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Do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul também manifestou seu entendimento sobre a legitimidade do Ministério Público em defender os direitos individuais homogêneos, no seguinte julgado:

Ementa: APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO COLETIVA DE CONSUMO.

LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. AGRAVO RETIDO. O Ministério Público possui legitimidade ativa para a tutela de direitos individuais homogêneos decorrentes de relações de consumo, na qualidade de substituo processual dos lesados, nos termos dos artigos 81, parágrafo único, inciso III, e 82 do CDC, bem assim do artigo 127, caput, da Magna Carta. Precedentes do Egrégio STJ. RESPONSABILIDADE CIVIL. QUEDA DE ARQUIBANCADA EM EVENTO AUTOMOBILÍSTICO.

DANOS MATERIAIS E MORAIS. SOLIDARIEDADE.

RESPONSABILIDADE DA LIGA INDEPENDENTE DE

AUTOMOBILISMO DO RGS, MUNICÍPIO DE ERECHIM E DO ENGENHEIRO QUE INSTALOU A ARQUIBANCADA. Nos termos do artigo 7º, parágrafo único, do CDC, havendo dano experimentado em decorrência de relação de consumo, não há dúvida da legitimidade passiva de todos aqueles envolvidos na prestação do serviço ou no fornecimento do produto que contribuíram na causação do resultado. Não há como excluir a responsabilidade da LIA/RS, Município de Erechim e do engenheiro Tiago José Zanette, respectivamente organizadora do evento, sem registro no órgão oficial, que, mesmo em situação irregular conhecida pelo Município, obteve autorização para o evento, e o engenheiro responsável pela montagem da arquibancada, olvidando normas técnicas de execução e segurança. Solidariedade afastada apenas no que tange à devolução dos ingressos, que deve ser procedida apenas por quem amealhou os recursos. DANOS MORAIS E MATERIAIS. INDIVIDUAÇÃO. ADEQUAÇÃO. DANOS MORAIS COLETIVOS NÃO TIPIFICADOS. CONTRATO DE SEGURO POR MORTE E INVALIDEZ PERMANENTE. SINISTROS NÃO TIPIFICADOS. Não tendo ocorrido nenhuma das hipóteses de cobertura previstas no contrato de seguro, cabe a exclusão da seguradora. Isenção de sucumbência do Ministério Público quando inocorrente má-fé. Preliminares rejeitadas, com desprovimento do agravo retido. Parcial provimento dos apelos interpostos pela LIA/RS, Tiago José Zanette e Município de Erechim. Provimento do apelo da seguradora. (RIO GRANDE DO SUL, 2010).

Trata-se de ação coletiva ajuizada pelo Ministério Público em face de Liga Independente de Automobilismo do Rio Grande do Sul-LIA/RS, Município de Erechim, Sul América Seguros de Vida e Previdência S.A e Tiago José Zanette, devido a acidente coletivo ocorrido em evento promovido pela Liga Independente de Automobilismo do RS. Acidente este consistente na queda de arquibancada ocasionando lesões em 100 pessoas. Referiu que

houve imperícia por parte do engenheiro responsável e da organização do evento por inobservância de normas técnicas.

Prolatada a sentença, foi julgada procedente a demanda coletiva em face dos requeridos, com condenação à obrigação solidária de indenizar os danos morais e matérias causando aos consumidores que foram vitimas do acidente de consumo ocorrido, bem como à restituição aos consumidores dos ingressos adquiridos para o evento e por fim indenização dos danos coletivos.

Irresignadas as partes apelaram da decisão, alegando preliminarmente ilegitimidade do Ministério Público para propor a demanda visto trata-se de direitos individuais homogêneos.

Sobre o tema em discussão, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul referiu ser o Ministério Público parte legítima para o manuseio da ação coletiva de consumo, visto que com a nova feição conferida pela Constituição Federal de 1988, juntamente com as funções institucionais está a defesa dos direitos individuais homogêneos.

Observa-se que o entendimento do Tribunal de Justiça do Rio Grande é em consonância com o estudado ao longo do trabalho de pesquisa. Entende-se que o Ministério Público, quando a matérias versar sobre interesse com relevância social, decorrente de origem comum pode tutelar direito individual homogêneo, levando em consideração a destinação institucional atribuída ao Ministério Público.

CONCLUSÃO

O presente trabalho abordou a temática que envolve a defesa dos direitos individuais homogêneos pelo Ministério Público.

Após realizada pesquisa doutrinária e jurisprudencial foram traçados posicionamentos jurídicos existentes sobre o tema que foram fundamentais para o entendimento prático da aplicação da doutrina estudada.

No que tange à legitimação do Ministério Público para a defesa dos direitos individuais homogêneos na seara das relações de consumo, o entendimento das Cortes Superiores está pacificado no sentido de que a instituição está legitimada para a propositura de ações coletivas visando à defesa desses interesses.

O Supremo Tribunal Federal, última palavra quando se trata de interpretação constitucional, entende que havendo relevância social na demanda o Ministério Público está legitimado para a defesa dos direitos individuais homogêneos.

No mesmo sentido, há uma tendência doutrinária, a qual refere que o órgão ministerial ajuíze ações para tutelar direito indisponível e disponível, neste último apenas nos casos em que se encontre presente o interesse social.

Contudo, sobre a questão envolvendo interesse social há quem compartilhe da ideia que a análise do interesse social deve ficar a cargo do Ministério Público, devendo a própria instituição adotar as cautelas que entender necessárias à proteção do direito violado.

Ao final do estudo restou demonstrado que por mais que haja decisões díspares, a posição majoritária entende que o Ministério Público possui legitimidade para agir e tutelar em favor de direitos individuais homogêneos desde que seja compatível o direito a ser tutelado com o perfil constitucional, ou seja, o que prescreve o artigo 127, “caput” da Constituição Federal de 1988.

Entende-se que se houver relevância social na demanda é legítimo o interesse do Ministério Público para a defesa destes interesses, visto que podem ser considerados espécies de interesses sociais.

Assim, conclui-se que para o Ministério Público tutelar direitos individuais homogêneos é necessário que estes ultrapassem a barreira da simples esfera individual, mas sim que devam alcançar uma amplitude significativa. É necessária ainda, a presença da relevância social no direito a ser protegido, sendo que com estes requisitos o Ministério Público estará atendendo sua finalidade que foi instituída pelo constituinte,

REFERÊNCIAS

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