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CAPÍTULO 2 – SUSTENTABILIDADE, DESENVOLVIMENTO E SOCIOLOGIA

2.1 Os conceitos de “sustentabilidade” e de “desenvolvimento sustentável”

2.1.1 Discussões e debates

De acordo com Malthus (1766-1834) o crescimento populacional não é proporcional à capacidade de o planeta produzir meios de subsistência (Baker, 2006). Na sua teoria Malthus defendia que o crescimento da população não podia ser maior que os recursos naturais existentes, o que criaria cenários de fome e doença. Para este autor, o referido cenário constituía um obstáculo natural ao crescimento da população (Braidotti et al., 1994). Malthus escreveu na altura um célebre e polémico livro intitulado An Essay on the Principle of Population, as it affects the Future Improvement of society: With Remarks on the Speculations of Mr. Godwin, M. Condorcet and Others Writers (1798) onde defendia a tese de que a pobreza e a miséria resultavam da tendência de a população crescer muito mais rapidamente do que os meios de subsistência (Arnaldo e Cau, 2013). Para evitar esta tendência que segundo ele se manteria a menos que se detivesse o aumento populacional, Malthus proclamou a redução da natalidade principalmente nas populações pobres como estratégia para, segundo a

sua perspetiva, evitar o aniquilamento coletivo (Dreyfus, Marx & Poidevin, 1996). Não obstante existirem, na teoria de Malthus, conceções discutíveis, a questão da relação entre os recursos naturais disponíveis e o crescimento da população figura ainda hoje em dia nos debates sobre a temática de DS.

O debate acérrimo em torno das questões que no presente estão abrangidas pelo termo verificou-se na segunda metade do século XX, período em que o conceito ganhou dimensão acrescida em resultado dos impactos ambientais provocados pelo desenvolvimento industrial. O pós-II Guerra Mundial é marcado por um período em que o modelo de desenvolvimento económico, principalmente dos países ocidentais, se caraterizou por um sistema agrícola de modelo capitalista, uma industrialização em larga escala e uma massificação da produção e do consumo (Miller e Twining-Ward, 2005). Tratou-se de um período de prosperidade económica assinalável no hemisfério norte, acompanhado de impactos ambientais, sociais e culturais, todavia marcado profundamente pelo acentuar das disparidades de desenvolvimento entre os dois hemisférios, norte e sul, estando o sul incapacitado de acompanhar o ritmo de crescimento do primeiro (Maddison, 2003).

Na atualidade, o debate aceso em torno deste conceito decorre num período de grande complexidade em que a humanidade está a ser confrontada pelos novos desafio que enfrenta em simultâneo: questões ambientais, económicas, sociais e tecnológicas que se interligam à escala local e global (Harris, 2007). De acordo com este autor os novos desafios são produto de múltiplas ações antrópicas. O próprio crescimento exponencial da população assim o propícia, mas a este junta-se o desenvolvimento tecnológico, o uso desregrado dos recursos, a industrialização, uma prosperidade económica desigual e patente no desequilíbrio Norte/Sul, e em outros aspetos.

Para compreendermos a evolução histórica do conceito é necessário, de acordo Soromenho- Marques (2003, 2005), ter presente o longo percurso de avanços e recuos em torno das preocupações e políticas ambientais das últimas quatro décadas. Este autor identificou quatro ciclos distintos, que passamos a sintetizar.

O primeiro a que intitulou de “génese” (1962-1973) decorreu num período particular do despertar da consciência ambiental, assinalado por publicações de diversas obras, a primeira das quais a «Primavera Silenciosa» de autoria de Raquel Carson, e posteriormente o aparecimento do livro The Tragedy of the Commons (1968) de Hardin, e de Limits to Growth (1972) de Meadows, e ainda de Small is Beautiful (1973) de Schumacher. Este período decorre até à Guerra de Yom Kippur e à crise petrolífera. Foi um período fecundo, de expansão e reflexão sobre as questões ambientais, marcado pela criação de ministérios do meio ambiente e pela explosão de legislação ambiental e de convénios internacionais relativos à conservação da natureza e controle da população.

O segundo ciclo (1973-1983) correspondeu a um período de “recuo”. Foi marcado pela instabilidade económica, provocada pela crise do petróleo. A crise energética marcou profundamente o momento e desviou a atenção da agenda internacional para o desemprego e a recessão económica.

O terceiro ciclo, denominado por Soromenho-Marques (2003) por “ciclo virtuoso” (1983- 1997), foi caraterizado por um ecoar cada vez maior do discurso ambiental ao nível internacional e correspondentes repercussões na legislação. É neste período que a Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento, criada em 1983 pelas Nações Unidas, elabora o emblemático relatório “Nosso Futuro Comum”.

O quarto ciclo, designado de “impasse” foi iniciado em 1997 e é caraterizado pelo embaraço que os Estados Unidos da América (EUA) causaram na sua recusa de cumprimento do acordado no Protocolo de Kyoto, tratado ambiental internacional criado para a estabilização das concentrações de gases de efeito estufa.

Rodrigues (2009) concebe o desenvolvimento como um processo complexo, que se está a desenrolar de uma determinada forma e que se a direção do processo for ao encontro do ideal da sustentabilidade, esse desenvolvimento pode ser considerado sustentável. O termo sustentável, definido de uma maneira grosseira, é a caraterística do que se pode manter,

defender ou seguir (Fernandes, 2002). Apondo os dois conceitos nasce o conceito largamente conhecido na atualidade de desenvolvimento sustentável, entendido como o que “se pode manter no tempo, defender com argumentos, seguir por consciência e opção” (Fernandes, 2002:13).

A definição de DS mais citada tem como origem o Our Common Future (WCED 1987), também conhecido por Relatório Bruntland, intitulado Nosso Futuro Comum. Embora o conceito já estivesse presente em 1969 no National Environmental Policy Act (NEPA 1969, pp. 91–190).50 Por outro lado, também não é correto afirmar que este conceito só tenha surgido no final do século XX. Na verdade, a partir do século XVIII começam a existir referências à escassez de alguns recursos e aos problemas que o crescimento demográfico colocava em algumas regiões do globo. No século XIX, a Revolução Industrial também esteve na origem da degradação de alguns ecossistemas, mas as questões relativas à sustentabilidade adquiriram uma maior importância a partir das décadas de 60 e 70 do século passado, associado à publicação de algumas obras de referência já antes referidas e à ocorrência de grandes desastres ambientais de origem antrópica.

As diversas conferências internacionais que têm vindo a ocorrer também são um testemunho da crescente preocupação com as temáticas do Desenvolvimento Sustentável, como a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo (1972). Mas é no âmbito do chamado Relatório Brundtland que surge a definição de desenvolvimento sustentável mais citada: suprir "as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas necessidades "(WCED 1987, p. 43). Esta definição suporta-se na necessidade de ser necessário existir um equilíbrio entre as atividades humanas e os processos ecológicos que sustentam toda a vida, tanto agora como no futuro.

50 National Environmental Policy Act, https://ceq.doe.gov/laws_and_executive_orders/the_nepa_statute.html [22

Diferentemente da ideia malthusiana de controlo demográfico nos países pobres, e também da ideia defendida pela equipe do Clube de Roma de separação do ambiente dos aspetos socioeconómicos (Hopwood, Mellor & O´Brien, 2005), esta definição tornou-se não só a mais vulgarizada, mas aquela que mais enfocava a sua atenção para os problemas dos países em desenvolvimento e conseguia conciliar aspetos entendidos como conflituantes, a exemplo da dicotomia proteção ambiental/crescimento económico, reconhecendo assim como essencial a ligação intrínseca entre as dimensões social, económica e ecológica (Baker, 2006). Apesar de polémica, por a mesmo sugerir que o crescimento económico, a modernização industrial e as exigências do mercado eram elementos chaves e metas a atingir por todas as nações, quer fossem ricos quer fossem pobres (Blewitt, 2009), o termo DS é desde este período usado como um marco central para a perceção da relação entre a humanidade e a natureza e entre os povos da Terra.

A ideia chave sublinhada no Relatório Brundtland reside em considerar e acreditar que “A humanidade é capaz de tornar o desenvolvimento sustentável – de garantir que ele atenda as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem também às suas” (CMMAD, 1991:9). O conceito assim definido no Relatório Brundtland, envolve uma nova atitude de abertura e a necessidade de integração dos mais desfavorecidos na corrida ao desenvolvimento porque:

para haver um desenvolvimento sustentável é preciso atender às necessidades básicas de todos e dar a todos a oportunidade de realizar suas aspirações de uma vida melhor. Um mundo onde a pobreza é endémica estará sempre sujeito a catástrofes, ecológicas e de outra natureza.

(CMMAD, 1991:10)

Esta perspetiva aceita a ideia da limitação imposta pelo estágio atual da tecnologia, associada à capacidade de se encontrar no ambiente as necessidades do presente e as do futuro (CMMAD, 1991; Diegues, 1992; Blewitt, 2009), considerando que tanto um como outro aspeto “podem ser aprimorados a fim de proporcionar uma nova era de crescimento económico” (CMMAD, 1991:9). Esta nova era de crescimento exige equidade intra e intergeracional e a formulação de uma nova ideia de desenvolvimento onde reine harmonia entre o homem e a natureza. É como defende Cornelius Castoriadis: “Não queremos uma

expansão ilimitada e irreflectida da produção, queremos uma economia que seja um meio e não a finalidade da vida humana” (Latouche, 2011:100).

É em defesa de todos que se defende esta harmonia para a satisfação das necessidades e o bem-estar num sentido mais amplo do que apenas a exploração de recursos(Hopwood, Mellor & O´Brien, 2005). Na verdade, e como explica Lélé (1991), a falta desta relação afeta vários estratos sociais, desde o industrial, o pequeno agricultor de subsistência, o trabalhador social, o habitante do primeiro mundo, o decisor o burocrata e até o político.

Uma visão retrospetiva evidencia que desde 1987 o conceito de DS tem vindo a evoluir e a tornar-se mais abrangente. Entre os princípios que hoje estão integrados neste conceito destacam-se: a equidade intra e entre gerações já antes referidas, o princípio da precaução, e o modelo de triple-bottom. No primeiro caso estamos perante a necessidade de se desenvolverem formas de distribuição do capital económico, social e ambiental justas e equitativas entre todas as gerações. Por sua vez, o princípio da precaução, definido em 1992 pela Declaração do Rio (Nações Unidas, 1992), exige que os decisores antecipem potenciais danos. Enquanto o modelo do triple-bottom está diretamente relacionado com a necessidade de nos processos de decisão se considerarem os fatores sociais, económicos e ambientais.

Um dos problemas centrais e gerador de tensões está relacionado com o tipo de dinâmica que se estabelece entre a necessidade de a atividade económica e o impacto resultante desta sobre o meio ambiente natural. O modo como este tema tem vindo a ser abordado tem-se traduzido em definições de DS que dão prioridade ou a objetivos económicos ou a objetivos ambientais. Esta distinção tem feito surgir as designações de sustentabilidade ''fraca'' e ''forte'' (Amador e Oliveira, 2013). A sustentabilidade fraca admite ser possível um equilíbrio da atividade económica com a parte social e ambiental, aceitando-se que a tecnologia será capaz de resolver os problemas que vão surgindo. Por outro lado, a sustentabilidade forte defende que o existente estoque de capital natural deve ser mantido e reforçado.

No âmbito deste trabalho consideramos que o conceito de Desenvolvimento Sustentável corresponde a um “processo de transformação da realidade social, que articula uma vontade

política — quer por parte de estruturas administrativas do estado, quer por parte de um tipo de cidadania participativa (…) que se propõe a modificar a perceção do ser humano perante a natureza, ao mesmo tempo que se desenvolve um modelo de sociedade diferente” (Sousa e Amador, 2014)

Por outro lado, os ODMs, destacaram um conjunto de oito critérios entre os quais realçamos pela relação direta que possuem com este trabalho os seguintes: i) erradicar a pobreza extrema e a fome; ii) garantir a sustentabilidade ambiental. Relativamente a este último aspeto é referida a necessidade de “integrar os princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas e programas nacionais” e “inverter a atual tendência para a perda de recursos ambientais”.

De acordo Maia e Amador (2012) para “grande parte dos países africanos as prioridades são muito distintas dos modelos de desenvolvimento subjacentes ao Relatório Bruntland”. Há questões candentes que assumem caráter prioritário a exemplo da pobreza extrema, a fome, a iliteracia, os conflitos violentos, a SIDA, a malária e outras doenças, a degradação dos recursos naturais. É necessário que este conceito seja repensado no contexto africano, em particular na África Subsaariana. Como refere Breidlid (2009) devem ser tidos em consideração os conhecimentos das populações locais e a cultura destes países, não se procedendo a transposições apressadas de modelos ocidentais. Segundo este autor este facto justifica as dificuldades registadas no desenvolvimento de alguns projetos.

As exigências do DS tal e qual a CMMAD (1991) concebe, requerem:

a. um sistema político que admite a governança, isto é a efetiva participação dos cidadãos nos processos decisórios;

b. ajustar o crescimento aos limites da natureza;

c. um sistema económico baseado num know-how técnico que respeite a base económica do desenvolvimento (a atmosfera, as águas, os solos e os seres vivos); d. um sistema tecnológico reorientado a buscar novas soluções para os novos desafios

e. um sistema social mais justo com capacidade de resolver as tensões provocadas pelos desequilíbrios;

f. um sistema internacional reorientado para novas relações que estimulem padrões sustentáveis de comércio e financiamento.

E requere, acima de tudo, o alargamento da interdisciplinaridade em razão de que a interação adequada das dimensões presentes na sustentabilidade (ambientais, económica e sociais) passa necessariamente pelo conhecimento profundo de diversas áreas disciplinares.

Depois do conhecido relatório Brundtland, a procura de articulação entre desigualdades sociais e sustentabilidade exigiu a reformulação dos indicadores de progresso económico (PIB) e conduziu à criação em 1990 do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), dirigindo-se o olhar para a forma como os seres humanos vivem em cada sociedade e observar como esses seres desfrutam aquilo que Sen (2003) denomina liberdades substantivas.

A marcha mundial para a construção do DS continua através de um debate profícuo e permanente à escala mundial, regional e local que enriquece o entendimento e o sentimento de ser necessário introduzir mudanças. O diálogo social constitui-se no instrumento de política social que garante que diferentes parceiros discutam, se consultem, negoceiem e planifiquem ações conjuntas (Carmo, 2011). As grandes conferências internacionais sucedem-se. Podemos elencar várias conferências internacionais realizadas até o momento em que concluímos o presente estudo.

A emblemática ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, cujas discussões chamaram a atenção do mundo para a situação da Terra e para os perigos que à escala global ameaçam a vida no planeta, sendo por isso necessária uma aliança entre os povos em prol de uma sociedade sustentável (AA.VV., 1995a). Este evento constituiu um acontecimento que marcou a luta em prol do estabelecimento da relação harmoniosa entre o desenvolvimento e o meio ambiente.

Nesta conferência foram gerados importantes documentos, como Convenção sobre as Alterações Climáticas e sobre a Diversidade Biológica, Declaração do Rio sobre o Ambiente e Desenvolvimento, Declaração sobre as Florestas e a Carta da Terra.51 Este último documento constitui uma declaração de princípios éticos fundamentais para a construção, no século XXI, de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica. Para além disso, destacamos ainda o Protocolo de Kyoto e a Agenda 2152, documento de 40 capítulos que sumariza o consenso global e o compromisso político com vista ao desenvolvimento e compromisso ambiental. Foi nesta altura que nasceu a ideia de uma união à escala global em defesa de um ideal comum, defender o mundo, mas tendo sempre a clarividência de respeitar as diferenças. Foi esta clarividência que fez nascer o lema “pensar globalmente, agir localmente”, sendo esta a razão que faz da Agenda 21 um documento de estratégia global não vinculativo, que orienta cada país na elaboração da sua agenda específica, de forma que cada um aprimore a estratégia tendo em conta a realidade do país e/ou da região.

A equidade constitui o nó centralizador a partir do qual se tece toda a rede de questões interligadas tal como é definida na Declaração das Nações Unidas sobre o Direito ao Desenvolvimento que remete para os estados a responsabilidade de assegurar a igualdade de oportunidades para todos no acesso aos recursos básicos, educação, serviços de saúde, alimentação, emprego e justa distribuição de rendimento.

No limiar do século XXI, em 2002, realizou-se em Johannesburg, África do Sul, a conferência denominada Rio +10, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável. Neste encontro chegou-se a conclusões interessantes e importantes.

O conceito de DS ora usado, na aceção de Brundtland, passou de um termo contestado para um termo globalmente aceite por instituições internacionais, governos, empresas e sociedade civil e tornou-se um princípio orientador. A aceitação do termo resulta do seu carácter flexível

51 A Carta da Terra, http://www.cartadaterrabrasil.org/prt/what_is.html [21-09-201]

52 Agenda 21, http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/agenda-21-global [22-04-

2015]

que auxilia vários stakeholders a adaptá-lo para os seus próprios propósitos (Drexhage e Murphy, 2010). O termo passou então a ser empregue por agências internacionais de desenvolvimento, como o Banco Mundial que afirmou o compromisso de desenvolver uma globalização sustentável, traduzida num crescimento preocupado com o meio ambiente; o Fundo Monetário Internacional, preocupado com o crescimento económico sustentável; a Organização Internacional do Comércio comprometida com o desenvolvimento sustentável através da abertura das fronteiras e remoção das barreiras comerciais. O sector privado juntou- se a esta causa e criou a agenda da Responsabilidade Social Empresarial (RSE). Diferentes ONGs internacionais não ficaram alheias ao processo e desenvolvem diversificadas atividades que promovem a inclusão dos mais desfavorecidos nesta corrida mundial (Drexhage e Murphy, 2010).

Na aurora do século XXI, os governos mundiais também assumiram a chamada Declaração do Milénio, consubstanciada nos já anteriormente referidos 8 objetivos, conhecidos como os ODMs.53 Os oito objetivos constituem um desafio mundial de, até 2015, se reduzir os níveis de pobreza absoluta, a fome, e de se promover a igualdade entre os sexos, e erradicar doenças, de entre outros desafios preponderantes para o DS no mundo.

E, para que todos tivessem a oportunidade de participar na construção do DS, as Nações Unidas decretaram o período 2005-2014 como sendo a Década da Nações Unidas da Educação para o DS. Com esta decisão, se pretendia que todas as populações do globo, incluindo os mais desfavorecidos, desenvolvessem atitudes, habilidades e adquirissem conhecimento necessários para participar na tomada de decisões informadas tanto para o benefício próprio como de outros, agora e no futuro e a agirem de forma consciente.

No contexto das problemáticas sobre o DS as mulheres são percebidas como:

atores importantes na garantia da capacidade de suas comunidades de lidar com a mudança do clima e adaptar-se a ela. Elas podem ser agentes efetivos de mudança e com frequência são as

pessoas a quem se recorre em tempos de necessidade e podem desempenhar um papel em situações de crise.”

Secretaria da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática54

Sem dúvida alguma, as mulheres devem fazer parte do processo de desenvolvimento e desempenhar, ao lado dos homens, papéis de relevo. No âmbito das mudanças climáticas é- lhes reconhecido papel central como demonstra a declaração acima referida. Pessoas visionárias como a Nobel da Paz Wangari Maathai, do Quénia, sublinham não ser possível falar-se de equidade em matéria de clima sem equidade entre os sexos. Nós interligamos esta declaração ao movimento Every Woman Every Children,55 para pôr em ação a Global Strategy for Women´s and Children´s Health, estratégia global para a saúde da mulher e da criança, lançada pelas Nações Unidas num evento paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio em setembro de 2010. A estratégia tem como escopo central mobilizar e intensificar a ação de governos, setor privado, agências multilaterais, sociedade civil para intensificar os cuidados de saúde da mulher e da criança em camadas populacionais mais vulneráveis.

Em 2012, na Conferência Rio +20 sobre DS, o mundo concordou em estabelecer um conjunto de princípios de ação orientada, concisa e de fácil comunicação englobada no que se chamou Sustainable Development Goals (SDGs), um instrumento que tem como objetivos conduzir à implementação do DS. Como resultado desta conferência nasceu o documento The Future we Want56 que sumariza a confirmação do desejo de se trabalhar em prol do DS com olhos postos no pós-2015.

54 Oldrup, H. e Breengaardm, H. (2009) “Gender and Changes Report” Declaração da Cúpula dos Países