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Dos inícios com teatro e filmes

Capítulo II: Três espaços culturais sob observação

3. Cineteatro Lagoense Francisco D’Amaral Almeida

3.4. Memórias de família e alguns documentos

3.4.1. Dos inícios com teatro e filmes

O Teatro Amaral começou com representações de peças de teatro escritas e ensaiadas312 por Francisco d’Amaral. Com a vinda do cinema, inicialmente

mudo, e posteriormente com filmes transmitidos a cores e com som já na década de 40, a afluência era muito grande.

No seu início, a projeção dos filmes era feita primitivamente, movida à

manivela. Esta função era feita por uma das filhas313 de Francisco d’Amaral,

como relata o seu neto. Além disso, numa época em que o nível de analfabetismo era elevadíssimo, Francisco d’Amaral explicava os filmes ao público, na plateia, porque naquela altura, as pessoas não sabiam ler314.

Eventos de solidariedade, como espetáculos para a Cruz Vermelha, bailes de Carnaval e festas de Natal destacam-se na programação dos eventos realizados nos primeiros tempos do Teatro. Segundo Jorge Borges, o Teatro Amaral tinha uma finalidade social enorme315.

Relativamente à propaganda dos eventos, a mesma era feita através de um

grande cartaz puxado numa carroça. Cartazes de grande relevo eram

carregados por rapazes que andavam pelas ruas da Lagoa. A distribuição de panfletos e a colocação dos mesmos nas vitrinas das lojas estavam, também, incluídos nos meios de divulgação.

Da década de 30, surgem anúncios publicitários, na imprensa, de eventos ocorridos no Teatro Amaral, com destaque para o semanário lagoense “A Semana” e para o jornal regional “Açoriano Oriental”. Ambos não só anunciavam os eventos, como relatavam o que tinha acontecido, à semelhança do TM e do TRG. O ator e ilusionista Octávio de Matos, pai do conceituado ator Octávio de

312 T.O., Borges, Jorge Manuel Mota Amaral. 313 Idem.

314 Idem. 315 Idem.

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Matos, conhecido da televisão portuguesa, foi um dos artistas a passar pelo palco do Teatro Amaral, tendo passado também pelos palcos do TM e do TRG.

No decorrer da Segunda Guerra Mundial, aproveitou-se a estadia dos destacamentos na ilha. Os militares tinham dias próprios para ir ao cinema, neste

caso, aos sábados, e esgotavam o espaço.316 Devido à grande afluência,

alargou-se os dias dos eventos para as terças e quintas-feiras visto que as distrações naquela altura eram muito poucas.

Já depois da grande remodelação, na década de 70, começaram a ser realizados espetáculos musicais e culturais, de onde se destaca o Círculo de Amigos da Lagoa com palestras realizadas com muita frequência durante cerca de 6 anos.317

Na década de 80, os filmes de ação e os filmes indianos chamavam muito público, mas o cinema entrou em declínio, devido à evolução tecnológica a que se vinha assistindo. Como já foi referido, as televisões começaram a surgir nas casas e o aparecimento das videocassetes contribuiu, de certo modo, para o declínio das salas de cinema em geral, naquela altura.

3.4.2. (Não) Programar para o Teatro Lagoense: uma sala

para acolhimentos

O CTL não tem uma programação ativa, abrindo apenas quando existe algum evento, como referido anteriormente. Não é, por isso, abundante, a informação acerca da sua escassa e irregular atividade.

Após a sua reabertura, o cinema era o que atraía mais população,

havendo sessões praticamente todas as semanas318, algo que já não se verifica

atualmente. Apesar de as condições não serem as melhores para a realização de espetáculos de teatro, costumam ser produzidas muitas peças por grupos locais da Lagoa e de outros concelhos de São Miguel. É também utilizado como

316 Idem.

317 T.O., Borges, Jorge Manuel Mota Amaral. 318 T.O., Borges, Rui Norberto Costa.

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sala de ensaios por dois grupos locais, a Associação Musical Nova Geração319

e o Grupo Musical Novos Criativos320. De todo o modo, o tipo de evento realizado

com maior frequência naquele espaço é, sem dúvida, o espetáculo de teatro.

Relativamente a eventos de música, são maioritariamente locais. Sendo um espaço de menor dimensão, comparativamente ao TM e ao TRG, neste local é possível a realização de concertos mais intimistas, e de solidariedade principalmente, mas também de orquestras, bandas filarmónicas da Lagoa – anualmente, é realizado o Festival de Bandas Filarmónicas António Moniz Barreto321 - havendo referência também à realização de festivais de outros

géneros musicais.

Este pequeno teatro já teve o prazer de ter em palco o grande historiador José Hermano Saraiva, proferindo uma palestra sobre o concelho da Lagoa. Sessões solenes no âmbito da comemoração da elevação da Lagoa a vila, entrega de medalhas, são também outro tipo de eventos feitos no CTL. Na verdade, a CML é a grande promotora dos eventos realizados no CTL. Costumam ser realizados “workshops”, formações, colóquios, palestras e entregas de prémios.

Aquando da elevação da vila da Lagoa a cidade, em 2012, o CTL foi o local escolhido para a Sessão Solene. Demonstra-se, assim, a importância que

319 Banda de música fundada em 2004.

320 Associação criada em 2011, por iniciativa de um grupo de pais e amigos, cujo objetivo

consistiu em apoiar jovens com gosto pela música. Com atuações a nível local e regional, tem vindo a desenvolver desde 2015 um projeto virado para a vertente rock para atrair mais público.

321 “A 27 de julho de 1907 nascia, na freguesia de Nossa Senhora do Rosário, António Moniz

Barreto, mais um dos ilustres seres humanos que a Lagoa, enquanto terra, procriou. Filho de António Moniz Barreto e de Maria da Glória Fragoso, este dotado ilustre da nossa terra deixou legado no campo da música como compositor e como um próximo apaixonado pelas lides das bandas filarmónicas, considerando a música em si uma “tão nobre arte”, como tão acostumadamente dizia (…) Maestro também da Banda Lira do Espírito Santo da Maia, da Lira do Norte de Rabo de Peixe, da União dos Amigos das Capelas, da Fraternidade Rural de Água de Pau e da Filarmónica Estrela d’ Alva de Santa Cruz, Lagoa, é de sublinhar que quase todas as filarmónicas dos Açores possuem músicas suas, assim como algumas no Canadá e Estados Unidos da América, tendo levado, assim, indubitavelmente, a Lagoa mais longe (…) O distinto compositor e maestro popular lagoense – porque pertence, e sempre pertenceu ao povo – faleceu a 14 de outubro de 1978.” in http://diariodalagoa.com/arquivo/45150

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aquele espaço assume para o concelho pois não podemos esquecer que o seu fundador tinha entre os seus principais interesses o desenvolvimento e o progresso da sua terra natal.

No ano seguinte, o Cine Teatro Lagoense comemorou o seu primeiro centenário. O evento foi assinalado a 1 de fevereiro, data que segundo João Ponte, presidente da CML na altura, não poderia passar despercebida, dada a importância que o espaço cultural teve e tem para o concelho, transportando ainda a memória do seu fundador, da pessoa que idealizou esta obra, Francisco d’Amaral Almeida. Na comemoração do seu centenário, foi proferida uma palestra por Sandra Monteiro cujo objetivo foi dar a conhecer melhor Francisco d’Amaral Almeida, bem como o desenvolvimento e as características deste equipamento cultural.