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Economia Criativa: as indústrias criativas e o negócio social

Quando falamos de Slow Fashion e locavorismo, involuntariamente, é comum a associação com a vertente da economia conhecida como Economia Criativa, cujo foco está em profissões baseadas na criatividade e no saber-fazer, as quais possibilitam, além da criação de empregos, a produção, a distribuição e o consumo de bens pelo uso e ma- nutenção desses saberes tradicionais, num equilíbrio entre economia e cultura. Segundo Newbigin (2010, p. 13) para a British Council,

a economia criativa mistura valores econômicos e valores culturais. Esta ampla e complexa herança cultural é o que diferencia a economia criativa de qualquer outro setor da economia. De fato, a atividade cultural não esteve incluída como um componente da economia durante uma boa parte da história humana. Abrangia aquelas atividades nas quais as pessoas pensavam quando deixavam de trabalhar, mas não faziam parte da sua vida laboral. Inclusive hoje, as indústrias criativas são expressões do valor cultural e econômico.

E é justamente esse tipo de economia que o Slow Fashion procura, fundamentada na economia local e que utiliza de mão de obra regional e de saberes alicerçados na reali- dade da indústria criativa de cada lugar.

Ainda nesse contexto, o negócio social também é uma forma de fomentar a econo- mia criativa, utilizando empreendimentos como ferramenta para a mudança social. Esta se diferencia do locavorismo pelo fato de não necessariamente se relacionar a pequenos negócios bairristas, mas ainda assim utilizada da escala regional com produções sustentadas pela mão de obra tradicional, com foco na melhoria da qualidade de vida de grupos à mar- gem da sociedade. Nela, ao mesmo tempo que se tem lucro para crescer o negócio, tam- bém se melhorara a vida dos trabalhadores e colaboradores. Ainda de acordo com Newbi- gin (2010, p. 19),

as indústrias criativas geram empregos e valor com um impacto sobre a natureza menor do que as outras atividades econômicas. O planeta não pode aguentar oito ou nove bilhões de pessoas vivendo o estilo de vida “dependente do petróleo” dos Estados Unidos ou da Europa. A única maneira de

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haver uma economia crescente, sustentável e capaz de oferecer melhor qualidade de vida para a maioria da população mundial está em cultivar a economia criativa e, especialmente, em utilizar o poder da criatividade em todas as fases da vida econômica.

O locavorismo acaba por ser o principal atributo de uma indústria criativa bem consolidada, pois, ao contrário de grandes marcas Fast Fashion (neste caso em específico, tratando-se da indústria da moda) que baseiam suas produções em países em desenvolvi- mento, como já citado, e que podem mudar de país consoante ao menor custo de mão de obra, as indústrias criativas e os negócios sociais estão unidos a sítios específicos, pois tais técnicas e saberes são regionais e tradicionais e devem ser produzidos para o benefício da cultura local.

Entretanto, quando falamos sobre artes típicas regionais para os consumidores de moda, muitos provavelmente não desejam conhecer os produtos por os considerarem “feios” ou “fora de moda”. Muitas vezes o consumo desses produtos é feito em situações específicas, como por exemplo, lembranças de viagens.

O papel de designer para a economia criativa surge como uma ponte entre os ar- tesãos e o consumidor, e sua função é redefinir os processos de produção, como a utilidade e aparência do produto final, para que ele seja funcional e desejável, e que ao mesmo tempo continue usando as técnicas tradicionais. Segundo Fletcher e Grose (2011, p. 108), é “fazer com que as prioridades locais sejam relevantes para o setor da moda, [...] que visa fomentar a solidez econômica e, ao mesmo tempo, a diversidade cultural e estética”.

Dentre os desafios da indústria criativa, é fundamental o esforço para a construção de relações entre designers, artesãos e fornecedores para que se beneficiem mutuamente, construindo assim formas de produção e de consumo sustentáveis e socialmente re- sponsáveis. Para Fletcher e Grose (2011, p. 110),

revisar a escala da atividade da moda com base na localização é, sem dúvida, uma direção diferente daquela da norma industrial. Rejeita as transações anônimas e impessoais associadas com as nego- ciações de grande escala e favorece o contato humano, em que conhecer o efeito do negócio sobre o produtor, a região e a comunidade é parte integral das decisões tomadas no desenvolvimento dos produtos. Por sua natureza, o design local é rico e diverso, pois surge dos talentos e recursos de determinada região e suas histórias, e das atitudes de seu povo, suas tradições, estruturas sociais e mercados que podem ou não estar disponíveis.

Desta forma, a partir das análises dos dados levantados para a construção deste estado da arte, identificou-se a oportunidade de se criar um veículo de divulgação e co-

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municação entre designers, artesãos e fornecedores diretamente com os consumidores, com o objetivo de contribuir com o fortalecimento de movimentos como os Slow Fashion e

Fashion Revolution dentro da economia criativa desta comunidade local.

Ao longo da investigação identificou-se também a necessidade do desenvolvimen- to de uma componente prática para este projeto, e assim propôs-se a criação de uma plata- forma online de mapeamento e divulgação de marcas, lojas, artesãos e fornecedores locais com o intuito de contribuir com o locavorismo de Portugal. Aqui se faz necessário recordar que inicialmente esta investigação se circunscrevia na discussão sobre a sociedade do con- sumo e suas consequências, em oposição às metodologias mais conscientes de produção de moda, bem como a partir de exemplos de como conscientizar a sociedade de consumidores locais a refletir sobre o que é produzido localmente e como isso é essencial para as pessoas a nossa volta. Segundo um mapeamento sobre indústrias criativas da OBEC (2016, p. 6) feito no Brasil, foi possível concluir que,

o mapeamento também é uma ferramenta importante para que os empreendedores criativos possam identificar-se e descobrir o que possuem em comum, possibilitando a criação de clusters criativos, desta forma, facilitando o crescimento conjunto por meio da troca de experiências e colaboração.

Por conseguinte, esse diálogo não só com os consumidores, mas entre os produ- tores, é um dos objetivos da criação do website. Todo o processo de reflexão do estado da arte e a metodologia utilizada para se chegar ao exercício de análise que resultou na criação da plataforma foram descritos nesses dois últimos capítulos. No próximo, será mostrada a construção da plataforma em si e seus objetivos para o movimento do Slow Fashion.

059 A partir da construção e análise do estado da arte para esta investigação, e da vivên-

cia no movimento do Slow Fashion e do Fashion Revolution, que se deu o interesse de trans- formar esta dissertação em um projeto prático, propondo-se um exercício de contribuição efetiva às soluções dos problemas identificados durante a escrita. Para tanto, propõe-se a construção de uma plataforma online de divulgação das marcas regionais identificadas no perfil da investigação, para, assim, fomentar o consumo consciente de uma moda suste- ntável. Com o intuito de priorizar a eficiência, no sentido do potencial de alcance, opera- cionalidade e aproveitamento dos recursos naturais, optou-se pela plataforma online e não por um mapa físico.

Segundo Minney (2016), só conseguiremos obter alguma mudança na cadeia pro- dutiva da moda através dos consumidores. É preciso mostrar a eles o que acontece por trás das peças que consumimos, para que, assim, ao se tornarem mais esclarecidos sobre a indústria da moda, os eles procurem comprar produtos mais eficientes e simbolicamente positivos à sociedade.

O nome da nossa plataforma, e os principais objetivos dela derivaram da seguinte leitura do livro de Minney (2016, chapter 1, loc. 408):

CRIAÇÃO DE UMA CRIAÇÃO DE UMA PLATAFORMA DE MAPEAMENTO DO SLOW