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Era Vargas e Ditadura Civil e Militar: primórdios dos processos de privatização e de mercantilização do ensino superior brasileiro

2 A ORIGEM DA UNIVERSIDADE, SUA TRAJETÓRIA E A AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA NO CONTEXTO BRASILEIRO

2.2 Trajetória das universidades públicas brasileiras do período colonial até início de

2.2.2 Era Vargas e Ditadura Civil e Militar: primórdios dos processos de privatização e de mercantilização do ensino superior brasileiro

A partir da política de “valorização do café”, de que tratamos na seção anterior, o Estado, sob pressão da burguesia cafeeira, comprou café para formar estoques públicos, retirando parte desse produto do mercado, garantindo a elevação de seu preço pela redução de oferta e garantindo preço mínimo de compra, graças às compras públicas, ao mesmo tempo em que realizava a desvalorização cambial da moeda brasileira, a fim de aumentar os lucros dos produtores de café pela exportação do produto (CUNHA, 2007d). Essas compras, como afirma Cunha (2007d), foram garantidas por meio de empréstimos tomados de bancos estrangeiros, que seriam pagos com o dinheiro resultante de uma sobretaxa aplicada aos ganhos com a exportação de café.

Como resultado dessa política, o Estado se tornou proprietário de estoques de café cada vez maiores, mais desvalorizados e invendáveis, tendo ainda sua dívida com os bancos estrangeiros cada vez mais difícil de ser paga,

frente à desvalorização cambial da moeda brasileira, que onerou a compra de produtos importados de consumo popular, elevando o custo de vida para a população, especialmente, para os trabalhadores das classes baixa e média (CUNHA, 2007d).

A crise da economia dos EUA, com a quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, colaborou para a redução ainda mais drástica dos preços do café, no mercado externo, fazendo com que o então presidente, Washington Luís, abandonasse a política de “valorização do café” o que fez não só com que os interesses da burguesia cafeeira deixassem de pautar as políticas, como provocou a separação desta camada de outros setores das classes dominantes do país, que passaram a lhe fazer oposição (CUNHA, 2007d).

Nesse contexto, o paulista Washington Luís rompeu com o pacto da política do “café com leite”, que fazia com que a presidência do país se alternasse nas mãos de paulistas e mineiros, pretendendo colocar em seu lugar o também paulista Júlio Prestes e não o mineiro que o sucederia, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, motivando este último a se juntar a setores dissidentes de São Paulo e de outros estados (como o setor do charque, no Rio Grande do Sul e do algodão, da Paraíba) que desejavam fazer frente aos interesses dos agentes do setor cafeeiro, formando a Aliança Liberal. Essa dissidência lançou a candidatura do então governador do Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas, para concorrer nas eleições de 1930 contra Júlio Prestes (CUNHA, 2007d).

De acordo com Cunha (2007d), Júlio Prestes saiu vitorioso nas eleições de 1930, favorecido pelo controle da máquina eleitoral pelo partido republicano. O assassinato de João Pessoa, candidato à vice-presidência pela Aliança Liberal, em 28 de julho de 1930, por razões locais, na Paraíba, foi tomado como motivador para uma revolta liderada pela oposição, com o apoio de oligarcas indecisos, ocorrida em outubro de 1930, quando uma coluna militar gaúcha conduziu Getúlio Vargas à presidência, no Rio de Janeiro, em 3 de novembro de

1930. O governo provisório liderado por Vargas dissolveu o Congresso e passou a legislar por meio de decretos-leis (com exceção do breve período constitucional de 1934 a 1937), até a sua deposição em 1945 (CUNHA, 2007d).

É nesse sentido que a chamada Revolução de 1930 correspondeu à ascensão ao poder das camadas médias burguesas, comercial e industrial, em aliança com as antigas classes dominantes e deu origem ao Estado Novo, período que se iniciou a partir do golpe de 1937 liderado por Getúlio Vargas até sua deposição, em 1945 (MARINI; SPELLER, 1977). Lopez (1990) aponta que entre 1930 e 1937 a industrialização, com vistas à substituição de importações, desenvolveu-se, especialmente, no setor de bens de consumo não duráveis, como alimentos e tecidos.

Para acelerar sua expansão industrial, o Brasil necessitava suprir sua carência de planejamento e infraestrutura, bem como melhorar sua produção de matérias-primas industriais e de bens intermediários, o que foi possível graças ao paternalismo estatal. Como explica Lopez (1990), a burguesia nacional era muito fraca para se arriscar sozinha no investimento, em longo prazo, exigido por esses setores essenciais à expansão industrial nacional, de modo que o Estado precisou arcar com o ônus desses investimentos que, no caso dos bens intermediários, deu-se pela criação da Companhia Vale do Rio Doce, para produção de ferro, da Companhia Siderúrgica Nacional, para produção de aço e da Usina de Volta Redonda, para a extração e refinamento de petróleo. Para que esses investimentos estatais fossem possíveis, fazia-se necessário um clima político favorável no qual os ideólogos do Estado Novo, militares, juristas e tecnocratas trabalhariam na instalação do regime repressivo, a fim de silenciar qualquer oposição cultural e política.

O golpe de 1937, que deu origem ao Estado Novo, como explica Cunha (2007d), teve motivação econômica, com a queda do preço do café, no mercado internacional, em 1937 (que traria perda de renda aos grandes latifundiários

exportadores do produto, que ficariam sem divisas para o consumo de produtos importados, bem como para arcarem com dívidas junto a bancos estrangeiros) e motivação política, diante da crise político-eleitoral que se instaurou, em 1937, com as candidaturas para as eleições previstas para ocorrem em 1938.

A crise político-eleitoral, a que Cunha (2007d) faz referência, teve origem, segundo o autor, no lançamento das candidaturas para as referidas eleições, previstas pela Constituição Federal de 1934. Com o lançamento de candidaturas tanto de orientação democrático-liberal (Armando Salles de Oliveira) quanto de lideranças do Exército e integralistas (respectivamente, José Américo de Almeida e Plínio Salgado), as próprias classes dominantes passaram a difundir, em seu interior, a crença de que apenas Vargas poderia salvá-los das incertezas de suas propostas. Isso porque, como o autor explica, a Constituição Federal de 1934 previa a não interferência do Estado na economia, o que motivou a burguesia cafeeira, em aliança com a industrial, a pressionar o Estado em favor do intervencionismo direto, a fim de que seguisse adotando políticas favoráveis aos latifundiários exportadores, bem como instituísse regime de substituição de importações, que favorecesse aos industriais nacionais (CUNHA, 2007d).

Esse processo, no entanto, causou hesitações no meio político brasileiro, mesmo entre as classes dominante e média, o que foi resolvido com a criação de uma suposta ameaça comunista, como verificado por Cunha (2007d). Com a finalidade de resolver a hesitação desses setores em apoiar Vargas, o Exército teria “apreendido” o chamado Plano Cohen, apresentado como um plano de comunistas, para assumirem o poder, em um conjunto de atos terroristas (CUNHA, 2007d, p. 226).

Com isso, houve um golpe de Estado, gerado no interior do próprio governo, com a figura de Vargas erguida ao status de “salvador” contra a “ameaça comunista”, inaugurando o Estado Novo, período caracterizado pela

intervenção direta do Estado na economia, o autoritarismo como forma de reprimir manifestações políticas contrárias na sociedade civil e a sujeição política dos trabalhadores, em especial, dos operários (sua classe mais organizada politicamente) pela subordinação direta ao Estado das entidades sindicais e concessões aos trabalhadores, por meio de legislações trabalhistas, criadas para controlar a ação política sindical, que vinha ganhando força (CUNHA, 2007d; MARINI; SPELLER, 1977).

De acordo com Lopez (1990), o Estado Novo constituiu um movimento dentro do Estado que se deu de cima para baixo, em uma proposta de modernização conservadora e se caracterizou pela combinação entre paternalismo estatal e fascismo, no qual o controle estatal dos sindicatos e mesmo a criação da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) serviram para o exercício da função policial e ideológica sobre os trabalhadores, buscando interferir em seu comportamento e maneira de pensar.

Em síntese, conforme Lopez (1990), o Estado Novo (período de 1937 a 1945) se caracterizou, na prática, na autoridade de um homem, Getúlio Vargas, com a supressão dos partidos políticos, a suspensão do Poder Legislativo, o controle policial, a suspensão das liberdades civis, o direito de aposentar funcionários públicos a qualquer momento, o estabelecimento de interventores, para governar os estados e o controle de manifestações intelectuais, o que se materializou a partir do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).

Em consonância com seu caráter centralizador e autoritário, durante o Estado Novo, buscou-se controlar não só as organizações sindicais, mas também o próprio movimento estudantil, que lhe prestava solidariedade. A União Nacional dos Estudantes (UNE) surgiu nesse contexto de política educacional autoritária, (em 22 de dezembro de 1938), como tentativa de cooptação dos estudantes opositores ao autoritarismo varguista, interessado em seu controle por meio de mecanismo corporativo o que não se efetivou na prática, visto que,

graças às ações dos estudantes, caracterizou-se, desde sua fundação, por orientações democráticas (CUNHA, 2007d).

Bauer e Jardilino (2005) e Cunha (2007d) destacam a importância da UNE, durante o Estado Novo, na luta ideológica contra o fascismo presente nesse governo e na luta pela autonomia universitária, na qual o movimento estudantil se contrapunha à centralização estatal da organização universitária, exigindo eleições para reitores e diretores acadêmicos pela comunidade universitária em lugar de sua indicação pelo presidente. Embora não existissem, na época, condições políticas para que estas reformas desejadas ocorressem nas universidades, a ação da UNE, nesse contexto, abriu portas para que a reflexão crítica sobre a universidade fosse retomada, posteriormente, sobretudo, a partir da década de 1960 (BAUER; JARDILINO, 2005).

Assim, mesmo diante do prenúncio do Estado Novo, surgiram universidades brasileiras com a proposta de se ocuparem não apenas do ensino superior de caráter profissionalizante, mas também com a pesquisa, a cultura e a formação de seus quadros de professores, opondo resistência a esse processo, como ocorreu com a criação da Universidade de São Paulo (USP), criada em 1934 e a Universidade do Distrito Federal (UDF), no Rio de Janeiro, em 1935 (BAUER; JARDILINO, 2005; SGUISSARDI, 2011; WANDERLEY, 1991).

A USP, como Bauer e Jardilino (2005) e Souza (1996) estudaram, foi criada a partir da integração de faculdades isoladas já existentes (dentre elas, a de Direito, do Largo São Francisco, a mais antiga, que data de 1827) para ser uma universidade de caráter liberal e elitista, de influência dos modelos inglês e napoleônico, tendo por centro a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras que deveria ser o percurso inicial de todos os demais cursos, modelo este impedido por Vargas, em 1939. Fernandes (1984) argumenta que a USP foi criada pelas elites, a fim de se tornar uma universidade exclusiva a elas e composta, em grande parte, de institutos e escolas de profissões liberais, embora tenha

conseguido, ao longo de sua história, romper com os limites desse caráter elitista.

Tanto a UDF quanto a USP representaram, em suas fundações, inovações diante dos parâmetros que regiam as universidades da época, marcadas pela ausência de pesquisas. Os parâmetros que regiam as universidades prevalecentes, nessa época, podem ser entendidos pela influência da Escola Nova. A Escola Nova, enquanto movimento pedagógico, propunha que a universidade deveria assumir as funções de formar docentes, criar ciência e popularizar a ciência e as artes, por meio da extensão universitária (VOLPATO, 2011).

Para os defensores da Escola Nova, segundo Volpato (2011), as universidades se encontravam, até então, isoladas e defasadas em relação ao sistema econômico vigente, ao qual deveriam se adaptar e servir. Em resposta a esta suposta defasagem, como Cunha (2007d) explica, defensores influentes da Escola Nova, como Fernando de Azevedo, influenciaram a política educacional, na Era Vargas, colocando a universidade como detentora da função cultural de formação das elites brasileiras, para assumirem seu papel como classe dirigente do país, bem como propagadora de ideais liberais na sociedade brasileira, preparando, também, os estudantes para sua atuação em grandes empresas particulares.

Diante desse processo de transformação econômica do país, a educação superior ganhou atenção do governo, a partir da chamada Revolução de 1930, como instrumento de formação das elites dirigentes. Em virtude de seu pressuposto de que a universidade deveria servir ao ensino da elite dirigente, para o desenvolvimento econômico do país, como Castanho (2000) observa, o modelo elitista inglês, que rejeita a articulação humboldtiana entre ensino, extensão e pesquisa serviu de referência ao movimento pedagógico da Escola Nova. Todavia, ainda que esse movimento fosse bastante forte no período,

surgiram propostas de universidades que buscaram se contrapor a essas ideias, reforçando a importância da pesquisa nas universidades.

A UDF, como apresentam Fávero (2006) e Sguissardi (2011), foi idealizada por Anísio Teixeira e teve período bastante curto de existência (menos de quatro anos), em razão de representar um projeto de universidade diferente de todos os que já existiam (inclusive, o da USP). Segundo os autores, o diferencial da UDF podia ser visto em sua definição clara dos objetivos da universidade como espaço livre de produção de conhecimento e investigação, buscando sintetizar os debates conduzidos pela ABE e pela ABC (FÁVERO, 2006; SGUISSARDI, 2011).

Por afrontar a tendência uniformizadora imposta pelo Estado às universidades na época, por meio do Estatuto das Universidades (Decreto-Lei n°19.851/31), foi logo extinta, dando lugar à Universidade do Brasil, à qual seus cursos foram incorporados (FÁVERO, 2006; SGUISSARDI, 2011). Como Souza (1996) explica, tal incorporação pode ser entendida a partir do caráter centralizador do governo em sua política de ensino superior, que pode ser encontrada no Estatuto das Universidades, que ditava a organização didático- administrativa das universidades, submetidas ao Ministério da Educação.

O Ministério foi criado, no ano de 1930, segundo Marini e Speller (1977), como Ministério da Educação e Saúde e só, posteriormente, tornou-se Ministério da Educação e Cultura (MEC). Com a sua criação, iniciou-se um processo de centralização da educação, no Brasil, a partir do qual, em 1931, foi criado um sistema universitário nacional dotado de autonomia administrativa e didática. Conforme estes autores, o sistema de educação superior, no Brasil, surgiu, portanto, nesse contexto da década de 1930, quando o Brasil atravessava sua transformação de país agrário e exportador para país industrial (MARINI; SPELLER, 1977).

Símbolo do centralismo estatal na educação superior da época, a Universidade do Brasil, como Fávero (2006), Sguissardi (2011) e Souza (1996) observam, teve origem na Universidade do Rio de Janeiro (criada em 1920) com a incorporação dos cursos da UDF e refletia o autoritarismo estatal da época, uma vez que não mencionava, em seu estatuto de criação, a questão da autonomia universitária. Seus reitores e diretores foram escolhidos pelo presidente da República e proibia qualquer expressão política por parte de seu corpo docente, funcionários e corpo discente. Essa incorporação de cursos da UDF pela Universidade do Brasil, em 1935, com a criação do Estatuto das Universidades, é que ficou conhecida como a reforma da Universidade do Rio de Janeiro de 1935 (SOUZA, 1996).

Desta forma, como Cunha (2004) e Souza (1996) destacam, a Era Vargas (1930-1945) se caracterizou, em termos de suas políticas voltadas ao ensino superior, como extremamente centralizadora e controladora em relação às instituições públicas de ensino superior, como ilustrado pela transformação, em 1939, da Universidade do Rio de Janeiro (criada em 1920) em Universidade do Brasil (transformada, posteriormente, em Universidade Federal do Rio de Janeiro) com o intuito de torná-la o parâmetro de referência a ser seguido pelas demais universidades, sobretudo, as criadas por iniciativa de opositores de seu governo (como as de São Paulo e do Rio Grande do Sul). Ao mesmo tempo, o período varguista foi marcado pelo favorecimento do setor privado, com o reconhecimento da primeira universidade particular, a Católica do Rio de Janeiro, e com o favorecimento da expansão do ensino superior privado, pela concessão de imunidade fiscal para as instituições particulares de ensino, em todos os níveis (básico, médio e superior).

Nesse sentido é que, para Cunha (2004, 2007a), a Era Vargas marcou o início da face ambígua das políticas públicas brasileiras de iniciativa ao ensino superior que, se por um lado, possibilitou a criação de universidades públicas,

por outro, impulsionou o setor privado, o que nos ajuda a compreender, como mostra o autor, que a privatização do ensino superior, no Brasil, é um processo meandroso, marcado pelo conflito de forças entre agentes do Estado e do mercado. Com o favorecimento ao ensino superior privado, houve um aumento nos números de matrículas no ensino superior brasileiro.

Ao final da Era Vargas, em 1945, de acordo com Martins Filho (2014), o Brasil tinha um total de 27.253 estudantes matriculados no ensino superior. Entre os anos de 1945 a 1964, houve um avanço anual de mais de 12% nas matrículas o que, embora seja baixo em comparação com as taxas de outros países na mesma época, significou, segundo Martins Filho (2014), um crescimento maior que o registrado pelo ensino de primeiro e segundo graus no país, o que o autor explica em razão de que as políticas do Estado, nessa época, privilegiavam as camadas médias, ao favorecer o ensino superior, marcadamente elitista, em detrimento do básico.

A partir de 1945, como Souza (1996) destaca, todo o ensino superior brasileiro passou a ser criticado em nome de sua modernização, que tinha por base a ideologia desenvolvimentista instalada no país. Sampaio Júnior (2012) explica que o desenvolvimentismo se trata de termo vago referente à visão de que a criação das bases materiais, culturais e sociais de uma sociedade, capaz de controlar o sentido e o ritmo de seu desenvolvimento econômico, passaria pela necessidade de acumulação de capital, avanço das forças de produção e integração nacional. O primeiro passo rumo a esta modernização, de acordo com Souza (1996), foi dado pela criação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), em 1947, no Rio de Janeiro, transferido, em 1961, para São José dos Campos, no estado de São Paulo, cuja proposta visava combinar segurança nacional com a criação de tecnologia. Nesse sentido é que, para Cunha (2007b) e Souza (1996), as raízes do processo de modernização do ensino superior brasileiros se encontram, na década de 1940, quando o Ministério da

Aeronáutica brasileiro procurou um consultor estadunidense para a constituição do ITA.

Nesse contexto, surgiram também organizações que buscaram defender e fomentar a pesquisa científica no país, como o Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), criado em 15 de janeiro de 1951 e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), criada em 11 de julho de 1951, ambos ligados ao Estado. Nessa época, fundou-se, também, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), de iniciativa privada, criada em 1948, como uma associação de cientistas (da USP, motivados com a chegada de diversos pesquisadores europeus nessa instituição), com a proposta de defender a liberdade de pesquisa nas universidades do país, como resposta à posição do Ministério da Educação que pretendia abolir a pesquisa científica nas universidades brasileiras, substituindo-as pelo desenvolvimento de tecnologias e o ensino profissional (SGUISSARDI, 2011).

Essa busca por maior liberdade nas universidades pode ser mais bem compreendida a partir do contexto social e econômico da época. O final da Era Vargas ocorreu em 1945, ano em que, segundo Lopez (1990), ocorreu a reabertura política no país, impulsionada pelo contexto da II Guerra Mundial. Conforme o autor, se no início do conflito as vitórias alemãs incentivaram o grupo fascista interno ao governo varguista em se posicionar favoravelmente ao Eixo, com o interesse de Getúlio Vargas em obter apoio financeiro dos Estados Unidos da América, para a construção da Usina de Volta Redonda, bem como diante de sucessivas derrotas das tropas alemãs e do crescimento do sentimento antinazista da população, o governo acabou optando pela entrada no conflito, por meio do envio de uma força expedicionária brasileira, para a Itália, em 1942. Com isso, o regime varguista passou a exibir, segundo Lopez (1990), uma grande contradição entre sua política interna e sua postura externa com o envio

de tropas para combater regimes também autoritários, motivando questionamentos da população contra a falta de liberdade no Brasil.

Assim, ocorreu, em 1945, o fim da censura no Brasil e Getúlio Vargas foi pressionado a marcar eleições à presidência e para uma Assembleia Constituinte. Com o surgimento de novos partidos políticos, Getúlio Vargas, buscando sua continuidade no poder, passou a adotar nova postura política, caracterizada como um populismo de esquerda, adotando medidas como a Lei Malaia (Decreto-Lei n° 7.666), que visava ao controle das empresas estrangeiras no Brasil, o que desagradou forças da direita do Exército que, lideradas pelo General Goés Monteiro e pelo brigadeiro Eduardo Gomes, derrubaram Vargas do poder em outubro de 1945 (CUNHA, 2007b; LOPEZ, 1990).

Com esse ato de força, segundo Lopez (1990), as Forças Armadas brasileiras passaram a se colocar na posição de elemento arbitral na política brasileira, o que traria consequências no posterior golpe de 1964. O final do Estado Novo, como Lopez (1990) assinala, buscou preservar o que havia de reacionário e suprimir o surgimento do populismo de esquerda, que representava um elemento progressista nascente no regime. O governo Dutra, que surgiu com