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Sendo o SNS português, financiado através de impostos (directos e indirectos), como já abordado anteriormente no capítulo III deste trabalho, é apenas admissível a cobrança de determinados valores no acto da prestação de cuidados, que tenham uma mera função de moderação do consumo dos serviços de saúde. As quantias cobradas para moderação do consumo não podem, no entanto, vedar o acesso aos cuidados de saúde por razões económicas, o que se fundamenta através da alínea b) do n.º1 da Base II (ibid.) que enumera como objetivo fundamental da política de saúde “(…) obter a igualdade dos cidadãos no acesso aos cuidados de saúde, seja qual for a sua condição económica e onde quer que vivam, bem como garantir a equidade da distribuição de recursos e serviços”.

Atendendo ao propósito deste projecto de investigação, torna-se necessário abordar de modo mais profundo o assunto da gratuitidade tendencial, pois no texto original da CRP o direito à saúde, para além de universal e geral, era considerado gratuito. Com a entrada em vigor a Lei do Serviço Nacional de Saúde, constitui-se uma ressalva à gratuitidade do SNS, estabelecida pelo artigo 7.º (ibid.), onde consta que o acesso ao SNS seria gratuito, o que não tornava impeditiva uma possível cobrança de taxas moderadoras diversificadas, com intuito de moderar o consumo. Posteriormente o DL n.º 57/86, de 20 de Março56, fixou as

taxas moderadoras no acesso aos cuidados de saúde, exceptuando os cuidados prestados no âmbito: dos serviços de urgência ou nos serviços de atendimento permanente dos Centros de Saúde; dos internamentos hospitalares; da radioterapia e exames histológicos; e nos cuidados de saúde prestados a dadores de sangue. Assim, a gratuitidade tendencial surge através da Lei Constitucional n.º1/89, que altera a redação do n.º2 do artigo 64.º da CRP, passando a constar na sua alínea a) que o direito à protecção da saúde, é realizada “através de um serviço nacional de saúde universal, geral e, tendo em conta a condição

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económica e social dos cidadãos, tendencialmente gratuito”. Esta modificação na CRP originou uma consequente modificação na alínea c) da Base XXIV da LBS e no n.º1 da Base XXXIV da mesma lei, onde se pode ler relativamente a este último que o “objetivo das taxas moderadoras têm o objetivo de completar as medidas reguladoras do uso dos serviços de saúde”, as quais constituirão “receita do Serviço Nacional de Saúde”.

Contudo, a LBS aplica uma ressalva à aplicação das taxas moderadoras, uma vez que as mesmas não poderão ser cobradas quer aos cidadãos mais vulneráveis por estarem sujeitos a maior risco ou por serem financeiramente mais desfavorecidos, determinando assim que estes ficam isentos do seu pagamento, nos termos a determinar na Lei (n.º2 da Base XXXIV).

Neste contexto, surge o DL n.º 54/92, de 11 de Abril57, que estabelece, entre outros,

o regime de isenções. Este DL, vem ser revogado pelo DL n.º173/2003, de 1 de Agosto58,

que no seu artigo n.º1, menciona que as taxas moderadoras devem ser pagas por todos os cidadãos, incluindo beneficiários dos subsistemas de saúde59, que não sejam isentos, nos

termos do artigo 2.º do mesmo DL. É de sublinhar ainda, que o próprio Estatuto do SNS, no seu artigo 23.º, prevê que para além do Estado, os utentes beneficiários do SNS, respondem pelos encargos resultantes da prestação de cuidados, tendo em atenção as suas condições económicas e sociais.

Assim, na actualidade e de acordo com o artigo 4.º, do DL n.º113/2011, de 29 de Novembro60, as situações previstas na lei para fins de isenção correspondem a:

a) As grávidas e parturientes;

b) As crianças até aos 12 anos de idade, inclusive;

c) Os doentes com grau de incapacidade igual ou superior a 60%;

d) Os doentes em situação de insuficiência económica, bem como os dependentes do respetivo agregado familiar, nos termos do artigo 6º que no seu nº1 menciona que os utentes com insuficiência económica são aqueles cujo rendimento médio mensal seja igual ou inferior a uma vez e meia o valor do Indexante de Apoios Sociais (IAS); e) Os dadores de sangue, nas prestações em Cuidados de Saúde Primários (CSP); f) Os dadores vivos de células, tecidos e órgãos, nas prestações em CSP;

57 Disponível em http://dre.pt/pdf1sdip/1992/04/086A00/17251726.pdf 58

Disponível em https://www.igf.min-financas.pt/leggeraldocs/DL_173_2003.htm

59 Os subsistemas de saúde serão abordados neste capítulo, no ponto 1.2. 60

Disponível em http://www.hbarcelos.min-saude.pt/NR/rdonlyres/3031AF9A-0AE6-45D5-B513- D413C7F1131A/22538/decreto_lei_113_2011.pdf

g) Os bombeiros, nas prestações de Cuidados de Saúde Primário e quando necessário em razão do exercício da sua função, em cuidados de saúde hospitalares;

h) Os doentes transplantados;

i) Os militares e ex-militares das Forças Armadas que, em virtude da prestação do Serviço Militar, se encontrem incapacitados de forma permanente.

O DL n.º128/2012, de 21 de Agosto61, vem acrescentar: j) “Os desempregados com

inscrição válida no Centro de Emprego, auferindo subsídio de desemprego igual ou inferior a uma vez e meia o IAS (…) e o respetivo conjugue e dependentes”. A 5 de Agosto, o DL n.º117/201462 amplia ainda que também estão isentos, de acordo com as alíneas k), l) e m),

as crianças e jovens em risco, institucionalizadas ou internadas, que não beneficiem da isenção prevista na alínea b) do artigo 4.º (do DL n.º117/2014) ou que não possam por qualquer forma, comprovar a sua condição de insuficiência económica nos termos previstos no artigo 6.º. Na sua alínea n) incluem ainda os refugiados e respectivos conjugues e familiares directos.

O DL n.º113/2011, de 29 de Novembro, enumera ainda no seu artigo 8.º outras situações onde existe dispensa de cobrança de taxas moderadoras (este DL é alterado pelo DL n.º117/2014, de 5 de Agosto).

O DL n.º79/2008, de 8 de maio63, menciona ainda que utentes com idade igual ou

superior a 65 anos beneficiam de uma redução de 50% do pagamento das taxas moderadoras.