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Escolhas e proposições teórico-metodológicas nesta tese: um modelo de análise conceitual e de descrição terminológica de corpus neológico

HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

III. organização da estrutura de ensino no campo; IV atores sociais da Educação do Campo e

3. FUNDAMENTAÇÃO, ESCOLHAS E PROPOSIÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS

3.4 Escolhas e proposições teórico-metodológicas nesta tese: um modelo de análise conceitual e de descrição terminológica de corpus neológico

Como convergência entre as propostas da Teoria Comunicativa da Terminologia (TCT), da Socioterminologia e da Teoria Sociocognitiva da Terminologia (TST), salientamos as proposições de que o termo é um signo linguístico, que representa um conhecimento

especializado com as faces significado e significante intimamente ligadas, em uma relação

de interdependência e complementaridade.

Além disso, destaca-se a relevância da aceitação da variação (polissemia, sinonímia,

variação linguística, variação extralinguística) e da importância dada às propriedades

discursivas e comunicativas das terminologias.

Particularmente salientamos a importância da análise dos contextos sociais, políticos e

históricos como fatores determinantes da Terminologia (como também o são em relação à

língua geral).

Realmente as terminologias não têm existência autônoma em uma cultura, como queriam algumas teorias positivistas - a de Wüster é apenas mais uma, pois há muitas correntes científicas que desprezam os valores extralinguísticos que permeiam toda a produção de conhecimento humano (e nele, a linguagem).

Consideramos que a ciência é um processo e não um conjunto de produtos acabados, logo à epistemologia da Terminologia serão acrescentadas muitas outras contribuições.

Dentre os pressupostos analisados, pertinentes aos estudos que se enquadram na Socioterminologia, na Teoria Comunicativa da Terminologia e na Teoria Sociocognitiva da Terminologia, sistematizamos as diretrizes que compõem o modelo e a respectiva

metodologia propostos por nós nesta tese, para uma análise conceitual e uma descrição terminológica de um corpus neológico.

Criamos cinco eixos metodológicos, a fim de direcionar a natureza e os objetivos dos passos que compõem o modelo:

Eixo Metodológico 1: Metodologia geral - Manipulação teórica relativa aos

domínios: Linguística; Filologia; Terminologia; Lexicologia; Semântica; Morfologia; Morfossintaxe; Neologia. Em nossa tese, este eixo é trabalhado no Capítulo 1 (Prolegômenos), no Capítulo 3 (Fundamentação, escolhas e proposições teórico-metodológicas) e no Capítulo 7 ( A Fim de concluir o ciclo).  Eixo Metodológico 2: Metodologia Específica - Manipulação teórica relativa

aos domínios: corpus especializado; área-tema; áreas afins. Em nossa tese, este eixo é trabalhado no Capítulo 1 (Prolegômenos), no Capítulo 4 (Os Corpora) e no Capítulo 5 (Aplicação da metodologia).

Eixo Metodológico 3 - Tecnologias de apoio à análise humana - Informática e

outras. Em nossa tese, este eixo é trabalhado no Capítulo 5 (Aplicação da metodologia: etapas, procedimentos e instrumentos de análise e descrição).

Eixo Metodológico 4 - Aplicação da Metodologia - Manipulação prática -

coleta, organização, classificação, análise, apresentação checagem de dados linguístico-terminológicos. Em nossa tese, este eixo é trabalhado no Capítulo 5 (Aplicação da metodologia), no Capítulo 6 (Análise da neologia e de relações intralinguísticas e extralinguísticas que caracterizam a terminologização e os termos da área de Educação do Campo) e no Capítulo 7 (A Fim de concluir o ciclo).

Eixo Metodológico 5 - Contextualização extralinguística do trabalho terminológico - análise do grau de aceitação e de difusão dos termos do corpus

neológico em estudo, considerando aspectos históricos, sociais e ideológicos. Em nossa tese, este eixo é trabalhado no Capítulo 2 (A Educação do Campo: histórico e caracterização da área), no Capítulo 6 (Análise da neologia e de relações intralinguísticas e extralinguísticas que caracterizam a terminologização e os termos da área de Educação do Campo) e no Capítulo 7 (A Fim de concluir o ciclo).

A seguir, propomos os passos que compõem nosso modelo de análise conceitual e de descrição terminológica de corpora neológicos:

1) Decisão do objetivo geral da pesquisa e elaboração da justificativa para o projeto de pesquisa terminológica (eixo metodológico 1).

2) Estabelecimento da área profissional cujos conceitos e termos serão descritos, bem como das áreas afins, que podem emprestar conceitos e termos para a área-alvo do trabalho terminológico (eixo metodológico 2).

3) Organização e representação dos conceitos da área escolhida, em estrutura gráfica que permita a apreensão das relações entre os conceitos e dos graus de hierarquização. É recomendado que o pesquisador estabeleça categorias temáticas ou campos conceituais, a fim de agrupar os conceitos de uma maneira sistemática, que priorize o patamar cognitivo e não necessariamente o sistema linguístico, como ocorre com a ordenação simplesmente alfabética

(eixo metodológico 2).

4) Estabelecimento do público-alvo e dos objetivos específicos da análise conceitual e da descrição terminológica (eixo metodológico 1).

5) Escolha e análise do referencial teórico que servirá como parâmetro para cada pesquisa, de acordo com os objetivos estabelecidos, neste caso, o referencial teórico é pertinente aos domínios: Linguística; Filologia; Terminologia; Lexicologia; Semântica; Morfologia; Morfossintaxe; Neologia; corpus especializado (específico da área-alvo) (eixo

metodológico 1).

6) Estabelecimento de critérios e tipologias de classificação e de análise, de acordo com um recorte do referencial teórico, como, por exemplo, tipologia de neologismos. Recomenda- se analisar a possibilidade de combinação entre critérios (como o quantitativo e o qualitativo) e a combinação entre os tipos de fenômenos estudados (como análise morfossintática, ou sintático-semântica, ou ainda semântico-pragmática) (eixo metodológico 1).

7) Pesquisa, análise e sistematização dos textos que comporão os corpora da pesquisa, de acordo com uma tipologia de corpus a ser definida, também relacionada ao público-alvo e aos objetivos da pesquisa. Recomenda-se análises interinstitucionais e intrainstitucionais, além de trabalhos de pesquisadores não vinculados a organizações predefinidas (eixo

metodológico 2).

O corpus pode ser subdividido da seguinte forma:

a) textos que servem à extração de termos e de conceitos, com datação não determinada, que tratam com propriedade da área-alvo, por serem textos de autores e instituições representativos. Esse conjunto de textos mais geral deve ser o primeiro a ser recolhido e, depois, organizado, filtrado, acrescido, subtraído e é por nós chamado de corpus de partida

corpus certamente é bastante alterado ao longo da pesquisa e não equivale necessariamente ao corpus documental ou ao corpus referencial, mas deve ser mantido como parâmetro para comparações, para que, com os procedimentos incessantes de recortes e delimitações dos termos, tenhamos um comparativo, em estado bruto (não tratado na extração de termos), para evitar ao máximo falhas na segmentação de termos e até mesmo na depreensão de conceitos.

Posteriormente, esse corpus in natura deve ser submetido ao mesmo procedimento de extração de termos, para a confirmação das hipóteses. Com a finalização da leitura dos corpora e da extração de termos, esse corpus de partida ou parâmetro é de extrema importância, pois valida resultados, além da consulta com especialistas, que pode ser um procedimento sistêmico ou pontual - todavia válido e indispensável a uma correta descrição terminológica de uma área cujas denominações estão restritas ao público em geral.

b) textos que servem à extração de termos, datados de, no máximo, uma década, ou conforme outros critérios que o pesquisador julgar pertinentes a seu estudo. Esse tipo de

corpus pode ser denominado documental.

c) textos que servem à extração de conceitos, destinados a uma estruturação cognitiva dos conceitos da área, que o pesquisador deve alcançar antes ou durante o trabalho terminológico. Esse tipo de corpus pode ser denominado referencial.

d) textos que servem à determinação do caráter de neologicidade dos termos extraídos. Esse tipo de corpus pode ser denominado de exclusão. É tradicionalmente composto por obras dicionarísticas, como dicionários de língua geral, mas também recomenda-se que se utilizem os textos mais antigos da área de especialidade, que não entraram na periodicidade estabelecida pelo corpus documental neológico. Os termos que constam do corpus de exclusão não entram para a listagem de termos neológicos a serem descritos.

e) listagem de termos a serem descritos: pode ser chamada de corpus de análise. Deve ser organizada de alguma forma coerente, de preferência sistemática, ou seja, por campo conceitual, e não somente por ordenação alfabética.

8) Elaboração de fichas terminológicas, planilhas e outros instrumentos que servirão à coleta e à sistematização de dados (eixo metodológico 4).

9) Escolha e estudo da viabilidade de utilização de ferramentas informatizadas e de outras tecnologias que, se consideradas necessárias pelo pesquisador, auxiliarão o trabalho humano com a agilização dos processos de coleta, de sistematização e de apresentação de dados (eixo metodológico 3).

10) Coleta das unidades linguísticas consideradas termos, de acordo com o recorte teórico adotado (eixo metodológico 4).

11) Seleção dos termos considerados neológicos, de acordo com o recorte teórico adotado (eixo metodológico 4).

12) Classificação dos termos em categorias temáticas ou campos conceituais definidos pelo pesquisador, de acordo com sua apreensão dos conceitos da área (eixo metodológico 4).

13) Sistematização dos fenômenos linguístico-terminológicos a serem descritos, relacionados com os critérios e com as tipologias determinados pelo pesquisador (eixo

metodológico 1).

14) Análise e descrição dos termos, de acordo com os fenômenos linguístico- terminológicos escolhidos para análise, como os processos e subprocessos de neologia e respectivos aspectos fonológicos, morfossintáticos, semânticos, pragmático-ideológicos (eixo

metodológico 4).

Exemplos:

a. estrutura morfossintática dos termos (relações de determinação envolvendo substantivos, adjetivos, advérbios, verbos, preposições, conjunções);

b. processos de derivação (derivação prefixal e derivação sufixal) e composição (composição propriamente dita e composição sintagmática);

c. configurações semânticas, metafóricas e/ ou metonímicas;

d. relações pertinentes aos planos do conteúdo e da expressão, como sinonímia, antonímia, variação e polissemia;

e. lexicalização de itens gramaticais; f. neologia como processo principal; g. neologia como processo complementar;

h. neologia em combinatória (combinação de subprocessos de neologia, como, por exemplo, composições sintagmáticas e configurações metafóricas ou metonímicas, entre outras possibilidades).