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DO DELITO DE GESTÃO FRAUDULENTA DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

No documento Ministério Público Federal (páginas 51-59)

PAULO BARRETO, TARCÍSIO JOAQUIM e GERSON BRITO, no exercício dos cargos

de executivo do Departamento de Câmbio, Diretor de Câmbio e Diretor de Controladoria do BANCO PAULISTA, de modo consciente, voluntário e habitual, no período de 05/02/2007207 a 13/11/2015208, geriram fraudulentamente instituição financeira, mediante a celebração de 7 contratos fictícios para a prestação de serviços de consultoria e assessoria em operações bancárias com as empresas de fachada JR GRACO ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., CRYSTAL RESEARCH SERVICES PESQUISA MERCADOLÓGICA LTDA., MIG CONSULTORIA ECONÔMICA E FINANCEIRA LTDA., BBF ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., VVB ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., BILINSKI ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA. e LAFRANO ASSESSORIA E CONSULTORIA EMPRESARIAL LTDA.209, e o respectivo adimplemento, através de 434 transferências bancárias210, no valor total de R$ 52.265.190,23, de 439 notas fiscais falsas211, incorrendo, assim, na prática do delito de gestão fraudulenta de instituição financeira, previsto no artigo 4º, caput, da Lei nº 7.492/1986.

Consoante acima descrito, OLÍVIO RODRIGUES, FERNANDO MIGLIACCIO, LUIZ EDUARDO SOARES, LUIZ AUGUSTO FRANÇA, MARCO BILINSKI e VINÍCIUS BORIN recebiam comissões do Setor de Operações Estruturadas da ODEBRECHT em razão das operações de lavagem de capitais por eles realizadas com o objetivo de viabilizar o pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos e políticos em favor do grupo empresarial.

207 Data em que firmado o primeiro contrato fraudulento pelo BANCO PAULISTA, com a JR GRACO ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA. - ANEXO 54.

208 Data em que realizado o pagamento da última nota fiscal fraudulenta, emitida contra o BANCO PAULISTA pela JR GRACO ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA. - ANEXO 40.

209 ANEXOS 54, 59, 61, 63, 65, 67 e 69. 210 ANEXOS 40, 42, 45, 47, 49 e 39.

211 ANEXOS 55, 56, 57, 60, 62, 64, 66, 68 e 70.

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Esses valores eram depositados pela ODEBRECHT em contas-correntes mantidas por OLÍVIO RODRIGUES no exterior e, em seguida, distribuídos pelo operador financeiro das seguintes formas: (i) por meio de transferências a contas bancárias de titularidade de outras offshores; (ii) em espécie, por intermédio dos doleiros conhecidos como “JUCA” e “DRAGÃO”; ou ainda (iii) emitindo notas fiscais falsas contra o BANCO PAULISTA.

Nas hipóteses em que FERNANDO MIGLIACCIO, LUIZ EDUARDO SOARES, LUIZ AUGUSTO FRANÇA, MARCO BILINSKI e VINÍCIUS BORIN, além do próprio OLÍVIO RODRIGUES, optavam por receber os valores por intermédio do BANCO PAULISTA, a quantia era entregue em espécie pelo operador financeiro ou, a seu pedido, por VINÍCIUS CLARET a PAULO BARRETO e, em contrapartida, os beneficiários, por meio de suas empresas de fachada JR GRACO ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., CRYSTAL RESEARCH SERVICES PESQUISA MERCADOLÓGICA LTDA., MIG CONSULTORIA ECONÔMICA E FINANCEIRA LTDA., BBF ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., VVB ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., BILINSKI ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA. e LAFRANO ASSESSORIA E CONSULTORIA EMPRESARIAL LTDA., emitiam notas fiscais contra a instituição financeira, que, ato contínuo, as adimplia.

Visando a atribuir aparente legalidade aos pagamentos, o BANCO PAULISTA celebrou contratos fraudulentos de prestação de serviços de “assessoria e consultoria financeira e jurídica em

operações de comércio exterior e operações cambiais” com as empresas JR GRACO ASSESSORIA E

CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., CRYSTAL RESEARCH SERVICES PESQUISA MERCADOLÓGICA LTDA. e MIG CONSULTORIA ECONÔMICA E FINANCEIRA LTDA.212, e de “assessoria, planejamento e acompanhamento de operações de importação e exportação de mercadorias e serviços e demais operações de comércio exterior” com as empresas BBF ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA

LTDA., VVB ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., BILINSKI ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA. e LAFRANO ASSESSORIA E CONSULTORIA EMPRESARIAL LTDA.213

Nesta seara, impende destacar que referidos contratos não dizem respeito a uma mera prestação de serviços administrativos, sem qualquer vinculação com a atividade-fim do BANCO PAULISTA, mas sim a supostos serviços de consultoria e assessoria vinculados a operações de câmbio e/ou comércio exterior, típicas da atuação de instituições financeiras. Tais operações, na realidade, nunca existiram, muito embora OLÍVIO RODRIGUES, FERNANDO MIGLIACCIO, LUIZ EDUARDO SOARES, LUIZ AUGUSTO FRANÇA, MARCO BILINSKI e VINÍCIUS BORIN tenham efetivamente recebido valores do BANCO PAULISTA justificados pelos contratos em comento.

Corrobora essa conclusão a resposta apresentada pelo BANCO PAULISTA à Receita Federal do Brasil, no âmbito do Processo Administrativo Fiscal Digital nº 16327-721.025/2018-35. Conforme destacado pela autoridade fazendária em sede de Termo de Verificação Fiscal214-215-216, a instituição financeira alegou que as contratações das empresas JR GRACO ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., CRYSTAL RESEARCH SERVICES PESQUISA MERCADOLÓGICA LTDA., MIG CONSULTORIA ECONÔMICA E FINANCEIRA LTDA., VVB ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., BILINSKI ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA. e LAFRANO

212 ANEXOS 54, 59 e 61. 213 ANEXOS 63, 65, 67, 69. 214 ANEXO 116.

215 Encaminhado ao Ministério Público Federal por meio do Ofício nº 32/2019-RFB/Cofis – ANEXO 58.

216 A íntegra da documentação encaminhada pelo Ofício nº 32/2019-RFB/Cofis foi remetida, via ofício, para a Secretaria da 13ª Vara Federal de Curitiba/PR – ANEXO 17.

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ASSESSORIA E CONSULTORIA EMPRESARIAL LTDA. relacionavam-se ao negócio denominado “Importação de Reais”, em que os sócios das empresas contratadas realizariam a apresentação inicial do produto e dos clientes, bancos no exterior, sendo remunerados com percentual das operações daquele negócio. A Receita Federal do Brasil, no entanto, concluiu que os serviços, embora remunerados, não foram efetivamente prestados.

Some-se a isso o fato de que os instrumentos contratuais não traziam prazo pré- definido para o desenvolvimento de seu objeto contratual, havendo uma renovação da avença espúria e, consequentemente, um novo ato de gestão fraudulenta, a cada novo pagamento realizado nas contas-correntes das empresas JR GRACO ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., CRYSTAL RESEARCH SERVICES PESQUISA MERCADOLÓGICA LTDA., MIG CONSULTORIA ECONÔMICA E FINANCEIRA LTDA., BBF ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., VVB ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., BILINSKI ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA. e LAFRANO ASSESSORIA E CONSULTORIA EMPRESARIAL LTDA.

Observe-se que as transferências bancárias em comento foram declaradas nos demonstrativos do BANCO PAULISTA, ao menos entre os anos de 2007 e 2015217, como despesas da instituição financeira. Nesse sentido, a Receita Federal do Brasil, através de Representação Fiscal para Fins Penais relacionada ao BANCO PAULISTA S.A.218, indicou que, em fiscalização conduzida com o objetivo de analisar a correição das despesas de prestação de serviços incorridas e deduzidas pela instituição financeira nos anos-calendário de 2013, 2014 e 2015, não foram comprovadas as efetivas prestações de serviços pelas empresas de fachada supramencionadas, de modo que deveriam compor as bases tributáveis do IRPJ e da CSLL.

Nessa toada, ao declarar despesas que não eram verdadeiras, os demonstrativos do BANCO PAULISTA, ao menos entre os anos de 2007 e 2015, foram alterados e, consequentemente, a liquidez e a capacidade operacional da instituição financeira foram manipuladas, em evidente lesão ao Sistema Financeiro Nacional.

Em adição, a celebração dos contratos fraudulentos visando a atribuir aparente justificativa lícita aos pagamentos efetuados em favor de OLÍVIO RODRIGUES, LUIZ EDUARDO SOARES, FERNANDO MIGLIACCIO, LUIZ AUGUSTO FRANÇA, MARCO BILINSKI e VINÍCIUS BORIN tinha por objetivo fraudar os sistemas de fiscalização do Banco Central do Brasil.

Assim, no âmbito da fiscalização realizada por aquela autarquia no BANCO PAULISTA, objetivando analisar os pagamentos efetuados em favor das empresas JR GRACO ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., CRYSTAL RESEARCH SERVICES PESQUISA MERCADOLÓGICA LTDA., MIG CONSULTORIA ECONÔMICA E FINANCEIRA LTDA., BBF ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., VVB ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., BILINSKI ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA. e LAFRANO ASSESSORIA E CONSULTORIA EMPRESARIAL LTDA., representantes da instituição financeira utilizaram-se dos contratos fraudulentos firmados com referidas pessoas jurídicas para justificar os pagamentos realizados em seu favor. No entanto, concluiu o Banco Central pela existência de diversas irregularidades em referidas contratações,

217 Anos em que realizados os pagamentos às empresas de fachada objeto da denúncia – ANEXOS 39, 40, 42, 45, 47 e 49.

218 Encaminhada ao Ministério Público Federal por meio do Ofício nº 32/2019-RFB/Cofis – ANEXOS 58 e 117.

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havendo indícios de que os contratos de prestação de serviços “eram fictícios (fraudulentos), servindo

como fachada para justificar as transferências eletrônicas de valores às empresas ‘contratadas’”219-220. No bojo da Nota Jurídica 2915/2017-BCB/PGBC221, a Procuradoria do Banco Central do Brasil destacou que os contratos em comento “se mostram aptos a simular e encobrir condutas

deliberadas de direcionamento de recursos da instituição financeira em benefício de terceiros, que no caso, seria um grupo de empresas que atuavam com o ‘propósito específico’ de prestar serviços intitulados genericamente de ‘assessoria e consultoria financeira e jurídica em operações de comércio exterior’”, evidenciando, assim, o caráter fraudulento dos atos de gestão praticados por PAULO

BARRETO, TARCÍSIO JOAQUIM e GERSON BRITO.

No mesmo sentido, a conclusão de que os contratos foram elaborados para fraudar os sistemas de fiscalização do Banco Central do Brasil resta corroborada pelas declarações de OLÍVIO RODRIGUES, segundo o qual, após o envolvimento do Grupo ODEBRECHT na Operação Lava Jato,

PAULO BARRETO e TARCÍSIO JOAQUIM solicitaram a elaboração de novos contratos fictícios entre

as empresas de fachada e o BANCO PAULISTA, objetivando atribuir maior aparência lícita aos pagamentos222.

As declarações do colaborador são corroboradas por mensagens localizadas nas caixas de e-mail de TARCÍSIO JOAQUIM e PAULO BARRETO223, acerca da celebração de contratos entre o BANCO PAULISTA e JR GRACO ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA.224, VVB ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., BILINSKI ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA. e LAFRANO ASSESSORIA E CONSULTORIA EMPRESARIAL LTDA.225, datados de meados de 2015.

A minuta do novo instrumento firmado pela instituição financeira com a empresa de OLÍVIO RODRIGUES, datada de 05/02/2007, indicando PAULO BARRETO como testemunha, foi localizada no Sistema Drousys, em mensagem de e-mail de 30/06/2015, trocadas por MARCELO RODRIGUES (MONTANA) e OLÍVIO RODRIGUES (MAVERICK226)227. De outro canto, o modelo de minuta contratual remetido pelo BANCO PAULISTA também foi localizado no Sistema Drousys, em mensagem de 29/06/2015, trocada entre funcionária do MEINL BANK e VINÍCIUS BORIN (MUSTANG228)229.

No que tange à autoria dos executivos do BANCO PAULISTA, impende mencionar, inicialmente, que PAULO BARRETO, embora declarasse perante a CVM e a ANCORD que atuava como Agente Autônomo de Investimento, manteve vínculo com a instituição financeira, utilizando-

219 Nota Jurídica 2915/2017-CBC/PGBC – ANEXO 73.

220 Cópia da documentação foi remetida à 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba pelo Banco Central do Brasil, por meio do Ofício nº 001606/2018-BCB/Aspar/GATPC/Diadi/Coadi-05, juntado ao evento 35 dos autos nº 5035586-20.2017.4.04.7000.

221 Nota Jurídica 2915/2017-CBC/PGBC – ANEXO 73. 222 ANEXO 26.

223 O afastamento do sigilo telemático dos endereços de e-mail <tarcisio@bancopaulista.com.br> e <pcesar@bancopaulista.com.br> foi decretado por esse Juízo em sede dos autos nº 5015662-52.2019.4.04.7000.

224 ANEXOS 83 e 102. 225 ANEXOS 83 e 104.

226 Os codinomes foram esclarecidos por VINÍCIUS BORIN em seu Termo de Colaboração nº 1 – ANEXO 13. 227 ANEXOS 94 e 103.

228 O codinome foi esclarecido por VINÍCIUS BORIN em seu Termo de Colaboração nº 1 – ANEXO 13. 229 ANEXOS 94 e 105.

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se, inclusive, de e-mail funcional do BANCO PAULISTA, em que assinava como executivo do Departamento de Câmbio, conforme revela a mensagem abaixo230:

Consoante discorrido no capítulo anterior, PAULO BARRETO foi um dos principais executivos do BANCO PAULISTA com quem o operador financeiro OLÍVIO RODRIGUES e os então executivos da ODEBRECHT e do MEILN BANK mantinham contato para viabilizar a lavagem de seus recursos espúrios, mediante a celebração dos anteriormente citados contratos fictícios e a consequente emissão de notas fiscais falsas. A atuação de PAULO BARRETO foi, portanto, essencial para que os instrumentos fossem firmados e os pagamentos realizados.

Nesse sentido, colocam-se os depoimentos prestados por OLÍVIO RODRIGUES231, em que indicou PAULO BARRETO como seu contato no BANCO PAULISTA, responsável por receber os recursos em espécie destinados à instituição financeira e por indicar a forma de pagamento dos montantes a ele destinados a título de comissão. FERNANDO MIGLIACCIO232, por sua vez, informou que conheceu PAULO BARRETO em um almoço, oportunidade em que o executivo lhe confirmou a possibilidade de fornecer o dinheiro “esquentado” mediante a emissão de notas fiscais fraudulentas, sendo, a partir de então, o responsável por receber as notas fiscais emitidas pela empresa MIG CONSULTORIA ECONÔMICA E FINANCEIRA LTDA.

Os depoimentos são corroborados pelo resultado do afastamento de sigilo telemático de endereço funcional de PAULO BARRETO233, que revelou a existência de diversas mensagens de e- mail através das quais o executivo recebeu as notas fiscais falsas emitidas pelas empresas MIG CONSULTORIA ECONÔMICA E FINANCEIRA LTDA.234, VVB ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., BILINSKI ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA. e LAFRANO ASSESSORIA E

230 ANEXOS 83 e 90.

231 ANEXOS 26, 34, 17, 38 e 53. 232 ANEXO 25.

233 Decretado por esse Juízo em sede dos autos nº 5015662-52.2019.4.04.7000. 234 ANEXOS 83 e 84.

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CONSULTORIA EMPRESARIAL LTDA235., além da JR GRACO ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA.236. Verificou-se, ademais, que em várias oportunidades PAULO BARRETO não apenas recebeu a documentação, como a encaminhou ao setor responsável e confirmou para FERNANDO MIGLIACCIO a data para a qual o respectivo pagamento fora agendado237.

Na caixa de e-mails de PAULO BARRETO foram localizadas, ademais, mensagens, datadas de 2015, relacionadas à celebração de contratos de prestação de serviços entre o BANCO PAULISTA e as empresas VVB ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA, LAFRANO ASSESSORIA E CONSULTORIA EMPRESARIAL LTDA. e BILINSKI ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA.238 e JR GRACO ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA.239, conforme acima indicado.

O contato do acusado foi, ademais, localizado no aparelho celular de FERNANDO MIGLIACCIO240, sendo que o mesmo número de telefone foi identificado no resultado do afastamento de sigilo telefônico do ex-executivo da ODEBRECHT, evidenciando a ocorrência de contatos com PAULO BARRETO por ao menos por 28 oportunidades, entre 30/08/2012 e 26/11/2014. O então executivo do BANCO PAULISTA ainda manteve contato, em 18/09/2014, com terminal da JR GRACO ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA. e, na data de 22/12/2014, com LUIZ EDUARDO SOARES, por duas oportunidades241.

Além disso, o envolvimento de PAULO BARRETO no esquema ilícito restou evidenciado por registros da agenda do acusado, em que constam reuniões mantidas com o ex- executivo da ODEBRECHT, em 16/06/2014242, e com OLÍVIO RODRIGUES, em 22/06/2015243-244, assim como por diversas mensagens localizadas no Sistema Drousys relacionadas ao esquema ilícito envolvendo o BANCO PAULISTA245-246-247. PAULO BARRETO ainda assinou, na qualidade de testemunha, instrumento contratual firmado entre o BANCO PAULISTA e a JR GRACO ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., localizado pela autoridade policial no material apreendido na sede da empresa de OLÍVIO RODRIGUES248.

No que respeita à atuação ilícita de TARCÍSIO JOAQUIM e GERSON BRITO, observe- se inicialmente que os denunciados, quando de seus depoimentos perante a autoridade policial, confirmaram que, à época dos ilícitos, já ocupavam cargos de direção na instituição financeira. Nesse sentido, TARCÍSIO JOAQUIM declarou que comandava a Diretoria de Câmbio do BANCO

235 ANEXOS 83 e 85. 236 ANEXOS 83 e 86. 237 ANEXOS 83 e 84. 238 ANEXOS 83 e 104. 239 ANEXOS 83 e 102.

240 Trecho da Informação n° 179/2017–DELECOR/DRCOR/SR/PF/PR (p. 95), juntada aos autos nº 5035373- 14.2017.4.04.7000/PR (IPL 0919/2017-4-SR/PF/PR), evento 6, OUT2 – ANEXO 88.

241 Contatos telefônicos entre FERNANDO MIGLIACCIO, LUIZ EDUARDO SOARES e JR GRACO ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA. e PAULO BARRETO – ANEXO 47F.

242 ANEXOS 83 e 99. 243 ANEXOS 83 e 106.

244 O material foi localizado no afastamento do sigilo telemático do Google Drive de PAULO BARRETO, decretado por esse Juízo em sede dos autos nº 5015662-52.2019.4.04.7000.

245 ANEXO 93.

246 ANEXOS 94, 95, 96, 97 e 98.

247 Nesse sentido, observe-se a análise elaborada no capítulo anterior.

248 ANEXO 88 – Informação n° 179/2017-DELECOR/DRCOR/SR/PF/PR (p. 61 de 95), juntada aos autos nº 5035373- 14.2017.4.04.7000/PR (IPL 0919/2017-4-SR/PF/PR), evento 6, OUT2.

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PAULISTA há 17 anos, setor a que estão vinculadas as áreas de remittance, divisão comercial para atendimento de empresas de importação e exportação, câmbio financeiro e comércio de papel- moeda estrangeiro249, enquanto GERSON BRITO confirmou que ocupava a Diretoria de Controladoria do BANCO PAULISTA e da Corretora SOCOPA desde o ano de 2000, sendo responsável por chefiar as áreas de recursos humanos, contabilidade, liquidação financeira e

compliance250.

As informações são corroboradas por dados disponíveis no portal do BANCO PAULISTA relacionados à estrutura funcional do banco251, em que, até a data de suas prisões, em 08/05/2019, TARCÍSIO JOAQUIM era indicado como titular da DIRETORIA DE OPERAÇÕES

INTERNACIONAIS, à qual estão vinculados os departamentos: Câmbio Turismo e Banknotes; Mesa

Comercial de Câmbio; Mesa Operacional de Câmbio e Reserva Metais, enquanto GERSON BRITO era indicado como titular da DIRETORIA GERAL DE CONTROLADORIA, à qual estão vinculados os departamentos: Compliance; Controladoria; Ouvidoria; Processamento e Liquidação; e Recursos Humanos.

Ambos os executivos assinaram todos os contratos celebrados entre o BANCO PAULISTA e as empresas CRYSTAL RESEARCH SERVICES PESQUISA MERCADOLÓGICA LTDA., JR GRACO ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., MIG CONSULTORIA ECONÔMICA E FINANCEIRA LTDA., BBF ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., VVB ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., BILINSKI ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA. e LAFRANO ASSESSORIA E CONSULTORIA EMPRESARIAL LTDA.252, no decorrer de mais de quatro anos253.

Nesse contexto, pode-se concluir que TARCÍSIO JOAQUIM e GERSON BRITO, na condição, respectivamente, de Diretor de Câmbio e Diretor de Controladoria do BANCO PAULISTA, assinaram os contratos supramencionados sem a adoção de providências mínimas de controle, como pesquisa completa de KYC, justamente porque tinham consciência do fim espúrio a que os instrumentos contratuais se destinavam.

Some-se a isso o fato de que TARCÍSIO JOAQUIM foi referido por OLÍVIO RODRIGUES254 como o responsável por autorizar os pagamentos em favor das empresas de fachada, tendo, ainda, sido indicado como participante do almoço em que PAULO BARRETO confirmou a FERNANDO MIGLIACCIO a possibilidade de lhe fornecer valores “esquentados” por meio da emissão de notas fiscais contra o BANCO PAULISTA255-256. A própria instituição financeira, em

249 ANEXO 107. 250 ANEXO 110.

251 ANEXO 109 – Estrutura Funcional Banco Paulista

<https://www.bancopaulista.com.br/Imagens/Estrutura_Funcional_Banco_Paulista_Completa_Web-01.jpg> 252 ANEXO 54, 59, 61, 63, 65, 67 e 69.

253 Observe-se que o primeiro contrato a ser celebrado foi o da JR GRACO ASSESSORIA E CONSULTORIA FINANCEIRA LTDA., em 05/02/2007, enquanto o último foi o da LAFRANO ASSESSORIA E CONSULTORIA EMPRESARIAL LTDA., em 01/12/2011.

254 ANEXO 53 – Termo de Declarações de 18 de agosto de 2017 (IPL nº 5035373-14.2017.4.04.7000) - OLÍVIO RODRIGUES.

255 ANEXO 25 – Termo de Declarações de 18 de agosto de 2017 (IPL nº 5035373-14.2017.4.04.7000) – FERNANDO MIGLIACCIO.

256 ANEXO 38 – Termo de Autodeclaração de OLÍVIO RODRIGUES, de 5 de fevereiro de 2019.

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resposta a requisições de informação do Banco Central do Brasil257, afirmou que as aprovações para os pagamentos às empresas supramencionadas eram concedidas pela Diretoria de Câmbio – ocupada por TARCÍSIO JOAQUIM – mediante apresentação pela mesa operacional – na qual

PAULO BARRETO atuava – dos demonstrativos contendo os montantes em reais importados no

período relacionado a tais solicitações de pagamentos.

O ex-Diretor de Câmbio do BANCO PAULISTA, ademais, participou de conversas de e-mail relacionadas às contratações das empresas de OLÍVIO RODRIGUES, LUIZ EDUARDO SOARES, FERNANDO MIGLIACCIO, LUIZ AUGUSTO FRANÇA, MARCO BILINSKI e VINÍCIUS BORIN258.

TARCÍSIO JOAQUIM e GERSON BRITO também assinaram as respostas da

instituição financeira encaminhadas ao Banco Central do Brasil259-260 no âmbito do procedimento de fiscalização conduzido pela autarquia, em que o BANCO PAULISTA prestou informações falsas no sentido de que os pagamentos em benefício de OLÍVIO RODRIGUES, FERNANDO MIGLIACCIO, LUIZ EDUARDO SOARES, LUIZ AUGUSTO FRANÇA, MARCO BILINSKI e VINÍCIUS BORIN correspondiam a remuneração pela apresentação e estruturação de produto denominado “Importação de Moeda Nacional”, além de comissões sobre valores importados (“success fee”),

No documento Ministério Público Federal (páginas 51-59)

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