• Nenhum resultado encontrado

Do “focus group” ao inquérito por questionário

PARTE III: DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

7.1. Do “focus group” ao inquérito por questionário

Tal como já referido, foi de uma forma muito simples e natural que se realizou o “focus

group”, baseando-nos na referência de Bogdan e Biklen “os investigadores qualitativos

tentam interagir com os seus sujeitos de forma natural, não intrusiva e não ameaçadora.” (1994:68).

Através da “conversa” tida com os alunos, fomo-nos apercebendo daquilo que seria importante entender da parte dos professores, através do inquérito por questionário. Na primeira questão formulada aos alunos “vocês sentem que os professores são vossos amigos?” os alunos responderam “em coro e sorridentes que sim”, conforme anotou a observadora, acrescentando um dos alunos “isso é óbvio” (Aluno nº 12/ FG/ página 135).

Surge-nos assim a primeira questão e que nos parece muito importante: “e como percecionaram os professores essas atitudes e de que modo as retribuem?”

Os alunos consideram que os professores são amigos porque exigem o melhor para eles, exigem “n” coisas (Aluno nº 1/ FG/ página 136), recebem dos professores a ajuda para trabalhar e para perceber, corrigem os erros, “querem trabalhar connosco” (Aluno nº 3/ FG/ página 137), sentem que os professores estão “sempre lá para ajudar, estão aqui para ajudar” (Aluno nº 10/ FG/ página 137).

É obvio que pretendíamos também perceber que tipo de gestos e comportamentos os professores sentem da parte dos alunos. E se sentem essas atitudes como tidas desinteressadamente.

Por sua vez, os alunos disseram retribuir aos professores “fazendo um bom trabalho, respondendo… devemos ficar o mais possível com atenção nas aulas e depois como nós fazemos aos professores, eles agradecem-nos também fazendo outras atividades em que

53

não temos que estudar: pintar, participar em propostas…” (Aluno n.º 5/ FG/ página 138). O “dar, receber, retribuir” tão simplesmente descrito por uma criança.

E será que essas atitudes despertarão, no professor, necessidade de as retribuir?

No “focus group” inferimos que os alunos ficam agradados a partir de simples gestos “quando fazemos os trabalhos de casa, a professora põe lá os parabéns” (Aluno n.º 8/ FG/ página 138) ao ponto até de se esforçarem mais para obterem uma reação positiva da professora “eu às vezes quando chego a casa, não faço só os trabalhos de casa, de escrever, também faço trabalhos no computador” (Aluno n.º 8/ FG/ página 138).

Manifestam demonstrar a sua gratidão para com os professores por vezes de uma forma mais material “fazemos desenhos e até algumas doçarias, damos uns bombons de chocolate…” (Aluno n.º 5/ FG/ página 140) mas o mesmo aluno acrescenta “é assim que eu demonstro. Ou fazer o meu melhor, tentar esforçar-me ao máximo e depois agradeço ao professor”.

Os alunos manifestam a sua retribuição aos professores fazendo o que eles gostam “às vezes compramos um bolo para os professores para lhes mostrarmos que nós gostamos deles e fazemos-lhes coisas que sabemos que eles vão gostar” (Aluno n.º 7/ FG/ página 140).

Neste estudo, gostaríamos também de saber a opinião dos professores acerca da influência que percecionam ter na formação humana dos seus alunos e como têm o retorno da influência que tiveram.

Os professores ensinam, os alunos aprendem e, segundo o Aluno n.º 10 (FG/ página 141), os alunos retribuem “em épocas especiais, como a Páscoa, como o Natal, nós damos presentes aos professores para dizer obrigado por nos terem dado essa matéria, por nos terem ensinado” ou então de um modo gratuito e natural “no ano passado escrevi um postal à minha professora a dizer-lhe que gostava muito dela e depois escrevi lá o que sentia dela… (Aluno n.º 8/ FG/ página 141) e acrescentou “escrevi que gostava, que gostava do trabalho que fazia… hum… e agradeci por todos os trabalhos que nos ensinou”.

54

E perante os alunos com menos capacidades, como reagem os professores. Desanimam? Facilitam?

No “focus group”, tentámos perceber como se sentem os alunos se os professores não demonstram interesse “e também ficávamos tristes porque os professores não nos ligavam nenhuma (Aluno n.º 1/ FG/ página 143) ou sentem tristeza quando os professores não agem bem “eu tinha muita dificuldade e o professor ou a professora não me ajudava a ultrapassá-la” (Aluno n.º 6/ FG/ página 145) e quando confundem o nome, talvez porque razoavelmente sinta ferida a sua identidade “e também não gosto que me troquem o nome com outras pessoas…” (Aluno n.º 1/ FG/ página 146).

Pareceu-nos também que seria importante perceber os efeitos que poderá ter uma relação de dádiva no desenvolvimento pessoal e social do aluno e da comunidade educativa em geral.

A noção de retribuição sentida pelos alunos “pelo bem que nos fez”, bem explícita “uma vez a nossa professora deu-nos uma coisa e eu agradeci-lhe com umas prendas que lhe oferecia nos vários dias especiais… na Páscoa… ofereci-lhe pelo bem que nos fez…” (Aluno n.º 10/ FG/ página 150), provocando a felicidade recíproca “de quem eu gosto… a professora dá-nos algo e eu… eu… se nos deu, eu também dou uma coisa à professora… ela fica feliz e eu fico feliz também” (Aluno n.º 8/ FG/ página 151). O Aluno nº 11 refere mesmo “retribuímos o favor” (FG/ página 150).

Ou confundindo até o verbo, mas sabendo bem o que queria dizer “depois eu “contribuo-lhe” (Aluno n.º 9/ FG/ página 152) porque descreveu exatamente como gosta de retribuir à mãe “de manhã, como a minha mãe tem falta d’ar e o meu irmão acorda lá para as 8 horas e então eu fico com o meu irmão em casa e a minha mãe… o meu pai vai levar a minha mãe porque a minha mãe tem falta d’ ar”. O “dar, receber, retribuir”, verbalizado de uma forma tão simples e natural, a já fazer parte do desenvolvimento pessoal desta criança.

Quer na análise dos dados retirados do “focus group” quer nos dos inquéritos por questionário, lembrámos Bogdan e Biklen “à medida que vai lendo os dados, repetem- se ou destacam-se certas palavras, frases, padrões de comportamento, formas dos sujeitos pensarem e acontecimentos (1994:221).

55

7.2. Interpretação dos dados do inquérito por questionário passado