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Capítulo 4 – A ORIENTAÇÃO VOCACIONAL NO BRASIL E SUAS

5.6 DISCUSSÕES DAS ENTREVISTAS

Partindo de um grupo heterogêneo e com posições sociais, idades e localidades diferentes as informações cedidas pelos voluntários também são diversas, ou seja, como esperado não foi encontrada nenhuma unilateralidade de razões ou motivos para a saída de um entrevistado ou ainda, da mesma forma, não foram todos que retornariam seus estudos para o mesmo curso que anteriormente saiu. Portanto, proporemos entender as colocações aqui descritas de maneira generalista, analisando o discurso de cada entrevistado frente às perguntas direcionadas a eles.

A primeira observação decorre sobre o local de formação dos entrevistados, temos uma amostra com três formados no ensino médio por Instituições públicas e duas que finalizaram seus estudos em colégios particulares. Importante salientar que esperávamos ao menos nas duas voluntárias que cursaram seus estudos no ensino privado, que durante o período de estudo elas tivessem tido acesso a algum trabalho de referência sobre orientação vocacional ou ao menos alguma feira de profissões com palestras e informações acerca do mercado de trabalho, contudo, nada lhes foram apresentados sobre profissões vigentes, mercado de trabalho ou ocupações. Se este foi o cenário destacado no Ensino privado quiçá na gestão

69 pública onde esforços são concentrados em infraestrutura e currículo escolar e não há aparente planejamento para investimento em demais áreas.

Outro levantamento feito foi o motivo da escolha do curso de graduação. As respostas dos voluntários foram bem variadas desde as escolhas relativizadas com o trabalho já exercido pelos entrevistados, como o caso de Eduardo, por exemplo, e o mais contundente que foi o do Evandro, onde o entrevistado direcionou a sua escolha com a intenção de somar conhecimentos e qualificação que seriam aplicados no emprego que estava no momento, porém, foi respondido a ele que não seria de serventia para a empresa aquela formação.

Temos também o caso de Bárbara que apresentou diversas incertezas no processo de escolha profissional, pois sua predileção foi definida após uma promessa de emprego que ocorreu durante uma reunião familiar, ou seja, aparentemente, não houve escuta para a sua vocação e este comportamento foi evidenciado no decorrer da entrevista.

A respeito das evasões, os motivos, em sua maioria, tiveram origem nas questões sócio familiares, ou seja, as demandas com emprego e família falaram mais alto do que a aspiração de concluir a graduação. Principalmente ao relacionarmos os papéis imputados de maneira indireta a duas voluntárias da pesquisa, ou seja, o papel de cuidar dos filhos (como o caso de Camila e Rosane) é, indiretamente, atribuído as mulheres, cabendo a elas os cuidados e a atenção com os filhos, consequentemente sendo mais propício a elas, abrir mão de seus planos e objetivos.

Ainda a respeito dos motivos para a desistência, destacaremos os casos que fugiram dessa premissa destacada acima. Precisamente o caso de Eduardo, pois seu declínio deu-se principalmente por um problema social evidente na realidade urbana, especialmente na cidade do Rio de Janeiro – onde inclusive estamos em intervenção federal – a violência. Não bastou ao entrevistado perder seus pertences, os contraventores foram atrás dele e o torturaram psicologicamente. Enfim, Eduardo foi mais uma vítima da criminalidade, que por fim acarretou em um prejuízo muito maior do que o material: influenciou na desistência de uma meta de vida.

O outro caso apontado é o de Bárbara, curiosamente estamos destacando em termos de idade os dois extremos, que foi a única das pessoas entrevistadas que desistiu do curso por uma escolha não condizente com sua vocação ou

70 interesse. Mesmo que, aparentemente ainda confusa, Barbara deu um passo importante para a definição de sua escolha profissional, escolhendo não mais enveredar por um caminho que não a satisfazia.

Quando abordados sobre o desejo de retomar seus estudos futuramente, todos foram categóricos em suas respostas: “sim. ” O que os difere são as condições para isso, uns programam o retorno dos estudos para o próximo ano, como o caso de Evandro e Barbara, e outros apenas defendem que retornariam, mas aparentemente não planejaram com maior intensidade. Apesar da unanimidade na vontade de retomar os estudos, este fenômeno quase ocorreu no reingresso para o mesmo curso, apenas Barbara deseja reiniciar sua graduação em um curso diferente.

Ao adentrar no assunto orientação vocacional a grande maioria já conhecia ou tinha ouvido falar sobre o programa, apenas Eduardo necessitou de maiores esclarecimentos a respeito, porém, logo identificou sobre o que estava sendo pesquisado. Se teve uma unanimidade a respeito do desejo de reingressar os estudos, neste quesito também temos uma consonância, todavia, não tão positiva quanto à anterior, pois, dos cinco entrevistados, nenhum participou de qualquer programa de orientação vocacional, ainda que abrangêssemos para feiras de profissões, palestras ou seminários, segundo seus relatos, nada lhes foi apresentado a respeito de conhecimento de matérias, cursos, profissões ou mercado de trabalho, mesmo nas escolas particulares.

Complementando a abordagem acima, apuramos sobre a opinião dos entrevistados quanto à assertividade do programa de orientação vocacional e novamente quase houve o consentimento de todos, somente Evandro declinou e acrescentou sua visão ao que foi apresentado. Em seu ponto de vista, baseado na realidade que ele vive e convive todos os dias, elaborar programas ou projetos para auxiliar o processo de escolha individual é muito a frente às condições vivenciadas por uma parcela da população mais carente, ou seja, seu apontamento é claro quando refere-se às escolhas, este seria visto como um ‘luxo’ para as pessoas que vivem nessa situação, daí talvez visualizamos um dos maiores desafios da orientação vocacional na atualidade, desestigmatizar sua aplicação abrangendo sua participação em classes onde não tem o direito de escolha e tão pouco identificam esse movimento como pertencente ou possível a eles.