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Princípio da razoável duração do processo

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2. DIREITOS FUNDAMENTAIS E O PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO

2.2 Princípio da razoável duração do processo

A Emenda Constitucional nº 45 implantou uma nova garantia fundamental por meio do acréscimo do inciso LXXVIII ao artigo 5º da Constituição: “A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.73

Este princípio foi primeiramente aplicado em território nacional pelo Pacto de San José da Costa Rica, de 1969, cujo Brasil é signatário e seu texto tem força constitucional. Este princípio foi reforçado no Novo CPC no seu artigo 4º.74

Para Nery Junior o art. 8º, § 1º da Convenção Interamericana de Direito Humanos reza que:

Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.75

O preceito fundamental demonstrado pelo princípio vai além do direito de ação ou de acesso ao judiciário, inserindo a necessidade da sua eficiência e celeridade.

No entendimento de Nagib Slaibi Filho, é de se notar que tal norma afirma o direito fundamental de todos à competente consolidação do processo pelo qual se

73 BRASIL. Emenda Constitucional Nº 45, de 30 de dezembro de 2004. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc45.htm. Acesso em: 10 Abril de 2019.

74 BRASIL. Código Processual Civil. Lei nº 13.105, de 16 de Março de 2015.Arito 4º: ““As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa”. Disponível em: <https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15#art-4>. Acesso em: 11 de Abril de 2019.

75 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo na Constituição Federal: (processo civil, penal e administrativo)– 12. ed. rev., ampl. e com as novas súmulas do STF (simples e vinculantes) e com o novo CPC (Lei 13.105/2015) – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 358.

leva a petição à cognição judicial ou administrativa: é assim, direito ao processo competente, muito além do simples direito ao processo.76

Para Francisco Meton Marques de Lima e Francisco Gérson Marques de Lima o inciso LXXVIII do art. 5º possibilita ao cidadão e as instituições perpetrarem duas cobranças:

a) do Poder Público, os meios materiais para que o aparelho judicial possa cumprir os prazos dispostos nas normas processuais; b) dos órgãos da Justiça, o esforço para cumprir os prazos legais, envidando esforço para abreviar a prestação jurisdicional, bem como prestar um serviço de qualidade.77

O art. 5º, inciso LXXVIII da Constituição 1988 confere aos Poderes Públicos a obrigação de fazer aquilo que for necessário para efetivar a duração razoável do processo e o implemento de meios que garantam a celeridade da sua tramitação, conforme segue:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).

§ 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. 78

Entende André Ramos Tavares:

Entende-se o processo como um direito-garantia constitucionalizado e de natureza fundamental – definição que resulta da escrituração do título II, da Constituição Brasileira – não se pode cogitar que um direito tenha ou não “duração” nem que esteja ou não razoável. Ao escriturar o termo “duração”, o inciso LXXVIII, do artigo 5º, da Constituição Brasileira se refere à

76 SLAIBI FILHO, Nagib. Direito fundamental à razoável duração do processo. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 59, 1 out. 2002. Disponível em: http://jus.com.br/revista/texto/3348>. Acesso em: 15 de Abril de 2019.

77 LIMA, Francisco Meton Marques de; LIMA, Francisco Gérson Marques de. Reforma do Poder Judiciário (Comentários iniciais à EC 45/2004). São Paulo: Malheiros, 2005.

78 BRASIL. Emenda Constitucional Nº 45, de 30 de dezembro de 2004. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc45.htm. Acesso em: 10 Abril de 2019.

tramitação dos procedimentos administrativos ou judiciais e não ao Processo, pois que este é um direito, e como tal impossível de ser enquadrado numa estrutura abstrata de duração do tempo, e tampouco a qualquer conceito de razoabilidade.79

A razoável duração do processo nas palavras de Fernando da Fonseca Gajardoni:

Em sistemas processuais preclusivos e de prazos majoritariamente peremptórios, como o nosso, o tempo ideal do processo é aquele resultante do somatório dos prazos fixados no Código de Processo Civil para cumprimento de todos os atos que compõem o procedimento, mais o tempo de trânsito em julgado dos autos.80 Orienta Nelson Nery Junior:

O princípio da duração razoável possui dupla função porque, de um lado, respeita ao tempo do processo em sentido estrito, vale dizer, considerando-se a duração que o processo tem desde seu início até o final com o trânsito em julgado judicial ou administrativo, e, de outro, tem a ver com a adoção de meios alternativos de solução de conflitos, de sorte a avaliar a carga de trabalho da justiça ordinário o que, sem dúvida, viria a contribuir para abreviar a duração média do processo.81

Acrescentam Marinoni e Mitidiero:

O direito à duração razoável do processo não constitui e não implica direito a processo rápido ou célere. As expressões não são sinônimas. A própria ideia de processo já repele a instantaneidade e remete ao tempo com algo inerente a fisiologia processual.

A natureza necessariamente temporal do processo constitui imposição democrática, oriunda do direito das partes de nele participarem de forma adequada, donde o direito ao contraditório e os demais direitos que confluem para organização do processo justo ceifam qualquer possibilidade de compreensão do direito ao processo com duração razoável simplesmente como direito a um processo célere.82

As expressões "razoável duração do processo" e "celeridade na sua tramitação" individualizam como processual o direito fundamental ora declarado, conforme relata no item que se segue.

79 TAVARES, Andre Ramos. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007, p.9. 80 GAJARDONI, Fernando da Fonseca. Técnicas de Aceleração do Processo, Livraria e Editora Lemos & Cruz, 2003, p. 59-60.

81 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo na Constituição Federal: (processo civil, penal e administrativo) 12. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 360, 361.

82MARINONI, Luiz Guilherme e MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitucional. São Paulo:

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