja, chuvas com intensidades abaixo do percentil 90.

116 Na Colômbia, a RPC sofre influência de diferentes fontes de umidade e é considerada uma das regiões mais chuvosas de todo o planeta, com precipitação anual superior à 12.000 mm (Lopez 1966; Poveda e Mesa 1997; Sakamato et al. 2011; Poveda et al. 2014). Durante DJF, as principais fontes de umidade são o Mar do Caribe e o ATN, em MAM e JJA, a influência da ZCIT é mais forte e contribui para o transporte de umidade do AT sobre a Amazônia, durante SON, o leste do Pacífico é a principal fonte de umidade, em conjunto com o CJ (Sakamoto et al. 2011). Além disso, as chuvas no sul da Colômbia são influenciadas, principalmente, pela convecção da Amazônia (Arias et al. 2015). Neste estudo, duas estações estão localizadas na RPC foram analisadas, sendo elas: Aeroporto de Buenaventura e Barbacoas, localizadas nos departamentos do Valle del Cauca e Nariño, respectivamente. Para essas estações, maiores valores de precipitação são observados o que se reflete na intensidade dos EEDP. Além disso, variações da TSM dos Oceanos Pacífico e Atlântico influenciam na variabilidade sazonal e dos EEDP, como discutido a seguir.

Na estação de Buenaventura, localizada ao norte da RPC, as correlações entre a ocorrência de EEDP com as anomalias de TSM indicam um resfriamento na região do Pacífico equatorial associado ao aumento de EEDP (correlações negativas) nos trimestres de JJA e SON.

Além disso, uma tendência de aumento desses eventos foi observada somente no trimestre de SON. Nos trimestres de DJF e MAM, as correlações não definem um padrão de variabilidade da TSM, indicando que outros mecanismos podem estar associados aos maiores valores de EEDP.

A estação de Barbacoas, está localizada no sudoeste da Colômbia, mas faz parte da RPC.

Segundo Cerón et al. (2021), as anomalias de TSM na região do Pacífico central e leste tem um menor (maior) impacto nas chuvas da RPC (RAC). Isso ajuda explicar a tendência de diminuição de extremos de chuva nos períodos de JJA e SON. Mas, uma maior correlação negativa ocorre no Pacífico oeste. Por outro lado, nos trimestres de DJF e MAM, ocorre uma tendência de aumento de EEDP. A ocorrência destes EEDP está associada às correlações positivas no ATN e Atlântico equatorial, assim como em Cerón et al. (2021).

A frequência dos EEDP apresenta uma variabilidade interanual, com um total de ocorrências de 315 (238) eventos na estação de Buenaventura, em JJA (DJF). Já na estação de Barbacoas, o trimestre com maior (menor) ocorrência de EEDP foi em MAM (SON), com um total de 313 (289) eventos.

Quanto a intensidade dos EEDP na RPC em JJA, o valor médio em termos da mediana nesta região mostrou uma variação ocorrendo de 77,68 a 82,60 mm, com maior (menor)

117 intensidade em AN (EN). Em SON, a intensidade apresenta uma variação em relação à sua mediana de 83,98 a 87,13 mm, com maior (menor) intensidade em LN (AN). No trimestre de DJF, a variação da intensidade ocorre de 76,25 a 79,30 mm, sendo mais (menos) intenso em EN (LN). Já na fase final do ENOS, a intensidade ficou entre 87,10 a 90,35 mm, com maior intensidade em AN. Em relação à posição geográfica, a estação de Buenaventura (Barbacoas), ao norte (sul) da RPC, mostra que a intensidade dos eventos está sendo modulada por condições de LN (EN) na fase de desenvolvimento e madura (desenvolvimento, madura e final).

Um fator que ajuda a explicar essa intensidade de chuva na RPC é a interação do CJ com a topografia e a evapotranspiração das florestas tropicais, no oeste Colombiano (Poveda e Mesa, 2000; Poveda et al. 2006; Yepes et al. 2019). No trimestre de SON (MAM) ocorre uma intensificação (enfraquecimento) desse jato, devido a um gradiente de temperatura da TSM do Niño 1+2 e a RPC (Poveda e Mesa 1999; Yepes et al. 2019; Cerón et al. 2020). A floresta tropical tem uma vasta biodiversidade que é alimentada pelo CJ e se espalha ao longo do RPC, influenciando em precipitações extremas e recorrentes inundações nesta região que abriga comunidades que são expostas a esses fatores (Jaramillo et al. 2017; Velásquez e Poveda 2019).

Outro fator que explica esses extremos é o CLLJ que exibe um ciclo anual com ventos que chegam à 14m/s em JJA, em 925 hPa, e um pico secundário em DJF chegando à 10 m/s (Amador 2008). O primeiro pico está associado a variabilidade sazonal da alta subtropical do ATN (Romero-Centeno et al. 2007) e o segundo devido aos ventos alísios se intensificarem em novembro, fazendo com que o CLLJ atinja um máximo no fim de fevereiro (Wang 2007; Cook e Vizy 2010; Yepes et al. 2019).

Em Yaguara, departamento de Huila, somente o trimestre de MAM não mostra uma forte correlação entre a ocorrência de eventos EEDP com condições de LN no Pacífico central.

Além disso, um forte aquecimento no Atlântico equatorial e ATN é observado durante SON e DJF, definindo nesses trimestres o gradiente inter-bacias do Pacífico e Atlântico (Andreoli et al. 2012). Esses resultados são consistentes com os encontrados por Cerón et al. (2021), os quais destacaram a influência das condições de LN que ocorrem no Pacífico central e influenciam as variações das chuvas na Região Andina Colombiana (RAC).

Nesse sentido, os EEDP na estação de Yaguara mostram uma variabilidade interanual associada ao ENOS, com maior frequência de eventos em MAM, SON e DJF, com 146, 145 e 135 eventos, respectivamente. Além disso, uma tendência de aumento de EEDP foi observada em MAM. No trimestre de JJA a intensidade dos EEDP, de acordo com a mediana, varia de 15,35 em EN a 25 mm em AN. Nos demais trimestres, a intensidade é aumentada, e a mediana

118 varia de 49 a 52 mm, 50,6 a 59 mm e 51,6 a 55,1 mm em SON, DJF e MAM, respectivamente, principalmente em LN. Com isso, observam-se nesta região que os EEDP são modulados por eventos de LN nas fases de desenvolvimento e madura, enquanto as chuvas abaixo do percentil 90 são moduladas por EN (AN) na fase final (inicial).

As estações de Cabuyaro e La Macarena, situadas no departamento de Meta, fazem parte do Noroeste da Amazônia (NOAM). Na estação de Cabuyaro (Norte de Meta), tendências negativas foram observadas em JJA, SON e principalmente em MAM. A tendência de diminuição desses EEDP está associada ao aquecimento observado no Pacífico. Na estação de La Macarena (sul de Meta), todos os trimestres tiveram tendências de aumento nos EEDP, sendo esse aumento significativo em DJF e MAM.

A região do NOAM é uma das que possui maiores índices pluviométricos da região Amazônica, apresentando valores superiores a 3000 mm/ano (Espinoza et al. 2009; Limberger e Silva 2016; Espinoza et al. 2019 e 2022). Esses valores são devido à condensação de ar úmido que são transportados pelos ventos alísios, que ao encontrarem com os Andes ocorre um levantamento orográfico induzindo circulações atmosféricas e intensa convecção, que ocasiona extremos de chuva (Poveda e Mesa 2000; Reboita et al. 2010).

No NOAM, em ambas as estações meteorológicas, a frequência de EEDP foi maior (menor) em JJA (DJF), com ocorrências principalmente em LN e AN. Em relação à intensidade dos eventos EDDP, observou-se que valores máximos (mínimos) em relação à mediana ocorrem na estação de Cabuyaro (La Macarena) e mostraram uma variabilidade interanual com as fases do ENOS. Em JJA, foi o trimestre com menores intensidades dos eventos e os valores em relação a mediana variaram de 55,45 mm a 57,50 mm. Já em SON, ocorre um aumento da intensidade, e há uma variação de 56,50 a 59,80 mm. Em DJF, a intensidade diminui, e uma pequena diferença ocorre de 52,60 a 53,90 mm. Para o trimestre de MAM, a intensidade volta a se intensificar a varia de 52,2 a 54,85 mm. Essas duas estações mostram uma variação com as fases do ENOS em relação à sua intensidade. A estação de Cabuyaro mais ao norte, mostra que anos de EN (LN) influenciam a intensidade dos EEDP na fase inicial e desenvolvimento (madura e final). Na estação de La Macarena, no sul, a intensidade é modulada pelos AN em JJA e SON, enquanto anos de EN (LN) influenciam durante a fase madura (final).

Os EEDP que ocorreram na estação de Letícia apresentaram tendências positivas (negativa) em DJF e MAM (SON). A frequência foi maior (menor) em DJF (JJA) com 271 (199) EEDP e mostram uma variação interanual, com ocorrências principalmente em anos de LN e AN. A intensidade nesta estação em relação à mediana, mostra que no trimestre de JJA

119 ocorre uma variação de 34,50 a 39,90 mm. Em SON, começa haver uma maior intensidade, com a mediana entre 47,10 a 51,45 mm. No trimestre de DJF, a variação é de 50,70 a 56,40 mm, e em MAM, de 52,20 a 54,85 mm. De modo geral, a variação sazonal em Letícia mostra que os EEDP são modulados, principalmente, por anos de EN (LN) na fase inicial e de desenvolvimento (final). No entanto, as correlações mostraram uma maior influência do ATN nas estações que representam as fases inicial e desenvolvimento do ENOS.

Segundo Wang et al. (2018), o AT tem sido responsável por mais de 50% do aumento da precipitação no NOAM e região da estação de Letícia. Os resultados de Espinoza et al.

(2019) mostraram uma intensificação no fluxo de vapor de água em MAM do ATN em direção ao norte da Amazônia, produzindo maior convergência do fluxo de vapor de água sobre esta região, particularmente sobre o noroeste da Amazônia, explicando o aumento de dias chuvosos em MAM.

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