Do exercício de atividade anterior a de comerciante de moda-vestuário

comércio e atendimento ao público, como balconista, operadora de caixa, secretária em firmas de comércio e serviços de restaurantes, lojas de tecidos e autopeças.

Seguem-se seis respondentes que exerceram atividades relacionadas à prestação de serviços, geralmente como serviços gerais. Outras cinco respondentes realizaram atividade relacionada ao segmento de moda, como montagem de eventos e costura de roupas.

Apenas duas respondentes disseram ter trabalhado como funcionárias em indústria no chão de fábrica (uma em indústria de tecidos e uma outra em indústria de frios). Outras duas informaram ter trabalhado como doméstica em casa de família. Uma disse ter atuado como doméstica, mas sempre exercer atividade relacionada a vendas, como vendas de bijuterias e lanches. E apenas uma disse nunca ter exercido outra atividade. Ver Tabela 16, a seguir:

Tabela 16 – Distribuição de Frequência Amostral Sobre Atividade Anterior à Atividade de Comerciante Experiências com outras atividades

anteriores à de comerciante

Quantidade de Comerciantes

Comerciantes que exerceram outras atividades anteriormente em %

Atendimento ao público 13 43,0

Atividade prestação de serviços 6 20,0

Atividade relacionada com o

segmento de moda 5 17,0

Atividade de chão de fábrica 2 7,0

Atividade de serviços domésticos 2 7,0

Atividades relacionadas a vendas

(autônoma) 1 3,0

Não exerceu atividade anterior 1 3,0

Total N=30 100,0

Fonte: Elaborado pela autora.

Vale ressaltar que a trajetória ocupacional pode ter inferências41 _{na atual} atividade de comercialização, haja visto que as atividades que têm características de prestação de serviços [atendimento ao público (43%), prestação de serviços (20%) e segmento de moda (17%)] representam 80% dos resultados das experiências com outras atividades das respondentes.

Recordam-se aqui implicações referentes à origem social das respondentes. Por suas condições sociais estruturantes é pouco provável que haja mobilidade de classe pelo exercício da atividade desenvolvida.

Observou-se ainda que algumas das comerciantes em sua trajetória ocupacional deixaram de exercer atividades de atendimento ao público sob o regime de CLT, e passaram a desempenhar funções semelhantes às da atividade anterior, como profissionais autônomas no segmento de moda-vestuário, lidando ao mesmo tempo com responsabilidades múltiplas.

Neste cenário é provável que ocorra uma mobilidade horizontal, na qual a comerciante, tal como uma empresa, assume os riscos da atividade tais como compra dos produtos, transporte, armazenagem, divulgação, venda, recebimento, pagamentos, mas sem a mesma estrutura empresarial, não havendo, portanto, uma mobilidade social. A qual “constitui um processo comunicacional complexo,

41 _{Aqui se toma esta palavra, no sentido de que as experiências anteriores auxiliem nas induções dos}

aspectos referentes a lidar com o público, nas negociações, comercialização das mercadorias. O que é diferente de influência que já é algo um pouco mais distante. Exemplo: teve influência da mãe que também é/foi comerciante.

irredutível a uma ‘etiquetagem’ autoritária de identidades predefinidas na base das trajetórias individuais” (DUBAR, 1997, p. 86).

Em relação às experiências com as atividades anteriores, algumas respondentes (7) identificaram que estas contribuíram para o exercício da atividade atual, no atendimento ao público e na relação pessoa a pessoa:

[E1]: “Achava melhor, pouca gente vendia. Tratar bem os clientes. Conversar um pouco e depois oferecer o produto”.

[E2]: “Sim. As vendas. Tem que oferecer o produto. Sou desenrolada para vender”.

[E4]: “Bastante. Uma delas como atendente. Mais fácil trabalhar diretamente com o público”.

[E5]: “De lidar com as pessoas. Com os pais, com as crianças, ter paciência, ter que conquistar...”.

[E10]: “A cliente do serviço de manicure. A cliente vinha e se agradava [das peças de roupa]”.

[E14]: “Aprendi com eles [antigos patrões]. E atendimento ao cliente. Com a experiência da minha sogra [falecida]”.

[E15]: “Experiência com cliente, saber atender, acho que foi a base”.

De igual maneira para outras respondentes (4) a atividade anterior teria contribuído também para o próprio exercício do ato de comercialização (compra, divulgação/exposição e venda das mercadorias):

[E22]: “Com outras pessoas, na cidade mesmo”. [Esta comerciante reside na cidade de Caruaru. Cidade que faz parte do Polo de Confecções do Agreste Pernambucano]

[E23]: “Com certeza. Atendimento direto com o cliente”.

[E25]: “Muito. É uma escola, né? A gente não é recompensado, mas dava o melhor”.

[E27]: “Coloquei acessórios” [bijouterias, cintos para comercialização]

Foi apontada igualmente, como contribuição da experiência anteriormente adquirida, ter possibilitado a prestação de serviços de atendimento ao cliente de forma agregada às vendas (por exemplo, fazer pequenos ajustes nas peças de roupas escolhidas pelos clientes e dar dicas de moda) (3); o atendimento ao cliente e qualidade do produto (2); bem como a aprendizagem de administração do negócio (1):

[E20]: “Experiência em saber administrar o dinheiro, comprar, vender, caixa”.

As respondentes afirmaram também terem as experiências anteriores proporcionado uma melhor capacidade no atendimento ao cliente (1), na facilidade de conseguir fechar vendas (1), e de não deixar o cliente sair sem realizar a compra. Outras nove respondentes disseram não identificarem experiências anteriores que contribuam para com o exercício da atividade atual, como comerciantes de moda- vestuário, enquanto que outras duas realizaram atividades relacionadas aos cuidados do lar para outras famílias e, portanto, também não identificaram contribuições das atividades anteriores com a atividade atual, conforme representado na Tabela 17, a seguir:

Tabela 17 – Distribuição da Frequência Amostral Contribuição das Atividades Anteriores Contribuições das atividades anteriores Quantidade de

Comerciantes

Comerciantes com contribuições das atividades

anteriores em %

Não houve contribuição 9 30,0

Atendimento pessoa a pessoa 7 23,0

O exercício de comercialização 4 13,0

Prestação de serviços de atendimento 3 10,0

Atendimento ao cliente e qualidade do produto 2 7,0

Atividades relacionadas aos cuidados do lar 2 7,0

Aprendizagem de administração do negócio 1 3,3

Atendimento ao cliente 1 3,3

Fechamento de vendas 1 3,3

Total N=30 100,0

Fonte: Elaborado pela autora.

Observou-se que as atividades de ocupação exercidas anteriormente pelas comerciantes de moda-vestuário que tinham alguma relação/similaridade com a atual ocupação de comerciantes de moda-vestuário representou 62% das respostas das entrevistadas, conforme resultado apresentado na Tabela 17.1 (“Extrato das atividades próximas de comercialização de moda-vestuário”):

Tabela 17.1 Extrato de Frequência Amostral das atividades próximas de comercialização de moda-vestuário.

Atvidades próximas de comercialização Acumulado de atividades próximas de comercialização em %

Atendimento pessoa a pessoa

62% O exercício de comercialização

Prestação de serviços de atendimento

Atendimento ao cliente e qualidade do produto Aprendizagem de administração do negócio Atendimento ao cliente

Fechamento de vendas Fonte: Elaborado pela autora

Tais resultados remeteram a análise à questão da aprendizagem experiencial, assim expressa por Dubar:

No início encontra-se a imersão num processo de aprendizagem pela prática, com os outros, pelo e sobre o "terreno", isto é, um contexto específico de ação [...] Um conhecimento prático e incorporado que é apenas uma "teoria em ato", um conjunto de saberes vindo da experiência e que não se sabe que se sabe (DUBAR, 2009, p.212).

Isto significa que mesmo as atividades que de imediato não sejam identificadas pela comerciante como tendo contribuído diretamente para com a atividade atual, mesmo essas atividades podem também ter um papel nessa contribuição, ainda que pela rede de contatos estabelecida pela comerciante.

4.3. Processo de aprendizagem e memória do exercício da