• Nenhum resultado encontrado

divulgar e difundir os conceitos, as práticas e os objetivos de seus atores sociais.

COLETA E SISTEMATIZAÇÃO DE DADOS TERMINOLÓGICOS

3. divulgar e difundir os conceitos, as práticas e os objetivos de seus atores sociais.

Nem todas as áreas, passíveis de estudo terminológico, contam com um corpus multitarefa como ocorre com o corpus da Educação do Campo. Pode haver textos (e respectivos termos) mais voltados ao pensamento científico (e que não são selecionados pelos discursos pedagógico e de divulgação, por serem considerados muito complexos para o público em geral).

Esses textos da Educação do Campo, que compõem os nossos corpora, não são complexos considerando-se um público-alvo medianamente escolarizado e já inserido no discurso da Educação Geral ou de práticas de Movimentos Sociais do Campo. No entanto, uma boa parcela dos atores sociais do Campo não possuem escolaridade, ou possuem pouca escolaridade. Assim, qualquer tipo de texto escrito, fruto de bases científicas, torna-se inacessível.

Existe assim uma discrepância entre a natureza do texto escrito e o poder de apreensão cognitiva de postulados do texto escrito por parte dos atores sociais do campo. Esse problema somente pode ser sanado com a universalização da alfabetização (e de outros níveis de escolarização e de ensino) às populações campesinas.

Entende-se assim que o discurso da Educação do Campo é elaborado por uma minoria intelectualizada, inclusive de professores e pesquisadores universitários, com o auxílio e com base nas necessidades, nos objetivos e nas concepções de mundo de uma maioria excluída do conhecimento escolar/ acadêmico.

Pode parecer um paradoxo, talvez seja, mas nossa interpretação é de que todo conhecimento intelectualizado parte de uma minoria, considerando-se as peculiaridades de nosso país (e da maioria dos países do mundo). O que diferencia a Educação do Campo positivamente, ainda de acordo com nossa interpretação, é o fato de que a área busca uma real universalização, com o alcance propiciado por um ensino adequado às classes mais pobres da população de uma cidade, ou de um estado ou de um país.

Como política pública de educação, os objetivos da Educação do Campo estão perfeitamente de acordo com a democratização do ensino. Como segundo ponto positivo em relação à Educação do Campo, apontamos que seus objetivos de universalização do ensino e de educação apresentam ideais contextualizadores, pois buscam uma Educação feita no campo, com os objetivos do Campo e pelos atores sociais do campo.

Como pontos negativos, apontamos que a Educação do Campo instaura-se em uma ambientalização hostil, de conflitos, manipulações e de violência, de disputa com autoridades, o que é prejudicial aos seus atores sociais como seres humanos, principalmente para com as crianças e idosos.

Fizemos esses comentários a fim de situar os leitores desta tese no contexto em que são produzidos, por quem, e para quem os textos que compõem o corpus da Educação do Campo.

Nossa avaliação final é de que estes textos são profícuos em relação aos seus objetivos, não obstante as dificuldades extralinguísticas que caracterizam sua produção. Por isso mesmo, já na seleção dos corpora, os pesquisadores devem analisar as condições de impetração dos textos, levando em conta os fatores que condicionam sua criação e sua manipulação.

Apresentamos um resumo de cada subcorpus que compõe o corpus documental, esclarecendo que as obras listadas são as que efetivamente forneceram termos que entraram para o corpus de análise, de acordo com os critérios estabelecidos.

Muitas outras obras foram consultadas, mas, como não se enquadravam nos princípios ou na ideologia da EC, foram descartadas e delas não foram extraídos termos para nosso

corpus de análise. Logo este corpus documental já é uma seleção, não se constituindo (e

não podendo ser confundido) com o corpus total da pesquisa, que é muito mais extenso.

Esta listagem resumida do corpus documental é um núcleo conceitual e terminológico, como uma intersecção dos conjuntos das principais obras, que representam os principais conceitos (e respectivas denominações) da Educação do Campo.

Para utilizarmos a metáfora da "peneira", esta relação de obras é o que restou de mais denso e selecionado na triagem da análise conceitual e da descrição terminológica.

É a seguinte a seleção do corpus documental:

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

Subcorpus MST: obras impressas e textos disponibilizados no site da instituição, domínio público – material obtido por meio de compra e de cessões da ANCA – Associação Nacional de Cooperação Agrícola. São obras de referência (2000-2010): 10 anos. É composto por Cadernos de Educação; Cadernos de Formação; Boletins de Educação; relatórios, dossiês e legislações de grupos de trabalho, de universidades e de órgãos oficiais (MEC); obras e teses de especialistas e teóricos da EC.

São 15 obras, entre publicações do MST, de especialistas e órgãos oficiais, que formam uma unidade sob os aspectos conceitual e terminológico-neológico e o site da instituição.

Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza

Subcorpus Ceeteps: digitalizado, domínio público (2006; 2008). São 2 dissertações de mestrado, em Educação e em Engenharia Agrícola, que versam a respeito de perspectivas sociais de educação técnica e tecnológica na instituição, a qual passou a se enquadrar em alguns princípios da EC, a partir dos anos 2000. Essas duas obras foram as únicas a fornecer um conjunto coerente de termos neológicos e pertinentes à EC, tendo como base a instituição- fonte.

Resumo quantitativo - total de fontes: 18 (15 originalmente impressas, 2 originalmente digitalizadas e 1 site)

subcorpus MST – 15 obras + site da instituição

o autoria do MST: 6

o especialistas e teóricos da EC: 6 o órgãos oficiais e GT: 3

o site: 1 (todo o conteúdo do site, na íntegra - artigos, notícias, materiais didáticos, legislação)

subcorpus Ceeteps -2 obras

Resumo qualitativo

o homogêneo no sentido de que é constituído por obras de caráter técnico-científico, didático e de divulgação;

o de abrangência nacional;

o atual - recorte dos últimos 10 anos, que retrata a constituição e o estabelecimento da EC no Brasil;

o crítico – representa a tensão dialética entre a complexidade dos gêneros textuais referidos e a baixa escolaridade dos povos do campo, inclusive dos professores.

4.4 O corpus referencial

É o corpus com que se identificam e se extraem conceitos, além das obras do corpus documental (BRAGA, 2005, p. 84). É um complemento ao patamar cognitivo alcançado no estudo do corpus documental. Cabré (1993) diz que esses documentos de referência são fontes de informação para que os terminólogos ou os especialistas adquiram conhecimentos sobre a teoria e os métodos de trabalho da Terminologia ou sobre a estruturação de determinado campo de especialidade. É, para a autora, um complemento da documentação propriamente dita do trabalho terminológico. (CABRÉ, 1993, p. 227).

Os termos e respectivos conceitos podem ou não entrar para o corpus de análise, mas o pesquisador deve entrar em contato com uma quantidade maior e mais diferenciada qualitativamente de textos, além dos que foram eleitos para compor o corpus documental propriamente dito.

O corpus referencial, assim, presta-se a auxiliar o pesquisador na apreensão dos conceitos da área estudada.

Defendemos que o trabalho terminológico deve ser feito por profissionais que, mesmo não sendo especialistas na área, buscam entender os conceitos e as práticas estudadas, não obstante o fato de se caracterizarem por um ponto de vista pouco ou medianamente especializado. Assim o terminólogo não é apenas uma pessoa que coleta unidades terminológicas, de acordo com critérios morfossintáticos, semânticos e de frequência.

Aubert (2001) comenta a respeito, em seu manual de terminologia intitulado "Introdução à metodologia da pesquisa terminológica bilíngue":

Na perspectiva metodológica adotada neste trabalho, o terminólogo é, antes de tudo, um praticante de uma metodologia linguística, desempenhando um papel de assessoria aos usuários dos diversos vocabulários de especialidade. Seu papel não se confunde com o do especialista [...] A experiência tende a mostrar que basta, inicialmente, adquirir como que um certo "verniz", isto é, um conhecimento básico, introdutório [...] para poder dar ponto de partida à pesquisa específica. (AUBERT, 2001, p. 38-39)

O nível pragmático também deve ser levado em conta, pois, caso contrário, muitos equívocos podem ocorrer, como, por exemplo, na seleção de termos, na determinação das formas preferenciais, sinônimas e variantes (para não falar nos quase-sinônimos¸ nos antônimos e nas relações sinoantonímicas). Dessa forma, sabemos que o terminólogo não se tornará um Engenheiro Naval ao analisar a terminologia da área naval, nem se tornará um Médico Fisiatra ou um Técnico em Órteses e Próteses ao estudar a terminologia da Ortopedia Técnica (exemplo dado a partir de experiência própria, a partir de nossa dissertação de mestrado), tampouco será um Educador do Campo ao estudar a respectiva terminologia, mas esse profissioal deve, sim, aprofundar-se em um nível considerável nos conceitos e em algumas ideologias subjacentes, sem contudo perder-se em relação aos prazos que deve cumprir e sem deixar de executar as análises terminológico-linguísticas, conceituais e semânticas, frutos primordiais de seu trabalho. Essas incursões extralinguísticas devem ser um referencial, para validar, facilitar e propiciar um trabalho terminológico o mais correto e eficaz que for possível.

Após toda essa metalinguagem, que se justifica nos objetivos desse trabalho de sistematizar e aplicar procedimentos de análise conceitual e de descrição terminológica de corpus neológico, apresentamos um resumo de nosso corpus referencial.

Esse resumo é uma síntese das obras mais fidedignas e representativas para uma análise conceitual da área de Educação do Campo.

Muitas outras obras foram consultadas, mas, por apresentarem muita semelhança (ou muita discrepância) em relação às obras selecionadas não constam da listagem apresentada, que pensamos também como sugestões de leitura para interessados na apreensão conceitual da área de Educação do Campo.

Devido aos limites (inclusive físicos) desta tese - número de páginas -, optamos por não gerar listas muito extensas, com repetições de ideias, que nada acrescentariam aos leitores, à banca e ao público-alvo deste estudo, quando vier a ser divulgado.

São 22 obras originalmente impressas e 4 sites. Apresentamos um resumo de cada