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1.1.1 Drogas psicoativas: classificação e formas de ação e efeitos no

1.1.1.3 Drogas perturbadoras da atividade mental

Fazem parte do grupo das substâncias perturbadoras ou alucinógenas do SNC, as que modificam, qualitativamente, a atividade do cérebro; ou seja, perturbam e distorcem o seu funcionamento. Estas substâncias, também, são chamadas de alucinógenos, psicodélicos, psicoticomiméticos e alucinantes (CEBRID, 2006).

Algumas dessas substâncias são extraídas de plantas como a maconha (cannabis sativa), haxixe, chá de lírio, cogumelos, santo daime e outras são fabricadas em laboratórios, designadas como drogas sintéticas: ecstasy, speed, ice

e LSD (ácido), e os anticolinérgicos (Artane, Bentyl e Akineton). Já os orexígenos são remédios para estimular a apetite, Periatin, Apetivit, Periavida, etc (CEBRID, 2006).

A maconha

É o nome dado no Brasil à Cannabis sativa. Suas folhas e inflorescências secas podem ser fumadas ou ingeridas. Há também o haxixe, pasta semi-sólida obtida por meio de grande pressão nas inflorescências, preparação com maiores concentrações de THC (tetrahidrocanabinol), uma das diversas substâncias produzidas pela planta, principal responsável pelos seus efeitos psíquicos (CEBRID, 2006).

A maconha está entre as plantas mais antigas cultivadas pelo homem, tendo registros de que os chineses o faziam há 6 mil anos, para a obtenção de suas fibras. Eles ainda a utilizavam como medicamento e seus grãos como alimento há cerca de27000 a. C. ainda hoje, em partes do Nepal, óleos comestíveis são produzidos a partir de seus grãos. Durante vários séculos e em muitas culturas, seu plantio foi incentivado para a utilização de seus talos na fabricação de cordas, fibras têxteis, palitos e até papel, além de seu uso como alimento, propósitos religiosos, recreativos ou medicamentoso (ZUARDI; CRIPPA, 2011).

A substância ativa (THC) é extraída das folhas e de seus topos floridos. Há uma grande variação na quantidade de THC produzida pela planta conforme as condições de solo, clima e tempo decorrido entre a colheita e o uso, bem como na sensibilidade das pessoas que a consomem, o que explica a variedade de sensações relatadas pelos usuários (CEBRID, 2006).

Na década de 60, juntamente com o LSD-25, foi considerada a droga da moda, sendo bastante consumida, até hoje, embora tenha perdido seu destaque em favor dos inalantes entre as classes mais desfavorecidas e, nas classes média e alta, em favor da cocaína. Com a obtenção de melhores resultados com a morfina e os barbitúricos, diminuiu o interesse e o uso médico da Cannabis. Hoje, seu emprego terapêutico é mínimo, embora pesquisas indiquem que o uso da Cannabis reduz ou inibe as náuseas e vômitos produzidos por medicamentos anticâncer, e apresente efeitos benéficos em alguns casos de epilepsia.

A maconha pode ser fumada ou ingerida, como ocorre nas populações indígenas. Ela é a droga de uso ilícito mais frequente e alvo de muitas controvérsias, pois, enquanto alguns condenam seu uso, alegando ser porta de entrada para a delinquência, outros a defendem (CEBRID, 2006).

Seus efeitos podem ser tanto físicos quanto psíquicos e variam de acordo com o tempo de uso da droga. Os efeitos físicos agudos são poucos (olhos avermelhados, boca seca e taquicardia), enquanto que os efeitos psíquicos agudos dependem da qualidade da maconha utilizada e da sensibilidade de quem fuma (CEBRID, 2006).

Para alguns, os efeitos são uma sensação de bem-estar acompanhada de calma e relaxamento, da diminuição da fadiga e vontade de rir; entretanto, para outros, os efeitos são desagradáveis: sentem angústia, ficam aturdidas, temerosas, trêmulo e suando, o que é comumente chamado de “má viagem”. O uso da droga causa uma perturbação na capacidade de a pessoa calcular tempo e espaço, com prejuízo da memória e atenção (CEBRID, 2006).

Com o aumento da dose ou dependendo da sensibilidade, há uma predominância de delírios, alucinações e ilusões. O delírio uma é perturbação mental que provoca um juízo errado da realidade, ou seja, uma perturbação e prejuízo no julgamento daquilo que se vê, ouve ou sente. Diversos tipos de delírio podem ocorrer, mas é comum o tipo persecutório, em que a pessoa se sente perseguida por alguém ou algo. Este prejuízo no julgamento da realidade pode levar ao pânico ou a atitudes perigosas, como, por exemplo, "fugir pela janela", caso acredite estar sendo perseguida, ou a agredir as pessoas em uma atitude de defesa antecipada, uma vez que acredita estar sendo tramada alguma coisa contra ela, estados estes característicos da paranóia. As ilusões, em geral visuais, auditivas e sinestésicas, são uma percepção deformada de um objeto real. Por exemplo, a pessoa vê uma árvore, mas a identifica com a sombra de uma pessoa que a persegue, ou sente suas roupas como bichos subindo pelo seu corpo. Ocorrem ainda as alucinações, percepções e julgamentos distorcidos da realidade, sem que haja a presença de um objeto ou estímulo real. As alucinações podem ser de vários tipos e de conteúdos variáveis, desde muito agradáveis a terrificantes. Um exemplo clássico de alucinação visual é a pessoa encontra-se sozinha no ambiente e ver outras pessoas ou animais ao seu redor. Todos estes efeitos alucinatórios são raros e mais

freqüentes em quem possui uma pré-disposição psíquica para tanto (DALGALARRONDO, 2009).

Os efeitos físicos crônicos do uso da maconha são maiores e podem afetar vários órgãos do corpo. Com o uso constante, o indivíduo pode desenvolver problemas respiratórios que são comuns, uma vez que a fumaça produzida pela maconha é muito irritante, além de conter alto teor de alcatrão (maior que no caso do tabaco) e nele existir uma substância chamada benzopireno, um conhecido agente cancerígeno. Ocorre, ainda, uma diminuição de 50% a 60% na produção de testosterona dos homens, podendo haver infertilidade (CEBRID, 2006).

Quanto aos efeitos psíquicos crônicos da maconha, o uso continuado interfere na capacidade de aprendizagem e memorização, induzindo a um estado de amotivação, levando algumas pessoas a um estado de dependência, ou seja, elas passam a organizar suas vidas de maneira a facilitar o uso da maconha, sendo que tudo o mais perde seu valor (CEBRID, 2006).

Embora seja claro que os usuários de maconha podem apresentar uma síndrome de abstinência e dependência, nem todos chegam a desenvolvê-la. Alguns fatores de risco a dependência incluem o poliabuso de outras drogas antes da maconha, uso antes do final da adolescência, baixa renda familiar, presença de comorbidades psiquiátricas e uso concomitante de álcool e outras drogas (ZUARDI; CRIPPA, 2011).

Ainda que os derivados da maconha possam apresentar potencial terapêutico para diversas condições, o uso recreativo da maconha pode levar alguns indivíduos a desenvolver sintomas psiquiátricos agudos e dependência. Não há consenso entre os pesquisadores se a maconha pode levar a transtornos psiquiátricos após a suspensão de seu uso, “porém, é certo que o uso regular de grandes quantidades de Cannabis implica problemas cognitivos, psicossociais e de saúde em uma parcela de sujeitos vulneráveis (ZUARDI; CRIPPA, 2011.p.168).

1.1.2 Panorama epidemiológico do consumo de drogas entre estudantes