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2. Revisão da Literatura

2.12 Divulgação de Informação

Na Holanda as cartas de risco são desenvolvidas sob a responsabilidade provincial. Podem ser sobrepostos outros riscos como riscos de inundação e adicionados objetos vulneráveis, informação cujo proprietário são os municípios. Prevê-se que de futuro as versões de cartas de risco incorporem contornos de risco social em vez dos acuais riscos individuais. Versões de cartas de risco são usadas para informar o público e estão disponíveis na internet.

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Acesso a cartas de risco Na Holanda as cartas de risco constituem uma ferramenta de informação às autoridades competentes bem como para informar o público acerca do risco no seu ambiente.

Os cidadãos têm acesso a informação relativa aos estabelecimentos perigosos, às substâncias perigosas presentes (armazenadas, utilizadas, produzidas), aos riscos associados ao transporte e presença de objetos vulneráveis na área.

Com as preocupações, desde 11 Setembro de 2001, referentes à atividade de terroristas, as orientações relativas à segurança na Europa colidem com o direito de informação por parte dos cidadãos (“Citizens right to know”); informações disponíveis a qualquer pessoa referente a estabelecimentos Seveso II levantam questões polémicas de qual e que tipo de informação poderá ser disponibilizada sem colocar em risco as estruturas e suas envolventes. A discussão tem sido acesa relativamente à quantificação entre o aumento de segurança pela partilha de informação e consequente preparação dos cidadãos face ao risco versus a perda de segurança associada à disponibilidade de dados e informação a terroristas e utilizadores não controlados (safety increase versus security loss).

Elaboração e representação de informação de risco de acidentes graves Basta, et al. (2008), refere que no Reino Unido (RU) é utilizada informação cartográfica baseada em SIG (sistema de informação geográfico) para a elaboração de cartas de risco, sendo facilmente atualizadas as suas bases de dados e permitindo a tomada de decisão com informação real e fidedigna. Esta ferramenta informática permite que sempre que as avaliações da entidade responsável do RU para estabelecimentos Seveso, HSE, proceda a alterações dos contornos de risco devido à instalação de novos estabelecimentos, alterações de existentes, novas características nas vizinhanças de empresas existentes, são definidas novas cartas de risco com celeridade. Os SIG permitem ainda a definição de diferentes layers de caracterização de áreas do território permitindo a alternância de caracterização do território com a sequente análise pretendida. Por exemplo, distintos layers podem ser criados para o crescimento / alteração da localização de populações áreas sensíveis e áreas de uso público (estradas, escolas, hospitais), definindo, por exemplo, áreas de risco em redor de estabelecimentos.

Devido à ameaça terrorista, a informação das cartas de risco é limitada no Reino Unido; não é transmitida informação relativa ao tipo de substância presente na instalação ou o local onde poderá estar presente. São representados os três níveis de iso-linhas de risco,

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o nome e morada da instalação. As cartas de risco não são acessíveis via internet mas poderão ser consultadas pelos cidadãos após efetuar pedido.

Em Portugal, não existem cartas de risco referentes a estabelecimentos Seveso. A primeira carta de risco encontra-se em fase final de elaboração, teve o seu início em 2004, e refere-se à península da Mitrena. Abrange uma área geográfica de cerca de 70 km2 e uma elevada densidade industrial (cerca de 60 unidades de variada dimensão), onde se incluem 5 estabelecimentos Seveso, quatro de nível superior de perigosidade. Pretende representar cartograficamente os riscos decorrentes de acidentes graves envolvendo substâncias perigosas. A iniciativa envolve diversas entidades, as empresas, especialistas consultores, o Serviço Municipal de Proteção Civil e Bombeiros da Câmara Municipal de Setúbal e a Autoridade Nacional de Proteção Civil.

Embora previsto no Decreto-Lei 254/ 2007, artigo 15º, a divulgação de informação relativa aos Relatórios de Segurança e do inventário de substâncias perigosas, não se encontra ainda disponível ao público, nomeadamente através da página da internet, à semelhança do que já acontece para os Estudos de Impacte Ambiental. Após contacto com a autoridade competente (APA) foi fornecida a informação de que os Relatórios de Segurança se encontram em processo de digitalização, não havendo uma data prevista para a disponibilização dos referidos relatórios.

A cultura de risco/ cultura de segurança em Portugal é muito rudimentar e ainda é filosofia e crença da classe política e dirigente, de que a disponibilização deste tipo de informação aos cidadãos, seria contraproducente e geradora de potencial sentimento de pânico e preocupação. No entanto, não há referências e evidencias deste tipo de comportamento por parte do público em geral em países onde se pratica uma cultura de partilha de informação e transparência.

Amendola (2005) explica que a gestão de risco enquadrada de acordo com a regulamentação europeia dá ao público em geral o direito de acesso à informação e participação, referindo:

- informação passiva: onde o relatório de segurança pode ser examinado pelo público, sendo excluídos os aspetos sensíveis referentes ao segredo industrial

- informação ativa: em que as pessoas que podem ser afetadas pelas consequências de um acidente devem ser informadas, sem ter de efetuar formalmente este pedido

- consulta do público: onde as pessoas devem ser capazes de dar a sua opinião nos casos que envolvem o planeamento de novos estabelecimentos, grandes modificações de

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estabelecimentos existentes, desenvolvimentos em redor de estabelecimentos existentes e planeamento de emergência.

É importante ainda referir que apesar da existência de atividades perigosas implicar uma aceitação do risco, especialmente quando o processo de informação é implementado corretamente, não implica uma aceitação dos danos provocados pelo acidente. Um dos princípios que suportam esta afirmação é o princípio do “poluidor-pagador”, definido na lei de bases do ambiente.

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