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No debate sobre a valoração dos recursos naturais, ressaltamos anteriormente os vários aspectos que justificam o porquê da necessidade da estimação de preço do meio ambiente. Por esta dissertação estar no âmbito das ciências administrativas e econômicas, é necessário resgatar o debate teórico sobre a economia do bem-estar e teoria das externalidades, temática intrínsecamente relacionada à valoração dos recursos naturais.

Segundo Pereira (2002) a teoria do bem-estar trata:

“(...) de uma versão normativa da teoria neoclássica, cujos indicadores foram Pareto, no começo do século XX, e Pigou nos anos 20 do mesmo século, constitui o quadro analítico no qual os economistas neoclássicos do meio ambiente desenvolveram a noção de externalidades.” (PEREIRA, 2006)

Assim, a teoria considera que as atividades econômicas geram custos, que podem ser classificados como custos sociais para o conjunto dos custos impostos por uma atividade à coletividade, onde este conjunto de custos é compensado pelo pagamento efetuado pelo agente emissor dos custos à coletividade. Por sua vez, o custo privado reflete os ganhos e perdas na percepção do indivíduo (indústria) que impõe custos à coletividade.

Observa-se que também podem existir custos impostos por outros agentes que individualmente afetem a coletividade, sem que ocorra uma compensação pelos danos impostos. Assim, falamos das externalidades, que são falhas de mercado na internalização de custos ou benefícios externos. As externalidades podem ser divididas em positivas e negativas.

As externalidades positivas ocorrem quando a ação de um agente beneficia a coletividade. Para melhor compreensão, segue um gráfico abaixo.

Gráfico 2 – Externalidade Positiva

Fonte: PINDYCK e RUBINFELD, 1999, p. 705.

Conforme Pindyck e Rubinfeld (1999), verifica-se que quando há externalidades positivas o benefício marginal social (BMgS) é maior que o benefício marginal privado (D) e a sua diferença é o benefício externo (BMgE). Dessa forma, um agente interessado em seu próprio benefício investe em reparos na sua casa, valor que é determinado pela interseção da curva de benefício marginal privado (D) e curva de custo marginal (CMg). O resultado da eficiência do reparo q* é obtido pela interseção do benefício marginal social (BMgS) com a curva de custo marginal (CMg), isto é, gera um aumento no valor da casa não só para o agente que fez o reparo, mas para todos que moram na sua rua e que têm uma valorização nos seus imóveis.

Já as externalidades negativas ocorrem quando a ação de um agente (indústria) causa perda de bem-estar a outra, sem que a parte atingida seja compensada. Como exemplo poderia ser considerada uma usina que despeja efluentes químicos a jusante, num rio onde pescadores exercem seu ofício diariamente, como principal atividade econômica, e esse efluentes reduzem o número de peixes no rio. Assim, temos uma externalidade negativa, pois a usina afeta o bem-estar dos pescadores sem que exista uma recompensa (PINDYCK e RUBINFELD, 1999). Para melhor compreensão, segue o Gráfico 3.

Gráfico 3 – Externalidade Negativa

P P’

Demanda Custo Marginal Social Custo Marginal Privado S’ S Q’ Q Externalidade Fonte: PEREIRA, 2002, p. 7.

Na externalidade negativa verificamos que o custo marginal social (CMgS) é maior que o custo marginal privado (CMg). Verifica-se no gráfico que a empresa maximizadora de lucros produz uma quantidade Q, onde o preço (P) é igual ao custo marginal. Observa-se que os preços e quantidades aplicados no custo marginal privado não refletem os custos totais da produção, pois não inclui o custo social.

Já observando o custo marginal social, onde é introduzida a totalidade dos custos (custo privado+custo social), verifica-se a consideração dos efeitos externos e a internalização da externalidade. Dessa forma, obtém-se um novo preço (P’) para o bem, um pouco mais elevado, e uma respectiva quantidade (Q’) adequada, um pouco menor.

Concluímos que quando ocorre uma externalidade negativa, o custo médio da produção privada é inferior ao custo médio social, o que estimula a permanência da empresa no setor mesmo esta impondo custos a terceiros e sem compensação (PINDYCK e RUBINFELD, 1999).

Dessa forma, o que deve ser feito para induzir o agente promotor da perda do bem- estar a passar do nível de produção Q para o nível Q’? Devem ser propostas medidas que internalizem os custos externos, para corrigir essas falhas do mercado. Neste trabalho, abordaremos as propostas de Pigou, Coase e Dales.

A primeira, apresentada por Arthur Pigou, nos anos de 1920, propõe a introdução de uma taxa de valor monetário igual ao custo externo, desta forma internalizando integralmente os efeitos externos. Considerada intervencionista pelos seus críticos, a solução pigouviana recebeu muitas críticas, principalmente por não atender aos critérios de Pareto. As externalidades acontecem especialmente em contexto de concorrência imperfeita, onde se destacam duas imperfeições:

• A diferença do ótimo social causado pelo poder do monopólio; • A diferença do ótimo social causado pela externalidade.

Outra crítica diz respeito à movimentação do custo marginal privado e o custo marginal externo, pois ao impor uma taxa sobre a externalidade, isso induz as empresas a efetuarem mudanças na sua produção, substituindo sua tecnologia por tecnologia limpa (menos poluentes). Dessa forma aumentando o custo marginal privado, deslocado para cima, e consequentemente deslocando o custo marginal externo para baixo com a diminuição de emissão de poluentes. Estes deslocamentos acarretam a diminuição do ótimo social, comparada à situação antes sem imposto e depois com o imposto, assim afastando os poluidores do ótimo social, ao invés de induzi-los para o nível ótimo de poluição (PEREIRA, 2002).

Pearce (1985, apud PEREIRA, 2002) afirma que para a solução destas falhas da solução Pigouviana é necessário primeiramente corrigir a imperfeição causada pelo poder do monopólio. Dessa forma, o imposto funcionará corretamente.

Outra proposta de internalização de custos foi elaborada por Ronald Coase. Considerada liberal, propunha que a externalidade deveria ser solucionada por meio da livre negociação entre poluidores e vítimas, sem a intervenção governamental, desde que os direitos de propriedade estivessem bem estabelecidos e fossem livremente negociados a custos de transação negligenciáveis (PEREIRA, 2002). Dessa forma, ficou conhecido o “Teorema de Coase”, sobre o qual seus críticos afirmam que inexiste uma negociação com uma solução de forma socialmente ótima, principalmente quando uma das partes exerce maior poder de barganha através do seu poder econômico.

Por fim, Dales propôs as permissões negociáveis de emissão, conhecidas na literatura pelo mercado de direto à poluição e mercado das águas, uma alternativa à internalização dos custos externos, politicamente intermediária entre o intervencionismo de Pigou e o ultraliberalismo da livre negociação de Coase (PEREIRA, 2002). Nessa proposta, cria-se um

órgão oficial para executar a venda de direitos de poluição ou certificados de uso do meio ambiente. Embora essa proposta também enfrente críticas, Pearce (1985, apud PEREIRA, 2002) afirma que o poluidor pode influir sobre os preços dos certificados e assim o preço não representará os custos marginais de controle de poluição.

Apresentamos neste item aspectos da teoria econômica sobre os efeitos externos na emissão de poluentes ou uso do meio ambiente sem a compensação das vítimas, conhecido como externalidade negativa. Foram vistas três propostas (Pigou, Coase e Dales) de instrumentos que internalizem os custos gerados a terceiros pela poluição.