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DM Entrevista em Ide, São Paulo, n o 1, Dez de 1999 p 5.

“Deus é Amor” – IPDA

Capítulo 1 Origens e expansão da Igreja Pentecostal “Deus é Amor” – IPDA

24 DM Entrevista em Ide, São Paulo, n o 1, Dez de 1999 p 5.

lugar de seu filho[...] E ele passou a mencionar sobre nosso Jesus que depois de ser maltratado, esbofeteado, terem posto uma coroa de espinhos em sua cabeça e terem feito tantos males a Ele, ainda o crucificaram e mataram[...] Naquela hora, eu me senti envolvido pelo Espírito de Deus. Eu não contive as minhas lágrimas. Pela primeira vez eu me reconheci como pecador diante de Deus.

Porém, nessa autobiografia Miranda (1992: 31-39), omite o nome da igreja e do pastor que pregava quando ele se converteu. Mas, o dia da conversão, 6 de julho de 1958, ele repete na entrevista de dezembro de 1999. Nas décadas de 80 e 90 era voz corrente na IPDA que David Miranda tinha se convertido na Igreja “Maravilhas de Jesus”.25 Numa visita feita a essa

Igreja, e na conversa informal que mantivemos com o presbítero Fiorindo Valoto (25 anos congregando naquela Igreja) e que lá se encontrava em novembro de 2008, esse presbítero confirmou que DM realmente se converteu na Igreja “Maravilhas de Jesus” – IMJ – fundada pelo pastor Leonel Silva, um afrodescendente, advogado ainda atuante.

Na primeira conversa ele não dispunha de tempo e confirmou rapidamente que ficou conhecendo David Miranda no primeiro dia em que ele entrou na Igreja “Maravilhas de Jesus”, mas que chegou com um violão e alcoolizado “querendo aceitar Jesus”, expressão comum entre evangélicos para a pessoa que se converte. Transcrevemos trecho extraído da conversa que tivemos26 quando da segunda visita à IMJ, em 24 de dezembro de 2008:

Voltamos ao assunto anterior, pedindo uns minutos da atenção dele, após mostrar a identificação da Universidade Metodista e esclarecer o motivo da visita, ou seja, a elaboração da Dissertação de Mestrado sobre a IPDA. O pastor Leonel atendeu com boa vontade, disse que DM apresentou-se com um violão, mas que estava embriagado, prometendo voltar na noite seguinte. Quando voltou, estava sóbrio, e aceitou Jesus no culto com o pastor Jonas da Cruz. Este pastor faleceu em 2007. Leonel explicou que DM congregou em sua Igreja por seis meses e que não foi batizado porque não estava preparado. Que DM queria ser logo pastor, mas que isso não seria possível. Que havia um presbítero semialfabetizado em sua Igreja que não concordava em muitas coisas e que saiu, dividindo a Igreja “Maravilhas de Jesus” e fundando a Igreja Pentecostal de Jerusalém, para onde DM foi congregar. O pastor Leonel não sabe onde DM foi batizado, mas sabe que David Miranda passou pela “Brasil para Cristo”, não se dando bem em nenhuma igreja, até fundar sua própria denominação a Igreja Pentecostal “Deus é Amor”.

As pesquisas que realizamos até este momento indicam as seguintes versões sobre o nome da Igreja na qual David Miranda se converteu.

25 A Igreja Cristã Pentecostal Independente “Maravilhas de Jesus” foi fundada em 1957, por Leonel Silva, que

completará 90 anos em 2009, tem a sua seda à Rua do Carmo 71-77, na Sé, no centro da capital paulista. Conversamos em duas ocasiões diferentes com esse pastor após o culto de sua Igreja em 3 e 24 de dezembro de 2008.

26 Dossiê “IPDA” 27 – Caderno de Campo. Visita de 24/12/08 à Igreja Cristã Pentecostal Independente

Nome da Igreja Fonte

1) Igreja Jerusalém Paul Freston, Tese de doutorado, (2003: 92)

2) Brasil para Cristo R. Andrew Chesnut, Born Again in Brazil, (1997: 38) 3) Brasil para Cristo Allan Anderson An introduction to Pentecostalism,

(2004: 72-73)

Este autor informa que DM é cunhado de Manoel de Mello o que é refutado por Freston. Cita texto

de Chesnut indicado acima.

4) Assembléia de Deus Isael Araújo: Dicionário do Movimento Pentecostal (2007: 462).

5) Assembléia de Deus Gilberto Stéfano27

6) Igreja “Maravilhas de Jesus” Pastor Leonel Silva, fundador da Igreja Cristã Pentecostal Independente “Maravilhas de Jesus” e Presbítero Fiorindo Valoto (informação obtida em conversa informal), nas visitas à sede da Igreja na Rua do Carmo 71/77, na Sé, no centro de São Paulo.)

Nas análises das informações acima, nota-se que Freston não dá sua fonte de referência, mas contesta Anderson. Assim, parece que os quatro autores Freston, Chesnut, Araújo e Anderson, com pequenas variações, bebem das mesmas fontes. Apesar de convivermos com DM e com seus familiares, naquela época não nos preocupávamos com essa questão. Por essa razão, não tínhamos a informação dada pessoalmente por DM ou por

27 Uma outra versão aparece em Gilberto Stéfano (2009) que segue desenhos de Araújo (2007: 462): “O

missionário David Martins Miranda, que tem origem assembleiana, deixou-a e fundou a IGREJA DEUS É AMOR em 1962. Esta igreja ainda está em ascensão. Cresce muito entre a população mais carente do país. O fato de seu fundador e líder ainda estar vivo ajuda muito a sua propagação. Seus programas de rádio têm grande audiência na camada mais pobre, e principalmente, nos moradores da zona rural. Muito parelha a esta igreja em doutrinas e costumes a IGREJA SÓ O SENHOR É DEUS, que tem como fundador o missionário Miranda Leal (Que dizem ser primo de Davi Miranda).”

( http://www.solascriptura-tt.org/Seitas/Pentecostalismo/PentecostaisNeoPCarismaticos-GilbertoStefano.htm) - (Acessado em 02 jan 2009).

seus familiares. No período em que congregamos na Igreja Pentecostal “Deus é Amor”, jamais ouvimos David Miranda referir-se à denominação onde se converteu. Apenas ouvimos por terceiros que DM tinha se convertido na Igreja “Maravilhas de Jesus”. Entendemos, por questão de Marketing, que DM jamais divulgaria o nome da denominação concorrente porque considera as demais igrejas como “igrejas mundanas”. Na sua autobiografia consta “denominação diferente da minha”. Apenas em 3 de dezembro de 2008 obtivemos uma informação bastante confiável de que realmente DM se converteu na igreja do pastor Leonel Silva, tendo depois transitado por várias igrejas. Em 24 de dezembro de 2008, num segundo encontro, o próprio pastor Leonel Silva, fundador da Igreja Cristã Pentecostal Independente “Maravilhas de Jesus” – a IMJ, confirmou que DM, ao deixar a IMJ, passou pela “Pentecostal de Jerusalém”,28 depois pela “Brasil para Cristo”, saindo dessa peregrinação religiosa para

fundar sua própria denominação em 1962.

A respeito da situação em sua casa, quando de sua conversão ao pentecostalismo, em sua autobiografia, Miranda (1992: 40) afirma que “a bem da verdade, nós já quase nem nos falávamos mais, devido a tantas brigas dentro de casa por motivo de religião. Então, ninguém sabia ainda do ocorrido que transformara a minha vida. Eles congregavam em outra igreja cuja denominação era diferente da minha”. A igreja, “simples, humilde e pequena”, na expressão de DM era a Igreja Cristã Pentecostal Independente “Maravilhas de Jesus”, o pastor que pregava era o pastor Jonas da Cruz que permaneceu na IMJ até 2007, quando faleceu segundo informações do pastor Leonel Silva. Araci Miranda confirma a conversão de David Miranda na IMJ. Deamiro, esposo de Araci diz que o cunhado não parava em igreja nenhuma até fundar a própria igreja.

Para uma melhor compreensão da trajetória de vida familiar e religiosa de DM, registramos os dados levantados em uma tabela cronológica. Como se pode observar, David Miranda começa sua vida de proprietário de imóveis aos 34 anos de idade. Daí em diante suas aquisições em nome da IPDA vão se desenvolvendo aceleradamente nas duas décadas de sua vida.

1.1.5 – Conversão, trajetórias familiares e explicações sociológicas

As mudanças biográficas, que no meio religioso são chamadas de conversão, receberam o de alternação por Peter Berger. Essa passagem de um círculo para outro

28 Ainda segundo informações de Leonel Silva, a “Igreja de Jerusalém foi fundada por um presbítero semi-

alfabetizado, que saiu da IMJ levando alguns fiéis” e que David Miranda foi um deles. Mas, segundo sua irmã Araci Miranda e seu esposo Deamiro, DM não ficou lá por muito tempo porque transitou por várias igrejas antes de fundar a “Deus é Amor”.

acontece, ainda segundo Berger, (2004: 18) porque “o homem não possui uma relação preestabelecida com o mundo. Precisa estabelecer continuamente uma relação com ele”. Ora, em um curto espaço de tempo DM experimentou quatro fases, cada qual contendo desafios para uma personalidade em fase de formação. Na última das crises vividas, DM passou a experimentar uma metanoia, palavra usada no vocabulário teológico para designar uma ressignificação dos valores sóciorreligiosos de um indivíduo. DM estava diante de diferentes campos ou espaços sociais fisicamente objetivados, todos eles relevantes para um momento de reorientação, conforme Bourdieu (1982: 160-161). Por sua vez, Mircea Eliade (2007: 132) considera que “colocado entre a aceitação da condição histórica e seus riscos, de um lado, e sua reidentificação com os modos da natureza, de outro, ele (DM – grifo nosso) escolheria uma tal reidentificação.” Pressupomos que David Miranda experimentou esse processo ao converter-se ao pentecostalismo. Para os que vivem experiências anômicas como essas, “a participação em processos dessa índole significa importante afirmação pessoal. [...] As pessoas nessas condições sentem-se valorizadas. Começam a experimentar a cota necessária de auto-estima necessária para tornar suportável a existência de qualquer ser humano”, escreveu Júlio de Santa Ana (1992: 13).

O mesmo processo se faz presente na maioria dos seguidores de David Miranda, pois quase todos eles também vieram do mundo rural. Santa Ana (1992:12) afirma que “a perda de raízes, a incapacidade de produzir sentido para a própria existência e a ausência de reconhecimento social levam muitos a se sentir ‘perdidos’. Nestas condições, a religião procura dar sentido em meio ao desespero”. A necessidade de conversão a uma nova religião em situação de anomia também pode ser analisada à luz da teoria de Thomas O’Dea (1969: 13-14), ao explicar que a “teoria funcional supõe que essa necessidade seja o resultado de três características fundamentais da existência humana. Em primeiro lugar a incerteza [...] caracterizada pela contingência [...] em segundo lugar [...] impotência [...]. Além disso, as sociedades existem em condições de escassez, a terceira característica fundamental da existência humana”. Segundo linha de argumentação semelhante, Lalive D’Epinay (1970: 60) escreve que

a tese que pretendemos sustentar, cujo tema já é clássico na sociologia das seitas, será a seguinte: O pentecostalismo apresenta-se como resposta religiosa comunitária ao abandono de grandes camadas da população, abandono provocado pelo caráter anômico de uma sociedade em transição.

Beatriz Muniz de Souza (1969: 97, 101) retoma tais explicações ao escrever sobre a motivação ou a “resposta religiosa” que na expressão de D’Epinay não se refere apenas ao

presente, mas também ao futuro. Pois o presente, representado pela “renúncia ao mundo” e o futuro na salvação eterna, a saber: “a condenação dos pecadores; necessidade de arrependimento; renúncia ao mundo; felicidade dos que alcançam a salvação.” (Souza: 97). “[...] Outro ponto doutrinário referido com certa constância nos sermões é o fim do mundo, quando ‘os ímpios serão condenados e os pecadores arrependidos alcançarão a salvação.” (Souza: 101). André Drooger (1992: 66) sustenta que “[...] em sociedades suscetíveis de mudanças rápidas e grandes contradições de interesses, a anomia mostra-se inevitável [...] A partir de suas próprias necessidades básicas, as pessoas vão em busca de nova comunidade [...] a anomia é irregularidade transitória, o consenso é a situação normal”. Mais adiante, acrescenta que “[...] a impotência dos pobres se converte, com a ajuda da força dos dons do Espírito (cura, profecia, dom de línguas) em força. Os desqualificados pelo mundo, em dado momento, desqualificam esse mesmo mundo”, completa Drooger (1992: 67).

Acreditamos que fatores ligados à anomia influenciaram profundamente a experiência de vida de DM, levando-o a se servir muito mais de novas ressignificações do que fora a sua formação católica rural. Num primeiro momento, DM foi aceito pelo novo grupo cuja liderança não admitia concorrência, razão de sua mudança para outra congregação, onde também não conseguiu se impor. “[...] depois de ter passado essa fase de lutas e provações, fiquei apenas freqüentando os cultos por uns 50 dias, mais ou menos, em diversas denominações diferentes”, afirma Miranda, (1992: 49).29 Tendo sido dispensado de seu

emprego, enfrentando praticamente sua última fase de rompimento de raízes, Miranda decidiu fundar sua própria denominação, como se pode observar na cronologia apresentada. Porém, houve um certo mistério sobre a conversão de DM ao pentecostalismo. Essa falta de informações, alimentada por ele mesmo, criou versões imprecisas sobre seu passado.

1.2 – A Igreja fundada por David Martins de Miranda

David Miranda, em sua autobiografia (Miranda, 1992: 62, 68, 69, 70 e 74) afirma que em março de 1962 iniciou seu trabalho num salão que ele próprio teria alugado com recursos da indenização recebida de seu emprego num escritório: “No final do mês de março, inauguramos a igreja na antiga Rua Setenta, hoje, Avenida Afonso Pena em Vila Alegre, região de Vila Maria.” O seu templo mais tarde mudou-se para a Rua Carmem Porto na Vila

29 Em 30 de dezembro de 2008 conversamos com Araci Miranda e Deamiro seu esposo os quais informaram que

David Miranda não se firmou em nenhuma denominação. Saiu da Igreja “Maravilhas de Jesus” para sua dissidente “Igreja de Jerusalém”, depois de breve passagem pela “Brasil para Cristo”, tendo passado também por outras denominações. O pastor Leonel Silva, fundador da Igreja Cristã Pentecostal Independente “Maravilhas de Jesus” confirma que DM ficou apenas seis meses em sua Igreja e que lá não foi batizado.

Medeiros; inaugurando então um templo em São José dos Campos, onde mantinha um programa na Rádio Piratininga daquela cidade. DM afirma que “o povo havia me ‘batizado’ com o título de maior pregador de curas divinas da época,” relatando algumas curas atribuídas a Deus enquanto ele orava. A igreja por ele fundada é centrada em sua própria liderança carismática, pois é tido como profeta ou o “homem de Deus”. Campos (1982: 96) faz referência ao uso constante em seu programa “A Voz da Libertação” como “o consagrado homem de Deus, Missionário David Miranda”. A IPDA sustenta uma visão do batismo com o Espírito Santo30, usando como base textos bíblicos do livro do profeta Joel e de livro dos Atos

dos Apóstolos. Assim, DM dispensa quaisquer referências aos reformadores Lutero, Calvino ou à tradição das igrejas protestantes, recurso típico do líder carismático, cujo tipo ideal foi elaborado por Max Weber (1982: 285): “O carisma só conhece a determinação interna e a contenção interna. 31 O seu portador toma a tarefa que lhe é adequada e exige obediência e um séquito em virtude de sua missão.” Entretanto, a capacidade ou o “dom missionário” que DM tem, inclusive para acumulação de patrimônio e riqueza, distancia-o do tipo de “carisma apostólico” referido por Weber (2004: 124).

Único obstáculo é, outra vez, aquela glorificação – inspirada no exemplo da vida missionária dos apóstolos – do carisma da pobreza apostólica entre os “discípulos” eleitos por Deus pela “predestinação”, o que de fato significava uma repristinação parcial dos consilia evangélica. A criação de uma ética profissional racional à maneira dos calvinistas foi com isso, quando nada, retardada, se bem que – como mostra o exemplo da transformação do movimento anabatista – não totalmente excluída (sendo pelo contrário preparada espiritualmente por intermédio da idéia de trabalhar exclusivamente “por causa da vocação”).

Porém, DM encarna bem o tipo ideal do líder carismático que se fundamenta somente no seu próprio capital adquirido, tal como nos apresenta Pierre Bourdieu (1982: 59):

A gestão do depósito do capital religioso (ou sagrado), produto do trabalho religioso acumulado e o trabalho religioso necessário para garantir a perpetuação deste capital garantindo a conservação ou a restauração do mercado simbólico em que o primeiro se desenvolve, somente podem ser assegurados por meio de um aparelho de tipo burocrático que seja capaz, como por exemplo a Igreja, de exercer de modo duradouro a ação contínua

30 BURGESS, Stanley M; McGEE, Gary B. (1996: 415) esclarecem, numa tradução livre que fizemos do texto:

“Pentecostais usam o termo ‘batismo no Espírito’ para se referirem à efusão inicial dos crentes com o Espírito e consideram isso como a experiência de poder que foi acompanhada por falar em línguas no Dia de Pentecostes (At 2.4)”.

31 Atos 2.1-12 – Parte do texto do livro de Atos: V.1: “E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos

reunidos no mesmo lugar [...] V.4: E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.” Transcrição dos dois versículos da passagem paralela do profeta Joel, (Joel 2.28-29): “E há de ser que depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos mancebos terão visões. E também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito.”

(ordinária) necessária para assegurar sua própria reprodução ao reproduzir os produtores de bens de salvação e serviços religiosos, a saber o corpo de sacerdotes e o mercado oferecido a estes bens, a saber, os leigos (em oposição aos infiéis e aos heréticos) como consumidores dotados de um mínimo de competência religiosa (hábitus religioso) necessária para sentir a necessidade específica de seus produtos.

As primeiras dificuldades de todo novo líder carismático ou profeta constituem-se na identificação de um caminho que lhe garanta o sucesso junto às massas. Ele precisa acumular um capital só na sua atividade e sucesso. Inicialmente, as pessoas não estão interessadas no investimento num pregador desconhecido. É somente com a realização de atos milagrosos atribuídos a ele que a liderança carismática estabelece o próprio carisma.

1.2.1 – As dificuldades iniciais e a expansão da nova Igreja

David Miranda conseguiu captar certas características da cultura popular, o que facilitou a sua penetração no meio (popular), especialmente entre os mais necessitados, com seu conceito de religião que nasce na cultura (Durkheim: 1989: 38, 295, 509), ou numa interação entre cultura e religião (Tillich: 1959: 42). É nesse ambiente que a IPDA transita com grande desenvoltura, identificando as necessidades do povo e oferecendo a solução dos seus problemas, exigindo, porém, o cumprimento de votos e a realização de campanhas, copiando técnicas usadas pelo catolicismo, no cumprimento de promessas e as novenas dos católicos romanos. Tillich (1959: 42, 47) mostra com bastante clareza como a religião e a cultura se interagem:

Simplificando: religião é a substância da cultura, cultura é a forma de religião [...] Cada ato religioso, não apenas na religião organizada, mas também nos mais íntimos movimentos da alma é culturalmente formado. [...] “A forma da religião é a cultura. Isto é especialmente óbvio na linguagem da religião. Cada linguagem, incluindo a da Bíblia, é resultado de inumeráveis atos da criatividade cultural”.

A IPDA transitou por diversos endereços até que se fixasse numa sede própria, oito anos depois de sua fundação. Podemos nos aproximar sociologicamente da forma assumida pela IPDA por meio de afirmações feitas por Marcelo Ayres Camurça (2003: 258):

Quanto às novas expressões religiosas surgidas na alta modernidade, estas tomam a forma de comunidades carismáticas emocionais, e mantêm seus esquemas de sociabilidade sob um caráter eletivo (fraternité élective), dispensando a determinação de uma “linhagem de memória coletiva” que as identifique. Em suma, integram-se por meio de relações emocionais. Sua identidade, enquanto religião pós-tradicional, repousa prioritariamente em um espírito de comunidade que numa tradição. Todavia, há uma reapropriação dos eixos comunitário, emocional, ético e cultural desarticulados neste processo de subjetivação e desregulação da identidade religiosa. [...] A maneira como a religião se insere e se dissemina na sociedade contemporânea é marcada pelo crescente abandono de suas formas institucionalizadas

dominantes. A isto Hervieu-Léger chamou de desregulação institucional, que exprime o modo principal como se dá o mencionado processo de mudança da religião na atualidade: “as recomposições das identidades religiosas [...] se inscrevem sobre o duplo signo da proliferação e disseminação das crenças de uma parte e da desregulação institucional de outra parte.”

Uma das características do ser humano é procurar exemplos de pessoas bem sucedidas para tentar imitá-las, objetivando o mesmo sucesso. Não raro, nas artes cênicas, deparamos com artistas que procuram reproduzir fielmente os hábitos, trejeitos, feições, cabelos, vestimentas, enfim, todo o padrão de comportamento de seus “ídolos”, em busca de sucesso. David Miranda, segundo José Hélio Lima32, seguiu as mesmas trilhas de Manoel de Mello ao

decidir utilizar os espaços profanos para reunir grande massa humana. Lima esclarece que o primeiro local utilizado por Mello para concentrações foi o Teatro de Alumínio. DM alega que somente quando começou fazer suas concentrações em cinemas, teatros, clubes e praças é que conseguiu recursos para pagar muitos programas de rádio, e com isso partiu para outras aquisições, por exemplo, as duas casas de madeira da rua Conde de Sarzedas, onde se instalou em 1970, num salão de madeira.

1.2.2 – As marcas espaciais da expansão

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