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Dos jurisdicionados

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2. DIREITOS FUNDAMENTAIS E O PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO

2.4 Dos jurisdicionados

Já foi dito, o cidadão possui expectativas quanto a tutela jurisdicional prestada pelo Estado, porém, nem sempre o aparelho judiciário é capaz de satisfazer as expectativas das partes litigantes.

As partes anseiam pela solução de seus conflitos, e acreditam que provocando o Judiciário, alcançaram o provimento de seu pedido de direito material de forma célere. Quando percebem que o Judiciário não funciona da maneira que pensavam a frustração e o descontentamento são inevitáveis. Desta forma, a sociedade acaba por deixar de acreditar no potencial efetivo do direito.

A respeito disso leciona Artur César de Souza:

Que o processo deva ter uma duração “razoável” ou pelo menos “tolerável” é princípio de primeira importância, pois é fácil compreender como em muitos casos uma decisão, apesar de favorável, proferida muito tarde em relação ao momento em que a parte tenha postulado em juízo, pode resultar concretamente inútil ou pouco útil.90

O Judiciário enfrenta diversos problemas, mas é a morosidade, a lentidão, que mais baixa o status do poder Judiciário perante a Sociedade de maneira geral. As partes não se interessam pelas causas da demora da justiça, somente estão interessadas na satisfação de seus desejos. Não entendem que a atividade cognitiva do juiz, somada com a enorme demanda de processos, exige tempo e diligência.

Neste entendimento Barroso ensina que uma justiça que tarda não é justa, mas esquecer das outras garantias constitucionais, também não é o caminho correto, para garantir a duração razoável do processo, não podemos passar por cima de outros princípios como o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório.91

A demora nas demandas judiciais não é um problema apenas do cidadão em sua esfera privativa, muitas empresas estrangeiras consideram a eficiência do judiciário para solucionar conflitos, quando decidem investir em determinado país.

90 SOUZA, Artur Cezar de. Teoria geral do Processo e Processo de Conhecimento. Revista de

Processo, Volume 246, agosto de 2015. Disponível:

<http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos _produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RPro_n.246.02.PDF>. Acesso em: 24/03/2019.

91 BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo: os conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. São Paulo: Saraiva, 2009.

Ao ser mundialmente conhecido por sua lentidão no processo judicial, o Brasil perde chances de novos negócios e crescimento econômico o que prejudica a todos.

A esse respeito diz Arthur Cezar de Souza:

É importante salientar que a falta de celeridade processual não atinge apenas os interesses individuais inseridos no âmbito da relação jurídica processual, pois essa lentidão acaba por gerar efeitos perniciosos igualmente no desenvolvimento social e econômico de uma nação. Segundo Maurzio de Paolis, sob a base de uma série de relatórios anuais provenientes do Banco Mundial, um dos principais “freios” do desenvolvimento produtivo na Itália deve-se identificar à lentidão dos processos que produz uma forte incerteza nas trocas comerciais e desencoraja os investidores nacionais e estrangeiros, representando um fortíssimo encolhimento em todos os outros indicadores internacionais. Segundo o autor italiano, em 01.01.2010, a Itália figurava em 5.º lugar, com 7.150 processos pendentes dentre os países com maior número de recurso promovidos perante a Corte europeia de Direitos do Homem de Strasburgo, perdendo apenas para Rússia, Turquia, Ucrânia e Romênia. Esses recursos apresentados perante a Corte Europeia tinham duas grandes questões, sendo que principal era a da excessiva duração dos processos.92

No contexto econômico, o fator tempo deve seguir o conceito de eficiência, existem negócios jurídicos que em virtude de sua natureza, sofrem prejuízos irreparáveis se exposto a grande demora do judiciário.

Como demonstram Leal Junior e Kempfer, "O descompasso entre a dinâmica da gestão pública e da gestão privada é indicado como um fator de injustiça e insegurança jurídica. A denominada gestão pública burocrática, sinônimo de lentidão, tem, ainda, suas raízes em todos os órgãos públicos".93

É unanimidade, por parte do cidadão comum, culpar a demora na solução das demandas judiciais à falta de mecanismos mais ágeis para a busca da decretação final do provimento. Os processos judiciais são vistos como vilões que atrasam o exercício de direitos.

92 SOUZA, Artur Cezar de. Teoria geral do processo e processo de conhecimento. Revista de

Processo, Volume 246, agosto de 2015. Disponível:

<http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos _produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RPro_n.246.02.PDF> Acesso em: 24/03/2019.

93 LEAL JUNIOR, João Carlos, KEMPFER, Marlene. A razoável duração do processo no âmbito do sistema brasileiro de defesa da concorrência. Revista Jurídica, São Paulo, v. 65, n. 471, p.

Como explica Carnelutti apud Alexandre Freitas Câmaras, as partes (os jurisdicionados) sofrem de impaciência:

Às partes desgraçadamente, estas são impacientes por definição; impacientes como os enfermos, pois sofrem também elas. Uma das funções dos defensores é inspirar-lhes a paciência. O slogan da justiça rápida e segura, que sempre se encontra nas bocas dos políticos inexpertos, contém, desgraçadamente, uma contradição in

adiecto; se a justiça é segura, não é rápida; se é rápida, não é

segura. Algumas vezes a semente da verdade leva anos, até mesmo séculos, para converter-se em espiga.94

Foi o clamor público pela celeridade processual, que levou o legislador a redigir o art. 4º do CPC, conforme relatado, destinado a esculpir a estrutura processual de maneira a assegurar maior celeridade. Deve-se chamar a atenção, porém, para o fato de que a justiça não é feita somente com rapidez, sem prestar atenção as outras garantias.

Humberto Theodoro Júnior contribui para o entendimento da origem da morosidade que atinge o Judiciário:

O notório atravancamento dos serviços não se dá pela excessiva necessidade de decisões, mas decorre, isso sim, da não tomada de decisões ou até da omissão de meros despachos. São as etapas mortas, constantemente entremeadas no curso do processo, em todas as instâncias, que condenam os processos à hibernação nos escaninhos das secretarias do juízo ou do gabinete dos juízes, relegando o encerramento do feito para futuro incerto e imprevisível.95

No mesmo sentido de que a celeridade é importante, mas somada ao devido processo legal, ensinam Leal Junior e Kempfer:

Estremar direitos de suas garantias constitui tarefa árdua, até mesmo para a doutrina, eis que o Texto Constitucional não forjou delimitação. Assim, é corriqueira a existência de dispositivo constitucional retratando ambos conjuntamente. Os direitos ao devido processo e ao processo com duração razoável são exemplos disso. Por serem, mais que enunciações, garantias com sede

94 CAMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. vol. 1. 25ª ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 67.

95 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Teoria geral do direito processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum. Vol. I. 56ª ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense,

constitucional, esforços devem ser enviados para que sejam colocados em prática.96

Para De Paolis, apud Souza, o juízo sobre a complexidade dos casos deve ater-se:

(a) à matéria; (b) ao tipo de procedimento aplicado; (c) à novidade ou seriedade das questões discutidas; (d) ao número de partes; (e) ao número de demanda formulada; (f) à tipologia (quantitativa e qualitativa) da investigação levada a cabo; (g) à necessidade de reenvio para fins instrutórios ou ao lapso de tempo ocorrido entre o reenvio e audiência sucessiva; (h) à presença de sub-procedimentos sumários; (i) à quantidade de documentos produzidos para exame dos magistrados e dos advogados; (j) aos acertamentos técnicos desenvolvidos; (l) às provas produzidas.97

96 LEAL JUNIOR, João Carlos, KEMPFER, Marlene. A razoável duração do processo no âmbito do sistema brasileiro de defesa da concorrência. Revista Jurídica, São Paulo, v.65, n.471, pg.

9/37, janeiro de 2017.

97 SOUZA, Artur César de. Teoria Geral do Processo e Processo de Conhecimento. Revista de Processo. 2015 REPRO. VOL. 246.

3. RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO E O DEVER DE INDENIZAR DO

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