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Fonte: elaboração própria, a partir de IBGE, 2009.

Nota: Até 2003, exclusive os domicílios da área rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. (1) Inclusive os domicílios cujos componentes receberam somente em benefícios.

Índice de Gini

2.6 CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA

A energia, nas suas mais diversas formas, é indispensável à sobrevivência da espécie humana. E mais do que sobreviver, o homem procurou sempre evoluir, descobrindo fontes e formas alternativas de adaptação ao ambiente e de atendimento às suas necessidades. Dessa forma, a exaustão, escassez ou inconveniência de um dado recurso tende a ser compensada pelo surgimento de outros. Em termos de suprimento energético, a eletricidade se tornou uma das formas mais versáteis e convenientes de energia, passando a ser recurso indispensável e estratégico para o desenvolvimento socioeconômico.

No limiar do terceiro milênio, os avanços tecnológicos em geração, transmissão e uso final de energia elétrica permitem que ela chegue aos mais recônditos lugares do planeta, transformando regiões desocupadas ou pouco desenvolvidas em pólos industriais e grandes centros urbanos. Os impactos dessas transformações socioeconômicas são facilmente observados em nosso cotidiano. Mesmo que o consumo de eletricidade não seja necessariamente o melhor indicador do grau de desenvolvimento de uma região ou país, as atividades socioeconômicas tornam-se cada vez mais dependentes desse recurso.

De 1973 a 2006, o consumo mundial de eletricidade aumentou 73% ao passar de 4.672 milhões (9,4% do total) para 8.084 milhões de tep (toneladas equivalentes de petróleo) (16,7%), segundo o Key World Energy Statistics, da International Energy Agency (IEA, 2008). Os 30 países desenvolvidos que compõem a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)8 são, historicamente, os maiores consumidores mundiais de energia – em consumo total e per capita. Sua participação no total mundial, porém, tem recuado ao longo do tempo. Os países em desenvolvimento apresentam participação relativa pouco expressiva, porém registraram, em alguns casos, aumento acumulado do consumo de eletricidade superior a 100% nos últimos 30 anos (ANEEL, 2008).

Essa disparidade é explicada pela diferença da estrutura econômica e social entre os países da OCDE (e os demais desenvolvidos) e os restantes, em desenvolvimento. Os

8 Os países da OCDE são: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Coréia, Dinamarca, Estados Unidos, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Islândia, Irlanda, Itália, Japão, Luxemburgo, México, Nova Zelândia, Noruega, Países Baixos, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Eslovaca, República Tcheca, Suécia, Suíça e Turquia (IEA, 2008).

primeiros são caracterizados por uma economia relativamente estável, com pouquíssimo espaço para aumentos acentuados na produção industrial ou no consumo de bens que pressionam a absorção de energia, como automóveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos. Em sociedades mais estruturadas e ricas, a maior parte da população conseguiu adquiri-los ao longo da segunda metade do século XX. Utilizam-se, na maior parte das vezes, de equipamentos energeticamente eficientes, que requerem ao longo do tempo, menor volume de energia para operação (ANEEL, 2008).

Já os países em desenvolvimento realizam atividades que consomem muita energia, como a siderurgia e a produção de alumínio. Também estão sujeitos a instabilidades econômicas e a ciclos de expansão de infra-estrutura (normalmente envolvendo investimento externo) – vale destacar, desde a década de 1990, China (com aumento de 5,3% do consumo de energia apenas em 2007 e de surpreendentes 103% em dez anos), Rússia, Brasil e Chile (BP GLOBAL, 2008). Demanda reprimida de eletrodomésticos e eletroeletrônicos e incidência significativa de economia informal perturbam um pouco a relação entre PIB e energia nesses países (ANEEL, 2008).

Com isso, a participação mundial da OCDE no consumo de energia elétrica recuou de 60,6% em 1973 para 47,3% em 2006 (IEA, 2008) – essa diferença foi consumida pelos países em desenvolvimento, principalmente. Os Estados Unidos da América são os principais consumidores mundiais de eletricidade (24,6%), seguidos da China (14,2%), do Japão (6,3%), da Rússia (5,0%), da Alemanha (3,5%), do Canadá (3,5%), da Índia (3,2%) e da França (2,9%) (THE WORLD FACTBOOK, 2008). Os países da União Européia consomem, em conjunto, 16,7%.

O comportamento do consumo de energia elétrica guarda, de fato, estreita relação com a evolução do PIB. Essa relação é tanto mais forte quanto maior o peso do segmento industrial, tanto na economia, como no consumo de eletricidade (EPE, 2008b). Essa inter- relação foi o principal motivo do acentuado crescimento no consumo mundial de energia verificado nos últimos anos. O Gráfico 2.3 abaixo mostra a associação entre as variações anuais do PIB mundial e do consumo de energia elétrica.

Gráfico 2.3: Variação Anual Percentual do PIB Mundial e do Consumo de Energia Mundial de 1998 a 2007 Fonte: Dados do IPEA e da BP Global de 2007, adaptado de ANEEL, 2008.

O Brasil representa 2,4% do consumo mundial de energia (ANEEL, 2008), e é o nono colocado nesse ranking de países. Além disso, o Brasil é o quinto país mais populoso do mundo, com 2,83% da população mundial e possui o décimo PIB mundial (2,73% do total), segundo ranking baseado em purchasing power parity (PPP). De 2000 a 2005, registrou crescimento do consumo de energia de 13,93% e do PIB de 14,72%. O consumo de energia elétrica per capita no Brasil tem crescido aproximadamente 2,0% ao ano nos últimos dez anos, mas ainda encontra-se 34,6% abaixo da média mundial. O PIB per capita brasileiro está 42,7% abaixo do PIB per capita médio mundial. A Tabela 2.5 apresenta dados de consumo de energia e PIB, total e per capita, de alguns países do mundo (THE WORLD..., 2008).

No Brasil, de 1879, ano que Dom Pedro II concedeu a Thomas Edison o privilégio de introduzir no país a lâmpada elétrica (MEMÓRIA DA ELETRICIDADE, 1988), até os dias de hoje, o papel da eletricidade mudou profundamente. Outrora alvo da curiosidade do Imperador, a eletricidade tornou-se imprescindível ao desenvolvimento do país e à sociedade moderna (MADUREIRA, 1996).

O mercado de distribuição de energia elétrica no Brasil é atendido por 63 concessionárias, estatais ou privadas, de serviços públicos que abrangem todo o País (ANEEL, 2008). As concessionárias estatais estão sob controle dos governos federal, estaduais e municipais. Em várias concessionárias privadas verifica-se a presença, em seus grupos de controle, de diversas empresas nacionais, norte-americanas, espanholas, portuguesas e francesas. São atendidos mais de 64 milhões de unidades consumidoras, das quais 85,4% são consumidores residenciais, em 100% dos municípios brasileiros (ANEEL, 2008).

PIB

Consumo de Energia

Tabela 2.5: Indicadores Demográficos, Econômicos e de Energia Elétrica de Alguns Países do Mundo País Área (milhões km2) População (milhões

habitantes) (milhões US$) PIB

Consumo E. E. anual (TWh) PIB per capita (US$) Consumo E. E. anual per capita (kWh) Estados Unidos 9,162 298,99 13.201.820,0 3.892.000,0 44.155,00 12.924,22 China 9,326 1.311,80 2.668.071,0 2.859.000,0 2.033,90 2.179,45 União Européia 4,423 486,64 11.050.000,0 2.858.000,0 24.217,28 5.827,59 Rússia 16,996 142,37 986.939,6 985.200,0 6.932,33 6.968,57 Japão 0,375 127,56 4.340.133,0 982.500,0 34.022,94 7.701,96 Alemanha 0,349 82,41 2.906.681,0 549.100,0 35.270,36 6.662,91 Canadá 9,094 32,56 1.251.463,0 530.000,0 38.439,78 16.279,41 Índia 2,973 1.109,81 906.268,0 517.200,0 816,6 466,03 França 0,546 61,04 2.230.721,0 447.300,0 36.546,72 7.328,28 Brasil 8,457 188,69 1.067.962,0 402.200,0 5.659,74 2.116,72 Coréia do Sul 0,098 48,42 888.024,2 368.600,0 18.340,76 7.515,58 Reino Unido 0,242 60,36 2.345.015,0 348.500,0 38.849,97 5.773,62 África do Sul 1,220 47,39 254.991,6 241.400,0 5.380,60 5.486,63 Austrália 7,618 20,52 768.177,7 220.000,0 37.433,85 10.720,76 México 1,923 104,22 839.181,9 202.000,0 8.051,92 1.858,31 Noruega 0,307 4,64 310.959,7 111.500,0 66.964,36 24.011,23 Argentina 2,737 39,12 214.057,7 97.720,0 5.471,76 2.497,93 Nova Zelândia 0,268 4,13 103.873,2 38.930,0 25.179,09 9.436,72 Mundo 130,341 6.517,03 48.385.988,6 17.154.402,9 9.875,07 3.240,30 Fonte: elaboração própria, a partir de THE WORLD..., 2008.

Nota: Dados de 2006, ordenados decrescentemente segundo o Consumo de Energia Elétrica anual.

A estrutura do consumo de energia elétrica entre os segmentos de consumidores no território brasileiro mostra uma forte concentração do seu uso na indústria, com 46,7% do consumo total, seguido do uso residencial, com 22,1%, conforme Gráfico 2.4. Poucas variações ocorreram na estrutura desde 1970, tendo o setor industrial iniciado processo de ligeira queda de participação a partir da segunda metade da década de 80, mas mostrando recuperação nos últimos anos. A queda verificada nos anos de 2001 e 2002 é decorrente das restrições impostas pelo racionamento de energia elétrica, que atingiu todas as classes de consumidores (EPE, 2008a).

Gráfico 2.4: Evolução do Consumo de Energia Elétrica no Brasil por Classe de Consumo de 1970 a 2007 Fonte: EPE, 2008a, p. 27.

Dessa forma, a eletricidade tornou-se fator indispensável ao bem-estar social e ao crescimento econômico do Brasil. Contudo, apesar de ser o serviço de maior cobertura (IBGE, 2009), é ainda deficitário em algumas regiões do país, seja pela falta de acesso ou pela precariedade do atendimento (ANEEL, 2002). O Programa “Luz para Todos” do Governo Federal, reativado em 2003, busca fazer a ligação de luz elétrica dos domicílios brasileiros ainda desprovidos desse serviço básico. De 2004 a 2008, estima-se que 7,8 milhões de pessoas foram beneficiadas com a realização de 1.577.700 novas ligações de energia elétrica (dados do Ministério de Minas e Energia em ANEEL, 2008, p. 48).

Nacionalmente, o serviço de fornecimento de energia elétrica é o de maior cobertura no Brasil. Abrange 98,6% dos domicílios brasileiros (IBGE, 2009), índice que aumenta para 99,82% na área urbana e para 99,97% na RMSP (IBGE, 2009) e para 99,99% no município de São Paulo (AES ELETROPAULO, 2009). Tem mais capilaridade e cobertura que serviços de outras empresas de utilidades, como telefonia fixa e móvel, água encanada e gás (FRANCISCO, 2002). Os Gráficos 2.5 e 2.6 a seguir trazem a taxa de cobertura de atendimento nos últimos anos dos principais serviços de utilidade pública no Brasil e na RMSP, respectivamente.

Gráfico 2.5: Taxa de Atendimento (%) de Serviços de Utilidade Pública no Brasil Fonte: PNADs do IBGE, 2009.

Notas: Esgoto corresponde a Rede Coletora e Fossa Séptica.

Telefone corresponde ao percentual de domicílios com telefone fixo convencional ou telefone celular. Até 2003, exclusive os domicílios da área rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá.

Gráfico 2.6: Taxa de Atendimento (%) de Serviços de Utilidade Pública na Região Metropolitana de São Paulo Fonte: PNADs do IBGE, 2009.

Notas: Esgoto corresponde a Rede Coletora e Fossa Séptica.

Considerando apenas as áreas urbanas do território nacional, a taxa de atendimento é historicamente alta, tendo aumentado de 97,48% em 1992 para 99,82% em 2008 (IBGE, 2009).

A relação entre o PIB e o consumo de energia elétrica no Brasil é historicamente alta. No período de 1976 a 2007, apresentado no Gráfico 2.7, a correlação entre as duas séries temporais foi de 0,884, e de 0,877 para o decênio de 1998 a 2007. O Gráfico 2.8 apresenta a elasticidade-renda do consumo (relação entre o crescimento de consumo de energia e o crescimento da economia), ressaltando as variações significativas nos períodos destacados a cada 5 anos. A correlação entre as taxas de crescimento anual do PIB real e do consumo de energia elétrica é de 0,501 no período de 1977 a 2008, e de 0,488 para o decênio de 1999 a 2008. 0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000 350.000 400.000 19 76 19 78 19 80 19 82 19 84 19 86 19 88 19 90 19 92 19 94 19 96 19 98 20 00 20 02 20 04 20 06 T W h 0 200.000 400.000 600.000 800.000 1.000.000 1.200.000 1.400.000 U S$ (m ilh õe s) Consumo Anual de Energia Elétrica PIB Real (câmbio médio)

Gráfico 2.7: Evolução Anual do Consumo de Energia Elétrica e do PIB Real do Brasil de 1976 a 2007 Fonte: dados do Banco Central do Brasil e da Eletrobrás (IPEADATA, 2009).

10,1 7,2 1,3 1,8 3,1 2,2 2,8 12,0 11,9 7,2 4,6 4,0 4,6 1,9 70-75 75-80 80-85 85-90 90-95 95-00 00-05

Variação % média anual PIB Real

Variação % média anual Consumo Energia Elétrica Elasticidade-Renda do Consumo de Energia Elétrica

1970-75: 1,19 1975-80: 1,65 1980-85: 5,54 1985-90: 2,56 1990-95: 1,29 1995-00: 2,09 2000-05: 0,68

Gráfico 2.8: Variação Percentual Média Anual em Períodos de 5 anos do Consumo de Energia Elétrica, do PIB Real e da Elasticidade-Renda do Consumo de Energia Elétrica do Brasil de 1970 a 2005 Fonte: adaptado de EPE, 2006, p. 4.

De maneira geral, a estrutura de consumo de energia no Brasil tem sofrido transformações radicais ao longo das últimas três décadas. A energia proveniente da biomassa, principalmente a lenha, experimentou um declínio considerável, na proporção inversa do crescimento da participação da energia elétrica e derivados de petróleo, que passaram a desempenhar um papel fundamental ao longo do período (ACHÃO, 2003). Embora do ponto de vista energético seja um setor de importância média, do ponto de vista social o consumo de energia pelo setor residencial é da maior relevância, uma vez que é condição indispensável para se desfrutar das comodidades e benefícios mais essenciais da vida moderna.

Na década de 70, houve crescimento intenso da economia brasileira (8,6% ao ano em média), o que se refletiu no consumo de eletricidade que, no mesmo período, expandiu 12% ao ano, indicando elasticidade-renda de 1,40 durante a década. Foi a época da reestruturação e da expansão do parque industrial nacional, dentro dos Planos Nacionais de Desenvolvimento, verificadas no contexto do processo de substituição de importações.

Já nos anos 80, a economia apresentou comportamento instável, tendo expandido, em média, 1,6% ao ano. Contudo, o consumo de energia elétrica seguiu crescendo a taxas significativas, consolidando no período 5,9% ao ano, impulsionado pela maturação ou implantação de grandes projetos industriais. Com isso, a elasticidade-renda do consumo no período foi de 3,69.

Na década de 90, a elasticidade-renda caiu para 1,59, resultado de um crescimento médio de 2,7% da economia e de 4,3% do consumo de eletricidade, reflexo de mudanças estruturais no perfil da expansão de mercado, com a modernização da indústria nacional e o uso mais eficiente da eletricidade. Além disso, as indústrias eletro-intensivas não apresentavam mais expansões significativas.

Três marcos importantes interferiram no desempenho da economia ao longo dos anos 90. O primeiro deles, o Plano Collor, congelou a base monetária do País, trazendo como reflexo imediato um período recessivo da economia. Entre 1990 e 1994 a economia cresceu 3,1% ao ano, enquanto o consumo de energia elétrica aumentou 3,5% ao ano (elasticidade- renda de 1,13).

O segundo marco diz respeito ao Plano Real, implantado no início de 1994. Na medida em que se promoveu o controle do processo inflacionário, criaram-se condições favoráveis ao crescimento econômico. Assim é que, entre 1994 e 1997, a economia cresceu, em média, 3,4% ao ano e o consumo de energia elétrica 5,7% (elasticidade-renda de 1,68).

O terceiro marco refere-se à crise financeira internacional, deflagrada a partir da Crise da Ásia, em 1997, e da moratória da Rússia, declarada em 1998. Este novo contexto levou o governo brasileiro a adotar medidas de ajuste econômico, entre as quais a elevação da taxa básica de juros e a desvalorização do Real, cujos efeitos se refletiram imediata e intensamente na atividade econômica do País e, conseqüentemente, no mercado brasileiro de energia elétrica (SCHAEFFER et al., 2003).

Em 1998 e 1999, a economia praticamente não expandiu, registrando taxas de 0,2% e 0,8%, respectivamente. No período de 2000 a 2005, enfim, a economia brasileira seguiu apresentando crescimento baixo, fechando o período com taxa média anual de 2,8%.

Com o crescimento de consumo de energia elétrica de 1,9% ao ano nesse mesmo período, a elasticidade-renda foi de 0,68, a menor de todos os períodos aqui analisados.

O racionamento de energia de 2000 e 2001 afetou significativamente a trajetória de evolução do mercado de energia elétrica. Além deste, entre Janeiro e Abril de 1986 ocorreu um primeiro racionamento, apenas nos estados da Região Sul, e em 1987 no Nordeste e parte de Goiás e Pará (SCHAEFFER et al., 2003).

A privatização que ocorreu no setor elétrico brasileiro provocou profundas modificações no cenário de atuação das distribuidoras de energia elétrica. Dentre estas modificações, surge o papel do órgão regulador como agente promotor da competição e da mudança de postura das empresas em torno da orientação para o mercado. Esse novo contexto abre possibilidade para a utilização de estratégias de relacionamento (de maneira ampla) e de fidelização de clientes (em alguns submercados), situação até então inédita em um mercado tradicionalmente monopolista. A importância do relacionamento com o órgão regulador e com a sociedade busca estabelecer uma relação favorável à rentabilidade e continuidade do direito da concessão (ANDRADE, 2004).

Atualmente as concessionárias de distribuição de energia elétrica passam por um importante momento para o setor. Se por um lado as regras do novo modelo impõem às concessionárias uma atuação direcionada à gestão estratégica, visando à melhoria da eficiência através do aumento da competitividade, repasse de eficiência aos clientes através de redução de tarifas e qualidade do atendimento, por outro lado, os clientes também estão cada vez mais exigentes e buscam nas empresas essa mesma qualidade nos serviços prestados, preços reduzidos e, acima disso, empresas comprometidas com valores sociais que reflitam suas expectativas.

Quanto aos usos finais, a energia no setor residencial é destinada, basicamente, para as seguintes finalidades: cocção de alimentos, aquecimento de água, iluminação, condicionamento ambiental, conservação de alimentos (geladeira e freezer), serviços gerais (uso de máquinas para lavar roupas, secar roupas e lavar louças, microondas, ferro elétrico, aspirador de pó, microcomputador etc) e lazer (televisão, videocassete, home theater, aparelho de som etc) (ACHÃO, 2003; PEREIRA, 2004, entre outros).

Os eletrodomésticos de maior consumo domiciliar de energia elétrica são, em ordem decrescente de consumo médio mensal, o ar-condicionado e o aquecedor (de qualquer potência), a churrasqueira elétrica e a torneira elétrica, itens não tão freqüentes nos domicílios brasileiros. Considerando itens mais freqüentes, o chuveiro elétrico, a geladeira de 2 portas e o freezer são altos consumidores. O ferro de passar roupa também se destaca, dado o alto consumo quando utilizado com freqüência.

A Tabela 2.6 apresenta os consumos típicos dos principais eletrodomésticos, com destaque para os que compõem o levantamento para o Critério Brasil.

Tabela 2.6: Consumo Típico dos Principais Eletrodomésticos (continua) Potência Média (Watts) Dias Estimados de Uso por Mês Média Utilização Diária Consumo Médio Mensal (kWh) 3 em 1 80 20 3 h 4,8 Aparelho de Som Pequeno 20 30 4 h 2,4 Aquecedor de Ambiente 1550 15 8 h 186 7.500 BTU 1000 30 8 h 120 10.000 BTU 1350 30 8 h 162 12.000 BTU 1450 30 8 h 174 15.000 BTU 2000 30 8 h 240 Ar-Condicionado 18.000 BTU 2100 30 8 h 252 Aspirador de Pó 100 30 20 min 10

Barbeador, Depilador, Massageador 10 30 30 min 0,15

Batedeira 120 8 30 min 0,48

Cafeteira Elétrica 600 30 1 h 18

Churrasqueira Elétrica 3800 5 4 h 76

Chuveiro Elétrico 3500 30 40 min* 70

Grande 200 30 8 h 48

Circulador de Ar

Médio ou Pequeno 90 30 8 h 21,6

Computador, Impressora, Estabilizador 180 30 3 h 16,2

Enceradeira 500 2 2 h 2

Escova de Dentes Elétrica 50 30 10 min 0,2

Espremedor de Frutas 65 20 10 min 0,22

De Fogão 170 30 4 h 20,4

Exaustor

De Parede 110 30 4 h 13,2

Ferro Elétrico 1000 12 1 h 12

Fogão Comum 60 30 5 min 0,15

À Resistência Grande 1500 30 1 h 45

Forno

À Resistência Pequeno 800 20 1 h 16

Tabela 2.6: Consumo Típico dos Principais Eletrodomésticos (conclusão) Potência Média (Watts) Dias Estimados de Uso por Mês Média Utilização Diária Consumo Médio Mensal (kWh) Furadeira 350 1 1 h 0,35

Freezer Vertical ou Horizontal 130 - - 50

1 porta 90 - - 30 Geladeira 2 portas 130 - - 55 Fluorescente Compacta de 11 W 11 30 5 h 1,65 Fluorescente Compacta de 15 W 15 30 5 h 2,2 Fluorescente Compacta de 23 W 23 30 5 h 3,5 Incandescente de 40 W 40 30 5 h 6 Incandescente de 60 W 60 30 5 h 9 Lâmpada Incandescente de 100 W 100 30 5 h 15 Liquidificador 300 15 15 min 1,1 Máquina de Costura 100 10 3 h 3,9

Máquina de Lavar Louças 1500 30 40 min 30

Máquina de Lavar Roupas 500 12 1 h 6

Máquina de Costura 100 10 3 h 3,9

Máquina de Lavar Louças 1500 30 40 min 30

Máquina de Lavar Roupas 500 12 1 h 6

Microcomputador 120 30 3 h 10,8 Multiprocessador 420 20 1 h 8,4 Grande 45 30 10 h 13,5 Rádio Elétrico Pequeno 10 30 10 h 3 Rádio Relógio 5 30 24 h 3,6 Grande 1400 30 10 min 7 Secador de Cabelos Pequeno 600 30 15 h 4,5 Grande 3500 12 1 h 42 Secadora de Roupa Pequeno 1000 8 1 h 8 Secretária Eletrônica 20 30 24 h 14,4

Torneira Elétrica 3500 30 30 min 52,5

Torradeira 800 30 10 min 4 Cores, 14 polegadas 60 30 5 h 9 Cores, 18 polegadas 70 30 5 h 10,5 Cores, 20 polegadas 90 30 5 h 13,5 Cores, 29 polegadas 110 30 5 h 16,5 Preto e Branco 40 30 5 h 6 Televisão Portátil 40 30 5 h 6 De Teto 120 30 8 h 28,8 Ventilador Pequeno 65 30 8 h 15,6 Videocassete 10 8 2 h 0,16 Videogame 15 15 4 h 0,9 Fonte: PROCEL/ELETROBRÁS, 2005.

Nota: Considerando uma família típica brasileira.

Itens de tecnologia representam, normalmente, baixo consumo de energia elétrica. A PNAD passou a pesquisar a existência de microcomputador nas residências em 2001, e constatou que 12,6% dos domicílios tinham este equipamento. Em 2008, esse percentual foi de 31,2% (IBGE 2009). Verificou-se, também, que em 8,6% dos domicílios havia microcomputador ligado à Internet em 2001, e 23,8% em 2008. Na RMSP, em 2008 46,7% dos domicílios possuíam computador e 38,6% tinham acesso à Internet.

Esses altos índices de posse de bens duráveis e a altíssima taxa de atendimento do serviço de energia elétrica no Brasil e principalmente na RMSP mostram que a eletricidade exerce papel fundamental no dia-a-dia dos brasileiros.

2.7 OCONSUMIDOR DE ENERGIA ELÉTRICA DE BAIXA RENDA

O Cenário atual das concessionárias de distribuição de energia elétrica para o atendimento de seus consumidores de baixa renda apresenta um paradigma que pode ser descrito sob três perspectivas complementares e não disjuntas: cliente, mercado e sociedade.

Do ponto de vista do Cliente, a empregabilidade da população de baixa renda está voltada para o subemprego e trabalhos temporários, o que está intimamente ligado à sua condição de renda volátil, seu baixo poder aquisitivo e seu constante endividamento. Para a população em condições mais precárias, a situação de urbanização das áreas, a inadequação das instalações das residências e o estado muitas vezes precário de eletrodomésticos podem acarretar níveis elevados de consumo de energia elétrica (CAVARETTI, 2005). Esse contexto diminui as condições de acesso ao serviço público de energia elétrica e incentiva a prática de ligações clandestinas, fraudes e ligações abusivas.

Do ponto de vista do Mercado a ser atendido e da missão das concessionárias de distribuição de energia, de bem servir a seus clientes, vários fatores dificultam o bom estabelecimento de um serviço sustentável. O elevado nível de impostos e encargos na tarifa de energia elétrica, o elevado nível de perdas (técnicas e comerciais) e os custos crescentes de produção são os principais motivos. Em 2008, a AES Eletropaulo registrou um nível de 11,6% de perdas de energia elétrica, dividido em 6,5% de perdas técnicas (compulsórias do processo de distribuição de energia elétrica; tipicamente transformação de energia elétrica em

calor no fio de transmissão) e 5,1% de perdas comerciais (furto de energia, através da prática de fraudes em geral e ligações clandestinas) (AES..., 2009). De 2003 a 2007 esse nível de perdas diminuiu 1,8 pontos percentuais (MAIA, 2008).

Do ponto de vista da Sociedade, a melhoria da qualidade de vida e o acesso regular aos serviços públicos permitirão que ocorra a inclusão social dessa população. Corroborando Prahalad (2005) e Hart (2006), a geração de renda na base da pirâmide trará o desenvolvimento econômico das comunidades, o desenvolvimento das pessoas, o suporte público sem assistencialismo e a condição de empregabilidade. O provimento de infra- estrutura elétrica, viária, urbanística e de serviços complementares, edificações planejadas e a própria condição de lazer trarão a urbanização dessas áreas.

O combate às ligações clandestinas passou, historicamente, por ações derivadas de diversas políticas no setor elétrico. A mentalidade que imperava, e ainda impera em algumas distribuidoras estatais, utilizava a simples distribuição de medidores de energia elétrica de