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3 O ENSINO SUPERIOR NO MARANHÃO

3.1 Dos Primórdios até a Metade do Século XX

Assim como no Brasil, a história da educação superior no Maranhão tem início no período colonial, ficando a cargo dos padres jesuítas, como no restante do Brasil. Estes, por sua vez, não tinham interesse de criar cursos superiores, cuidando das escolas de primeiras letras, seminários maiores, com oferta do Curso de Teologia para a formação de seus próprios ministros, com o objetivo de aumentar seus missionários para atender às metas da ordem religiosa, ou seja, da Companhia de Jesus.

Os primeiros jesuítas que chegaram ao Maranhão em 1615 foram os padres Manuel Gomes e Diogo Nunes, com o General Alexandre de Moura, mas em 1619 retornaram ao Reino para denunciar a escravização dos índios pelos colonos. Em 1622 o capitão-mor Antonio Muniz Barreiros Filho chegou ao Maranhão trazendo outros dois padres jesuítas, Luis Figueira e Benedito Almeida, os quais deram início à construção do colégio e da Igreja de Nossa Senhora da Luz. Por iniciativa também do Jesuíta Luís Figueira, um século depois, em 1731, concluiu-se a construção do Colégio e Residência da Madre de Deus, destinado principalmente abrigar o Curso de Teologia, Filosofia e Retórica que haviam fundado e que viria a ser autorizados a conferir o grau de doutor.

Estes cursos, depois de terem funcionado por mais de um século, começaram a desaparecer em 1760 em consequência da legislação que decretou a expulsão da Companhia de Jesus de todo o reino de Portugal.

Quanto aos cursos congêneres, mantidos pelos Carmelitas, não chegaram ao fim do século XVIII, pois conforme relatório datado de 27/11/1799, endereçado ao Ministro do Reino Unido, D. Rodrigo de Sousa Coutinho, o bispo do Maranhão, D. Joaquim de Carvalho, dando conta da situação das ordens religiosas existente no Estado, informava quanto a estas, que

nada conservam de sua instituição além do hábito e talvez o usem em razão de economia, acrescentando que não dão o melhor exemplo aos povos e julgo necessário que S. Alteza lhes mande estranhar o seu comportamento. (MEIRELES, 1981, p. 07).

O bispo que lhe sucedeu D. Antonio de Pádua, reconhecendo o prejuízo que causara à Diocese o desaparecimento desses cursos superiores, fez funcionar na Igreja da Sé um curso para os jovens que aspirassem ao sacerdócio, onde ele próprio ensinava Latim, Filosofia e Teologia, no qual se ordenaram 51 sacerdotes, 33 seculares, 11 carmelitas, 5 franciscanos e um mercedário. Mas D. Antonio só governou o bispado por cinco anos, e com sua renúncia em 1789 desapareceu no Maranhão esta última escola de Ensino Superior.

Desta forma, não foi só o Ensino Superior que desapareceu mas também o de primeiras letras, pois a ordem de que eles cuidavam com prática exclusiva entrou em crise sob o regime pombalino.

Depois do fechamento dos colégios da Madre de Deus e do Carmo pelo Aviso de 21 de outubro de 1790, ordenou-se à Câmara de São Luís que enviasse ao Reino Unido pessoas hábeis para, depois de aprenderem, voltar para esta capitania a fim de exercerem os empregos de topógrafos, hidráulicos, médicos, contadores e cirurgiões, aos quais a Câmara devia estabelecer pensões alimentares enquanto estudassem na Universidade de Coimbra e na Academia de Marinha de Lisboa. Mas o governador, D. Fernando Antonio de Noronha, não concordou com este Aviso, dizendo: “estudos superiores só servem para nutrir o orgulho e destruir os laços de subordinação civil e política que devem ligar os habitantes à metrópole” (MEIRELES, 1981, p. 09). Este fato levou Barbosa de Godois a qualificá-lo como um dos mais “imbecis governantes que teve o Maranhão”.

Embora a posição contrária do governante maranhense, a recomendação foi reiterada pela Carta Régia de 1800, e na gestão de seu sucessor, D. Diogo Martins Afonso de Sousa, 4 bolsistas - Raimundo Pedro da Silva e Cunha, Antonio Xavier de Lima, José Alves de Carvalho e Francisco Dias Velez - foram encaminhados pela Câmara de São Luís ao Reino para estudar Matemática, Medicina e Cirurgia. Como podemos observar, somente homens, até porque, como vimos, nesse período a mulher era excluída da educação, especialmente do Ensino Superior.

Com a migração da Família Real para o Brasil em 1808, o Príncipe Regente prometeu criar uma Faculdade no Maranhão, como ocorrera na Bahia, entretanto a promessa, lamentavelmente, não se concretizou.

A educação superior no Maranhão Império não foi muito diferente do que já vinha ocorrendo nos 300 anos do Brasil Colônia, pois quase na metade do

período colonial foi considerado o Estado de vida mais precária e difícil, chegando ao ponto de o Governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado, em carta enviada à Corte, se expressar:

este estado... se acha reduzido a extrema miséria”. Esta miséria já tinha sido citada antes pelo padre Antonio Viera, em sua crônica: “em todo Estado, exceto a capital, não há açougues, nem ribeira, nem horta nem tenda onde se vendesse as coisas usuais para o comer diário. (MEIRELES, p. 11)

Com relação à educação dos filhos da elite, também era sentida a influência europeia, pois era costume mandar os jovens estudarem em Portugal, França e Inglaterra. Esta prática motivou a não criação de escolas de Ensino Superior no Maranhão Império para não ameaçar a situação privilegiada de que desfrutava essa elite, pois como destaca o historiador Mario Meireles (p. 12):

Só teriam oportunidades de se fazer doutores os filhos das famílias abastadas que tivessem condições de mandar educá-los fora da província e só a eles, consequentemente, estariam destinados os altos cargos da administração pública.

Com a proclamação da República, começam a aparecer unidades isoladas de Ensino Superior no Estado, sendo a primeira a Faculdade de Direto do Maranhão. Após várias tentativas buscando apoio dos políticos maranhenses, sem sucesso, Domingos de Castro Perdigão encontrou um aliado no então Cônsul de Portugal no Maranhão, o escritor Fran Pacheco, para criar a Faculdade em 28/4/1918, funcionando no Beco da Sé, hoje Travessa São Francisco, depois em prédio próprio na Rua do Sol, em frente ao Teatro Artur Azevedo.

A Faculdade de Direito foi fundada por um grupo de intelectuais de destacado empenho, pois essa luta já vinha desde 1908, no sentindo de criar um curso jurídico no Maranhão. O mesmo já existia nos Estados do Amazonas, Pará, Ceará, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Reunida na Biblioteca Pública no dia 28 de abril de 1918, uma numerosa e seleta assembleia aprovou a criação da Faculdade de Direito, idealizada pelo então Diretor da Biblioteca Pública, Domingos Perdigão, que dizia:

Era pouco lisonjeira a posição do Maranhão, a Atenas Brasileira, entre os demais Estados da República, tratando-se de Ensino Superior, pelo que procurei empregar todos os esforços ao alcance da minha humilde individualidade para que conseguíssemos organizar também uma Faculdade de Direito (COSTA, 1996, p. 21)

Observamos, portanto, que embora fosse aspiração dos intelectuais da época a criação da Faculdade Direito, as autoridades políticas constituídas não demonstravam interesse na criação de escolas de Ensino Superior, fato este confirmado e registrado na ata de criação da Faculdade de Direito, onde Domingos Perdigão enfatiza:

Em 1908 principiei a pugnar pela abertura de uma escolar superior aqui. Neste sentido, troque ideias com o ilustre Dr. Jose Eusébio de Carvalho Oliveira, então nosso representante na Câmara Federal que muito me incentivou aconselhando-me a levar avante o empreendimento. As alterações políticas do Estado interromperam-me a ação. (COSTA, 1996, p. 21).

Porém, Domingos Perdigão não desistiu de sua ideia e em 1916 foi de novo despertado para a criação da Faculdade de Direito quando recebeu na Biblioteca Pública exemplares dos regulamentos das Faculdades do Pará, Ceará e Universidade de Manaus. De imediato procurou o governador do Estado, Dr. Herculano Parga, expondo sua ideia de criação da Faculdade de Direito, a qual foi considerada pouco louvável pelo governador, opinando que seria melhor cuidar-se de uma Escola Agrícola. Nota-se então o desinteresse pelo Ensino Superior, o qual podia despertar valores, preferindo um curso direcionado para uma área já definida, ou seja, o trabalho agrícola.

Mas o desejo, as lutas e os ideais da criação da Faculdade de Direito não pararam, e finalmente no dia 28 de abril de 1918 uma assembleia convocada por iniciativa dos senhores Domingos de Castro Perdigão, dos bacharéis Alfredo de Assis Castro, Antônio Lopes da Cunha, médico Jose de Almeida Nunes e do Cônsul de Portugal, Sr. Manoel Fran Pacheco, fundou a Faculdade de Direito do Maranhão.

Na primeira turma de bacharéis colaram grau 7 acadêmicos, todos do sexo masculino. Somente na segunda turma de Direito, em 1924, formou-se a primeira mulher, Zélia Campos, sócia fundadora da Faculdade, juntamente com outras mulheres, como a professora Rosa Castro, Maria da Gloria Parga, Joaquina Alves de Jesus, Dulce Correa Rosa.

Em 3 de maio de 1922 foi criada a Escola de Farmácia do Maranhão, por iniciativas dos médicos Luis Viana e Cesário Veras, com apoio dos farmacêuticos Bernardo Pedrosa Caldas e João Marcelino da Silva Teixeira, tendo como primeiro diretor o Dr. Achiles Lisboa, médico e farmacêutico. Essa Instituição funcionou a

princípio no prédio do Grupo Escolar Raimundo Correia, na Rua do Sol, e depois na sua sede própria, no sobrado do Largo de Santo Antonio. Em 1925, a Escola de Farmácia criou o Curso de Odontologia, passando a se chamar Escola de Farmácia e Odontologia do Maranhão. E ainda naquele ano é criada a Escola Superior do Comércio Centro Caixeiral, associação de classe existente desde 1800.

De 1929 até 1933 os intelectuais tentaram criar Faculdades de Medicina e Agronomia no Maranhão, no entanto todas as tentativas não foram bem sucedidas. A primeira nem foi criada devido à falta de recursos para custear despesas e por questões políticas, pois nesta época o estado do Maranhão sofria as consequências da revolução de 1930, com a deposição do governador Jose Pires Sexto.

Quanto à Faculdade de Agronomia, esta ainda chegou a ser criada pelo agrônomo Jose Nogueira de Carvalho e pelo engenheiro Tibiriçá de Oliveira, funcionando até 1939, sendo desativada devido à fiscalização do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio a que foi submetida, pois desta avaliação, realizada pelo engenheiro agrônomo Eliezer Rodrigues Moreira, é bom destacar, um maranhense, foi emitido um relatório desfavorável ao seu funcionamento.

O que podemos observar é que esta fiscalização se estendeu às outras faculdades já existentes no Maranhão, e em 1941 o Departamento Nacional de Ensino, por constatar irregularidade quando da fiscalização, fechou também as outras faculdades, ou seja, a de Direito e a de Farmácia e Odontologia, sendo seus arquivos recolhidos ao Ministério, que dava garantia apenas aos alunos que se transferissem para escolas similares em outros Estados.

Segundo Meireles (1981) a juventude maranhense ficou sem nenhuma opção de Ensino Superior num período de 3 anos, até 1944, já que as primitivas escolas superiores haviam sido forçadas a encerrar suas atividades, quando o interventor federal no Maranhão, bacharel Paulo Martins de Sousa Ramos, decidiu instituir um órgão de administração indireta no Estado, a Fundação “Paulo Ramos”, com a finalidade de prover o ensino em causa, sob a responsabilidade do Professor Luiz de Moraes Rêgo, com a finalidade de manter o Ensino Superior no Estado.

A Fundação teve a incumbência de abrir novamente os cursos de Direito, Odontologia e Farmácia, sob a direção do professor e médico Salomão Fiquene. Renomeada de Faculdade de São Luis - e não mais Faculdade do Maranhão, como anteriormente era chamada -, foi autorizada a funcionar pelo Decreto 17.553/1945.

Em 1947 as duas Faculdades foram reconhecidas pelo Ministério da Educação, pois apresentavam condições favoráveis de ensino.

Em 1948 surge a Escola de Enfermagem São Francisco de Assis, pelos médicos Carlos dos Reis Gomes Macieira, Raimundo de Matos Serrão, Francisco Távora Teixeira Leite, Geraldo de Oliveira Melo e pela Madre Josefa Maria de Aquiraz, superiora das Irmãs Terceira Capuchinhas, as quais administravam o Hospital Geral Tarquínio Lopes Filho. Em virtude da grande influência política que tinha o senador Vitorino Freire junto ao presidente da República da época, general Eurico Gaspar Dutra, por meio da Lei nº 1.254, de 4/12/1950, as duas Faculdades foram federalizadas, deixando de ser escolas superiores de natureza particular, transformando-se em órgãos da Administração Pública. Seu corpo docente e técnicos administrativos passaram a integrar o quadro de pessoal e funcionalismo público civil da União e seus diretores nomeados pelo presidente da República.

Em 15/8/1952, a Fundação “Paulo Ramos” e a Academia Maranhense de Letras, em parceria com Arquidiocese do Maranhão, criam a Faculdade de Filosofia pelo Decreto nº 32.606, autorizando-a a funcionar com os cursos de Filosofia, Letras Neolatinas, Geografia, Historia e Pedagogia. Pelo Decreto Episcopal nº 5, assinado pelo então arcebispo D. José de Medeiros Delgado, a Arquidiocese cria a Escola Maranhense de Serviço Social, delegando-a as Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado, que a manteria por conta da Sociedade Feminina de Instrução e Caridade, com sede em Campinas, São Paulo. A Escola se instalou em 7/4/1953, sendo sua primeira diretora a irmã Altiva Pantoja da Paixão.

Apesar destas iniciativas isoladas, o governo do Estado fechou os olhos para a necessidade de uma universidade no Maranhão; entretanto, a Igreja Cat ólica, consciente do seu papel, manifestou comprometimento com as necessidades educacionais do Maranhão, conforme passaremos a discorrer no próximo tópico.