• Nenhum resultado encontrado

35 do planeamento está a multidisciplinaridade, a capacidade de ir buscar respostas a áreas

que extravasam os seus limites de conhecimento. O objectivo deste ponto é compreender que factores críticos motivem à participação pública.

Al-Kodmany (2001, p. 3) desenvolveu um artigo sobre as ferramentas de comunicação, indo de encontro às ideias de Albrecht et al (2001), referidas no ponto anterior, salientando que

It is becoming widely accepted that in communicating planning ideas, the form of representing the information is as important as the information itself. Stanley King and his co-authors suggest that visualization provides a common language to which all participants, technical and non-technical, can relate.

De facto, esta afirmação concede um carácter extremamente abrangente ao que a informação visual oferece.

Ehrenfield (2008, p. 66) refere, numa perspectiva empresarial, a importância da gestão visual: na prática, consiste em comunicar através de imagens, estruturando as tarefas dos trabalhadores através de controlos visuais simples e representando graficamente ideias complexas. Em termos operacionais, Ehrenfield refere que em momento algum anterior, estas capacidades tiveram uma proeminência tão grande e salienta que

A nossa economia global valoriza as imagens como a nova zona franca. Os funcionários que cresceram com a Internet têm uma atenção que exige mensagens mais evocativas e concisas que misturem imagens com texto. E a um nível mais prático, a adopção do Power Point como a plataforma comum de um mundo dominado por slides e papéis exige que os gestores compreendam como uma apresentação visual pode ser benéfica.

Considera-se essencial que esta perspectiva empresarial seja aplicada à vastidão de actores (no planeamento), pois, se na empresa o objectivo é qualificar os trabalhadores para executarem as suas tarefas adequadamente, analogamente, na participação pública pretende-se qualificar os agentes para obter os seus melhores contributos e validação do processo.

Na sua abordagem às ferramentas de comunicação em planeamento, Al-Kodmany (2001, pp. 2-3) explica que

Visualization is not a new phenomenon. It as been used in maps, scientific drawings, and data plots for over a thousand years. (…) Visualization is important because scientific research has shown that humans are inherently visual. For example, Feldman, et al, underscore the importance of visualization when they write, “Since an estimated one-third of the human brain is devoted to vision and visual memory, engaging that sense can help scientists and non-scientists alike better understand complex natural phenomena.

Figura 3.5 Visualização como

A saliência do factor visual no cérebro humano reforça a necessidade de o aproveitar para que o ser humano interiorize a mensagem a ser transmitida. Nesta perspectiva, Kerr e Culhane (2000, p. 1) apresentam uma metodologia na aprendizagem de carácter visual.

Where and how do comic books fit into learning theory and the attainment of literacy? There is a good body of evidence that organisms instinctively seek out environments and activities that will better equip them with the skills for survival (Hart, 1983, 40, 66). Along with this theory comes the idea that play and pleasure, curiosity and learning are all part of this same instinctive push toward perfection. Brain-based learning experts report that human children, in an healty and uncoercive environment, will naturally seek out those learning materials that work best for their particular stage of development and determine “what to attend to and what to merely monitor and ignore” (Sylvester, 1995).

Dois aspectos sobressaem nesta análise: a importância da aquisição de ferramentas que adaptem o indivíduo a aprender e o factor lúdico, como catalisador da aprendizagem. Portanto o que se pretende deduzir desta ideia é que a receptividade a uma mensagem tem subjacente a construção de um ambiente favorável e com meios de passar a informação de uma forma acessível. No capítulo seguinte, precisamente sobre a BD, mais considerações serão tecidas sobre o assunto.

Este carácter motivacional que se refere que vai influenciar o escrutínio público numa determinada matéria e envolve alguns factores.

Ehrenfield (2008, p. 67) aborda a questão do pensamento visual, estudada por Dan Roam, no livro The Back of the

Napkin: Solving Problems and Selling Ideas with Pictures.

Roam salienta que os executivos devem ultrapassar o seu medo de desenhar as suas ideias, pois a perspicácia visual não é sustentada pelas faculdades artísticas individuais do técnico, como citado a seguir:

«Uma das razões por que as imagens são uma grande forma de resolver problemas é que muitos dos problemas são difíceis de ver claramente e uma imagem pode ajudar-nos a vermos aspectos do problema que de outra forma passariam despercebidos. (…) O pensamento visual ajuda-nos ao dar-nos uma maneira de vermos os problemas, não como

Figura 3.7

Capa do livro de Dan Roam Figura 3.6

O ludismo como forma de aprendizagem – lendo BD

37

uma variedade infindável de coisas que correm mal, mas como um pequeno conjunto de desafios visuais interligados onde cada um deles pode ser desenhado claramente se estiver sozinho.»

De facto, um dos desafios que se põe ao comunicador de uma determinada matéria é a eficácia da sua mensagem que, de acordo com Roam, envolve um carácter emocional. No seu artigo de opinião, Ehrenfield (2008, pp. 67-68) refere que Roam concebeu um Código de Pensamento Visual – que associa sentidos visuais e estruturas de pensamento – que ajuda os leitores a perceber os princípios mentais na passagem de uma ideia ao papel.

A declaração de Roam de que o código é «simples» revela uma falha neste livro que, de contrário, seria bastante apelativo: há um fosso entre o que o autor sabe em teoria e a concepção do seu material em papel.

Ehrenfield (2008, p. 68) refere que são poucos os gurus da linguagem visual a partilharem as suas ideias com uma elegância simples. Independentemente de o seu artigo ser de opinião e não científico, Ehrenfield salienta a importância de que a base da comunicação seja simples e legível, encaixando-se nas exigências da comunicação científica em planeamento.

A título de exemplo, Cheng et al (2006 e 2007) fizeram acções de formação nos EUA nesta área, motivando pessoas de várias áreas profissionais a exprimirem conceitos do seu trabalho através de desenhos, ajudando a ultrapassar esta barreira pessoal, como se verá adiante.

Se, por um lado, é difícil comunicar correctamente, por outro lado, o receptor não está muitas vezes preparado para receber a informação. Freitas (2007, p. 17) ao publicitar a importância de formação em história da arte, refere que

No nosso processo de aprendizagem somos ensinados a usar e interpretar a linguagem verbal mas poucos são os que recebem formação de base na compreensão da linguagem visual. (…) aprender a ler discurso visual – raramente faz parte da experiência de aprendizagem dos alunos de hoje.

A autora sublinha um intenso bombardeamento de milhares de estímulos pelos media e Internet, manipulando e influenciando as escolhas individuais de cada um, mas que poucos ou nenhuns têm a capacidade de os descodificar ou interpretar.

Kerr e Culhane (2000, p. 3) referem que é uma ironia, num mundo sobrecarregado com informação, aonde a literacia escrita está disponível desde a caixa de cereais à televisão, ainda é constatável que as crianças (e deduz-se extrapolando, os adultos) enfrentem tão grandes limitações de percepção visual.

A título de exemplo, o governo português lançou um programa designado como “Media Smart” que pretende educar crianças dos 7 aos 11 anos para as questões da literacia

visual, aprendendo no âmbito escolar, a terem um espírito crítico relativamente à publicidade que observam nos meios audiovisuais, como a televisão ou Internet. Saber ler discurso visual, é uma tarefa que apresenta várias dimensões, como se vê a seguir:

Os princípios chave da literacia em publicidade e nos media são preparar as crianças para pensarem e interpretarem de forma crítica aquilo que vêm, isto é, compreenderem porque gostam ou não de determinados programas ou estilos e relacionar essas preferências com pontos de referência morais ou intelectuais. Assumem assim uma maior responsabilidade em relação às escolhas daquilo que vêm e na utilização os media electrónicos para si próprios e para outras crianças. Aptidões específicas nesta área podem incluir:

• A capacidade de distinguir factos de ficção

• A capacidade de identificar e apreciar diferentes níveis de realismo

• Uma melhor compreensão dos actuais mecanismos de produção e distribuição dos

filmes de televisão, jogos, filmes, software interactivo, websites, etc.

• A capacidade de diferenciar reportagens de apoio a causas

• Conhecimento e avaliação de mensagens comerciais dentro de programas

(colocação e produtos, etc) e uma abordagem crítica à publicidade

• Conhecimentos dos imperativos económicos e de representação que estão por

detrás da gestão de uma notícia

• A capacidade de explicar e justificar de forma conscienciosa as preferência

relativamente aos media. (MediaSmart, 2007)

Esta lacuna de interpretação parece ser outro desafio no âmbito da comunicação em planeamento, não só porque as crianças são um público-alvo do processo de participação, como a investigação indicia que é um problema generalizado, muito para além do âmbito

Figura 3.8

39