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2.4 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

2.4.3 Economia Circular

Nos últimos anos, a economia circular está sendo mais discutida em todo o mundo, destacando-se como uma maneira de superar o modelo atual de produção e consumo, que se baseia no crescimento contínuo e no aumento do fluxo de recursos (GHISELLINE et. al, 2016). Promovendo a adoção de padrões de produção de produtos em um ciclo de vida fechado, dentro de um sistema econômico, a economia circular busca aumentar a eficiência do uso de recursos para alcançar um melhor equilíbrio e harmonia entre economia, meio ambiente e sociedade (BRAUNGART E MCDONONOUGH, 2013).

Kirchherr et. al (2017) analisou sistematicamente 114 definições de economia circular, propostas em trabalhos científicos nos últimos dezoito anos. Segundo os autores, foi possível identificar que até o ano 2012 o conceito de economia circular tinha se aproximado de forma efetiva dos componentes dos 4Rs (redução, reciclagem, reutilização e recuperação). Posteriormente, o discurso de pesquisadores da área passou a dar conta de um projeto sistêmico, orientado a um microssistema, em que há necessidade de reforma de todos os sistemas que compõe a atividade humana (CONTICELLI e TONDELLI, 2014; LINDER et al., 2017)

Nos trabalhos desenvolvidos por Stahel (2013) e Kamar (2015) é apontado que a economia circular abre precedente para o desmembrar o crescimento da degradação ambiental, justamente por este formato econômico preconizar a produção de bens, por meio da extensão do ciclo de vida de outros produtos a partir da reciclagem. Seu princípio norteador baseia-se nos recursos geridos por uma lógica circular de criação e reutilização. A cada término de uma etapa, durante o ciclo de vida, um novo ciclo de vida é iniciado para cada material (BRAUNGART E MCDONONOUGH, 2013).

Dessa forma, o modelo linear em que o produto tem seu fim de vida no descarte é substituído por um sistema cíclico, onde os materiais e produtos são usados e circulam entre seus usuários pelo maior tempo possível, de uma maneira ambientalmente segura, eficaz e justa (BRISMAR, 2017). Neste cenário, se permite

que um artefato seja desmontado e que seus recursos sejam reutilizados (BRAUNGART e MCDONONOUGH, 2013), inseridos no processo produtivo de novos produtos e circulem novamente no mercado. Além disso, fontes de energia renováveis são priorizadas e qualquer impacto ambiental indesejado é evitado ou minimizado (MORENO, 2016).

Scott (2015) compreende o conceito de economia circular, como uma variante de economia industrial que busca o desperdício zero e que lucra com dois tipos de insumos materiais, os biológicos que são aqueles que podem ser reintroduzidos na biosfera de forma restaurativa, sem danos ou resíduos (ou seja: eles quebram naturalmente); e os materiais técnicos, que podem ser continuamente reutilizados sem danos ou desperdícios.

Neste cenário ainda é possível, segundo a Ellen Macarthur Foundation (2014), repensar as práticas econômicas atuais, incluindo-se no desenvolvimento sustentável. A partir da premissa do fechamento do ciclo de vida dos produtos, se busca a redução no consumo de matérias-primas, energia e água. A Figura 6 apresenta um diagrama que ilustra o fluxo da economia circular.

Este processo fundamenta-se em três princípios (HOBSON, 2015), que serão apresentados a seguir. Cada um é direcionado para os desafios relacionados a recursos e sistemas que a economia industrial enfrenta (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2014).

• Princípio 1: Consiste em preservar e aumentar o capital natural, controlando estoques finitos e equilibrando os fluxos de recursos renováveis. Inicia na desmaterialização dos produtos e serviços. Quando há necessidade de recursos, o sistema circular seleciona-os com sensatez e, sempre que possível, escolhe tecnologias e processos que utilizam recursos renováveis ou apresentam melhor desempenho. Uma economia circular também aumenta o capital natural estimulando fluxos de nutrientes no sistema e criando as condições necessárias para a regeneração (como, por exemplo, a do solo). • Princípio 2: Busca otimizar a produção de recursos, fazendo circular produtos,

componentes e materiais no mais maximizando continuamente a utilidade, tanto no ciclo técnico quanto no biológico. Projeta para a remanufatura, a

reforma e a reciclagem, de modo que componentes e materiais continuem circulando e contribuindo para a economia.

• Princípio 3: Fomenta a eficácia do sistema, identificando pontos negativos e excluindo-os dos projetos. Busca com isso a redução de danos a produtos e serviços de que os seres humanos precisam, incluindo alimentos, mobilidade, habitação, educação, saúde e entretenimento. Além disso, este princípio avalia a gestão de recursos como terra, ar, água e poluição sonora, bem como, a liberação de substâncias tóxicas e mudança climática.

Figura 6 - Diagrama da economia circular.

Fonte: (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2014).

Entretanto, segundo o estudo de Ritzén e Sandström (2017) a economia circular é pouco implementada nas organizações devido, especialmente, a barreiras de cunho financeiro, estrutural, operacional, atitudinal e tecnológico. Tais barreiras identificadas são em parte semelhantes às barreiras para a integração de questões de

sustentabilidade em geral. No entanto, para os autores, elas revelam dificuldades ainda mais severas, pois a perspectiva de negócios precisa ser integrada, levando as questões de sustentabilidade a um nível estratégico.

Em contraponto, o conhecimento da economia circular está concentrado em grandes indústrias e disperso entre pequenas e médias empresas. Para Stahel (2016) é importante que este conteúdo seja inserido na formação acadêmica e profissional dos profissionais envolvidos em projetos de produtos. Para fortalecer a incorporação da economia circular por empresas, é necessário que as pequenas e médias empresas contratem profissionais que tenham o know-how econômico e técnico para mudar os modelos de negócios.

Para Stahel (2016) o desenvolvimento sustentável requer mudanças disruptivas e inovações radicais e é necessário integrá-lo a empresas de todos os portes. Projetar produtos para reutilização precisa se tornar a norma, bem como, fazer uso de sistemas modulares, por exemplo. Entretanto, para o autor, mais pesquisas são necessárias para convencer empresas e governos de que a economia circular é viável, a partir da integração entre sustentabilidade e desenvolvimento de negócios, que o modelo de Economia Circular oferece.

Na próxima seção, é apresentada a pesquisa que conceitua o modelo de negócio, bem como, aborda os tipos de modelos de negócio social e sustentável.