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Dos Meios Alternativos para Beneficiar o Companheiro no Direito Sucessório

CAPÍTULO III – DA SUCESSÃO

3.2 Do Direito de Sucessão em Portugal

3.2.2 Dos Meios Alternativos para Beneficiar o Companheiro no Direito Sucessório

O objetivo desse tópico é estudar os efeitos patrimoniais post mortem da União de Fato. E da investigação feita no Código Civil encontramos o seguinte artigo, que entendemos ser de grande relevância para o estudo proposto:

“Artigo 2020º (União de Facto)

174 DECRETO-Lei nº 47.344/66 – Código Civil [em linha]. Portugal. (25-11-1966). [Consult. 23 Set. 2015].

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1 - O membro sobrevivo da união de facto tem o direito de exigir alimentos da herança do falecido.

2. O direito a que se refere o número precedente caduca se não for exercido nos dois anos subsequentes à data da morte do autor da sucessão.

3. É aplicável ao caso previsto neste artigo, com as necessárias adaptações, o disposto no artigo anterior.”175

Nossa observação a respeito do citado artigo é que, embora essa prestação de alimentos possa se operar após a morte do companheiro (ou membro sobrevivo da União de fato, como definido pelo artigo) não vislumbramos um direito sucessório propriamente dito.

Assim, considerando o até aqui estudado, constatamos que não restou às pessoas que vivem em união de fato nenhum direito no que se refere a partilha de bens no caso de sucessão por morte. Entretanto, a lei civil ainda disponibiliza alguns mecanismos de disposição de bens, e que nesse caso poderiam ser utilizados para beneficiar o companheiro no caso da sucessão.

Destacamos, no entanto, que esses mecanismos não são de utilização específicas ou direcionadas aos companheiros, são apenas formas de disposição de bens permitidas pela legislação, onde vislumbramos a possibilidade de serem aproveitadas pelos companheiros, no caso da falta de legislação específica.

Conforme mencionamos anteriormente o artigo 2026º, CCiv, determina que a sucessão será deferida por lei, testamento ou contrato. Já vimos que a lei exclui da ordem de vocação hereditária os companheiros, que nos resta as outras duas opções para tentar garantir as pessoas que vivem em união de fato algum direito sucessório.

De acordo com o Código Civil, o testamento é o mecanismo pelo qual a lei permitiu que o autor da herança dispusesse livremente de seus bens. Desde que respeitada a legítima.

No quesito capacidade para suceder, verificamos que a lei determinou alguns impedimentos que devem ser observados, constantes nos artigos 2033º a 2038º, que não os mesmos impedimentos para a sucessão legítima e os impedimentos determinados nos artigos 2192º a 2198º, específicos no caso de testamento. Assim, não estando o companheiro enquadrado em nenhum desses artigos, está capacitado a herdar.

Dentro desse rol de impedimentos um artigo que merece destaque é o artigo 2196º, CCiv, in verbis:

“Artigo 2196º

(Cúmplice do Testador Adúltero)

175 DECRETO-Lei nº 47.344/66 – Código Civil [em linha]. Portugal. (25-11-1966). [Consult. 23 Set. 2015].

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1. É nula a disposição a favor da pessoa com quem o testador casado cometeu adultério.

2. Não se aplica o preceito do número anterior:

a) Se o casamento já estava dissolvido, ou os cônjuges estavam separados judicialmente de pessoas e bens ou separados de facto há mais de seis anos, à data da abertura da sucessão;

b) Se a disposição se limitar a assegurar alimentos ao beneficiário.”176

Merece destaque, não porque exista algum tipo de associação entre o adultério e pessoas que vivem em união de fato, já superamos esse debate, mas pelo seu conteúdo. Diz o referido artigo que “pode testar a favor do companheiro a pessoa casada desde que o casamento já tenha sido dissolvido ou estivesse separado de fato a mais de seis anos da abertura da sucessão”. É entendível que o legislador queira resguardar o interesse do outro cônjuge e garantir que não beneficie uma relação passageira em prol uma separação que poderia não passar de uma crise conjugal. Contudo, entendemos que faltou ao legislador uma ponderação no que se refere ao prazo escolhido. Isto porque, o artigo 1781º, CCiv determina que há ruptura do casamento caso os cônjuges estejam separados de fato há mais de um ano consecutivo. Além do mais, o artigo 1º, nº 2 da Lei nº7/2001 entende que pode ser declarada a união de fato, a união de pessoas que vivam em situações análogas aos casados por mais de dois anos. Ora, se para haver ruptura do casamento precisa-se do lapso temporal de um ano, e se para declarar a união de fato precisa-se do lapso temporal de dois anos, qual a razão para o legislador impor o prazo de seis anos para que uma pessoa que já está separada de fato beneficie seu companheiro?

O que nos induz a acreditar que a leitura desse artigo merece uma interpretação extensiva.

Superados esses pormenores e observados os limites da lei, podemos concluir que o companheiro sobrevivo pode vir a suceder parte da herança do de cujos, não pela posição que ocupa na vida do falecido, mas porque é um direito deste testar a favor de qualquer pessoa.

Um outro mecanismo encontrado no Código Civil é a sucessão por contrato, contudo, da leitura dos dispositivos que regulam a matéria, verificamos que, via de regra, a sucessão por contrata é proibida, e quando celebrada é nula, ressalvadas algumas situações em que a lei permite, e que em sua maioria estão ligados aos acordo antinupciais, e que por esta razão não atingem os companheiros, visto que esses não são permitidos por lei a realizar tais acordos, já que estes são reservados às pessoas casadas.

176 DECRETO-Lei nº 47.344/66 – Código Civil [em linha]. Portugal. (25-11-1966). [Consult. 23 Set. 2015].

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Renato Neto, em um estudo sobe a União de fato, trás em sua análise o Contrato de Coabitação, o objetivo principal desse contrato seria servir como prova para estabelecer um marco temporal para o inicio da união, e claro ajudar a regular os bens do casal, visto que durante o período da união o casal poderia contrair dívidas, adquirir bens, movimentar conta em banco etc.177 No entanto não existe previsão legal desse tipo de contrato em Portugal, e para a infelicidade das pessoas que vivem em união de fato, tampouco são aplicáveis a esse tipo de união as regras previstas para o casamento, no que se refere a parte matrimonial que envolve o instituto.

Pelo exposto, constata-se que, em Portugal, as pessoas que vivem em união de fato estão, de fato, desamparadas no que diz respeito a parte patrimonial do direito sucessório, restando somente o testamento como opção para tentar garantir-lhes algum direito.

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CAPÍTULO IV – DA INCLUSÃO DA UNIÃO DE FATO NO DIREITO SUCESSÓRIO