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3 A SUSTENTABILIDADE COMO CONCEITO ECOLÓGICO E EMPRESARIAL E SUA INFLUÊNCIA NA ADMINISTRAÇÃO

3.1 Origem e trajetória do conceito de sustentabilidade

Embora boa parte da literatura atribua a origem do conceito de “sustentabilidade” às reuniões realizadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) a partir de 1970, como um desdobramento da noção de desenvolvimento sustentável, Boff (2014) confere à sustentabilidade um princípio anterior, aliado a práticas de Silvicultura (cultivo de árvores florestais) realizadas desde 1560, na província da Saxônia, na Alemanha. De acordo com Boff (2014), o uso intensivo de madeira para a construção de barcos e fundição de metais nesse período, marcado pelo mercantilismo, gerou preocupações na região para o uso racional das florestas, permitindo sua regeneração, o que deu origem ao termo alemão “Nachhaltingkeit” (“Sustentabilidade”).

Todavia, ainda para Boff (2014), o termo somente se tornou uma orientação estratégica nas práticas locais de silvicultura a partir de 1713, quando o Capitão Hans Carl von Carlowitz redigiu um tratado sobre a necessidade das práticas sustentáveis de manejo florestal a fim de garantir o abastecimento de carvão vegetal nas atividades de mineração. As recomendações de reflorestamento para evitar o desabastecimento futuro das minerações passaram então a ser adotadas e incentivadas pelo próprio poder público local, ganhando repercussão tamanha que fez surgir a própria ciência da Silvicultura, que popularizou o conceito de sustentabilidade, levando-o a ser citado no Relatório do Clube de Roma.

Em relação ao surgimento do referido relatório, diversos autores destacam que ele deu origem ao conceito de desenvolvimento sustentável, nos anos de 1970, como resultado de um esforço de estudiosos do desenvolvimento para encontrar uma via alternativa em relação às abordagens de desenvolvimento econômico mais usuais: a chamada de abordagem desenvolvimentista, que o define como equivale ao crescimento econômico e a abordagem dos chamados “zeristas” ou, de modo pejorativo, “neomalthusianos”, que defendiam crescimento econômico equivalente a zero, dados os limites dos recursos ambientais cuja exploração predatória levaria à catástrofe, tendência essa consolidada por um relatório elaborado por um casal de cientistas do Michigan

Institute of Technology (MIT), pertencente ao chamado “Clube de Roma”, um

grupo de intelectuais criado em Roma, em 1968, para o debate de questões de interesse mundial (CASTRO, 2004; CLUBE DE ROMA, 2015; NASCIMENTO, 2012; ROMEIRO, 2012).

Considerando essa controvérsia ocorreu, em Estocolmo, no ano de 1972, a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente, em que o chamado Relatório do Clube de Roma foi alvo de críticas, dado o contexto de forte crescimento econômico de diversos países, impulsionado pela recuperação

de potências mundiais no pós-guerra, pela ascensão dos chamados Tigres Asiáticos (Cingapura, Coreia do Sul, Hong Kong e Taiwan) e pelo crescimento de países como o Brasil, em decorrência da ditadura civil e militar e do chamado “milagre econômico” brasileiro (ROMEIRO, 2012).

Com a rejeição da proposta zerista, surgiu a proposta vista como conciliadora do ecodesenvolvimentismo, segundo o qual seria possível manter o crescimento econômico, em longo prazo (daí a ideia de que o desenvolvimento pode ser sustentado, ou seja, ser mantido ao longo do tempo) acompanhado do respeito ao meio ambiente e das condições sociais, visando à distribuição de renda (ROMEIRO, 2012). Todavia, como esta primeira conferência alcançou resultados pouco significativos na contenção do processo de degradação do meio ambiente, em 1987, a então primeira ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland foi escolhida pelo secretário-geral das Nações Unidas para coordenar uma comissão independente de estudos da crise ambiental (CASTRO, 2004; NASCIMENTO, 2012; VIZEU; MENEGUETTI; SEIFERT, 2012).

Desta comissão, resultou o chamado relatório Brundtland, em que o termo “desenvolvimento sustentável” foi utilizado pela primeira vez (CASTRO, 2004; NASCIMENTO, 2012; VIZEU; MENEGUETTI; SEIFERT, 2012), representando a forma de desenvolvimento capaz de atender às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações em também suprirem suas necessidades (CASTRO, 2004; MULLINS, 2002; NASCIMENTO, 2012; VIZEU; MENEGUETTI; SEIFERT, 2012). De acordo com Mullins (2002) esta é a definição de desenvolvimento sustentável mais amplamente aceita no meio acadêmico e, por esta razão, a mais conhecida e recorrente.

Jacobi (1999) oferece uma visão positiva, no que diz respeito à noção de desenvolvimento sustentável deste relatório, ao apresentar que, em sua concepção, trata-se de uma estratégia para que a sociedade busque sua

viabilidade econômica e ecológica. Para este autor, a sustentabilidade implica na articulação imbricada entre qualidade de vida, equilíbrio ambiental e justiça social, associados com a garantia da manutenção institucional, financeira e econômica. Assim, embora reconheça a relação entre o atual sistema econômico com a exploração desmedida dos recursos naturais, o autor parece não enxergar problemas na conciliação entre este e a sustentabilidade, uma vez que esta última preveria a interlocução entre diferentes atores sociais, a fim de se constituírem novos valores éticos para o desenvolvimento, reconhecendo os limites dos recursos naturais assim como a existência das dimensões culturais e sociopolítica no diálogo entre os atores.

Por outro lado, existem críticas à proposta de desenvolvimento sustentável e à ideia de sustentabilidade a ela subjacente, tal como se apresenta no Relatório Brundtland. Mesmo a definição mais amplamente adotada em todo o planeta, que se encontra presente no Relatório Brundtland, carece de maior aprofundamento teórico, segundo Baroni (1992), uma vez que a autora observa que essa concepção de desenvolvimento sustentável não especifica o que entende por qualidade de vida (que pode significar para alguns o acesso a um carro esportivo de luxo para cada cidadão do globo terrestre), nem o que se define como a capacidade de sustentação da vida humana oferecida pelos ecossistemas, dada a inexistência de mensurações acuradas a este respeito. Com essas indefinições, segundo a autora, o conceito de desenvolvimento sustentável acaba sendo utilizado por agentes dotados de interesses diversos e, por vezes, contrastantes, como se houvesse um objetivo comum entre eles, o que não é verdadeiro, visto que as ambiguidades do termo acabam servindo para camuflar as disputas sociais e econômicas em curso a respeito dos usos dos recursos naturais. Assim, com base em Baroni (1992), podemos perceber um caráter ideológico da noção de desenvolvimento sustentável.

Como Baroni (1992) sintetiza, nas diversas publicações acadêmicas sobre sustentabilidade, o conceito é, por vezes, tomado como sinônimo de desenvolvimento sustentável o que, para a autora, trata-se de uma incompreensão teórica. Segundo Baroni (1992), enquanto a sustentabilidade, em termos ecológicos, refere-se à capacidade de reprodução dos recursos ambientais a fim de evitar o seu esgotamento, o desenvolvimento sustentável acaba assumindo duas perspectivas prevalecentes (em ambas, a noção de desenvolvimento surge como equivalente ao crescimento econômico): a primeira se caracteriza pela aceitação de que o crescimento econômico deve ser limitado a fim de preservação do meio ambiente, enquanto a segunda, é marcada pela busca de uma nova forma de crescimento econômico, buscando-se aliar a ele questões como o alívio à pobreza e a elevação da qualidade de vida nas sociedades. Como a autora sugere a partir de sua crítica, estas indefinições conceituais acerca da noção de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável acabam permitindo o seu uso por instituições cujas preocupações ecológicas seriam, a princípio, inconciliáveis.

À parte da falta de consenso quanto à origem do termo “sustentabilidade”, esse assunto continuou a orientar novas conferências mundiais a respeito do tema da crise ambiental. Como Romeiro (2012) nota, vinte anos após a primeira conferência ocorreu a II Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente, em 1992, no Rio de Janeiro, que ficou conhecida como Rio 92 e foi realizada no mesmo ano em que o Clube de Roma apresentou uma atualização de seu relatório, apontando, dentre outros fatores, que o progresso técnico, indicado pelos ecodesenvolvimentistas como solução ao uso racional de recursos naturais não havia impedido o avanço da poluição e da degradação ambiental.

Explicando a visão de sustentabilidade presente na análise ecodesenvolvimentista, Cavalcanti (2012) apresenta que o desenvolvimento

sustentável é entendido como aquele que consegue durar, tendo em vista que a base de sustentação do desenvolvimento é o ecossistema ou natureza, do qual depende toda ação humana. O autor distingue os conceitos de desenvolvimento (entendido como mudança, transformação e progresso) de crescimento, visto como elevação quantitativa da escala física de produção.

Deste modo, Cavalcanti (2012) argumenta que, pela lógica da natureza, não é possível buscar o crescimento sustentável, dado o limite de recursos naturais disponíveis, fazendo com que a busca por ele seja sempre ação predatória à natureza. Porém, para Cavalcanti (2012), é possível tratar de desenvolvimento sustentável, pela busca de transformações que respeitem o ecossistema. Para Cavalcanti (2012), o tratamento conferido pela visão clássica de sistema econômico o isola da natureza, como se fosse independente dela e não tivesse em seus recursos naturais um fator limitante. Quando se considera a natureza nessa linha de raciocínio, segundo Cavalcanti (2012), ela aparece como externalidade, como fator externo e alheio ao sistema, mero acessório ou fardo, espaço do qual se retira o que é necessário à lógica econômica e se atira toda forma de resíduo indesejado.

Durante a Rio 92, como Guimarães e Fontoura (2012) apresentam, foi constatado que as ações concretas dos países não avançaram como desejado em relação aos compromissos firmados na conferência anterior, citando como exemplo a proposta de que os países desenvolvidos destinassem 0,7% de seu Produto Interno Bruto - PIB à ajuda internacional que fora descumprida, já que esses países reverteram apenas a metade disso para essa finalidade. Em relatório de 2011 do Programa das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente a respeito da chamada Economia Verde, como Romeiro (2012) aponta, houve um reforço do discurso ecodesenvolvimentista, visto que, para a Economia Verde, os riscos ambientais passam a ser vistos como estimáveis, sendo possível o cálculo da relação de custos-benefícios da adoção de determinadas políticas ambientais,

bem como os problemas ambientais passam a ser vistos como decorrentes da alocação ineficiente de recursos de produção, representando falhas do mercado.

A respeito da Economia Verde, Misoczky e Böhm (2012) explicam que resultou do processo de financeirização da natureza, pelo qual, basicamente, os recursos naturais são vistos como passíveis de monetização e, por conseguinte, os bens e serviços prestados pela natureza passaram a mercadorias, criando-se novos mercados às empresas, como o mercado de carbono que, como apontam os autores, colocou-se apenas como nova área de atuação capitalista e não como a solução concreta para problemas ambientais e sociais. Além disso, como Sartore (2012) esclarece, as práticas voltadas à sustentabilidade acabaram compondo os chamados investimentos socialmente responsáveis que colaboraram para a valorização do preço de ações de empresas nas Bolsas de Valores, o que indica que o engajamento da iniciativa privada nesse tipo de discurso se justifica, sobretudo, por interesses de caráter financeiro.

Vinte anos após a Rio 92, portanto, em 2012, também no Rio de Janeiro, ocorreu a conferência Rio +20 que, segundo Guimarães e Fontoura (2012) tratou especialmente dos seguintes temas: segurança alimentar, insuficiência do PIB como indicador de riqueza e de desenvolvimento dos países, a credibilidade científica enquanto legitimadora de práticas com vistas à sustentabilidade, a Economia Verde e a importância do setor privado para o desenvolvimento sustentável. Neste último ponto, cabe ressaltar a contribuição de Rampazo, Ichikawa e Carrieri (2014) ao apontar para o fato de que a crescente participação de organizações não ambientais e do setor privado em conferências ambientais como as promovidas pelas Nações Unidas tem colaborado para sua interferência nas normas, procedimentos e regras que regulam a proteção ambiental no mundo inteiro. Essa prática, aliada à ação por meio de lobby, segundo os autores, demonstra a inserção cada vez maior das empresas nas discussões ambientais e seus desdobramentos práticos.

Além dessa ação de interferência e colonização do discurso ambientalista que as empresas têm realizado em conferências sobre o tema, como Rampazo, Ichikawa e Carrieri (2014) destacam, outra forma de apropriação e colonização de práticas discursivas e, por relação dialética, práticas sociais, encontram-se no discurso da Economia Verde. Esta foi apontada nas discussões da Rio +20 como ferramenta e instrumento para o desenvolvimento sustentável, tornando-se o discurso de maior repercussão no evento e fazendo com que outros temas, como a saúde humana, a energia, as florestas e a biodiversidade ficassem em segundo plano (GUIMARÃES; FONTOURA, 2012).

Assim, temos que a ideia de uma forma de desenvolvimento capaz de se sustentar Da maior parte das publicações sobre o tema, originou o termo sustentabilidade, dessa maneira, abrem-se duas possibilidades de lexicalização: por um lado, pode adquirir sentido de manutenção, preservação, como aparece no discurso da ecologia e da biologia, mas, por outro, pode apresentar o sentido de ser mantido, da capacidade de se autossustentar em termos financeiros, gerando receitas que garantam a continuidade de atividades empresariais (MISOCZSKY; BÖHM, 2012; SILVA; REIS; AMÂNCIO, 2012).

Nesse sentido, Nascimento (2012) indica duas origens para o termo sustentabilidade: a primeira é a biologia que, por meio dos estudos em ecologia estabeleceu essa noção como referente à capacidade de resiliência, ou seja, de recuperação e de reprodução dos ecossistemas. Já a segunda origem, se encontra na economia, ao definir que o padrão de produção e consumo o qual se encontra em expansão em todo o planeta não tem condições de perdurar.

A sustentabilidade, conforme Nascimento (2012) ganha expressividade, portanto, enquanto adjetivo conferido ao processo de desenvolvimento, resultante da percepção de que o planeta atravessa uma crise ambiental. O autor destaca a existência de três dimensões da sustentabilidade: econômica, ambiental

e social, que foram construídas a partir da perspectiva chamada “Triple Bottom

Line”, desenvolvida pelo consultor britânico John Elkington em meados de 1990

(ELKINGTON, 1997 citado por VIZEU; MENEGUETTI; SEIFERT, 2012). Nesse mesmo sentido, Romeiro (2012) enfatiza que, para que uma proposta de desenvolvimento possa ser vista como sustentável, é necessário que seja socialmente desejável, economicamente eficiente (ou sustentável) e ecologicamente equilibrado (ou prudente).

Na dimensão ambiental da sustentabilidade, a mais aludida em geral, supõe-se a necessidade de compatibilidade entre o modelo de produção e consumo com a base material da economia, a natureza, reconhecendo o direito das gerações futuras em receberem um ambiente limpo que lhes garanta a viabilidade de sua qualidade de vida (FREITAS, 2011; NASCIMENTO, 2012). Nessa dimensão, como Nascimento (2012) aponta, a sustentabilidade consiste em produzir e consumir de forma a garantir o processo de resiliência do ecossistema.

Já na dimensão econômica, a sustentabilidade pressupõe o aumento da eficiência da produção e do consumo, articulado à economia crescente dos recursos naturais, o que não proíbe o uso de matrizes energéticas com base em fontes não renováveis, como combustíveis fósseis, nem coloca em discussão a má distribuição de recursos naturais como a água e outros minerais, mas propõe a busca por maior equilíbrio entre eficiência e equidade, por meio de políticas econômicas sustentáveis que garantam uma renda básica às populações mais empobrecidas, vistas como mais demandantes de recursos naturais (FREITAS, 2011; NASCIMENTO, 2012). A ecoeficiência, portanto, como destaca Nascimento (2012), coloca-se dentro dessa dimensão, já que promove a inovação tecnológica contínua para buscar a substituição de combustíveis fósseis.

Na terceira dimensão, a social, como explicam Freitas (2011) e Nascimento (2012), a sustentabilidade consiste em que todas as pessoas tenham um mínimo necessário para garantir uma vida digna e que não haja apropriação de recursos naturais e energéticos em prejuízo à coletividade, vista como integrada como um todo entre si e com a natureza.

Contudo, tanto Freitas (2011) quanto Nascimento (2012) apresentam críticas a esta visão das dimensões da noção de sustentabilidade. Freitas (2011) sugere a necessidade de revisão do sistema econômico enão atribui à tecnologia caráter redentor, mostrando-se cético a iniciativas que simplesmente se embasam na produção de tecnologias menos poluidoras, além de considerar que a sustentabilidade é, sobretudo, um princípio jurídico. Daí Freitas (2011) sugerir a sustentabilidade como de natureza pluridimensional, acrescentando às dimensões do tripé social, ambiental e econômico, considerações éticas e jurídico-políticas.

A dimensão ética, para Freitas (2011), implica no reconhecimento de que todos os seres vivos do planeta Terra estão interligados entre si, de maneira natural e intersubjetiva, de modo que o fim das desigualdades sociais se torne eixo central das preocupações em sustentabilidade em lugar da ganância e do consumo exacerbados, que transformam outras vidas do planeta em meras mercadorias. Já na dimensão jurídico-política, o autor sugere a sustentabilidade como um direito fundamental dos cidadãos, entendendo-a como princípio constitucional capaz de sintetizar o respeito universal às diversas dimensões que compõem uma vida digna e de qualidade (como o acesso à informação, à saúde, à educação, à alimentação, à renda digna e à segurança, por exemplo). Freitas (2011) reforça, ainda, as dimensões da sustentabilidade e esclarece que elas se encontram interligadas, dada a relação entre degradação ambiental aos problemas que acometem as sociedades, como a pobreza e a criminalidade.

Nascimento (2012), por sua vez, critica a separação das dimensões de sustentabilidade no tripé das dimensões ambiental, econômica e social em razão da ausência das relações de poder como quarta dimensão, ignorando a assimetria de poder na sociedade, bem como tratando as questões ambientais sem consideração da existência de luta de classes. Ainda assim, Nascimento (2012) destaca a relevância do debate sobre sustentabilidade, posto que a crise ambiental vem se agravando e não pode ser ignorada, sob o risco de que não haja mais base para a sustentação da vida em nosso planeta.

Para além destas críticas ao tripé ambiental, social e econômico a que se refere o conceito de sustentabilidade, como Freitas (2011) observa, existe um problema mais amplo em termos do conteúdo desta noção, que negligencia a incompatibilidade do sistema econômico vigente do capitalismo como ideal de preservação ambiental presente na concepção de sustentabilidade. Seria necessária, segundo Freitas (2011), uma mudança paradigmática no atual sistema de produção com vistas a um desenvolvimento tido como sustentável, o que demandaria mais que a busca por baixos índices de emissão de carbono na produção, trabalhos decentes e seguros e a substituição da matriz energética baseada em combustíveis fósseis. Na visão do autor, está explícita que essa transformação necessita de novas formas de racionalidade e de administração.

Todavia, Freitas (2011, p. 31) enfatiza que o esvaziamento do conceito de sustentabilidade, imprimindo-lhe sentido “simplista e banal” tem se mostrado um obstáculo rumo a mudanças substantivas da sociedade. Observamos, contudo, que mais que um conceito superficial, o entendimento corrente sobre a sustentabilidade apresenta um caráter funcional ao capitalismo. Na próxima seção, apresentamos uma breve discussão a respeito dessas críticas da funcionalidade sobre conceito de sustentabilidade ao capitalismo e sobre a adoção ideológica da sustentabilidade nos discursos organizacionais.

3.2 Críticas ao conceito de sustentabilidade: funcionalidade ao capitalismo