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4.3 Caracteriza¸c˜ ao dos polimorfos do Albendazol

4.3.1 DSC/TG

De acordo com nossos resultados, podemos observar uma transi¸c˜ao de fase entre as formas I e III, na qual a forma III se transforma na forma I entre 150 a 160o

C, sendo, portanto, uma transi¸c˜ao irrevers´ıvel (figura 24). Desse modo, temos que a forma III ´e a forma metaest´avel e a forma I a forma mais est´avel termodinamicamente. Uma vez que, a forma de maior energia possui a tendˆencia de se transformar na forma de menor energia.

As figuras 24 e 25 mostram as curvas de DSC das formas polim´orficas I e III. Onde a figura 24 destaca a forma polim´orfica III (em vermelho) submetida primeiramente a uma taxa de temperatura controlada de 30 a 170o

C, em seguida apresenta o retorno para a temperatura ambiente, ou seja, de 170 a 30o

C (em preto) e por ´ultimo mais uma subida de 30 a 300o

C (em Azul), revelando claramente a transi¸c˜ao polim´orfica da forma III para a forma I, confirmando todas as informa¸c˜oes acima supracitadas.

J´a na figura 25, temos as curvas de DSC correspondentes aos polimorfos I e III (em vermelho e azul respectivamente). Sendo poss´ıvel realizar uma compara¸c˜ao entre ambas e notadamente comprovar a transi¸c˜ao demonstrada na figura 24. Ainda podemos destacar de acordo com a figura 25, os eventos endot´ermicos e exot´ermicos entre 150 a 170o

C no qual correspondem a uma fus˜ao e uma recristaliza¸c˜ao respectivamente, caracterizando, portanto, um processo de transi¸c˜ao.

Figura 24 – Curvas de DSC que demonstram a transforma¸c˜ao polim´orfica da forma III para a forma I.

Figura 25 – Formas polim´orficas do albendazol. Forma I (Vermelha), no qual a mesma corresponde a nossa mat´eria prima e por sua vez a forma III (azul) ´e a recristaliza¸c˜ao em metanol.

Nas figuras 26 e 27 temos um paralelo entre as curvas de DSC/TG e a termo- microscopia, uma t´ecnica vers´atil que possibilita o acompanhamento em tempo real dos eventos t´ermicos. Assim, podemos observar que ap´os a mudan¸ca de fase do polimorfo III para o polimorfo I, que ocorre em torno de 150o

C, novos eventos endot´ermicos surgem a partir de 190o

C, correspondendo aos processos de fus˜ao e recristaliza¸c˜ao e, por conse- guinte a decomposi¸c˜ao do composto (figura 26). A priori s˜ao ´e poss´ıvel identificar esse composto que fundiu e recristalizou, por´em, existem grandes chances de n˜ao ser mais a mol´ecula de albendazol, ou seja, a mesma pode ter se transformado em outra mol´ecula,

uma vez que existe uma perda de massa, como mostra as curvas termogravim´etricas da figura 27.

Figura 26 – An´alise em microscopia de hot-state realizada na forma III mostrando que ocorre uma nova fus˜ao seguida de uma recristaliza¸c˜ao come¸cando em 190o

C, cujo o pro- cesso ´e dado em cima das seguintes temperaturas, em 190o

C in´ıcio da fus˜ao, em 216o C a recristaliza¸c˜ao total e em seguida come¸ca o processo de decomposi¸c˜ao do composto.

Figura 27 – Compara¸c˜ao das curvas de DSC/TG entre os dois polimorfos do albendazol, evidenciando a distin¸c˜ao entre ambas.

De maneira semelhante a figura 28 apresenta as an´alises de DSC de amostras recristalizadas em compara¸c˜ao com a ABZ original, ou seja, as formas I e II reportada por Pranzo et al. Uma das diferen¸cas mais not´aveis nos ensaios DSC corresponde a recristaliza¸c˜ao em metanol (ver Figura 28b), aparece como um efeito endo-exo claro em 143o

de 200o

C aparecem sobrepostos dificultando assim a sua interpreta¸c˜ao. Observou-se um comportamento an´alogo para outras amostras recristalizadas (28c). Este efeito endo-exo corresponde a uma transforma¸c˜ao polim´orfica de transi¸c˜ao s´olida-s´olida de ABZ obtida pela cristaliza¸c˜ao do ABZ. Estas duas formas polim´orficas foram isoladas com sucesso pelos autores acima citados, sendo caracterizado por ter uma rela¸c˜ao enantiotr´opica.

Figura 28 – Curvas de DSC das formas polim´orficas mostradas por Pranzo. Em a) forma I, em b) recristaliza¸c˜ao em DMF e em c) recristaliza¸c˜ao em metanol, ambas correspondentes `a forma II. Figura retirada de Pranzo, 2011.

Os espectros de infravermelho das amostras de albendazol podem ser observa- dos nas figuras 29 e 30. Algumas ´areas foram ampliadas, para melhor visualiza¸c˜ao das bandas e suas respectivas vibra¸c˜oes.

A figura 29 traz o espectro com bandas de vibra¸c˜ao caracter´ıstica para o alben- dazol, tais como a vibra¸c˜ao entre 1525-1630 cm−1 correspondendo ao grupamento N-H. Em 599 cm−1 temos a vibra¸c˜ao que corresponde a liga¸c˜ao (C-S). Em 1060 cm−1, encontra- se a liga¸c˜ao ´ester (C-O-C), j´a em 1589 cm−1 a vibra¸c˜ao equivalente ao arom´atico (C=N). Assim como em 1712 cm−1 observa-se a banda caracter´ıstica ao grupo carbonila (C=O).

Figura 29 – Espectro de FTIR das formas I e III do albendazol.

J´a a vibra¸c˜ao em 2958 cm−1 e uma banda larga em 2665cm−1 correspondem a liga¸c˜ao C-H alif´atico e o grupamento N-H do anel imidaz´olico, respectivamente, como mostra e espectro da figura 30.

Figura 30 – Espectro FTIR das formas I e III do albendazol. Regi˜ao ampliada, na faixa entre 2400 a 3500cm−1.

Nas Figuras 31, 32 e 33 observa-se que nas regi˜oes demarcadas existem dife- ren¸cas entre os espectros, indicando a presen¸ca de diferentes polimorfos. Fazendo uma compara¸c˜ao direta entre ambas, constata-se tais distin¸c˜oes em 1630 cm−1, onde obser- vamos a duplica¸c˜ao da banda na forma I, j´a em 1400 cm−1 surge uma banda para o polimorfo III, bem como diferen¸cas significativas entre 400 a 900 cm−1 de acordo com o espectro mostrado na figura 33.

Figura 31 – Espectro FTIR das formas I e III do albendazol. Regi˜ao ampliada, na faixa entre 1500 a 1800 cm−1.

Figura 32 – Espectro FTIR das formas I e III do albendazol. Regi˜ao ampliada, na faixa entre 1200 a 1500 cm−1.

Figura 33 – Espectro FTIR das formas I e III do albendazol. Regi˜ao ampliada, na faixa entre 2400 a 2450 cm−1.

A partir das an´alises realizadas neste trabalho, verificou-se que o albenda- zol apresenta trˆes formas polim´orficas (formas I, II e III). Em conformidade com as compara¸c˜oes entre os difratogramas experimentais das amostras e dados da literatura constatou-se que a forma I corresponde `a mat´eria prima, forma comercialmente dis- tribu´ıda, j´a a forma II corresponde ao arquivo SUTWIO depositada por Pranzo e seus colaboradores e por sua vez a forma III ´e correspondente `a recristaliza¸c˜ao da forma I em metanol o que condiz com o arquivo BOGFUS tamb´em depositado na base de dados da Cambridge Structural Data base (CSD).

Observou-se a partir das curvas de DSC que na faixa de temperatura en- tre 150o

C e 220o

C ocorreram dois eventos –endot´ermico e exot´ermico, correspondendo, respectivamente, `a fus˜ao da forma polim´orfica III seguida da recristaliza¸c˜ao na forma I, indicando que transi¸c˜ao entre ambas ´e irrevers´ıvel. Processo tamb´em evidenciado pela ter- momicroscopia. As curvas TG indicaram que a decomposi¸c˜ao t´ermica da amostra ocorreu a partir de 220o

C, fato revelado pela perda de massa nesta mesma faixa de temperatura. Nos espectros de FTIR foi poss´ıvel verificar diferen¸cas entre algumas bandas de absor¸c˜ao. Atribuindo vibra¸c˜oes em regi˜oes distintas. Caracterizando, portanto, diferentes formas polim´orficas.

Dessa forma, o uso de dados de difra¸c˜ao de raios X de p´o, alinhadas a inves- tiga¸c˜oes realizadas via t´ecnicas de an´alise t´ermica como DSC, TG, microscopia t´ermica e

espectroscopia vibracional como FTIR, mostrou que foi poss´ıvel identificar os polimorfos do albendazol de forma precisa.

5 CO-CRISTAIS

Propriedades f´ısico-qu´ımicas de materiais cristalinos dependem em grande parte do empacotamento cristalino que ´e modulado atrav´es de intera¸c˜oes n˜ao covalentes. Es- tas intera¸c˜oes intermoleculares s˜ao respons´aveis pela forma¸c˜ao de sistemas moleculares e a associa¸c˜ao de tais sistemas em estruturas supramoleculares. Como tentativa de mo- dificar as propriedades de materiais cristalinos, o seu empacotamento pode ser alterado mudando o arranjo interno das mol´eculas que envolvem a quebra e forma¸c˜ao de liga¸c˜oes n˜ao-covalentes [17]. Nesse contexto, temos a forma¸c˜ao de uma nova fase s´olida de um composto conhecida como co-cristal.

Como citado na se¸c˜ao 1.3.4 a defini¸c˜ao de co-cristal que vem sendo utilizada na literatura ´e que este se trata de um sistema multicomponente estequiometricamente ligado por intera¸c˜oes n˜ao-covalentes, onde todos os componentes presentes s˜ao s´olidos sob condi¸c˜oes ambientes [1].

Co-cristal ´e uma importante classe de materiais farmacˆeuticos que podem me- lhorar a solubilidade e dissolu¸c˜ao atrav´es da forma¸c˜ao de um cristal com um f´armaco e uma outra mol´ecula (tamb´em conhecida como coformador) em composi¸c˜oes estequiom´etricas espec´ıficas. A ampla gama de coformadores e as poss´ıveis intera¸c˜oes oferecem in´umeras es- trat´egias para controlar a solubilidade do co-cristal. Ou seja, a co-cristaliza¸c˜ao representa uma estrat´egia de modifica¸c˜ao de s´olidos, visando o aperfei¸coamento das propriedades f´ısico-qu´ımicas e biofarmacˆeuticas de f´armacos pouco sol´uveis [1].

Neste sentido, com o objetivo de identificar novas fases cristalinas dos anti- helm´ınticos albendazol e ricobendazol, uma proposta em andamento neste trabalho ´e a busca por co-cristais desses f´armacos e a caracteriza¸c˜ao dos s´olidos obtidos.

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