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CAPÍTULO I DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA

1.2 A distância

Ao considerar que a atividade docente universitária é complexa e influenciada por ações externas e por concepções internas do profissional docente, percebe-se a existência de um conjunto de características que devem ser analisadas para se entender a sua atuação enquanto docente. Escreve Cicillini (2010, p.30) que existem muitas discussões sobre a formação de professores universitários quanto aos “saberes que são necessários para atender à demanda encontrada no interior da universidade, no que diz respeito a formar e a continuar se informando/formando na profissão”.

O profissional docente é o resultado de sua formação, de sua experiência de vida e profissional, das trocas de conhecimentos com seus pares, de suas interações sociais e das oportunidades de aprendizado que teve ao longo de sua carreira.

Para o professor que assume a docência a distância, além dos seus conhecimentos científicos e didáticos é também necessário o domínio de recursos tecnológicos que são indispensáveis para o seu cotidiano. Como escrevem Maia e Mattar (2007, p.90), a educação a distância abre novas funções a serem desempenhadas, então novas possibilidades de trabalho estão disponíveis, “justamente pelo fato de ele não exercer mais a sua profissão como antigamente”.

A experiência do ensino a distância demonstrou que, no nível do ensino superior, uma dose sensata de utilização dos meios de comunicação social, de cursos por correspondência, de tecnologias de comunicação informatizadas e de contatos pessoais, pode ampliar as possibilidades oferecidas, a um custo relativamente baixo (DELORS et al., 1998, p.144).

O professor presencial pode também se tornar um tutor, cuja principal característica é ensinar o aluno virtual, apoiando-o no desenvolvimento de suas atividades. O tutor desempenha vários papéis simultaneamente.

[...] ele precisa organizar a classe virtual, definindo o calendário e os objetivos do curso, dividindo os grupos e deixando claras as expectativas em relação aos alunos, principalmente no sentido da interação esperada. [...] O inicio e o fim das atividades precisam estar delimitadas para evitar confusão por parte dos alunos. A função do tutor é também acompanhar o aprendizado

dos estudantes e coordenar o tempo para o acesso ao material e a realização de atividades, quando há prazos para que eles sejam realizados (MAIA; MATTAR, 2007, p.91).

Uma das funções mais importantes do tutor é dar feedback constante a seus alunos sobre as atividades desenvolvidas, utilizando os canais apropriados para a comunicação com os alunos, o que pode ocorrer por meio dos fóruns ou e-mail, entre outros.

O professor de EAD tem de aprender, portanto, a gerenciar o tempo virtual, e não mais o tempo presencial. Não faz sentido, por exemplo, determinar que emails serão respondidos em determinados dia e hora, como se ele estivesse atendendo os alunos em seu escritório. On-line, os professores podem também se comunicar diretamente e realizar novas experiências (MAIA; MATTAR, 2007, p.92).

Para entender o papel do professor neste novo modelo, podem-se considerar os parâmetros de referência de qualidade definidos pelo Ministério da Educação (MEC), que descrevem que os professores devem ser capazes de desenvolver um conjunto de ações:. a) Estabelecer os fundamentos teóricos do projeto; b) Selecionar e preparar todo o conteúdo curricular articulado a procedimentos e atividades pedagógicas; c) Identificar os objetivos referentes a competências cognitivas, habilidades e atitudes; d) Definir bibliografia, videografia, iconografia, audiografia, tanto básicas quanto complementares; e) Elaborar o material didático para programas a distância; f) Realizar a gestão acadêmica do processo de ensino-aprendizagem, em particular motivar, orientar, acompanhar e avaliar os estudantes; g) Avaliar-se continuamente como profissional participante do coletivo de um projeto de ensino superior a distância (BRASIL, 2007c, p.20).

Importante considerar alguns referenciais propostos pelo Gabinete de Estatística e Planejamento da Educação (GEPE) do Ministério da Educação de Portugal através do Plano Tecnológico da Educação, que é um projeto para a formação e capacitação dos professores no que diz respeito à integração das TICs na atividade pedagógica do professor. Pode ser enumerado um conjunto de ações (GEPE, 2008, p.79-80): Primeiramente, a integração das TICs na vida escolar, tornando-as uma modalidade comum e cotidiana de comunicação, e serem percebidas com naturalidade. Outra ação deve ser a integração das TICs em todas as áreas do conhecimento. Com naturalidade, elas devem ser assimiladas por cada área disciplinar e serem utilizadas como mais um instrumento à disposição para alunos, funcionários e professores.

Outro referencial a ser ponderado é sobre a existência de um conjunto de recursos variado, adequado e de qualidade para ser utilizado por professores e alunos. Estes recursos

devem ser produzidos internamente pela equipe e também adquiridos de empresas especializadas.

O quarto referencial apresentado diz respeito à existência de uma infra-estrutura apropriada ao trabalho docente, distinguindo a existência de equipamentos atualizados e de fácil manuseio, permitindo o desenvolvimento das competências dos docentes e a aprendizagem dos alunos.

Outro referencial que mereceu destaque no trabalho é sobre a preparação dos alunos para utilizar o computador. “A heterogeneidade dos alunos, inquestionável na prática escolar dos nossos dias, não deve ser acrescida de mais uma sub-variável a que os professores tenham de fazer face” (GEPE, 2008, p.79).

O sexto referencial é sobre a redefinição das condições de trabalho do professor, organizando o seu horário de modo a garantir equilíbrio entre o tempo consumido em suas atividades presenciais e o gasto nas atividades desenvolvidas em ambiente virtual. Assim, deve-se considerar que o planejamento e o acompanhamento das atividades de aprendizagem integrando as TICs requerem mais tempo de preparação e execução do que no modelo dito tradicional.

Sabe-se que, frequentemente, os professores não utilizam as TIC porque se torna impossível conciliar as funções que correspondem ao seu horário de trabalho e a actividade de estudo e de pesquisa necessárias à apropriação das novidades pedagógicas e tecnológicas (LACHANCE, 1999 apud GEPE, 2008, p.80).

A sétima definição é sobre a direção da escola que deve fazer uma definição clara no plano das TICs, incentivando a sua utilização, reconhecendo e valorizando as ações dos professores que as utilizam, promovendo as adaptações nas condições de trabalho na escola. Imprescindível também uma ação por parte da direção da escola para que ocorra uma contínua atividade de formação desses professores.

Outro referencial a ser observado é sobre a avaliação do desempenho docente e que deverá, de forma específica, apresentar os critérios de apreciação que valorizem o uso e a integração pedagógica das TICs pelos professores tanto em suas ações educativas quanto nas ações desenvolvidas no contexto da escola ou da comunidade. E por último, o nono referencial diz respeito à formação, que não pode ser entendida como uma estratégia voltada e fechada e com valor em si mesma.

A formação é “uma estratégia cara, morosa e incerta pelo que é imprescindível que ela se oriente para finalidades claras e defensáveis”. A questão da prática pedagógica do

professor “com integração das TICs no seu ensino e na aprendizagem dos seus alunos e a obtenção de resultados escolares mais satisfatórios”. Também a questão da formação do professor, “para integrar as TICs, é justificável se ela corresponder a uma prática profissional melhor, determinando-se esse melhor em função dos objetivos traçados no currículo dos alunos e nos documentos orientadores de cada escola, com destaque para o Projeto Educativo de Escola” (GEPE, 2008, p.80, grifo do autor).

Usando os referenciais apresentados pelo GEPE para a capacitação e formação dos professores da rede pública de Portugal e comparando-os com os referenciais de qualidade apresentados pelo MEC como competências que os professores devem ter para exercer a atividade em disciplinas a distância (BRASIL, 2007c) e também com os referenciais propostos por Castells (2000) para o uso das TICs na sociedade moderna, pode-se observar que o uso das tecnologias deve seguir um planejamento apropriado e interdisciplinar, usando as habilidades e competências dos professores e estimulando os alunos a buscar a construção do seu conhecimento através da exploração e uso destas.

Ressalte-se que no processo de ensino e aprendizagem desenvolvido por meio de ambientes virtuais de aprendizagem é necessária a participação efetiva de todos os atores através do compartilhamento de experiências, pesquisas e descobertas. Nesse modelo, o professor é o mediador da aprendizagem, é responsável pelo planejamento, devendo desenvolver ações e atividades que sejam interessantes e desafiadoras, mas também de acordo com o perfil e nível intelectual dos alunos (KENSKI et al., 2009, p.224).