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4.1 – Do Eu: Constrangimentos Preocupações

No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 77-81)

Muitos eram os olhares sobre mim, muita coisa eu queria transparecer, muito eu queria mostrar. Sentia-me preso, o que eu queria era libertar-me, mas era difícil. Foi assim, numa fase inicial do meu desenvolvimento, porque nem sempre o Sol brilha lá no alto, que de uma forma atormentada as minhas aulas encetaram. Este foi o momento em que senti mais dificuldade, mais aperto e arduidade, não no relacionamento com os alunos, não na operacionalização e planeamento, mas sim na fruição e no desfrutar daqueles, tão preciosos e sumptuosos noventa minutos de aula. Aquele tinha de ser o “momento”, o brotar, o momento de renovar horizontes, de ver os meus alunos a florescer nas situações de aprendizagem, naquilo que eu tinha idealizado para eles. Talvez estivesse a depositar em mim, numa fase inicial, demasiadas expectativas, talvez estivesse a exigir de mais, mas eu sabia que não estava ali, como deveria de ser! A Ser-Professor, na totalidade da palavra.

Os excertos de reflexões das primeiras aulas de setembro expressam claramente as dificuldades sentidas e percebidas:

“Os objetivos da aula foram atingidos contudo não consegui a fluidez que pretendia, sobretudo na apresentação em Powerpoint. Apesar de ter conseguido utilizar exemplos e uma linguagem simples de forma a poder ser compreendido por todos, não consegui ter o discurso continuo que pretendia, tornando-se por vezes demasiado pausado e com interrupções.

Relativamente à dinâmica de grupo realizada, consegui atingir o pretendido, tendo existido um número elevado de interações entre os alunos e incutido cooperação e respeito pela diferença. Contudo, a minha instrução foi por vezes um pouco individualizada tendo focado mais a minha atenção nos alunos com maior dificuldade, negligenciando de certa forma os restantes. Este aspeto em congruência com a disposição da sala levou a que um grupo de

alunas se descentralizasse da tarefa, sendo este um aspeto que futuramente deverei ter em atenção. Os alunos mostraram-se motivados para este tipo de atividades, o que poderá ser um indicador positivo para aulas futuras.” (Aula 1)

“Devo melhorar sobretudo ao nível da gestão de tempo, do planeamento fundamentado e não estar demasiado centrado no

que vou fazer mas, no que está acontecer e ajustar-me, adaptar- me e decidir em função de tal. (...)Concluindo, continuo a adaptar-

me ao contexto e só agora vou percebendo o funcionamento estrutural das aulas, começo a perceber rotinas relativas ao material a utilizar e á função de professor que não se restringe só à realização da aula.” (Aula 2)

“Relativamente ao posicionamento devo ultrapassar os constrangimentos sentidos que derivaram de uma preocupação constante em colocar-me da forma correta. Devo optar por uma observação geral e quando necessitar de uma intervenção mais grupal ou individual se possível realizá-la sem perder a noção geral da turma. Por vezes, em situações pontuais, como por exemplo a realizar o exercício com os alunos, conseguir observar a turma é mais difícil mas após o realizar essa deverá ser a minha preocupação.

(...)Os constrangimentos iniciais e o “prender-me” a uma preocupação, como o evidenciado na aula – o posicionamento – dificultam a minha ação pedagógica durante a mesma, pelo que a minha evolução deverá surgir nesse sentido.” (Aula 4)

Mas foi longa a viagem. Como diz o poeta:

E fala aos constelados céus De trás das mágoas e das grades Talvez com sonhos como os meus ... Talvez, meu Deus!, com que verdades!

As grades de uma cela estreita Separam-no de céu e terra...

Às grades mãos humanas deita E com voz não humana berra...

(Fernando Pessoa,1974)

Revelando desassossego no espírito e na postura, com que enfrento a vida, travando com sagacidade e ousadia uma dura batalha pelos seus sonhos. Assim, eu também me sentia. E nesta longa viagem foram desaparecendo os constrangimentos, foram aparecendo desafios e preocupações, pois a nossa formação é contínua.

Desafios e preocupações que foram surgindo consoante o contexto, a unidade didática, o modelo de ensino, ou a metodologia de intervenção. Atendamos aos seguintes excertos:

“No Projeto de Formação Individual referi que “irei sentir dificuldades em me abstrair do processo de treino, de alguns hábitos que se constituem na ação, e ajustar-me ao contexto Desporto–Escola onde se enquadra o Desporto no desenvolvimento humano como mediador para uma prática desportiva regulamentada, educativa e controlada, tendo como propósito principal a APRENDIZAGEM dos alunos. Existem diferenças significativas em ambos os processos de aprendizagem, como, um conjunto de funções distintas entre o treinador e o professor.”, Perante isto, deparo-me na modalidade de futebol com uma dificuldade na operacionalização do conteúdo, no sentido de potenciar as capacidades dos alunos. O fosso entre as duas realidades é, sem dúvida, grande, logo a minha ação deve partir sempre dos alunos.” (Aula 35, 8 de fevereiro de 2011)

“A perceção do eu é fundamental para a busca e construção da competência profissional, como tal a consciência da ação torna-se necessária pois, “olhamos para a consciência como coisa garantida porque é tão disponível, por ser tão simples de usar, tão elegante nos seus aparecimentos e desaparecimentos diários” (Damásio, 2010, p. 21). A plasticidade de adequação e reajustamento da minha ação, está em crescimento, pelo que esta adequação no «AQUI E NO AGORA», no processual, foi uma experiência muito importante

para a construção da minha competência profissional” (Aula 36, 11 de fevereiro de 2011)

“Neste contexto e concomitantemente com o preconizado na Unidade Didática - uma educação para sensibilidade dos alunos, isto é, para a ESTÉTICA - a minha intervenção, instrução, feedback procurou potenciar e desabrochar nos alunos esta preocupação.” (Aula 40,25 de fevereiro de 2011)

“No que refere à minha ação, penso que esta deve manter-se ativa. Relativamente ao grupo que apresenta, avaliando-os, questionando- os e aos alunos participantes incentivando-os, corrigindo-os, intervindo e talvez porque não realizar as práticas propostas (?). Penso que, ver o professor a realizar a atividade, é de certa forma motivador e demonstra o que eles esperam de nós, Sem demagogias – pessoas ativas!”

(Aula 57, 17 de fevereiro de 2011)

Tal como eu, os desafios e as preocupações foram-se alterando, mas o seu objetivo era comum. Proporcionar aprendizagem aos meus alunos. É esta a maior e mais arnaz finalidade do professor, tornar cada vez mais possível a aprendizagem, partindo do aluno, ou dele próprio. É a nossa responsabilidade.

A partir do momento que reconhecemos com pertinência, preocupação e desassossego as nossas dificuldades, torna-se perene na nossa mente ultrapassá-las. Na verdade é impossível permanecer inativo. Por conseguinte, sempre que me dirigia para uma aula, para a escola, parecia ouvir o chilrear e o desabrochar num pleno de serenidade abrangente, sabia que ia disfrutar de todos os momentos, sabia que ia abarcar comigo os meus alunos, que juntos íamos tornar aqueles noventa minutos num pedaço de Vida.

No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 77-81)