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3. MATERIAIS E MÉTODOS

5.2. E STRUTURA GENÉTICA ESPACIAL

Pode-se perceber uma relação clara entre o logaritmo da distância espacial e o parentesco dos indivíduos com uma tendência de indivíduos espacialmente mais próximos, até 29,1m, serem mais aparentados que o esperado em uma distribuição espacial aleatória e indivíduos separados por grandes distâncias, acima de 154,14m, serem menos aparentados do que o esperado. Assim, para trabalhos de formação de bancos de sementes dessa espécie na região recomenda-se que a coleta de sementes respeite uma distância mínima entre matrizes de 29 m para se garantir a diversidade genética do material coletado.

A relação entre distância e coeficiente de parentesco encontrada é um padrão claro de IBD, que, quando tão explicito, geralmente é causado pela limitação na dispersão de sementes. Além disso, a maior parte dos indivíduos amostrados foi de plântulas e juvenis (cerca de 60%), portanto, o resultado encontrado reflete bastante as condições de dispersão das sementes no local.

Existem duas explicações possíveis para a dispersão de sementes ser responsável pela estruturação. Uma é que as sementes estejam sendo dispersas a pequenas distâncias, e outra é de que as sementes de um mesmo fruto, que são mais aparentadas entre si, estejam sendo dispersas em grupo, ficando próximas umas das outras (TORIMARU et al., 2007).

Como as sementes são dispersas pelo vento nessa espécie, teoricamente, a dispersão ocorre a grandes distâncias e a dispersão em grupos é improvável. Contudo, DUARTE et al. (2010) cita que alguns fatores, como a presença de obstáculos (lianas, folhas e galhos), podem diminuir a abrangência da distância de dispersão de sementes anemocóricas. Dessa forma, a

36 estrutura da floresta onde está inserida a população estudada, por ser muito fechada e íngreme, não é muito propícia a dispersão das sementes a grandes distâncias.

Assim, a dispersão de sementes a distâncias limitadas pode ser o fator de estruturação nessa população fazendo com que a prole se desenvolva próxima à árvore-mãe. Diversos outros estudos de estrutura genética espacial explicam a estruturação espacial de populações de plantas pela limitação na dispersão de sementes (XIE et al., 2005; SOARES et al., 2008; MORENO et al., 2009), inclusive em plantas com dispersão anemocórica (GEHRING & DELPH, 1999; SMOUSE & PEAKALL, 1999; HEUERTZ, et al., 2003).

A análise da estrutura genética espacial em T. roseo-alba mostrou uma relação significativa entre o coeficiente de parentesco e o logaritmo da distância (b significativo e Sp = 0,008), embora com baixíssima intensidade. Além disso, o coeficiente de parentesco médio (F = 0,3480) para a população de T. roseo-alba foi alto e significativo, o que corrobora a existência de ocorrência de endogamia na população indicado pelo valor do Fis.

GANDOLPHI & BITTENCOURT JR. (2010) consideraram essa espécie auto- incompatível, portanto a autofecundação não seria uma explicação para a endogamia dessa população. Entretanto, FERES (2009), estudando a mesma espécie, demonstrou que mais de 60% dos cruzamentos daquela população seria de cruzamentos biparentais. No atual estudo, um elevado número de cruzamentos biparentais poderia estar ocorrendo devido a uma limitação na distância de polinização, o que geraria um maior parentesco nas sementes geradas e explicaria o nível de estrutura genética espacial encontrado.

A distribuição agregada (observação em campo) dessa espécie no local de estudo pode estar contribuindo para essa limitação na polinização ao favorecer que os polinizadores permaneçam por longo tempo em apenas um grupo de árvores. Outros autores apontam que a limitação na dispersão de pólen como fator para a estruturação espacial genética de populações de plantas (KITAMOTO et al., 2006, TORIMARU et al., 2007;).

Mesmo com a possível limitação na polinização, não foi encontrado nenhum padrão claro entre o coeficiente de parentesco par-a-par e as classes de distância, o que é compatível com a baixíssima intensidade de estruturação encontrada (Sp = 0,008). A ocorrência de classes com correlação significativa nessa espécie pode ser explicada por simples acaso amostral, não se atribuindo uma razão biológica para essas ocorrências.

A falta de padrão na estrutura genética espacial para T. roseo-alba seria um indicador de que a dispersão das sementes não atua como um fator de estruturação para a espécie.

37 Contudo, a estrutura da floresta onde essa população está inserida não é favorável a dispersão de sementes como foi discutido para a população de T. chrysotricha. Dessa forma, pode se explicar a baixa estruturação encontrada pela atuação da seleção natural que estaria favorecendo que indivíduos mais distantes dos genitores sobrevivam e se desenvolvam mais que aqueles mais próximos. Assim, a estrutura visualizada em plântulas e juvenis, como é o caso da população T. chrysotricha (92% dos indivíduos amostrados) nesse estudo, mostraria uma alta estruturação espacial enquanto a estruturação em indivíduos adultos, como na população de T. roseo-alba desse estudo (91% dos indivíduos amostrados são adultos), seria amenizada pela seleção.

Alguns estudos fazem a análise da estrutura genética espacial dividindo as populações em classes demográficas para entender melhor os mecanismos envolvidos na estrutura genética espacial da população (ver MOREIRA et al., 2009; JONES & HUBBELL, 2006). Essa separação é interessante para identificar mudanças dessa estrutura ao longo do tempo. No presente estudo não foi possível realizar uma análise espacial demográfica devido à baixa amostragem de árvores adultas de T. crhysotricha e de juvenis em T. roseo-alba na área amostrada. Essa amostragem diferenciada influenciou a análise da estrutura genética das populações estudadas.

Dessa forma, é possível que a população de T. roseo-alba estudada tenha algum tipo de estruturação espacial nos indivíduos juvenis que esteja sendo mascarada devido à falta de amostragem decorrente da baixa densidade desses no local. Assim como é possível que em T.

chrysotricha exista um padrão diferente de estruturação e diversidade genética nos indivíduos

adultos, já que a competição entre as mudas próximas pode levar a redução de indivíduos aparentados em distâncias tão próximas como as aqui verificadas (29,1m) para essa espécie.

A distância de dispersão de genes (Nb) estimada a partir da estrutura genética espacial foi relativamente alta para T. roseo-alba (122,78) e baixa para T. chrysotricha (50,00) em comparação a outras espécies (51 a 76, BORN et al., 2008; 86,2, COLLEVATTI et al., 2010). CLOUTIER et al. (2007) encontraram valores de Nb estimados a partir da estrutura genética espacial maiores em indivíduos adultos do que em plântulas e juvenis da mesma população. Esse padrão pode ser responsável pelo resultado divergente das duas espécies estudadas, já que a amostragem de plântulas e adultos também foi divergente.

É interessante notar que as duas espécies estudadas, embora muito semelhantes, mostraram resultados de diversidade genética e estrutura genética espacial divergentes. Isso mostra que mesmo compartilhando os mesmos mecanismos de polinização e dispersão de

38 sementes, outros fatores como a densidade populacional, distribuição dos indivíduos, a classe dos indivíduos amostrados e a fenologia de floração, dentre outros fatores, influenciam o tipo de estrutura genética espacial encontrada nas populações.

Como as espécies estudadas se encontrarem em uma área de conservação de Proteção Integral, o Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco (PEAMP), as análises dessas populações aqui realizadas podem auxiliar no planejamento da gestão dessa Unidade de Conservação. Além disso, esses dados podem ser utilizados no planejamento de projetos de manejo florestal em remanescentes próximos ao local de estudo.

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6. CONCLUSÕES

1. A transferibilidade de primers desenvolvidos em Tabebuia aurea para as populações de

T. chrysotricha e T. roseo-alba foi difícil, podendo a geração de marcadores específicos

uma alternativa mais satisfatória para essas espécies.

2. A análise da estrutura genética espacial intra-populacional indicou que as duas espécies estudadas apresentam estruturação espacial significativa. Contudo, em T. chrysotricha essa estruturação foi bem mais forte com um claro padrão de isolamento por distância apresentando indivíduos até 29,1 m mais aparentados entre si do que o esperado. Já a população de T. roseo-alba apresentou indícios de endogamia atribuída à limitação na distância de polinização, devido à distribuição agregada e da espécie no local de estudo, mas não se verificou um padrão claro entre o coeficiente de parentesco e a distância entre indivíduos. Essa divergência foi atribuída principalmente a diferenças na amostragem das duas espécies que para T. chrysotricha foi principalmente de indivíduos juvenis e em T.

roseo-alba foi principalmente de indivíduos adultos que podem ser mais bem estudadas

com a análise demográfica da estrutura espacial genética dessas populações.

3. As populações estudadas estão em uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, o Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco - PEAMP, portanto, os resultados apresentados podem contribuir o planejamento gestor dessa área, assim como para projetos de manejo florestal sustentável em remanescentes da região.

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