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Dos suficientes indícios quanto aos crimes antecedentes

89 Termo de Colaboração nº 03 (ANEXOS 46 e 47): “[…] QUE a parte da “Casa” era operacionalizada pelo decla-

3.3. LAVAGEM DE ATIVOS 1 Pressupostos teóricos

3.3.2. Dos suficientes indícios quanto aos crimes antecedentes

Conforme narra a denúncia, encontram-se entre os crimes antecedentes denunciados delitos praticados no seio e em desfavor da PETROBRAS, notadamente crimes de cartel, fraude à licitação, corrupção, lavagem de capitais, crimes contra a ordem tributária e o sistema financeiro nacional. A instrução processual corroborou de forma clara o fato de que, desde meados da última década, a OAS já integrava cartel formado pelas grandes empresas de construção do país com o objetivo de frustrar o caráter competitivo das licitações de grandes obras realizadas pela PE- TROBRAS.

Consoante bem esclareceu a testemunha AUGUSTO MENDONÇA128, o

cartel surgiu a partir de um grupo de trabalho criado no âmbito da ABEMI (Associa- ção Brasileira de Montagem Industrial) e, em sua configuração inicial (que remonta à década de 1990), era integrado pelas empresas ODEBRECHT, UTC, CAMARGO COR- REA, TECHINT, ANDRADE GUTIERREZ, MENDES JÚNIOR, PROMON, MPE e SETAL. Ba- sicamente, essas empresas se reuniram com o propósito de combinar a participação nos certames da estatal, definindo previamente quem seria, dentre elas, a empresa

128 Em sede de termo prestado em decorrência do acordo de colaboração premiada (evento 3, COMP97).

que apresentaria o menor preço, ao qual as outras dariam cobertura.

Todavia, como detalha a Nota Técnica n° 38/2015 formulada pelo Con-

selho Administrativo de Defesa Econômica (CADE)129, apoiado em documentos e in-

formações prestadas por representantes das empresas SOG e SETAL, esse grupo inici- al não estava obtendo os resultados almejados, sobretudo em virtude da participação de outras empresas competitivas nos certames. Nesse sentido, vale chamar atenção para o parágrafo 130, no qual se faz menção ao campo “oportunidades perdidas” da planilha juntada ao evento 3, COMP98.

Em vista disso, como refere AUGUSTO MENDONÇA, com o objetivo de conferir eficácia à divisão de mercado pretendida, as cartelizadas tomaram duas medidas: 1) admitiram outras 7 grandes empreiteiras no “clube”, a saber: OAS, SKANSKA, QUEIROZ GALVÃO, IESA, ENGEVIX, GDK e GALVÃO ENGENHARIA e 2) realizaram acordo com os então Diretores das áreas de Abastecimento e Serviços da PETROBRAS, PAULO ROBERTO COSTA e RENATO DUQUE, bem como com o ex- Gerente Executivo de Engenharia, PEDRO BARUSCO, para que, mediante pagamento de propina, atuassem em favor dos interesses do cartel.

O ingresso das empresas no cartel é bem detalhado no já mencionado histórico de conduta realizado pelo CADE, sendo a participação da OAS evidenciada em diversos documentos, concluindo o órgão de defesa econômica que:

“Construtora OAS S/A (OAS)

29. A OAS teve participação na conduta anticompetitiva durante o “clube das 16”, pelo menos entre o final de 2005/início de 2006 até o final de 2011/início de 2012. Foi implementada pelos seus funcionários (atualmente funcionários e/ou ex-funcio- nários) Agenor Franklin Magalhães Medeiros, Henrique Quintão Federici, José Alde- mário Pinheiro Filho (“Leo Pinheiro) e “Ailson”, e está evidenciada, por exemplo, nos Documentos 05, 06, 07, 10, 12, 13, 16, 17 a 20, 22, 30, 32, 34, 35 e nos parágrafos 45, 47, 67, 68, 69, 168, 171, 173, 176, 177, 181, 185, 200, 215, 216, 223, 229, 234, 248, 250, 251, 253, 267, 168 deste Histórico da Conduta.”130

O envolvimento da OAS nas atividades do cartel restou comprovado por diversas provas. Destaque-se, inicialmente, o depoimento de PAULO ROBERTO COS- TA, juntado quando do oferecimento da denúncia, em que detalha o momento em que foi procurado com o requerimento de que as concorrências da área de abasteci- mento da PETROBRAS fossem restritas às empreiteiras cartelizadas:

“Juiz Federal:- Certo? Então, senhor Paulo, o senhor mencionou no seu depoi- mento anterior sobre a, depois que o senhor assumiu o cargo de diretor, a res- peito da existência de um cartel de empresas. O senhor pode me esclarecer esse fato? Interrogado:-Posso. Quando eu assumi em 2004, maio de 2004, a área de

abastecimento, que eu vou colocar aqui, eu já coloquei no depoimento anterior, como o senhor mencionou, vamos repetir, a área de abastecimento não tinha nem

129 Nota técnica n° 38/2015 (evento 3, COMP98 a COMP101).

130 Histórico de Conduta (disponível em <http://www.cade.gov.br/noticias/cade-celebra-acordo-de- leniencia-no-ambito-da-201coperacao-lava-jato201d/hc-versao_publica.pdf>, acesso em 01/06/2017).

projeto nem orçamento, então, vamos dizer, os anos 2004, 2005, 2006, muito pouco foi feito na minha área porque, vamos dizer, os projetos e orçamentos eram, eram alocados principalmente à área de exploração e produção. Então se nós pegarmos hoje um histórico dos últimos 10 anos, 12 anos dentro da Petrobras vai se verificar que o maior orçamento, e tá correto isso, o maior orçamento da Petrobras é alocado para áreas de exploração e produção. Que é área de exploração, perfuração de po- ços, colocação de plataformas e produção. A minha área tava bastante restrita, nesse sentido, em termos de projetos de grande porte. Vamos dizer, os primeiros projetos se iniciaram, final de 2006 início de 2007, que eram projetos visando a melhoria da qualidade dos derivados, a redução do teor de enxofre da gasolina e do diesel pra atender determinações da Agência Nacional de Petróleo. E as refinarias novas tam- bém começaram nessa época, que eram a Refinaria do Nordeste e o Complexo Pe- troquímico do Rio de Janeiro. Então, os anos iniciais da minha gestão, nós pratica- mente não tivemos obras de grande porte,então pouca interação eu tive com essas empresas e com respeito ao cartel. Era, isso era muito alocado na área de exploração e produção. A partir desses eventos né, final de 2006 início de 2007, é que teve,

eu tive mais aproximação e mais contato com essas empresas e fiquei conhe- cendo com mais detalhes esse processo todo, que eu não tinha esse conheci- mento no início da minha gestão por não ter obra e não ter, vamos dizer, a de- vida importância dentro do processo. A partir então da entrada de mais obras, de mais empreendimentos, essas empresas começaram a me procurar e eu fi- quei então tomando, vamos dizer, tomei conhecimento com mais detalhe des- sa sistemática do cartel dentro da Petrobras.

Juiz Federal:- E do que o senhor tomou conhecimento? Interrogado:-Bom, as empresas me procuraram mostrando interesse de fazer essas obras, como eu falei anteriormente, eu não tinha obra dentro da minha área, então não tinha nenhuma procura das empresas, a partir de, do início dessas obras, elas mos- traram interesse em participar, vamos dizer, as grandes empresas que estavam no cartel, participarem com exclusividade desse processo. Então praticamente foi isso, exclusividade de participação das grandes empresas do cartel dentro dessas obras que começaram a acontecer dentro da diretoria de abastecimen- to a partir aí de final de 2006, início de 2007.

Juiz Federal:- Que empresas que procuraram o senhor especificamente? Interrogado:- Eu tive mais contato com a UTC e com a ODEBRECHT.

Juiz Federal:- Mas foram representantes dessas empresas conversar com o senhor? Interrogado:-Sim, foram representantes dessas empresas conversar comigo. Perfeita- mente. (…)

Juiz Federal:- A OAS participava? Interrogado:-Perfeito. (…) Juiz Federal:- Mas

esses representantes que foram conversar com o senhor, eles falavam em nome dos outros também ou eles...? Interrogado:-Falavam em nome de todos.

Juiz Federal:- Mas eles apresentaram nessa ocasião alguma proposição ao senhor? Por que eles revelaram ao senhor a existência desse cartel? Interrogado:-O objetivo seria, como mencionei anteriormente, com a locação de obras dentro da minha área, que essas obras já tinham na área de exploração e produção, então esse processo já era um processo em andamento, né, na minha área tava começando ali por parte de projetos novos e orçamentos alocados pra esse processo. Então qual era o objetivo? Que não houvessem empresas convidadas que não fossem daquele grupo. Então o objetivo grande é que eu os ajudasse pra que as empresas que fossem convidadas fossem empresas daquele grupo. (…) Juiz Federal:- Mas essa reunião que o senhor teve com esses 02 representantes das empreiteiras, por quê que eles revelaram pro senhor a existência desse cartel, eles fizeram essa solicitação? Interrogado:- Para eu poder ajudá-los quando fosse feito o convite pela área de serviço, pra eu poder aju- dá-los que aquele convite não fosse mexido, que não fosse incrementado com novas

empresas que, vamos dizer, não houvesse nenhum óbice da participação daquele grupo no processo.

Juiz Federal:- E o senhor aceitou essa proposição? Interrogado:-Sim. Juiz Federal:- O

senhor aceitou por qual motivo? Interrogado:- Porque eu tinha, vamos dizer, dentro da minha indicação para assumir a diretoria de abastecimento, eu ti- nha esse compromisso com a entidade política, por isso que eu aceitei.

Juiz Federal:- Compromisso com a entidade política em que sentido? Interro- gado:- Desse de ter um, de ter um percentual para, do contrato, pra passar para a entidade política.

(trechos do interrogatório de PAULO ROBERTO COSTA, reduzido a termo no evento 3, COMP103) – grifos nossos.

Como dito, de forma a comprovar a existência e o funcionamento inter- no do referido cartel, o colaborador AUGUSTO MENDONÇA apresentou diversos do- cumentos, que foram juntados ao evento 3 (COMP108 a COMP110), dos autos e ple- namente confirmados e elucidados em juízo.

Dentre tais documentos, vale destacar as anotações manuscritas das di- versas reuniões ocorridas e planilhas referentes à divisão de obras entre as empresas cartelizadas, ambas com expressas referências à OAS, bem como o documento intitu- lado “Campeonato Esportivo” (evento 3, COMP111), no qual se estabeleceu, de forma dissimulada, as regras de funcionamento do cartel.

O CADE realizou análise minuciosa dos documentos apresentados pelos colaboradores relacionados ao grupo SETAL, evidenciando o histórico por eles narra- do e a divisão de mercado realizada pelas cartelizadas, conforme se observa no His- tórico da Conduta131: formulado por este Conselho. Vale aqui transcrever trecho em

que se demonstra a atuação do cartel, com a escolha da empresa vencedora e a reali- zação de acordos para o oferecimento de propostas-cobertura de forma a permitir fi- xação de preço no patamar pretendido pela selecionada e evitar o cancelamento do procedimento licitatório:

“72. Os Signatários esclareceram que havia uma hierarquia (não oficializada, mas de facto) entre as empresas do "Clube das 9": as mais fortes eram Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Techint, UTC, Mendes Júnior, e, depois, as empresas de menor importância seriam Promon, Setal e MPE.

73 Segundo as regras da época, em princípio teria que haver, no mínimo, três

propostas, para evitar o risco de cancelamento da licitação da Petrobras, sen- do que nas reuniões em que se escolhiam as prioridades e quem venceria de- terminado certame, eram definidas também quais empresas apresentariam propostas de cobertura. Assim, dependendo do tamanho do projeto, forma- vam-se consórcios para fazer cobertura à proposta sabidamente vencedora, e/ou isto era feito por empresas individuais.