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CAPÍTULO 3 – PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO

3.1 DISSERTAÇÕES E TESES SOBRE A IDENTIDADE DOCENTE

A fim de circunscrever a temática sobre identidade docente nas produções e no campo educacional, realizamos um levantamento bibliográfico sobre a temática

para compreender o que revelam as pesquisas. Buscamos as produções acadêmicas registradas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) por via da Plataforma Sucupira7, abrangendo o período de junho de 2013 (ano da criação da Plataforma) a setembro de 20168. Definimos como descritor principal o termo “identidade docente". Optamos ainda pelo refinamento dos resultados, delimitamos “Educação” como palavra-chave para os campos Área de Concentração, Área de Conhecimento e Nome do Programa.

A partir desses critérios, encontramos 98 registros. O Quadro abaixo resume os elementos de refinamento de busca que utilizamos para compor nosso corpus de análise.

Quadro 7 - Critérios utilizados para o levantamento das produções

Banco de

Dados Descritor Principal Ano de defesa concentração Área de conhecimento Área de Programa Nome de CAPES – Plataforma Sucupira “identidade docente". 2013 a 2016

Educação Educação Educação Fonte: a autora (2016)

Por concluirmos que há um grande número de produções sobre a identidade docente, optamos por uma segunda delimitação do corpus das pesquisas. Após o levantamento das 98 produções, realizamos um novo refinamento, seguindo o critério de conter o descritor “identidade docente” no título dos trabalhos. Assim, resultaram-nos 15 produções, dentre os quais, após realizarmos a leitura dos relatórios, percebemos que dez delas não tinham como foco o tema identidade docente, e o conceito de identidade docente apareceu apenas algumas vezes no decorrer da pesquisa. Portanto, circunscrevemos nosso corpus a 5 produções, sendo quatro Dissertações e uma Tese, por compreender que estas contribuem efetivamente com nosso objeto de pesquisa.

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Disponível em: https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/producaoIntelectual/ listaProducaoIntelectual.jsf

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Delimitamos o ano 2016 para finalizar o mapeamento das pesquisas, pois a partir das contribuições e lacunas das produções selecionadas, delinearíamos o percurso metodológico desta pesquisa.

Na tabela a seguir, apresentamos a Tese e as Dissertações que compõem o corpus de análise:

Quadro 8. Relação das teses e dissertações que compõem o corpus de análise da revisão de literatura

Fonte: a autora (2016).

Soga (2014) estabelece relações entre o percurso de formação das professoras efetivas de sistemas públicos de ensino que frequentaram um programa especial de nível superior. O objetivo principal de seu trabalho é analisar e caracterizar o processo de desenvolvimento da identidade nessa etapa de vida profissional. Para isso, aborda os percursos de formação do grupo, bem como o contexto no qual emergem as pressões que levam as professoras a buscarem o diploma de nível superior. Por fim, o autor versa sobre as possíveis relações entre obtenção de um diploma de nível superior e as representações que as professoras passam a fazer de si a partir da frequência ao programa.

Já a pesquisa de Oliveira - Silva (2013) versa sobre a identidade docente no curso de Licenciatura em Letras-Espanhol, oferecido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no contexto do sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), enquanto a Dissertação de Silva (2013) origina-se do projeto Alfabetização

nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e formação de professores na Rede Municipal de Ensino de Canoas: a pesquisa-ação colaborativa como elemento de qualificação das práticas educativas, financiado pelo INEP/CAPES (Observatório da

Educação). Sua pesquisa aborda os professores alfabetizadores nos primeiros e segundos anos do ensino fundamental, em duas escolas da rede municipal de ensino de Canoas, ambas localizadas no bairro Guajuviras.

Natureza Título/Autor/Ano

Dissertação Magistério e identidade docente: um estudo sobre professoras egressas do PEC-

Municípios' (SOGA, 2014)

Dissertação Um olhar para si: o tecer da identidade docente dos professores alfabetizadores (SILVA, 2013)

Dissertação As dores e amores de tornar-se professora: minhas memórias de professora iniciante (LOPES, 2014)

Dissertação Docência na Educação à Distância: um estudo sobre a identidade em um curso de licenciatura em espanhol (OLIVEIRA- SILVA, 2014)

Tese Os sentidos formativos dos estudantes de licenciatura: socialização, aprendizagens e identidade docente (ANDRUCHAK, 2016)

Por sua vez, a pesquisa realizada por Lopes (2014) é continuação da pesquisa Os Egressos da Licenciatura em Pedagogia e os desafios da prática em

narrativas: a universidade e a escola em um processo interdisciplinar de inserção do processo iniciante na carreira docente, do Programa Observatório da Educação

(CAPES/ INEP), envolvendo a Universidade Federal do Mato Grosso, a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul e a Universidade Federal de Rondonópolis. O estudo trata da vida acadêmica e profissional da própria pesquisadora, que, a partir das narrativas das experiências vividas, evidencia o seu processo de formação, e define seu trabalho como um projeto de autoformação.

Por fim, a Tese de Andruchak (2016) analisa os sentidos formativos atribuídos por estudantes concluintes dos cursos de licenciatura (Letras, Biologia, Matemática e Pedagogia), no que diz respeito à construção de sua identidade profissional docente no decorrer do processo de socialização e aprendizagem no meio universitário. Considerou-se, igualmente, a influência de uma diversidade de representações prévias sobre a prática docente, desde as origens familiares e da sociobiografia escolar à revisão dessas concepções atualizadas pelo ambiente acadêmico.

Todas as pesquisas relatadas detalham a importância das memórias para compreender a identidade docente, o que vai ao encontro da nossa pesquisa. O sujeito, durante a sua trajetória de vida, estabelece relações a partir do meio em que vive e das experiências. Para Le Goff (1990), a memória, ao conservar dadas informações, contribui para que o passado não seja totalmente esquecido e revela experiências que foram significativas para o sujeito. O passado só permanece vivo “através de trabalhos de síntese da memória, que nos dão a oportunidade de revivê- lo a partir do momento em que o indivíduo passa a compartilhar suas experiências, tornando com isso a memória viva” (ALBERTI, 2004, p. 15).

Entretanto, das Dissertações e da Tese mencionadas, somente as pesquisas de Lopes (2014) e Silva (2013) detém-se sobre a necessidade de conceituar a memória. Silva (2013) o faz recorrendo à descrição de Penna (1998, p. 9):

E a memória não é algo recalcado, no fundo da mente, vindo à tona quando estimulado e reconhecido logo após. Faz parte da autoimagem do indivíduo e o acompanha por todos os seus processos de vida, interferindo ativamente nas representações do presente. A memória também depende dos grupos de convívio e de referência. Logo, o caráter de reconstrução inerente à memória implica considerar também a participação do indivíduo em determinado grupo, em determinado contexto social.

Já Lopes (2014) pondera sobre a memória a partir de uma citação de Garcia (2011, p. 83):

Abro o meu baú de memórias e vou revivendo momentos de minha vida que me pareçam importantes, e, ao puxar os fios, vou tecendo um bordado tipo patchwork, de minha relação com a escola, seja como aluna, seja como professora.

Tanto as pesquisas de Silva (2013) como a de Lopes (2014) associam a construção da identidade dos sujeitos às memórias dos cursos formativos específicos para a geração de professores. Mais especificamente, o primeiro autor detém-se sobre o curso de formação continuada; já o segundo, sobre o curso de formação inicial. Ambas as pesquisas contribuem com nossa pesquisa, pois também elegemos o curso de formação inicial como fonte de experiências e sentidos de memória. No entanto, buscamos ultrapassá-las no sentido de estender o alcance da memória para nossa pesquisa, já que a memória dos docentes vivenciada durante a sua trajetória de vida é um elemento importante para compreender como se construíram suas lembranças sobre a imagem do professor, e como esta se relaciona com a construção da identidade docente.

No que diz respeito aos objetivos das pesquisas selecionadas, seus escopos de análise podem ser resumidos da seguinte maneira:

Quadro 9 – Relação dos objetivos Dissertações e Teses que compõem o corpus da análise

Referência Objetivo

Oliveira - Silva (2013)

Analisar a docência na EaD a partir da constituição do conceito de identidade docente presente entre estudantes, professores, tutores, coordenadores, designers instrucionais e supervisor de AVEA do curso de Letras Espanhol EaD/UFSC.

Silva (2013) Compreender como os professores constroem sua identidade profissional, considerando sua formação inicial e sua experiência profissional.

Lopes (2014) Analisar o próprio processo de formação, procurando refletir sobre as histórias que as narrativas da autora contam acerca do início da docência e assim compreender o que foi realmente transformador e significativo na constituição do ser-professora em início de carreira.

Soga (2014) Analisar e caracterizar o processo de desenvolvimento de identidade nessa etapa de vida profissional.

Andruchak (2016)

Compreender os sentidos formativos atribuídos por estudantes das licenciaturas em Letras, Biologia, Matemática e Pedagogia, sobre seus processos de socialização e de aprendizagem envolvidos na construção da identidade docente. Fonte: elaborado pela autora (2016)

À luz do exposto as temáticas apresentadas pelas referidas produções pretendem problematizar diversas questões, relativas à docência na educação a

distância; à autoformação da vida acadêmica e profissional; à formação continuada; as estudantes concluintes dos cursos de licenciatura (Letras, Biologia, Matemática e Pedagogia); ao processo formativo inicial; e à docência enquanto experiência profissional. A esfera explorada sempre se constitui por um curso específico ou pela trajetória profissional como referência para a constituição da identidade docente, sendo a única pesquisa que aborda experiências pessoais que antecedem este momento, como as relações familiares, é a Tese de Andruchak (2016). Ela contribui significativamente com nossa pesquisa, pois também compreendemos que as experiências familiares são elementos importantes na construção da identidade docente. Assim, é a que mais se aproxima de nosso objetivo, pois diferimo-nos das outras pelo enfoque que vai além do curso específico e da trajetória profissional.

No decorrer deste trabalho, para uma melhor visualização panorâmica dos trabalhos acadêmicos supracitados, orientamo-nos a partir da construção de uma tabela com os principais dados das pesquisas, tais como autor(a), ano, abordagem de pesquisa, número de sujeitos participantes, referencial teórico para a identidade e o instrumento de coleta de dados. A revisão de literatura aponta que os trabalhos que compõem o corpus deste mapeamento apresentam como abordagem a pesquisa qualitativa, e justificam que este método é coerente com o objeto das pesquisas que priorizam o sentido dos significados “[p]orque está preocupada com a geração de conhecimento, mas não com a aplicação direta dos resultados na prática” (OLIVEIRA - SILVA, 2013, p. 32).

No que diz respeito aos sujeitos participantes das pesquisas, estes não apresentam linearidade em relação à quantidade, além do próprio fato de que estes sujeitos eleitos variam desde o próprio pesquisador, como na pesquisa de Lopes (2014) a professores, tutores, coordenadores de curso e, ainda, a sujeitos de pesquisas prévias, como na Dissertação realizada por Oliveira e Silva (2013), a qual se detém na área de atuação da Educação Básica e do Ensino Superior, na modalidade de Educação à Distância.

Sobre a fundamentação teórica, certificamos que a maioria dos estudos sobre identidade docente tem como base pesquisadores da abordagem sociológica, como Dubar (ANDRUCHAK, 2016; SOGA, 2014) e Stuart Hall (SILVA, 2013). Ambos os autores estudam as identidades culturais na perspectiva da pós-modernidade e, mais especificamente, a partir de Martin Lawn (OLIVEIRA - SILVA, 2013), o qual realiza uma análise sócio-histórica sobre a identidade docente. Para Dubar (1997), a

identidade é resultado do processo de socialização, isto é, a identidade de si não se separa da identidade para o outro, pois a primeira é correlata à segunda, visto que se reconhece pelo olhar do outro. Já Hall (2006, p. 9) entende que as condições atuais da sociedade estão “fragmentando as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade que, no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais”. Essas transformações alteram as identidades pessoais, e “esta perda de sentido de si estável é chamada, algumas vezes, de duplo deslocamento ou descentração do sujeito” (HALL, 2006, p. 9). De acordo com Oliveira - Silva (2013, p. 168), Martin Lawn (2001)

[...] sugere que a identidade docente seja pensada em relação aos contextos e discursos governamentais educacionais oficiais, que culminam na intensificação do trabalho, na exigência do domínio das competências e na responsabilização do docente por seu desenvolvimento profissional.

Outrossim, para Lawn (2001, p. 118):

[...] as alterações na identidade são manobradas pelo Estado através do discurso [...], dos seus regulamentos, serviços, encontros políticos, programas de formação, intervenções nos media, etc. [...]. A identidade é “produzida” através de um discurso que, simultaneamente, explica e constrói o sistema. A identidade do professor simboliza o sistema e a nação que o criou.

Os autores utilizados para conceituar a identidade apresentam propostas diferentes, sendo Dubar, com sua perpectiva sociológica, o referencial mais utilizado, eleito prioritariamente nas pesquisas de Andruchak (2016) e Soga (2014). Sobre o instrumento de coleta de dados, a maioria das pesquisas optou pela entrevista. Conforme Andruchak (2016, p. 24), tal método “oportuniza a construção do objeto de estudo, ao mesmo tempo em que as hipóteses são levantadas junto ao campo da pesquisa, apresentando-se como uma nova forma de percorrer o caminho investigativo”. Outrossim, Silva (2013) para relatar sua escolha pela entrevista, resgata a visão de Penna (2005, p. 27):

A interpretação é vista como um procedimento não solitário, mas social. O olhar sobre o mundo sofre contínua codificação, decodificação e recodificação e assim, entrevisto e entrevistador agem em conjunto para extrair significados da entrevista.

Em suma, as pesquisas defendem que a entrevista é um momento de diálogo entre pesquisador e o sujeito pesquisado. É um momento de aproximação, e, como

tal, torna-se um instrumento de pesquisa coerente com a temática identidade do docente (SILVA, 2013; SOGA, 2014, ANDRUCHARK, 2016).

Além de inferimos ser a entrevista o instrumento mais utilizado ao se tratar da identidade docente, observamos que que os instrumentos de análise costumam priorizar a memória no formato da escrita. Isso ocorre, por exemplo, na pesquisa de Soga (2014, p. 48), que compreende que “as memórias são consideradas produções de linguagem do tipo biográfico”, e nos memoriais de autoformação da pesquisa de Lopes (2014), que, ao utilizar-se de Passeggi (2006, p. 214), relata que a “escrita como viagem faz do memorial um lugar de partida, de reencontro, mas também de errância, de busca de sentido, de procura de um porto de onde se recomeça sempre um novo caminho”.