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Para ambos os tamanhos de escala, 9 cm e 15 cm, os mapas sensoriais obtidos foram similiares para os dois métodos de avaliação, com coeficiente RV igual a 0,99. Este resultado mostra que o tamanho da escala de avaliação não influenciou o perfil sensorial dos produtos. Porém, a variação de seu tamanho proporcionou diferenças em relação a outros critérios da avaliação descritiva.

As quatro técnicas descritivas avaliadas (PDO-9, PDO-15, PC-9, PC-15), apresentaram efeito significativo da interação formulação x julgador (p < 0,05). Entretanto, os resultados indicaram uma menor interação quando a escala de 15 cm foi utilizada nos dois métodos. Em análise sensorial, a inversão na percepção dos estímulos sensoriais pode ser um dos motivos que causam a interação (Silva e Damasio, 1994; O‟Neill et al., 2003; Silva et al., 2012; 2013). Jeon et al. (2004) consideraram a hipótese de que em escalas menores os julgadores têm maior tendência em atribuir notas iguais, ou até mesmo invertê-las, quando avaliam amostras com diferentes intensidades de um determinado estímulo, o que se denominou posteriormente, por

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Park et al. (2004), de “Different-stimulus” scaling error. Esse erro gera uma “perturbação”, fonte de variação no sistema, causada pelo fato de os julgadores gerarem respostas númericas de forma particular, espaçando suas notas de forma diferente na escala (Park et al., 2004). Portanto, os julgadores que utilizaram a escala de 9 cm podem ter sido induzidos de forma mais pronunciada a esse tipo de erro, contribuindo assim para o aumento da interação entre formulações x julgadores.

Park et al. (2004) estudaram a ocorrência de “Different-stimulus” scaling error em escalas lineares e categóricas e observaram sua ocorrência de forma mais frequente nas escalas menores e com menos categorias. Entretanto, as comparações não foram significativas. Posteriormente, Park et al. (2007) puderam confirmar sua hipótese, encontrando diferenças significativas em suas comparações para ambos os tipos de escala.

No PC, a diminuição do número de atributos que obtiveram efeito significativo da interação, ao comparar a escala de 9 e 15 cm, ocorreu de forma mais pronunciada do que no PDO. Silva et al. (2012), ao comparar as metodologias PDO e PC, utilizando escala linear de 9 cm, verificaram uma maior tendência do PC em gerar maior número de atributos com interações significativas entre formulações x julgadores quando comparado ao PDO, o que vai ao encontro dos resultados obtidos no presente estudo para escala de 9 cm. Essa observação pode ser consequência das diferenças entre os protocolos de avaliação das duas metodologias. No protocolo simultâneo (PDO), os julgadores podem redegustar e rever as notas dadas às diferentes formulações, o que diminui o efeito do “esquecimento” (fato observado no protocolo monádico- PC), resultando num menor número de erros e, consequentemente, numa menor interação (Kim e O’Mahony, 1998; Lee et al., 2001; Koo et al., 2002; Metcalf e Vickers, 2002; Jeon et al., 2004; Park et al., 2004).

Entretanto, essa tendência não foi observada para a escala de 15 cm, não sendo verificada para este tamanho de escala uma diferença representativa do efeito da interação entre os métodos. O fato de os julgadores terem uma menor tendência em inverter as notas em uma escala maior, gerando menos “Different-stimulus” scaling error, pôde ter contribuído para uma interação menor na escala de 15 cm a ponto de não sofrer influência da metodologia utilizada. Portanto, o fato do PC, ao ser comparado com o PDO, apresentar maior interação na escala de 9 cm e não apresentar diferença expressiva na escala de 15 cm, contribuiu para que a influência da escala na interação entre formulações e julgadores fosse mais pronunciada nesse método.

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Os resultados obtidos pelo teste de Tukey indicaram que os painéis que avaliaram as formulações de chocolate na escala de 15 cm, para os dois métodos (PDO-15 e PC-15), obtiveram uma melhora na capacidade discriminativa. Segundo Pecore et al. (2005), em escalas com uma extensão limitada os julgadores não têm habilidade de expressar pequenas diferenças de intensidade entre amostras. No presente estudo, os julgadores, ao avaliarem as formulações na escala de 15 cm, tiveram mais espaço disponível para assinalar a intensidade dos atributos, o que pode ter-lhes proporcionado maior chance de representar, adequadamente, o “espaçamento” entre as diferentes formulações de chocolate, possibilitando que expressassem pequenas diferenças. Além disso, Park et al. (2007) argumentaram que a variação introduzida no sistema, causada pelo fato de os julgadores atribuírem notas às formulações de forma particular, pode implicar em uma redução do poder de discriminação das amostras. Logo, a redução da capacidade discriminativa observada na escala de 9 cm pode também estar relacionada com o maior efeito da interação entre formulações e julgadores proporcionada por esta.

Os resultados obtidos vão de encontro com os citados por Stone e Sidel (2004) que relatam que, em um estudo limitado, foi observada uma tendência em aumentar a sensibilidade de discriminação quando uma escala maior era utilizada. Essa tendência foi observada quando se compararam escalas lineares de 10 cm e 15 cm. Apesar dos resultados citados, Stone e Sidel (2004) não deixam claro a forma como foi determinado o poder de discriminação no estudo.

Ao avaliar a repetibilidade dos resultados, verficou-se uma tendência desta ser maior na escala de 9 cm para ambos os métodos. Segundo Meilgaard et al. (2006), em escalas maiores os julgadores têm mais dificuldade para lembrar a posição assinalada nas diferentes avaliações, o que pôde ter contribuído para diminuir a capacidade dos julgadores em atribuir notas semelhantes nas diferentes repetições de uma mesma amostra.

A influência do tamanho da escala na repetibilidade foi ligeiramente mais pronunciada no PDO. Como não houve treinamento no PDO, a equipe que avaliou na escala de 15 cm pôde ter sentido, de forma mais drástica, o efeito do tamanho da escala quando comparada com a equipe que avaliou na escala de 9 cm. Já no PC, o fato de as equipes terem sido treinadas em ambas escalas fez com que elas se adaptassem ao seu uso de forma semelhante, o que pode ter contribuído para equilibrar as respostas nas duas escalas, apresentando pequenas diferenças na repetibilidade. Apesar do efeito mais pronunciado, a repetibilidade observada no PDO foi sempre melhor do que a obtida no PC, tanto na escala de 9 cm quanto na de 15 cm. Resultado

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semelhante foi encontrado por Simiqueli (2014) ao utilizar escala linear de 9 cm. Esse fato pode estar relacionado com o protocolo atributo por atributo utilizado no PDO.

A utilização de diferentes tamanhos da escala linear não influenciou de forma significativa a variabilidade do experimento (QMRcorrigido) para o PC, e, no método PDO, não foi verificado um padrão na influência.

Esse resultado não condiz com o estudo citado por Stone e Sidel (2004), onde foi verificada uma tendência em aumentar a variabilidade a medida que o tamanho da escala também era aumentado. Entretanto, não é relatado como foi calculada a variabilidade do estudo, não sendo especificado o modelo utilizado. Na literatura não foram encontrados trabalhos que compararam diferentes tamanhos de escala por meio da variabilidade estimada pelo Quadrado Médio do Resíduo (QMR), utilizando o modelo estatístico da ANOVA (Eq.1), para possibilitar maiores comparações com os resultados do presente estudo.

Ao estudar a frequência de utilização dos escores da escala não estruturada, para todas as técnicas observou-se que os julgadores tenderam a utilizar todo o comprimento da escala para expressar a intensidade dos atributos sensoriais. Essa observação pode ser uma consequência da teoria de Poulton (1973, 1979, 1989), denominada “response range equalizing bias”, que afirma que para um determinado conjunto de estímulos, os julgadores têm uma tendência em distribuírem suas respostas em toda extensão da escala, independentemente do seu comprimento. Porém, algumas faixas foram utilizadas de forma mais frequente que outras. Os julgadores que utilizaram a escala de 15 cm, para ambos os métodos, tenderam a utilizar menos os extremos da escala quando comparados com as equipes que avaliaram as formulações na escala de 9 cm, mostrando que eles tenderam a distribuir suas notas de forma mais equilibrada ao longo do comprimento da escala. A menor utilização das faixas extremas na escala maior pode refletir em uma menor necessidade dos julgadores em terem que utilizar todo o comprimento da escala para representarem as diferenças de intensidade entre as formulações, ou seja, para expressarem o “espaçamento correto” entre essas. Por outro lado, a utilização maior dos extremos na escala de 9 cm pode ter mostrado a necessidade de mais espaço para os julgadores separarem todas as formulações, posicionando assim, com maior frequência, as formulações de chocolate mais extremas nos extremos da escala.

Portanto, a utilização de diferentes tamanhos de escala, apesar de não alterar a caracterização sensorial das formulações de chocolate, influenciou de forma sutil algumas

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variáveis da avaliação sensorial descritiva como interação entre formulação e julgadores para o PDO, discriminação das amostras e repetibilidade dos resultados. Por outro lado, outras variáveis sofreram influência de forma mais pronunciada, como interação entre julgadores e formulações para o PC e faixa de utilização dos escores na escala não estruturada, enquanto para a variabilidade dos resultados não foi observado um padrão de influência quando consideradas as duas escalas na metodologia PDO, e na metodologia PC não foi observado efeito significativo entre elas. Além disso, a influência do tamanho da escala foi sutilmente diferente nos dois métodos para o critério de repetibilidade e ocorreu de forma mais pronunciada para a interação. Já para os demais critérios, os dois métodos obtiveram um comportamento semelhante.

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