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A escolha do tema da pesquisa está ligada ao período em que atuamos como assistente social no Provita (outubro de 2002 a dezembro de 2004). Durante o tempo desta experiência profissional, sentimos a necessidade de refletir sobre a atuação do Serviço Social neste Programa.

Para realização do estudo, optamos por uma abordagem de totalidade e resgate histórico dos mecanismos que engendram a questão da proteção. Dessa forma, iniciamos o trabalho, refletindo sobre a criação e desenvolvimento da segurança pública em nosso país e a luta por direitos humanos, pois o Provita nasceu neste contexto.

É importante ressaltarmos que, na pesquisa, a abordagem sobre os direitos humanos se pretendeu diferente da concepção idealista e liberal. Ao contrário desta perspectiva, buscamos estudá-los de forma crítica, considerando o caráter contraditório presente na efetivação dos direitos humanos em nossa sociedade, de bases capitalistas.

A implantação de um Programa de Proteção, na sociedade brasileira, surge da necessidade de garantir o direito de segurança para testemunhas de crimes que se encontram ameaçadas. A criação desse programa é, portanto, expressão da defesa dos direitos humanos. O momento desta reflexão é de busca de como estão sendo garantidos esses direitos dentro do processo de proteção.

Na primeira parte do trabalho, a pesquisa foi bibliográfica, com o intuito de compreendermos sobre que alicerces sociais, políticos e econômicos está construído o Provita. Ou seja, quais são as condições que podem realmente possibilitar a efetivação dos objetivos deste tipo de Programa em nossa sociedade.

Este é um Programa novo e, devido ao sigilo que o deve cercar, tem pouca visibilidade. Este fato causa dificuldades ao levantamento de publicações a seu respeito.

Fizemos, então, um estudo dos documentos legais que o regulamentam: são eles a Lei Federal nº 9.807/99 que estabelece as normas para a organização e manutenção de programas especiais de proteção a vítimas e testemunhas ameaçadas e o Decreto Estadual nº 44.214/99 que institui o Programa de Proteção do Estado de São Paulo. (Conforme anexos 2 e 3)

A seguir, realizamos uma análise sobre o funcionamento, estrutura e desenvolvimento do Provita, analisando os textos das revistas publicadas pelo Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares - Gajop - durante os anos de 1997 a 2001.

Pensamos, então, nas bases geradoras do Provita e na sua organização enquanto um Programa que atende certo universo de pessoas, que possuem como característica comum a de serem vítimas de crimes e testemunhas ameaçadas. Observamos a necessidade de caracterizar um pouco mais esta população que precisa de proteção.

Gostaríamos de ressaltar que seria ideal, para se conseguir mais detalhes na pesquisa, em relação aos protegidos, a realização de uma abordagem com os próprios sujeitos envolvidos na proteção.

Devido à questão do sigilo e do acesso restrito, a base das informações desta pesquisa é o relato das assistentes sociais que trabalharam diretamente com as pessoas protegidas e que, no dia a dia profissional, verificavam as necessidades e dificuldades enfrentadas por elas.

Dadas essas condições, também não tivemos permissão para o acesso aos registros e documentos que contêm informações a respeito dos protegidos. Optamos, então, por analisar os dados publicados sobre o tema e abordamos, com as assistentes sociais entrevistadas, questões sobre esta caracterização.

Sobre o Serviço Social, ao refletirmos a atuação profissional, nos pautamos na abordagem teórico-metodológica crítica e buscamos a fundamentação teórica nos autores que consideram essa perspectiva.

Ao analisarmos a profissão do assistente social no Provita, consideramos a consolidação de um projeto profissional comprometido com a efetivação dos direitos humanos, na perspectiva de emancipação do ser humano.

No início, vários foram os questionamentos quanto à forma mais adequada para sistematizar os conhecimentos, tratando-se de um objeto que envolve tanto cuidado em sua revelação. Em todo o momento, ficou clara a importância de se resguardar alguns aspectos, inclusive para a nossa própria segurança pessoal.

De acordo com o assunto principal deste trabalho, tomamos como sujeitos da pesquisa os profissionais da área do Serviço Social que possuem a experiência de trabalho no Provita. Assim sendo, inicialmente, requeremos aos coordenadores e à direção da entidade gestora que fosse autorizada a pesquisa com os assistentes sociais que se encontram atuando no Programa. A resposta à nossa solicitação foi negativa, por parte dos responsáveis atuais do Programa, que não autorizaram o contato direto com a equipe, justificando tal impossibilidade

pelo risco de identificação desses profissionais, que quebraria, portanto, o sigilo sobre suas identidades.

Como alternativa, recorremos aos ex-assistentes sociais que, no passado, fizeram parte do quadro profissional do Provita, tornando-os uma grande, senão a maior, fonte de conhecimentos dentro da pesquisa.

Lembramos que, em relação ao compromisso com os dados coletados, a ética presente em qualquer ato de pesquisa já garante, normalmente, o devido sigilo em relação à identificação dos profissionais envolvidos no trabalho de campo.

Considerando esta realidade de compromisso e sigilo, redobrados no caso em estudo, os profissionais entrevistados foram classificados apenas por números, de um a três, reduzindo, também, a menção extensa a características que os pudessem identificar, apesar de reconhecermos a importância de informações sobre as pessoas que são tomadas como fontes. É importante, contudo, mencionarmos que os profissionais que colaboraram com a pesquisa, atuaram em épocas diferentes no Provita.

As experiências relatadas pela primeira profissional (Entrevistada 1) foram de um período mais atual. A segunda entrevistada (Entrevistada 2) atuou num momento em que o Programa ainda estava sendo estruturado. Já a terceira (Entrevistada 3) atuou no Provita logo no início, quando este ainda estava em processo de implantação no Estado de São Paulo.

A entrevista foi organizada de acordo com um roteiro de questões semi-estruturadas (Anexo 1), no intuito de obtermos informações a respeito do Provita e sobre o desempenho do Serviço Social neste Programa.

A análise dos temas propostos nas entrevistas centralizou-se na intervenção do assistente social. Com isso, pretendemos enfatizar a reflexão sobre o impacto desta intervenção profissional na mudança de vida das pessoas protegidas.

Para isto, consideramos as atividades desenvolvidas no cotidiano deste profissional, o objetivo do Serviço Social e a reflexão sobre os princípios do Código de Ética.

Buscamos relacionar esses elementos à peculiaridade do trabalho de proteção e às dificuldades e desafios enfrentados quanto à efetivação deste tipo de atuação num programa singular como o Provita.