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4. METODOLOGIA

5.5 DOMÍNIO RELEVÂNCIA

Na categoria relevância foram incluídos os conteúdos trazidos pelos profissionais referentes ao grau de significação do DECIDIX. O índice de concordância obtido para este domínio foi de 98%, sendo que somente o item referente a generalização do aprendizado para outros contextos que não obteve índice de 100% de validação, apontada por um profissional de educação. O IVC por item está demonstrado no Quadro 8.

QUADRO 8: ÍNDICE DE VALIDADE DE CONTEÚDO QUANTO AO DOMÍNIO

RELEVÂNCIA. RECIFE, PE, BRASIL, 2016.

Itens

CT CP NCND DP DT IVC

1 - Pode circular no meio profissional da área de educação sexual e reprodutiva com adolescentes

16 0 0 0 0 1

2 – Propõe a construção de experiências de aprendizagem emancipatórias, no que se refere ao empoderamento dos adolescentes frente a sua vida sexual e reprodutiva

13 3 0 0 0 1

3 - Proporciona a construção de conhecimento sobre saúde sexual e reprodutiva

11 5 0 0 0 1

4 – Permite o aprendizado de temas significantes para a saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes

14 2 0 0 0 1

5 – Permite a generalização do aprendizado para outros contextos 14 1 1 0 0 0,93

CT: Concordo Totalmente; CP: Concordo Parcialmente; NCND: Nem concordo nem discordo; DP: Discordo Parcialmente; DT: Discordo Totalmente.

Os profissionais apontaram que o DECIDIX pode ser uma ferramenta importante no campo da educação sexual em diferentes contextos como escolas, na comunidade, nos serviços de saúde, e sobretudo no enfrentamento da escassez de espaços para discutir essa temática dentro de uma metodologia problematizadora, que trate a temática da sexualidade com mais naturalidade.

“Então, eu acho que a gente tem que assumir isso, de alguma forma, até como profissional de saúde, nesse sentido, fazendo uma meia culpa e reconhecendo essa limitação... que a gente não consegue produzir espaços como esses, tantas vezes, como a gente gostaria ne? Mas, que o jogo provoca essa discussão e esse encontro com eles né? A partir de um material que minimamente inicia a gente e coloca a gente num encontro produtivo, muito rico.” (EPS8)

“No normal a gente é muito preso. porque ainda.. o sistema educacional brasileiro é conteudista, né? a gente não foge disso.. (...) e nos projetos... é que a gente pode fugir um pouquinho pra discutir outras temáticas (...) Então a grande diferença é essa... que na aula, eu sou preso a temática da disciplina... e quando aparece uma oportunidade de você trabalhar outra fala... é importante porque o próprio aluno também enxerga você ali... diferente daquele professor da disciplina tal... mas enxerga como Ser Humano...” (EPE6)

Diante do exposto, destaca-se que o jogo foi desenvolvido com a finalidade de abranger diversas áreas de conhecimento ou profissões (incluindo educação e saúde), assim tem a potencialidade de permear os diferentes espaços nos quais os/as adolescentes frequentam e proporcionar um ambiente acolhedor e reflexivo na aprendizagem da sexualidade.

Yonekura e Soares (2010) afirmam que a promoção do diálogo e o debate de temas atuais em saúde através de jogos podem facilitar a abordagem e a inclusão de assuntos

considerados difíceis de discutir, e que são importantes para a formação dos e das adolescentes, inclusive, dentro da família.

Nessa perspectiva da família e compreendendo a relevância do DECIDIX nos diversos contextos, os pesquisadores levantam o questionamento sobre a possibilidade de utilização do DECIDIX pelos pais, embora tal indagação não tenha emergido dos participantes da pesquisa. Os pesquisadores não podem garantir que seja uma experiência exitosa, mas deixa-se uma inquietação, sobre sua utilização com esse público-alvo, para pesquisas futuras.

A escassez de espaços para discutir a temática da sexualidade dentro de uma metodologia problematizadora pode ser compreendida em duas perspectivas: espaços físicos (locais) onde haja uma possibilidade para esse diálogo; e, espaços dialógicos (o encontro com os/as adolescentes), de provocação, de problematização, no qual os/as adolescentes possam se expressar e refletir sobre a sua saúde.

No que diz respeito aos espaços físicos, alguns estudos apontam a dificuldade dos/as adolescentes, principalmente homens, procurarem o serviço de saúde e, quando o fazem, buscam apenas ações curativistas (BECHARA et. al., 2013; GOMES et. al., 2011; MORAIS et. al., 2010; NUNES, 2012; SILVA, et. al., 2015). Corroborando com esses estudos, durante a coleta de dados dessa pesquisa também houve dificuldade em encontrar grupos de adolescentes já funcionando na atenção básica.

Entretanto, o PSE, que já foi apresentado anteriormente, garante que os profissionais de saúde estejam inseridos na escola e realizem ações de promoção de saúde, ampliando os espaços de aproximação com o público adolescente. Apesar desse programa garantir o espaço físico (da escola) para as ações educativas, no que diz respeito ao espaço dialógico, de escuta e de troca de conhecimento não se pode assegurar, visto que ainda prevalecem, nos profissionais de saúde, práticas educativas tradicionais que focam a patologia, utilizando de abordagens verticalizadas e centradas em si (FREIRE, L., 2011; SANTOS, 2014; SILVA et. al., 2010).

Dessa forma, ao invés de tornar esse espaço problematizador, acaba se tornando um espaço de repasse de conteúdo, baseados nos princípios da educação em saúde tradicional, no qual o profissional é o detentor do saber e o adolescente é o receptor do conhecimento (FREIRE,L., 2011; SILVA et. al., 2010).

No que diz respeito aos professores, mesmo já tendo o espaço da escola como potencial para fazer tais discussões sobre a sexualidade, esse “encontro” também é prejudicado por diversos fatores. De acordo com um dos participantes da pesquisa, o “sistema educacional brasileiro é conteudista” o que dificulta a abordagem de outras temáticas que não estejam contempladas na ementa da disciplina. Essa tendência em que o ensino dos conteúdos é mais

importante que a experiência vivida pelos alunos, é característica das tendências pedagógicas liberais tradicionais, que apesar de terem surgido no século XIX, ainda estão presentes na atualidade (QUEIROZ; MOITA, 2007).

Além disso, outro fator que dificulta o encontro dialógico dos professores com os/as adolescentes são as diferentes concepções desse profissional sobre a temática da sexualidade (NOTHAFT et. al., 2014). De acordo com o estudo de Nothaft e colaboradores (2014), de um lado, existem professores que estão centrados no enfoque biologicista, e utilizam estratégias mais tradicionais de ensino; do outro, há aqueles que compreendem a adolescência e a sexualidade como conceitos indissociados, inerentes ao ser humano, em constante desenvolvimento, e adotam estratégias mais participativas, mais dialógicas (TRAJANO, 2014). Em suma, vários estudos corroboram com a colocação dos profissionais deste estudo quanto a escassez de espaços de reflexão e discussão sobre a sexualidade (DIAS; GOMES, 2000; JÚNIOR et. al., 2009; PATIAS; DIAS, 2014; VASCONCELOS, 2015). Assim, ratifica- se a importância das ações educativas voltadas para essa temática, considerando, não apenas, todas as dimensões sócio-econômico-culturais dos e das adolescentes, mas também as contribuições que pais, professores e profissionais de saúde podem oferecer, de forma conjunta e aliada, para estimular um comportamento mais seguro dessa população (SILVA et. al., 2015; VONK et. al., 2013).

Um último aspecto em relação a relevância do DECIDIX foi a perspectiva de que esse proporciona a construção do conhecimento no campo da saúde sexual. No entanto, embora tenha obtido IVC de 100%, este item obteve o maior número de profissionais que concordaram somente parcialmente no questionário. Durante as entrevistas os profissionais de educação relatam que o jogo teve um direcionamento maior para saúde reprodutiva, como mencionado no domínio anterior.

Além disso, os profissionais de saúde também afirmam que esse aspecto depende do profissional que está mediando a ação, pois se o mediador não conduzir o jogo para o debate dos temas, então, essa construção não acontece:

“quem está na frente vai ter que fazer essa condução...ne? se você ficar muito nessa pergunta e resposta.. você perde ai muita coisa..” (EPS1)

Esse aspecto será melhor discutido no domínio Alcance dos Pressupostos Pedagógicos. No entanto, como introdução das discussões, o papel do mediador define a ação educativa dentro de uma perspectiva problematizadora ou bancária, a depender da intencionalidade desse (a) educador (a) durante a ação, por isso, para estimular a reflexão crítica desse educando, esse mediador precisa conduzir a ação dentro dessa finalidade.

No que diz respeito a afirmativa de que o DECIDIX permite a generalização do aprendizado para outros contextos. Esse foi o único item que não atingiu 100% de validação no questionário, e no que se refere às entrevistas e ao diário de campo não foram encontrados registros que expliquem tal incompatibilidade. É importante trazer esse apontamento, pois é possível que seja uma limitação quanto a compreensão desse item no questionário.

Neste estudo entende-se a generalização do aprendizado como a capacidade de o educando transpor os conhecimentos e habilidades adquiridas em um local para outro (ALCANTARA, 2003). Dessa forma, pretendeu-se questionar aos profissionais se a experiência educativa mediada pelo jogo permitiu que os/as adolescentes transpusessem os conhecimentos discutidos no ambiente virtual para as suas vivências pessoais (no ambiente real).

Outra possibilidade do elevado IVC nesse item se deve ao fato de que a ação educativa foi pontual, não permitindo que os profissionais avaliassem se os adolescentes conseguiram transpor o aprendizado para o cotidiano, mas tiveram alguns indícios.

Neste domínio não houveram sugestões.