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3 TRANSEXUALISMO

3.2 DO RECONHECIMENTO E DO REGISTRO CIVIL DA PESSOA TRANSEXUAL

Possível observar nos conceitos apresentados acima, que o transexual é reconhecido no mundo acadêmico como alguém com um desvio psicológico permanente de identidade sexual. Já na sociedade, de um modo geral, é fácil a confusão de transexuais com travestis, homossexuais entre outros.

Para evitar tal confusão, é imprescindível a diferenciação dos conceitos de sexo, gênero e opção sexual, que diferentemente do que é pensado pelo senso comum, não estão sempre combinados da mesma maneira como homem, masculino, heterossexual e mulher, feminina e heterossexual. No mundo real, são encontradas diversas combinações entre estas classificações.

O sexo (biológico) é referente aos elementos do corpo, como genitais, aparelho reprodutivo, seios e etc. É o que atormenta o transexual, que vê seu corpo (sexo anatômico) não correspondente com seu sexo psicológico. Já o gênero (masculino/feminino) está ligado ao comportamento, uma associação cultural do que é ser homem ou mulher. Porém, muitas vezes isso não é visto de forma binária, ou correspondem ao sexo do indivíduo.

Travestis por exemplo aceitam seu órgão genital de homem, porém se vestem e se comportam como mulheres. Ademais, a opção sexual é referente às práticas eróticas do indivíduo, suas escolhas de relação afetiva e objetos de desejo. As principais categorias que classificam a opção sexual de um indivíduo são: heterossexual (quem sente atração pelo sexo oposto), homossexual (quem sente atração por pessoas do mesmo sexo) e bissexual (quem sente atração por ambos os sexos).

A possibilidade da alteração do nome e sexo no registro civil do indivíduo foi recentemente discutida pela ADI 4275, em março de 2018. A ação direta de inconstitucionalidade visava a interpretação do artigo, 58 da Lei 6.015/73, na redação que lhe foi conferida pela Lei 9.708/98, tudo de acordo com a Constituição Federal, reconhecendo o direito dos transexuais, que assim o desejarem, à substituição do prenome e sexo no registro, independentemente da cirurgia de transgenitalização. Nesta ação, o STF entendeu possível a alteração do nome e sexo no registro civil, mesmo sem o procedimento cirúrgico de redesignação de sexo, ou prévia autorização judicial. A decisão foi baseada nos princípios da dignidade da pessoa humana, igualdade e da não discriminação por razão de orientação sexual ou identificação de gênero.

Após a decisão desta ADI, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) publicou em 19 de junho de 2018, o Provimento 73/2018 que regulamenta a alteração de nome e sexo no registro civil de pessoas transexuais. O documento regulatório conta com 10 (dez) artigos e dispõe em seu artigo 2º o seguinte: “Toda pessoa maior de 18 anos completos habilitada à prática de todos os atos da vida civil poderá requerer ao oficio do RCPN (Registro Civil de Pessoas Naturais) a alteração e averbação do prenome e do gênero, a fim de adequá-los à identidade autopercebida”.

Além disso, o provimento conta com algumas regras de procedimento como a impossibilidade da mudança do nome da família, ou de ensejar a identidade de prenome com outro membro da família, a desnecessidade de apresentação de prévia autorização judicial ou da comprovação de realização de cirurgia de redesignação sexual e/ou de tratamento hormonal ou patologizante, assim como apresentação de laudo médico ou psicológico, entre outras.

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3.3 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

O princípio da dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. É o que diz o artigo 1º, inciso III da Constituição Federal (BRASIL, 1988):

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

[...]

III - a dignidade da pessoa humana;

Tal garantia surge com o advento do neoconstitucionalismo, pós Segunda Guerra Mundial, que muda a forma de compreensão e interpretação do direito, tornando a constituição o documento central do ordenamento jurídico do país, formando um novo modelo estatal: o Estado Constitucional, que faz a constituição irradiar sobre as leis, poderes e particulares, podendo assim, garantir os direitos fundamentais e a dignidade da pessoa humana. (MESSA, 2016, p. 53)

De acordo com Ferraz Filho (2018, p. 5), a dignidade da pessoa humana é a fonte de todos os direitos fundamentais, fundamento e fim de toda a ordem política. Busca não somente reconhecer o indivíduo como sujeito de direito e créditos, mas sim reconhecer sua singularidade como um ser social.

Em sua obra, Messa (2016, p. 140) conclui que este princípio exige as condições mínimas de sobrevivência e respeito aos direitos fundamentais. E que além de seu vetor interpretativo a ser utilizado em todas as outras fontes do ordenamento jurídico, é uma garantia de um tratamento igualitário que possibilita a pacificação da convivência social e do desenvolvimento integral da sociedade.

Para o tema em questão, no presente trabalho de conclusão de curso, a compreensão de como a dignidade da pessoa humana é imprescindível para o reconhecimento do transexual como pessoas humanas que são dignas de respeito. Neste sentido, discorrem Dias e Oliveira (2016, p. 92):

Nos mais diversos percursos da vida, o ser humano almeja o reconhecimento pleno. Com o transexual, esse sentimento é mais intenso, pois tão cedo não se reconhece no seu sexo biológico e luta para a adequação do sexo de nascimento ao seu sexo psicológico, que é de outra natureza. O acolhimento por parte da sociedade supera em muito a necessidade das mudanças cirúrgicas e jurídicas. Fundamental a compreensão de como é e se expressa ser, para que não seja nomeado sempre de transexual, mas sim permitindo que conquiste sua identidade de ser homem ou mulher, enfim de ser um ser humano nos padrões habituais da sociedade.

Portanto, tem-se como primeiro passo o reconhecimento do transexual como um ser humano habitual da sociedade, já que hoje em dia vivem à margem dela, para que então se possa começar o processo da regularização de seus direitos, como por exemplo, a possibilidade de sua aposentadoria por idade e tempo de contribuição.

3.4 O PRINCÍPIO DA IGUALDADE (ADOÇÃO DE MESMO TRATAMENTO AOS

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