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Droit au Logement (DAL): movimento dos sem-teto na França

Bandeira do movimento “Direito à Moradia” (Droit au Logement – DAL)

Reivindicações

Conforme já apontamos anteriormente, “Direito à Moradia” (Droit au Logement –

DAL) é um dos principais movimentos sociais de luta por moradia na França. Hoje, este

movimento possui um status de federação, ou seja, agrega diversos comitês em diferentes cidades francesas sendo, então, um movimento de atuação em nível nacional.

A principal reivindicação do DAL, apresentada em seus panfletos, manifestações e no discurso dos militantes e dos sem-teto, é a garantia do direito à moradia para todos e, em especial, o realojamento das famílias que estão em suas bases.

De acordo com DAL, a moradia digna pode ser conquistada quando há o cumprimento de algumas leis francesas, como a “Lei de Requisição” e a “Lei DALO”. Nesse sentido, o movimento luta constantemente pela aplicação efetiva destas leis e por adequações na legislação que favoreçam aqueles que se encontram em situações de vulnerabilidade habitacional.

Lei de Requisição (Loi de Réquisition)

A Lei de Requisição se trata de uma legislação que foi elaborada, na França, em 1945, depois da Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de enfrentar a falta de moradias, já que muitas destas haviam sido destruídas, durante o período de guerra.

secundárias ou principais e até mesmo os prédios utilizados como locais de trabalho, todos estes imóveis, estando desocupados por mais de seis meses, poderiam ser requisitados pelo Estado. A tomada da propriedade era feita por um ano podendo ser renovada quatro vezes (PÉCHU, 2010, p. 345).

Se a Lei de Requisição foi capaz de requisitar milhares de moradias nos anos seguintes à sua elaboração, é verdade também, que, depois de 1960, o número de moradias requisitadas caiu muito.

Nos anos 1990, momento de crise habitacional, organização popular para lutar por moradia (com destaque para as ações de DAL) e, consequente, aumento da pressão sobre os governos, tem-se uma retomada, ainda que tímida, das requisições dos imóveis.

Em 1998, uma segunda legislação sobre as requisições foi incluída na “Lei de luta contra as exclusões”. Segundo esta lei, as requisições podem acontecer somente quando os imóveis se encontrem vazios há mais de dezoito meses e sejam de propriedade de investidores institucionais (bancos, empresas de seguro, “mutuelles” e outros). O Estado, em troca, paga aos proprietários uma indenização com valores próximos ao dos aluguéis dos imóveis destinados à locação social96.

Assim, estes dois quadros legais – a legislação de 1945 e a de 1998 – coexistem, resultando em muitas polêmicas nos momentos de aplicação da lei.

Em 2013, a Lei Duflot apresenta mais dois artigos referente ao procedimento de requisição, com a intenção de diminuir o número de imóveis vazios. Um dos artigos determina que o período de vacância no qual uma propriedade pode ser requisitada seja reduzido para 12 meses, e não mais 18 meses como estava previsto na lei de 1998. O outro artigo objetiva evitar que os proprietários escapem do regime de requisição sob o pretexto de reformas em seu imóvel97.

DAL considera a aplicação desta lei fundamental para solucionar a crise de moradia na França. Isto porque existem muitos imóveis vazios à espera de sua valorização (especulação imobiliária), os quais poderiam ser transformados rapidamente em moradias. De acordo com os dados do INSEE, em 2013, 2,3 milhões de moradias estavam vazias98.

Neste sentido, a reivindicação do DAL permanece a mesma desde a sua fundação: pressionar os governos para que a Lei de Requisição seja aplicada.

Assim, o DAL nomeia as suas ocupações de “Requisição Cidadã” (Réquisition

Citoyenne), fazendo uma clara referência à lei aqui discutida e demonstrando a

existência de inúmeros imóveis vazios que devem ser requisitados e transformados em moradia social.

No entanto, a “requisição cidadã” realizada pelos sem-teto, diferentemente da requisição realizada pelo governo, não é autorizada legalmente e é considerada, sob o ponto de vista jurídico, um atentado aos bens de terceiros, ou seja, um atentado à propriedade privada. Assim, o que os sem-teto realizam é, nos termos da lei, uma “ocupação sem direito, nem título” (occupation sans droit ni titre), que é suscetível à penalidade jurídica.

96 Disponível em: /www.liberation.fr/societe/2013/12/11/pourquoi-aucun-logement-n-a-ete-requisitionne-depuis-

un-an_965474. Acessado em novembro de 2014.

97 Ibidem.

98 O número referente ao parque de imóveis vazios engloba aqui realidades muito distintas. Por exemplo,

moradias que estão à venda ou destinadas à locação, casas em reforma e também imóveis que estão vazios de fato, contribuindo para a especulação imobiliária. São, portanto, estes últimos que os movimentos de moradia reivindicam que sejam requisitados.

Lei DALO (Droit Au Logement Opposable)

Uma outra importante lei francesa relacionada à questão habitacional é a Lei DALO, Lei do Direito à Moradia Exequível (Droit Au Logement Opposable), que foi promulgada no ano de 2007.

Esta lei considera o direito à moradia como fudamental e atribui uma obrigação de resultado por parte do Estado. O dirieto é dito aqui exequível, pois o cidadão dispõe de vias de recursos para obter a sua aplicação efetiva99.

Assim, segundo esta lei, o Estado deve garantir moradias ou albergues para as pessoas reconhecidas como prioritárias pela comissão de mediação que trata deste assunto. É o dirigente administrativo de cada departamento (coletividade terriotiral) quem organiza as moradias sociais e as estruturas de albergues para realojar as pessoas100.

De acordo com o artigo 1 da lei DALO, esta se aplica a todas as pessoas que residam em território francês de forma regular (os sem-documentos estão, portanto, excluídos) e não possuem condições de acesso à moradia com os seus próprios meios.

Esta lei não é apenas destinada aos “sem-domicílio fixo”, mas a todos os cidadãos que estejam e comprovem uma das seguintes situações em que se encontram: sem nenhuma moradia; ameaçado de expulsão sem possibilidade de realojamento; vivendo em uma estrutra de albergue ou alojamento temporário; vivendo em locais inadequados para habitação, insalubres ou perigosos; estar em um moradia subocupada ou não digna e tendo sob sua responsabilidade aos menos um filho menor de idade ou uma pessoa deficiente ou, ainda, ser ele mesmo deficiente; demandatário de uma moradia locativa social há muito tempo (esta temporalidade varia de um departamento para outro e é fixada pelo dirigente adminitrativo de cada região)101.

Diversos movimentos (como “Direitos à Frente” (Dd!!), “Direito à Moradia” (DAL), Enfants de Don Quichotte e outros) e instituições (Fundação Abbé Pierre, Secure Catholique, entre outras) reivindicavam há anos uma política habitacional que realmente executasse o direito à moradia. Neste sentido, a conquista da Lei DALO pode ser vista como uma vitória dos movimentos populares.

No entanto, passados alguns anos da elaboração desta lei, os militantes de DAL a apresentam como pouco eficaz e destacam a insuficiência no número de moradia social. Milhares de sem-teto e mal alojados, que já foram classificados como prioritários pelo Estado a obter uma moradia social, estão à espera desta102.

De acordo com os dados oficiais do governo francês103, entre os anos de 2008 e

2014 (até o primeiro semestre), no nível nacional, mais de 146 mil famílias foram consideradas como prioritárias pela Comissão de Mediação. Destas famílias, 90 mil

99 Entendemos que a terminologia “direito exequível” é interessante e, ao mesmo tempo, problemática.

Interessante, porque atesta que o direito à moradia na França não vem sendo respeitado e, por isso, necessita-se de uma lei que o trate como “exequível”. Problemática, pois abre precedentes para que existam direitos e leis que não sejam possíveis de serem praticáveis.

100Disponível em: http://www.territoires.gouv.fr/que-dit-la-loi-no-2007-290-du-5-mars-2007. Acessado em

dezembro de 2014.

101 Ibidem.

102 Disponível em: http://www.alternativelibertaire.org/?Benoite-Bureau-Dal-Seulement-7-des. Acessado em

outubro de 2014.

103 Estes dados estão disponíveis na página oficial do Ministério da Moradia, da Igualdade de Territórios e da

Ruralidade. Disponível em: http://www.territoires.gouv.fr/que-dit-la-loi-no-2007-290-du-5-mars-2007. Acessado em dezembro de 2014.

foram realojadas e mais de 55 mil ainda esperavam pelo realojamento.

A demanda por moradia social é distribuída desigualmente pelo território francês. Os pedidos relacionados à lei DALO, por exemplo, se concentram na região da Ilha de França (cerca de 60% do total da demanda). É interessante ainda notar que 90% das demandas são por moradia digna e apenas 10% se referem a pedidos de albergues provisórios104.

Os objetivos e reivindicações de DAL são sintetizados, pelo próprio movimento, da seguinte maneira:

Unir e organizar os que estão mal alojados, os sem-teto, os locatários, os residentes de albergues, os habitantes de camping e de moradias móveis, todos os confrontados às dificuldades econômicas, à discriminação, ao racismo, a toda situação, portanto, que afeta o acesso ou manutenção de uma moradia digna, selecionada, acessível, econômica...

Fim das expulsões de toda forma de habitação e realojamento escolhido

Realojamento digno e estável de toda família e pessoa mal alojada ou sem-teto;

Aplicação e adequação das leis favoráveis às pessoas em dificuldade de moradia e aos locatários, em especial a lei de requisição, a lei DALO, o direito ao alojamento incondicional qualquer que seja a situação administrativa, os direitos dos locatários, etc.

De maneira mais geral, o apoio, a informação, a promoção de ações que têm por objetivos: remediar a crise de moradia, as dificuldades dos mal alojados, dos sem-teto e dos locatários; agir contra a especulação imobiliária e da terra, os aluguéis e as moradias caras, e todas as despesas associadas e contra a precarização dos “estatutos locativos”; resistir à mercantilização e privatização da moradia social, às políticas de moradia e de urbanismo contrárias ao interesse dos moradores dos bairros populares (LA CHARTE DE DAL – tradução nossa)105.

Na França, assim como no Brasil, as famílias realizam sua demanda por moradia social ao Estado e ficam esperando por anos até que sejam atendidas. No entanto, como já notamos antes, uma diferença importante em relação ao caso brasileiro deve ser destacada. A moradia social reivindicada pelos sem-teto franceses que estão na base do DAL se trata de uma habitação com um aluguel subsidiado e não a aquisição de uma casa, no sentido de compra de propriedade privada.

Assim, quando DAL reivindica moradia para os sem-teto de sua base, ele demanda, na realidade, um imóvel de aluguel social, ou seja, “uma HLM” (Habitação com Aluguel

104 Ibidem.

Moderado - Habitation à Loyer Modéré - HLM)106, onde o sem-teto poderá garantir uma moradia digna para sua família, pagando um valor de aluguel que não comprometa a renda familiar.

Os movimentos dos sem-teto no Brasil, diferentemente, possuem como reivindicação principal uma moradia, no sentido de uma casa própria, ou seja, há o objetivo de fazer do beneficiado da política habitacional o proprietário do imóvel. Logo, enquanto no Brasil os sem-teto cultivam o “sonho da casa própria”, na França, poderíamos falar do “sonho da HLM”.

Estas considerações não nos permite afirmar que a reivindicação de locação social esteja ausente da plataforma dos movimentos dos sem-teto no Brasil107. Como vimos na primeira parte deste texto, alguns idosos sem-teto brasileiros têm refletido sobre este tema e reivindicado uma política efetiva de locação social. Mas, é fato que tal reivindicação é residual entre as famílias de sem-teto no Brasil.

A explicação para esta diferença no significado da reivindicação dos sem-teto nos dois países em questão está, em grande medida, no fato de que em cada país, em decorrência do próprio tipo de Estado, as políticas habitacionais possuem características muito distintas.

Neste sentido, argumentamos que a reivindicação por uma HLM deve ser entendida a partir da política habitacional de locação social existente na França e que foi forjada em um Estado de bem-estar social, ou seja, Estado forte, economicamente intervencionista e promotor (e protetor) social. Desta maneira, a habitação é entendida enquanto um direito que deve ser garantido pelo Estado, assim como a saúde e a educação108. Já no Brasil, não existiu efetivamente um Estado de bem-estar social e as políticas habitacionais brasileiras sempre

106 Passaremos a utilizar adiante a sigla HLM para fazer referência tanto à política de habitação com aluguel

moderado, quanto à própria moradia/imóvel de locação social.

107 Existe no Brasil diversas políticas de “auxilio aluguel”, no entanto, como destaca Milano (2013a, p.10), estas

não correspondem a uma real política de locação social:

“Não se tratam de programas efetivos de aluguel social aqueles em que o poder público oferece um “auxílio aluguel” temporário a famílias de baixa renda para que as mesmas encontrem suas moradias no mercado formal de imóveis para locação. Também não devem ser consideradas como aluguel social as moradias provisórias ofertadas pelo poder público paras as famílias que aguardam moradias definitivas com fins de propriedade. Essas modalidades de locação são bastante comuns, mas não auxiliam na redução do déficit habitacional brasileiro e não consideram o aluguel como uma opção de moradia definitiva. Logo, essas opções, chamadas aqui de auxílio- moradia, são condizentes com a prática de produção de moradias com fins de propriedade”.

108 Considerando uma média dos países que compõem a União Europeia, podemos dizer que 8,6% dos

domicílios ocupados na Europa o são por locatários de moradia social. Este número aumenta quando tomamos como exemplos os países nórdicos, como por exemplo, Dinamarca (19% do total são de locatários sociais), Áustria (23% do total) e Holanda (32% do total). A França também fica entre os países acima da média, ou seja, cerca de 17% dos domicílios franceses ocupados o são por locatários de moradia social. Estes dados estão disponíveis em: http://www.liberation.fr/politiques/2014/05/20/bruxelles-a-une-position-restrictive-et-liberale- du-logement-social_1022466. Acessado em dezembro de 2014.

apresentaram um traço de mercantilização da moradia social e favoreceram a ideologia da casa própria.

A compra de uma casa até parece ser desejada entre as famílias de sem-teto, mas é vista como algo muito difícil de ser realizado, principalmente para os sem-teto imigrante africanos, devido ao seu alto valor:

O acesso à propriedade permite de escapar dos circuitos de atribuições dependentes do Estado ou dos organismos de moradia social ou dos locadores privados, mas ela é hoje freada pelos mecanismos cada vez mais capitalistas de construção de moradias e é dependente dos canais bancários. Ela [a propriedade] está sempre mais ligada à imigração de origem espanhola, portuguesa ou asiática, do que à imigração africana ou norte-africana, majoritária entre as famílias do DAL (HAVARD dit DUCLOS, 2002, p.273 – tradução nossa).

Além da reivindicação principal do movimento, ou seja, garantir o direito de moradia a todos, existem as “reivindicações latentes”, conforme definiu Péchu (1996, 1997) e debatemos na primeira parte deste texto, quando tratamos dos movimentos dos sem-teto no Brasil.

Péchu (1997) destaca algumas das reivindicações latentes das famílias que compõem o DAL, a saber, o acesso gratuito aos serviços de saúde, a escolarização das crianças e a suas matrículas na escola, o direito a uma alfabetização por parte das mulheres africanas, entre outras. Assim, demandas especificas dos diferentes segmentos da base são acolhidas pelo movimento. Abordaremos esta temática mais à frente, quando tratarmos da base social do DAL.

Organização: DAL enquanto sindicato de sem-teto?

O primeiro comitê DAL a ser organizado, foi o “DAL Paris e arredores”, em 1990. Posteriormente, são organizados outros coletivos na região parisiense (em Clichy-la-Garenne, Evry, Villeparisis, Conflans-Ste-Honorine, etc.). E, depois de 1992, são organizados comitês em outras cidades da França, tais como: Montreuil, Toulouse, Montpellier, Marseille, Orléans, Tours, Lyon, Grenoble, Nancy, Strasbourg, Amiens, Lille, Caen e Rennes (PÉCHU, 1997). E, em janeiro de 1998, cerca de 30 comitês DAL passaram a constituir formalmente o que foi denominado de “Federação DAL”109.

109 A “Federação DAL” é o que denominamos, ao longo de todo este texto, simplesmente como “DAL”.

Em relação aos diversos comitês DAL existentes no território francês é importante que se entenda que eles são muito dinâmicos e que, de acordo com a conjuntura local, podem estar mais ou menos organizados110.

Os comitês existentes podem ser divididos (geograficamente) da seguinte maneira: França, Paris/Ilha de França111, além da existência de um comitê na Ilha da Reunião e outro na Guiana Francesa112.

Comitês DAL na França

Fonte: Este mapa está disponível na página oficial do movimento, porém com outro título: “Carte des comités”. Disponível em: http://droitaulogement.org/carte-des-comites2/. Acessado em agosto de 2014.

A crise habitacional francesa apresenta diversas dimensões, sendo uma delas os imóveis destinados à locação social, tanto no que se refere à quantidade de moradias quanto à qualidade.

110 É por isto que, quando realizamos o trabalho de campo desta pesquisa na França, entre 2012 e 2013, alguns

dos coletivos DAL existentes nos anos 1990 e início de 2000 estavam pouco mobilizados ou até mesmo não existiam mais. Este foi o caso, por exemplo, em Lyon, uma das maiores cidades francesas. Por outro lado, naquela ocasião, DAL Paris e os comitês da região parisiense seguiam com grande organização, agregando mais sem-teto às suas bases, realizando manifestações e ocupações de imóveis.

111 Ilha de França (Île-de-France) é a denominação que se dá para uma das 26 regiões administrativas da França.

As principais cidades desta região são: Paris, Pontoise, Versalhes, Évry, Melun, Nanterre, Bobigny, Montmorency, Mantes-la-Jolie, Saint-Germain-en-Laye, Rambouiillet, Palaiseau, Étampes, Meaux e Argenteuil. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Ilha_de_Fran%C3%A7a. Acessado em agosto de 2014.

112 Lembramos que tanto a Ilha da Reunião (localizada no Oceano Índico) quanto a Guiana Francesa (localizada

Habitação de Aluguel Moderado (Habitation à Loyer Modéré - HLM) A política de locação social foi implantada e desenvolvida na França, a partir do final do século XIX, com destaque para a “habitação econômica” (Habitation à Bon

Marché – HBM). Após a Segunda Guerra Mundial, com o intuito de reconstruir

milhões de casas devastadas pela guerra, este tipo de política ganhou novo fôlego. Assim, em 1948, criou-se o que conhecemos hoje como “política HLM” ou “sistema HLM”, ou seja, a construção de “habitações destinadas ao aluguel, iniciando- se um forte processo de financiamento estatal para este tipo de moradia” (ABIKO; GÓES; BARREIROS, 1994, p.5).

O sistema HLM conta com as seguintes fontes de financiamento: os próprios

créditos orçamentários do Estado; Caixa de Depósitos e Consignações (Caisse des

Dépots et Consignations - CDC), que é um estabelecimento bancário público nacional

que financia a habitação social a partir dos recursos das cadernetas de poupança; esforço dos empregadores para a construção, o chamado “1% moradia” (1% logement), em que todas as empresas com mais de dez funcionários devem contribuir com, no mínimo, 1% do valor da folha de pagamento para a habitação de locação social; contribuição das coletividades, governos locais ou regionais, para complementar as

operações de moradia financiadas pelo governo central (ABIKO; GÓES; BARREIROS

(1994); DIOGO (2004)).

A promoção da moradia social está a cargo dos “órgãos HLM”, que podem ser órgãos públicos, sociedades anônimas e sociedades cooperativas. Da mesma maneira, o proprietário original do imóvel pode ser tanto o setor público, quanto o setor privado.

Sobre os auxílios e subsídios do Estado para as habitações destinadas à locação social, podemos destacar dois tipos: os “Auxílios à Pedra” (Aide à la pierre) destinados a viabilizar a construção de habitações sociais; e os “Auxílios à Pessoa” (Aide

Personalisée au Logement) destinados aos locatários e/ou aos compradores de moradia

social (NOWERSTERN; SANTANA, 2006).

Esta política, que foi construída e desenvolvida em um contexto de forte investimento estatal na área social, tinha nos trabalhadores com emprego estável o seu público alvo.

No entanto, hoje, a situação é diferente. Além do mais:

há um processo de retração do mercado do trabalho que já dura algumas décadas: desemprego, instabilidade, segregação, precariedade, trabalho informal, emprego da imigração clandestina, etc.

O mercado não permite aos setores sociais de baixa renda