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1. PANORAMA DAS DROGAS E DO TRÁFICO ILÍCITO DE

1.1.4 Drogas Psicoestimulantes

As drogas psicoestimulantes interferem no normal funcionamento cerebral, propiciando um estado de alerta exacerbado, insônia e ausência de apetite, enquadrando-se neste rol a cocaína, a cafeína, a nicotina e as anfetaminas. Estas últimas foram sintetizadas em laboratório em 1928, quando passaram a ser comercializadas por seu potencial para desobstruir as vias aéreas, por inibirem o apetite, e por suas propriedades antidepressivas. Descobertas científicas posteriores identificaram que o uso indiscriminado de tais substâncias acarretava dependência, impondo-se então a fiscalização dos órgãos governamentais na sua comercialização com vistas a restringir o consumo. Estas drogas são estimulantes, e promovem a liberação de noradrenalina e dopamina, que provocam alterações fisiológicas e comportamentais, como a perda do sono e do apetite, produzindo assim um estado de vigília e inquietação no usuário42.

Estas drogas são hodiernamente sintetizadas em laboratório, conquanto exista uma espécie natural utilizada pelos habitantes da África e do Oriente Médio, designada de khat, encontrada nas folhas de uma planta que recebe o mesmo nome. Por atuarem a nível neuronal, ora estimulam a liberação de um maior número de neurotransmissores que o normal, ora inibem a recaptação de tais neurotransmissores, promovendo uma ação estimulante. É o que ocorre quando há a ingestão do “rebite”, utilizado por indivíduos que precisam estar acordados por mais tempo que o normal, como é o caso dos estudantes e motoristas. Além disto estes medicamentos são utilizados no tratamento da obesidade, já que reduzem o apetite de seus usuários. Ocorre que, após oito a doze semanas de uso, é comum o desenvolvimento da tolerância, prejudicando-se a sua efetividade no combate ao excesso de

41 ARATAGNY, Lídia Rosenberg, op.cit. ,p.156-157. 42 BIRNER, Ernesto; UZUNIAN, Armênio. ,op.cit,.p.27-28

peso. O uso destas substâncias provoca ainda taquicardia ( aceleração dos batimentos cardíacos), dilatação das pupilas e aumento da pressão arterial. 43.

A nicotina é a substância tóxica encontrada no tabaco, e é a reforçadora do tabagismo, causando a dependência. Em virtude da ligação entre esta e o desenvolvimento de patologias cardiovasculares, cânceres de pulmão, bronquites crônicas e enfisemas, esforços têm sido congregados para desestimular o seu uso. O Ministério da Saúde obrigou a fixação de dizeres na embalagem dos cigarros que indicam seus malefícios à saúde, além de fotos de portadores de doenças graves causadas pelo uso do tabaco. Apesar disto o consumo se manteve elevado. A nicotina apresenta propriedades depressoras e estimulantes, malgrado não altere o estado mental, nem as relações sociais do fumante.

Em pequena quantidade interfere nos músculos da bexiga, útero e intestinos, e em doses elevadas provoca a paralisação dos mesmos, além de promover vasoconstricção, taquicardia e hipertensão arterial.44 À semelhança da maconha e cocaína, a nicotina causa

dependência, no entanto, em atendimento aos interesses da indústria do fumo, há um sério entrave às medidas preventivas ao uso de tabaco, comprometendo-se a saúde dos fumantes e a redução de seu impacto no ambiente de trabalho.45 Cumpre trazer à baila os esclarecimentos

adiante transcritos:

A dependência de cigarros (nicotina) é influenciada por diversas variáveis. A própria nicotina gera o reforço ao consumo e os usuários a comparam a estimulantes como a cocaína ou anfetaminas, embora seus efeitos sejam mais brandos. Embora existam muitos usuários casuais do álcool e cocaína, poucos fumantes usam quantidades suficientemente pequenas (5 cigarros ou menos por dia) para evitar a dependência. A nicotina e rapidamente absorvida pela pele, pelas mucosas e pelos pulmões46.

De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde, em pesquisa realizada pela Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção Para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), o número de fumantes brasileiros caiu para 14, 8%. Dentre estes os representantes do sexo masculino perfazem um total de 18,1%, e os do sexo feminino 12%. Do número de fumantes, apenas 5,4% dos homens consomem mais de 20 cigarros por dia, em face de 3,3% das mulheres47. Depreende-se disto que, malgrado as campanhas anti-tabagismo

43GOODMAN & GILMAN., op.cit., p.41-45.

44 CAMARGO, Maria Thereza Lemos de Arruda. Plantas Medicinais e de Rituais Afro-Brasileiros II: Estudo

Etnofarmacobotânico. São Paulo: Ícone, 1998. p.110.

45 BORTOLETTO, Maria Élide., op.cit, p.20 46 GOODMAN & GILMAN, op.cit, p.551

47 Número de Fumantes no Brasil cai para menos de 15% pela primeira vez, segundo pesquisa Vigitel.

não tenham ainda atingido os efeitos desejados, ao menos já se percebe uma maior preocupação com os cuidados atinentes à saúde. Ainda assim este número ainda é preocupante, e o caminho a palmilhar para a plena libertação do vício em nicotina é longo e tenebroso. Ponderável parcela dos fumantes não consegue parar de fumar, apesar dos diversos engenhos existentes no mercado para tal fim, a julgar pelos adesivos que contêm à substância encarregados de auxiliar este processo. A melhor medida, portanto, é a antiga estratégia da prevenção, evitando-se a “primeira tragada”.

A cocaína, também integrante do grupo das anfetaminas, extraída da planta coca, existente na América do sul, já era utilizada pelos incas quando os colonizadores chegaram, passando a ser exportada por estes posteriormente para a Europa. O “vinho de coca” foi fabricado por um período, e era largamente apreciado pelas grandes autoridades européias por suas propriedades revigorantes. Mais tarde, A. Neumann extraiu a cocaína pura das folhas desta planta, um pó mais ativo que o vinho, com propriedades anestésicas locais, segundo atestava Sigmund Freud, que participou de experimentos utilizando a droga para remover a dor de mucosas em cirurgias48.

O pai da Psicanálise fascinado por suas propriedades, não só era usuário como difusor do uso como meio de revitalização, e sob seus efeitos escreveu artigos, sentindo-se “verdadeiramente médico” a partir daí. Até o início do século XX esta droga era utilizada como medicamento, inclusive no Brasil, para a cura de diversas patologias. A cocaína pode ser apresentada sob diversas formas, com graus variáveis de pureza e potencialidade, como é o caso do chá das folhas de coca, o sal e a pasta de cocaína e o crack. Os efeitos são múltiplos, desde uma profunda sensação de prazer até excitação, hiperatividade, falta de apetite e ausência de cansaço. Em doses mais altas ministradas de uma só vez podem ocasionar irritabilidade, agressividade, delírios e alucinações.49

Na década de oitenta surgiram os primeiros relatos do uso de crack no Brasil, inicialmente no Sul e Sudeste, pela escassez de outras drogas, e por uma estratégia de marketing, pelo baixo custo, e por ser uma opção “segura” quanto à contaminação do vírus HIV para os usuários da cocaína por via venosa. Inicialmente a sua difusão ficou restrita aos grandes centros urbanos e às pessoas de classes mais baixas, no entanto, com o tempo, alastrou-se pelo Brasil inteiro. Esta droga é produzida pelo aquecimento do cloridrato de cocaína acrescido de água, associado ao bicarbonato de sódio, e com o resfriamento esta

<http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/agencianoticias/site/home/noticias/2012/numero_fumantes_no_bras il_cai_pela_primeira_para_menos_de_15_por_cento_segundo_pesquisa_vigitel >Acesso em : 28 jan. 2013.

48 GOODMAN & GILMAN, op.cit, p.50 49Ibidem p.51-53.

mistura se transforma em “pedra”, geralmente queimada e fumada em cachimbos improvisados, feitos de PVC ou alumínio.

Poucos segundos após a administração, iniciam-se os efeitos da droga, que vão da euforia, agitação à irritabilidade, alterações cardiovasculares, sensoriais e motoras. O prazer proporcionado pela droga é fugaz, durando em média de cinco a dez minutos. Na tentativa de prolongar esta sensação, o usuário repete o mesmo procedimento várias vezes, o que o leva à anorexia e insônia por dias a fio. A problemática do uso de drogas é de tal monta que admite- se atualmente a internação compulsória dos usuários adultos, com a devida autorização judicial. Por meio de tal medida os mesmos são conduzidos à delegacia, e posteriormente a abrigos para tratamento da dependência. Além dos malefícios causados à saúde, há uma estreita relação entre o uso de drogas e a elevação do número de pequenos furtos e roubos, o que também reforçaria a pertinência da medida. 50Sobre este processo calha registrar esta

explanação:

A necessidade de repetir o êxtase obtido no consumo da pedra pode levar o viciado a abandonar própria casa e a família e a cometer crimes. Maltrapilhos, vagando pelas ruas em meio a lixo e entulho o sob o constante delírio provocado pelas baforadas de crack, eles parecem estar completamente desprovidos da capacidade de escolher, de exercer as próprias vontades e autonomia. De acordo com os defensores da medida, esse estado degradado dos dependentes justifica a internação compulsória.

A questão é controversa, pois, envolve a restrição da autonomia do usuário, que é coagido a se tratar, independentemente da sua própria vontade. Por outro lado, a medida estaria justificada não somente pela manutenção da paz social, haja vista as transgressões à ordem perpetradas pelo uso de drogas, e sobretudo, por entabular-se o zelo pela vida e integridade física destes indivíduos. Os especialistas em dependência química, no entanto, divergem desta intervenção estatal partindo do pressuposto de que, para lograr êxito, o tratamento deve estar indissociavelmente ligado ao desejo do paciente de se tratar.

O uso desta droga pode restringir o funcionamento do cérebro, pulmões, rins e ossos, além de provocar o aumento da frequência cardíaca e arterial, que levam a infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs). De outro lado, o uso crônico pode conduzir à degeneração muscular irreversível, e a problemas sexuais nos homens, como a disfunção erétil. A dependência provocada pelo crack é superior à das outras drogas, sendo comum que

50 SANCHES, Mariana; PAGGI, Matheus. Internar à força resolve? Revista Época. Saúde &Bem-Estar.

os usuários de outros entorpecentes ao experimentá-lo resolvam deixar as outras drogas para utilizarem-no exclusivamente51.

A cafeína, a droga mais consumida do planeta, integra não só a composição do café, mas de outros alimentos como chocolates, refrigerantes, chá-mate, cacau etc. Trata-se de uma substância psicoestimulante que auxilia na concentração, melhora o humor e reduz a fadiga. Seu uso excessivo pode desencadear efeitos adversos como insônia, dores de cabeça, gastrite, agitação, ansiedade, taquicardia, e até mesmo cistos de mama, pâncreas, malformações congênitas e aborto52. É ainda integrante dos medicamentos emagrecedores,

atuando como inibidor de apetite, e compõe também os diuréticos, antialérgicos e analgésicos. Dentre estes incluem-se os medicamentos utilizados para combater as crises de enxaqueca, por seu potencial para contrair os vasos sanguíneos,já que a dilatação destes geralmente é a responsável pelas dores.

A cafeína pode ser extraída da natureza, ou sintetizada em laboratório, e em virtude do sabor amargo e de suas propriedades aromáticas, é utilizada como aditivo de balas, sorvetes, bolos, gomas etc. As bebidas energéticas, de produção nacional e importada, também apresentam a cafeína em sua composição, bem como os suplementos energéticos, vitamínicos ou termogênicos. Em função dos efeitos estimulantes, também é manejada para minorar o potencial depressor das bebidas alcoólicas. Em razão da ditadura da estética, e do culto exacerbado à beleza, notadamente nos últimos tempos, a cafeína tem sido associada a outros compostos como efedrina e ácido acetilsalicílico, ou com hormônios da tireoide e efedrina que seriam úteis aos fisioculturistas. Nestes casos a comercialização destas fórmulas é ilegal no Brasil, permitindo-se a venda apenas de suplementos vitamínicos e minerais, como auxiliares à complementação nutricional.

Nos últimos tempos a substância tem sido utilizada por aspiração nasal, pela maceração de comprimidos, ou por via injetável, provocando efeitos estimulantes imediatos, e este fármaco tem ganho um grande número de usuários pela sua facilidade de comercialização. A ausência de fiscalização e o preço convidativo são elementos importantes na opção . Esta substância é muito apreciada pelos atletas, figurando na lista dos fármacos que são considerados “doping”, por evitar a fadiga, aumentando a resistência e o desempenho,

51 SANTOS, Suzzana de Vaconcellos Bernardes; SOUZA, Edilson de Moura. Desafios no tratamento dos

Usuários de Crack.In: Drogas, Políticas e Práticas. Org. Gilberto Lucio da Silva. p.113-115.

52 PEDROSO, Rosemary Custódio. Dopagem nos Esportes por Cafeína. In: Fundamentos de Toxicologia. Org.

aprimorando a força muscular. O uso exagerado pode levar á intoxicação, e em casos mais graves, à morte. 53.

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