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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.4 AS DOENÇAS DO TRABALHO (LER/DORT)

2.4.1 Doenças do Trabalho – a Legislação

A atual legislação brasileira, no que diz respeito às condições de saúde do trabalhador, está disposta, basicamente, na Constituição de 1988, na Consolidação das Leis do Trabalho – CLT e nas Normas Regulamentadoras – NR’s – expedidas pelo Ministério do Trabalho.

A legislação pioneira que aborda as condições de trabalho no Brasil foi redigida no governo de Getúlio Vargas, então Presidente da

República, que através do decreto-lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943, instituiu a assim denominada Consolidação das Leis do Trabalho.

Posteriormente, a Lei nº 6.514, de 22 de dezembro de 1977, alterou o capítulo da CLT relativo à segurança e medicina do trabalho, nos seguintes termos:

Art. 154 - A observância, em todos os locais de trabalho, do disposto neste Capítulo, não desobriga as empresas do cumprimento de outras disposições que, com relação à matéria, sejam incluídas em códigos de obras ou regulamentos sanitários dos Estados ou Municípios em que se situem os respectivos estabelecimentos, bem como daquelas oriundas de convenções coletivas de trabalho.

Art. 155 - Incumbe ao órgão de âmbito nacional competente em matéria de segurança e medicina do trabalho:

I - estabelecer, nos limites de sua competência, normas sobre a aplicação dos preceitos deste Capítulo, especialmente os referidos no art. 200; II - coordenar, orientar, controlar e supervisionar a fiscalização e as demais atividades relacionadas com a segurança e a medicina do trabalho em todo o território nacional, inclusive a Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho;

III - conhecer, em última instância, dos recursos, voluntários ou de ofício, das decisões proferidas pelos Delegados Regionais do Trabalho, em matéria de segurança e medicina do trabalho. Art. 156 - Compete especialmente às Delegacias Regionais do Trabalho, nos limites de sua jurisdição:

I - promover a fiscalização do cumprimento das normas de segurança e medicina do trabalho; II - adotar as medidas que se tornem exigíveis, em virtude das disposições deste Capítulo, determinando as obras e reparos que, em qualquer local de trabalho, se façam necessárias;

III - impor as penalidades cabíveis por descumprimento das normas constantes deste Capítulo, nos termos do art. 201.

I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; II - instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais; III - adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente; IV - facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente.

Art. 158 - Cabe aos empregados: I - observar as normas de segurança e medicina do trabalho, inclusive as instruções de que trata o item II do artigo anterior;

Il - colaborar com a empresa na aplicação dos dispositivos deste Capítulo.

Parágrafo único - Constitui ato faltoso do empregado a recusa injustificada:

a) à observância das instruções expedidas pelo empregador na forma do item II do artigo anterior;

b) ao uso dos equipamentos de proteção individual fornecidos pela empresa.

Art. 159 - Mediante convênio autorizado pelo Ministro do Trabalho, poderão ser delegadas a outros órgãos federais, estaduais ou municipais atribuições de fiscalização ou orientação às empresas quanto ao cumprimento das disposições constantes deste Capítulo.

Com a promulgação da Constituição de 1988, a constitucionalização da proteção do trabalhador chegou ao topo do ordenamento, eis que a Carta Magna, assim estabelece em seus artigos 6 e 7, respectivamente, acerca de direitos sociais e direitos dos trabalhadores:

Art. 6º: São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos

desamparados, na forma desta

Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 2010).

Art. 7º: São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

[...]

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; [...].

A Portaria Federal 1.339/99, do Ministério da Saúde, relaciona uma lista de doenças diretamente ligadas ao trabalho em seu primeiro artigo, a ser adotada como referência dos agravos originados no processo de trabalho no Sistema Único de Saúde, para uso clínico e epidemiológico. Dentre elas estão as doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo.

No período pós Constituição de 1988, com elaboração da Lei 8.213/1991, que dispôs sobre os planos de benefícios da Previdência Social, a legislação equiparou igualmente a acidente as doenças profissionais ou do trabalho.

Em relação ao enquadramento legal das doenças do trabalho, Carvalho et al. (2009, p. 308), com base no decreto da Presidência da República (BR) n. 8213, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os planos de benefícios da previdência social, afirma que:

as patologias englobadas nas siglas LER/DORT são atualmente enquadradas no conceito legal de doença do trabalho de acordo com o disposto na Instrução Normativa 98/2003(31) e seus efeitos jurídicos são equiparados ao acidente do trabalho, nos termos do Artigo 20 da Lei 8.213/ 91.

A Lei 8.213/91 indicava que, para que houvesse a caracterização do acidente de trabalho pela Previdência Social, deveria haver, além da presença da lesão e da incapacidade para o trabalho, o requisito de demonstração do nexo causal entre a moléstia adquirida e o trabalho exercido.

Carvalho et al. (2009, p. 308), após revisar a legislação brasileira no que concerne a prova do nexo causal, concluem:

as modificações apresentadas pela Lei 1.1430/2006 instituíram, no âmbito administrativo do cenário do nosso ordenamento jurídico, a inversão do ônus da prova, ou seja, até a vigência

da Lei 8.213/91 era possível dizer que o trabalhador ficava refém da prova do nexo causal entre a moléstia adquirida e o trabalho exercido e da emissão da CAT. No entanto, com o advento da Lei 1.1430/2006, passou a ser incumbência da autarquia previdenciária (INSS) a obrigação de caracterizar esse nexo, transferindo-se ao empregador o ônus de provar que a patologia contraída pelo empregado não foi ocasionada pela atividade laboral por hipótese exercida.

O Nexo Técnico Epidemiológico é um sistema que foi adotado pelo INSS para estabelecer, através de cruzamento de dados das doenças de acordo com sua classificação no Código Internacional das Doenças (CID – 10) e sua estatística de ocorrência de acordo com a atividade econômica desenvolvida pela empresa, de acordo com o CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas), um nexo casual presumido entre aquela doença ou seu agravamento e a atividade desenvolvida pelo trabalhador. Foi instituído pela Lei 11430/2006. O texto In Verbis diz:

Art. 21 - A. A perícia médica do INSS considerará caracterizada a natureza acidentária da incapacidade quando constatar ocorrência de nexo técnico epidemiológico entre o trabalho e o agravo, decorrente da relação entre a atividade da empresa e a entidade mórbida motivadora da incapacidade elencada na Classificação Internacional de Doenças – CID, em conformidade com o que dispuser o regulamento. (PRESIDÊNCIA DA REPUBLICA, 2006, p. 22).

Para medir o desempenho de uma organização no que diz respeito aos acidentes de trabalho, foi estabelecido o FAP, que segundo o site oficial da Receita Federal, é o Fator Acidentário de Prevenção, que afere o desempenho da empresa dentro da respectiva atividade econômica, relativamente aos acidentes de trabalho ocorridos num determinado período.

O Decreto nº 6.042, de 12 de fevereiro de 2007 altera o regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999, disciplina a aplicação, acompanhamento e avaliação do Fator Acidentário de Prevenção – FAP, e do Nexo Técnico Epidemiológico. Destacam-se aqui alguns artigos e parágrafos dessa lei:

Art. 337. O acidente do trabalho será caracterizado tecnicamente pela perícia médica do INSS, mediante a identificação do nexo entre o trabalho e o agravo.

§ 3o Considera-se estabelecido o nexo entre o trabalho e o agravo quando se verificar nexo técnico epidemiológico entre a atividade da empresa e a entidade mórbida motivadora da incapacidade, elencada na Classificação Internacional de Doenças (CID) em conformidade com o disposto na Lista B do Anexo II deste Regulamento.

§ 4o Para os fins deste artigo, considera-se agravo a lesão, doença, transtorno de saúde, distúrbio, disfunção ou síndrome de evolução aguda, subaguda ou crônica, de natureza clínica ou subclínica, inclusive morte, independentemente do tempo de latência.

§ 5o Reconhecidos pela perícia médica do INSS a incapacidade para o trabalho e o nexo entre o trabalho e o agravo, na forma do § 3o, serão devidas as prestações acidentárias a que o beneficiário tenha direito.

§ 6o A perícia médica do INSS deixará de aplicar o disposto no § 3o quando demonstrada a inexistência de nexo causal entre o trabalho e o agravo, sem prejuízo do disposto nos §§ 7o e 12. § 7o A empresa poderá requerer ao INSS a não aplicação do nexo técnico epidemiológico ao caso concreto mediante a demonstração de inexistência de correspondente nexo causal entre o trabalho e o agravo.

No Brasil, a Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalho estabelece que as condições de trabalho devem contribuir de maneira a enriquecer a qualidade de vida do trabalhador, bem com sua realização social e pessoal de forma a preservar sua saúde física e mental. (BRASIL, 2004)

Assim, aquele que se tornar portador de doença gerada ou agravada em função do seu serviço, terá a possibilidade de buscar seus direitos estabilitários e indenizatórios.

2.4.2 Ocorrência das Doenças do Trabalho – Números e Estatísticas