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4.3 O ENSINO DA PRODUÇÃO ORAL NA EAD DO IFRN: TAREFAS DE PRODUÇÃO ORAL

4.3.1 Realização de tarefas orais e desenvolvimento da produção oral: análise

4.3.1.5 Diversidade lexical

Para a medida de diversidade lexical, considerou-se a divisão do número de palavras distintas utilizadas no texto oral dos alunos, dividido pelo número total de palavras produzidas e multiplicado por 100. O cálculo foi feito na ferramenta WordList e, pelos diferentes tamanhos de textos orais produzidos pelos participantes da pesquisa, optou-se pela medida de STTR. Posteriormente, os valores obtidos foram submetidos ao teste de Wilcoxon e os resultados para a coleta semi-longitudinal estão apresentados na tabela 11.

67 Vale destacar que as palavras são muito semelhantes nas duas línguas. No áudio 3: é (português) – es (espanhol); posso (português) - puedo (espanhol); praticar (português) – practicar (espanhol); ela (português) – ella (espanhol); muito (português) – muy/mucho (espanhol); língua (português) – lengua (espanhol). No áudio 8: estudante (português) – estudiante (espanhol); atividades (português) - actividades (espanhol); tempo (português) – tiempo (espanhol); ler (português) – leer (espanhol); jogar (português) – jugar (espanhol).

TABELA 11 - Resultado de significância estatística e média para a diversidade lexical – Coleta semi-longitudinal Diversidade Lexical Controle (pré e pós) Experimental (pré e pós) Experimental+ (pré e pós) Significância estatística do teste 0,57 0,34 0,75 Médias dos grupos

Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste

77,10 79,06 78,20 74,93 79,19 80,50

A análise estatística não apontou significância para nenhum dos grupos da pesquisa (p= 0,57; 0,34 e 0,75 > 0,05). O resultado do teste de Wilcoxon de comparação entre o pré e o pós-teste dos alunos indica, então, que realizar tarefas e receber feedback, no contexto investigado, não colaborou para uma mudança significativa quanto ao aumento da diversidade lexical nas produções orais avaliadas.

Com relação à coleta longitudinal, os valores expostos na tabela 12 não indicam significância estatística para os grupos experimentais (p= 0,68 e 0,10 > 0,05), porém, para o grupo controle, com valor de p= 0,02, atesta uma mudança significativa do pré-teste com relação ao pós-teste. Analisando-se, no entanto, as médias desse grupo, constata-se que a significância é referente a um aumento da repetição de itens lexicais, o que representa um resultado negativo de acordo com o propósito do teste.

TABELA 12 - Resultado de significância estatística e média para diversidade lexical – Coleta

longitudinal Diversidade Lexical Controle (pré e pós) Experimental (pré e pós) Experimental+ (pré e pós) Significância estatística do teste 0,02 0,68 0,10 Médias dos grupos

Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste

81,50 75,06 79,39 80,45 78,66 72,33

Segundo Nation (2001), a aquisição lexical envolve perceber a palavra alvo, recuperar sua forma e seu significado na memória e compreendê-la ou usá-la em um novo contexto. Cada recuperação realizada de forma correta pelo aprendiz entre a forma e o significado de uma palavra contribui para o fortalecimento dessa relação em sua memória. Essa explicação pode ser considerada para a compreensão dos resultados aqui encontrados, pois o grupo controle, por não realizar as tarefas e não ter o momento proporcionado pelo feedback de

rever as suas produções orais, teve menos oportunidades para conhecer, recuperar e praticar as unidades léxicas da língua-alvo e, portanto, melhorar sua medida de diversidade lexical.

Outra suposição é a de que o uso do tradutor de texto, afirmado em questionário pela maioria dos alunos (ver seção 4.2.1), especialmente os da coleta semi-longitudinal, também pode ter influenciado o resultado pois, como nos afirma Cunha (2012, p.136) sobre tradutores automáticos,

[...] grande parte dos programas tenta reconhecer, analisar, traduzir e reproduzir o texto de uma forma global. Isso quer dizer que a sentença ou parágrafo, quando fornecidos ao programa como input, são analisados como um todo, dificultando associações de significado do programa. Na falta da possibilidade de uma análise global, os programas fazem uma análise fragmentada no léxico, individualmente, que passa a ser selecionado pela relação com as palavras chaves fornecidas no input. Tal análise realizada pelos programas tem gerado vários equívocos no produto final.

Nesse sentido, o uso do tradutor automático pode ter alterado a seleção lexical idealizada pelo aluno, modificando suas escolhas originais e, consequentemente, impedindo uma análise real da evolução dos alunos quanto à diversidade lexical de seus textos.

Para os grupos experimentais, a não significância estatística pode ser explicada pelo fato de ter-se considerado para o cálculo usado pelo WordList todas as palavras dos textos orais produzidos pelos alunos, o que engloba também as palavras consideradas para a medida de inadequação lexical. Ou seja, para a variável de diversidade lexical, também foram contabilizadas palavras que não existem na língua espanhola, o que comprometeu, consequentemente, o resultado, pois não retratam com exatidão a riqueza lexical determinada por essa análise.

Para exemplificar, apresenta-se uma parte de uma produção oral de um aluno da pesquisa, na qual as palavras destacadas em verde correspondem ao uso de vocábulos inexistentes na língua espanhola e foram consideradas pelo programa para cálculo da medida de STTR.

[...]dispos yo hazo/ dispos dor baño en mi hijos/ doleras dor armorzo a eles/ coloco para dormir/ porque penso de mi futuro es ser una gran/ ser una buena profisional/ terminar mi faculdad/ hacer un concurso/ pasar/ para poder dar un futuro mejor para mi hijos/ porque soy una persona sozinha/ no tengo/ crio eles con muy esforzo y hazo tudo para eles/ lo padre deles no liga/ soy separada/ y ele no estay nem ai para nada/ por iso que penso muito neles/ as vezes penso muy en desistir/ mas penso que eles son muy pequeños/ por isso nunca desisto/ y o futuro creyo eu que va a ser muy belo/ pos estoy lutando para eso. (Áudio 30, coleta semi- longitudinal)

Salienta-se, no entanto, que não era possível excluir dos textos criados pelos alunos as palavras consideradas lexicalmente inadequadas, sob pena de não se atingir o mínimo de 50 palavras, necessário para uso do programa. E, também, para não manipular o texto do participante, o que não representaria a realidade do discurso do aluno e, da mesma forma, interferiria na análise.