• Nenhum resultado encontrado

Documentação de enfermagem no foco papel parental

“No âmbito da saúde e das políticas de saúde, tem-se assistido ao sublinhar da necessidade de reunir o máximo de informação a fim de otimizar a tomada de decisão, tendo em vista o rigor e a qualidade. Com efeito, é crescente o valor atribuído à informação, por força da necessidade de controlo de custos, da melhoria da eficiência, da otimização da gestão e, essencialmente, da promoção e gestão contínua da qualidade dos cuidados” (Pereira, 2004, p. 13).

É consensual que a “Informação de Enfermagem” é relevante para a governação na saúde. Tal relevância resulta dos imperativos de natureza legal e ética dos sistemas de informação e dos que emergem da sua importância para as decisões clínicas, para a continuidade e qualidade de cuidados, quer numa perspetiva individual, quer grupal, para a gestão, a formação, a investigação e para os processos de tomada de decisão (Ordem dos Enfermeiros, 2007).

A visibilidade dos cuidados de enfermagem nas estatísticas, nos indicadores e nos relatórios oficiais de saúde é, muitas vezes, incipiente. Tal realidade impossibilita a descrição e a verificação do impacto dos mesmos nos ganhos em saúde das populações. Todavia, mais recentemente tem-se verificado, por parte do Ministério da Saúde, um conjunto de iniciativas estimulando os responsáveis das organizações de saúde e os seus profissionais, por um lado, e as empresas do sector, por outro, a promoverem o desenvolvimento de aplicações informáticas de suporte ao subsistema de informação de enfermagem (Ordem dos Enfermeiros, 2007).

Deste modo, é imprescindível garantir que os sistemas de informação da saúde abarquem os dados relativos aos cuidados de enfermagem, sendo esta uma necessidade cada vez mais urgente numa área em que o cidadão necessita de ser acompanhado ao longo do ciclo vital, de mobilidade geográfica e local ou do contexto da prestação de cuidados, compreendendo outros sectores tradicionalmente não integrados na saúde, como é o caso do sector social (Ordem dos Enfermeiros, 2007).

Ainda de acordo com a Ordem dos Enfermeiros (2007), as aplicações informáticas têm de ser desenvolvidas para que se possa permitir a documentação da prática de enfermagem, tendo em vista as diferentes finalidades dos registos dos processos de prestação de cuidados (legais, éticas, qualidade e continuidade de cuidados, gestão, formação, investigação, avaliação, visibilidade dos atos de enfermagem praticados), bem como devem contemplar a reengenharia e a inovação dos registos eletrónicos de

enfermagem, a fim de garantir o desenvolvimento, a descrição e o acompanhamento dos cuidados de enfermagem em todos os contextos da sua prática.

Sousa (2012, p. 276) refere a importância do desenvolvimento de Modelos Clínicos de Dados (MCD) dirigidos a serviços pediátricos e centrados na promoção da parentalidade, a fim de colmatar as necessidades emergentes no seio dos Sistemas de Informação em Enfermagem (SIE). O pressuposto de que estes MCD descrevem as atividades diagnósticas, os diagnósticos e as intervenções adaptadas às áreas específicas dos cuidados de enfermagem pediátricos, resultou na necessidade prática da construção de SIE, cujo contributo se refere à formalização do conhecimento específico da enfermagem.

Partindo-se do pressuposto que a prática dos enfermeiros na pediatria, necessita de ser baseada na teoria para ser fundamentada, e essa prática necessita de visibilidade, é essencial referir a importância dos padrões de documentação do modelo desenvolvido por Sousa (2012, p. 272) que se caracteriza pela “associação de diagnósticos de enfermagem a dados recolhidos pela atividade diagnóstica e a intervenções de enfermagem, tornando visível a tomada de decisão dos enfermeiros focalizada na parentalidade e parceria estabelecida entre pais e enfermeiros na prestação de cuidados à criança”.

A autora, ao conceber um modelo que estruturasse a informação produzida pela investigação, orientasse a prática e pudesse vir a ser organizado e documentado no SAPE, deu início a uma prática de documentação, agora parametrizada no foco papel parental. Sousa (2012, p. 272) refere que este modelo consiste em agregar fatores de saúde tidos como relevantes, ligados “a processos estruturados que orientassem a tomada de decisão dos enfermeiros”. Por outras palavras, a mesma autora refere que houve a necessidade de organizar e acrescentar “dados e critérios a utilizar pelos enfermeiros de modo a inferir-se as necessidades dos pais em cuidados de enfermagem, prescrever as intervenções e avaliar os resultados” (p. 272).

Para a mesma autora (Sousa, 2012, p. 188-189) “a partilha de cuidados orientada para a promoção da parentalidade deve capacitar os pais a responderem aos cuidados de que as crianças necessitam quando são hospitalizadas”, por sua vez, “a parceria de cuidados quando incorporada consistentemente deve atender às necessidades dos pais relacionadas com a confiança, a informação e participação nos cuidados”, e deve conceber intervenções de enfermagem que atendam à sua satisfação. Foi com base nesta ideologia que o atual aplicativo para a elaboração de informação de enfermagem, no papel parental foi parametrizado.

“A participação dos pais nos cuidados minimiza as repercussões negativas, nas crianças, provenientes da hospitalização. Esta é considerada uma estratégia que facilita a

aquisição de conhecimento e capacidade dos pais num nível adequado ao exercício parental e a respetiva sensação de segurança e autoeficácia, sobretudo na preparação do regresso a casa, relacionada com a satisfação das necessidades desenvolvimentais, mas também, das necessidades complexas da criança. Quando as necessidades especiais e complexas já existiam antes do internamento os pais são incluídos nos cuidados, também, com a intenção de demonstrar reconhecimento pela competência parental” (Sousa, 2012, p. 181).

Esta intencionalidade de inclusão dos pais nos cuidados é reflexiva da adoção de uma conceção teórica de enfermagem de parceria de cuidados reflexiva do próprio pensamento crítico e intrínseca ao processo de enfermagem (Alfaro-Lefevre, 2005) classificado em cinco fases: (1) Avaliação Inicial, neste caso para recolher informação relativa a aspetos de saúde relevantes (conhecimento e habilidades dos pais para satisfazer necessidades desenvolvimentais e especiais do filho; condição das necessidades das crianças e do papel parental; expectativas adequadas ao desempenho do papel parental; conhecimento sobre a situação do filho; rede de apoio; potencial de participação dos pais nos cuidados) e procurar evidências de fatores de risco ou de oportunidade para os melhorar; (2) diagnóstica para analisar a informação e ajuizar clinicamente com vista à identificação das necessidades de cuidados de enfermagem; (3) planeamento para prescrever as intervenções de enfermagem em função dos resultados desejados; (4) implementação para realizar ou delegar a execução das intervenções e (5) avaliação para apreciar o impacte das intervenções e determinar a necessidade de introduzir correções (Sousa, 2009, p. 251).

Para a mesma autora (p. 252) “a determinação de um juízo relativamente ao desempenho de papel parental, nas dimensões desenvolvimental, especial, complexo ou complexo inaugural, pode situar-se numa das três condições: comprometido, em risco de compromisso e com potencial para desenvolvimento. Quando os pais são incapazes de criar, manter ou recuperar um ambiente que promova o crescimento e desenvolvimento adequado da criança e/ou recuperação da sua saúde, pode determinar-se o estado de papel parental como comprometido”. Confluem para este diagnóstico fatores de risco e características relacionadas com os atributos dos pais e /ou criança.

Quando o padrão de providenciar o ambiente para a criança é suficiente para sustentar “o seu crescimento e desenvolvimento e/ou recuperação da sua saúde, mas existe capacidade para melhorar, e posteriormente desenvolver o exercício parental, pode determinar-se um potencial de desenvolvimento do pai/mãe para tomar conta” (Sousa, 2012, p. 522). Todavia, “se existir o risco de incapacidade dos pais para criar, manter ou recuperar um ambiente que promova o crescimento e desenvolvimento adequado da criança e/ou

recuperação da sua saúde, existirá um potencial de risco de compromisso do papel parental” (NANDA, 2009; CIE, 2016).

Durante a hospitalização, os enfermeiros prescrevem intervenções que melhor respondem às necessidades identificadas e que produzam evidências de que o cliente (pais) pode ter ganhos em saúde pela ação de enfermagem.

Na fase de avaliação, “a determinação dos ganhos em saúde é estabelecida pela avaliação dos resultados obtidos, representados pela reformulação da condição diagnóstica dos aspetos de saúde avaliados”. Os resultados de enfermagem referentes à obtenção de conhecimento e da capacidade “favorecem a preparação do regresso a casa após a hospitalização da criança” (Sousa, 2009, p. 251).

Para uma melhor visualização/compreensão do referido, em Anexo I, apresenta-se a forma como está organizado/elaborado, no aplicativo Sclínico, diagnóstico de enfermagem no foco papel parental.

Para a elaboração do diagnóstico de enfermagem no foco papel parental é necessário a avaliação da capacidade e conhecimento dos pais nas necessidades desenvolvimentais e especiais da criança hospitalizada, assim como a condição do papel parental para a parceria de cuidados.